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A competência no procedimento monitório

No documento MESTRADO EM DIREITO PUCSP São Paulo, 2006 (páginas 105-108)

IV. PERFIL ATUAL DO PROCEDIMENTO MONITÓRIO EM FACE DA LEI N.

4.8. A competência no procedimento monitório

Competência é a atribuição, a um dado órgão do Poder Judiciário, daquilo que lhe está afeto, em decorrência de sua atividade jurisdicional específica.316 Por meio das regras de competência se define o âmbito de exercício da atividade jurisdicional de cada órgão dessa função encarregado.317 Daí a clássica conceituação da competência como medida da jurisdição, por meio da qual cada órgão (juízo, tribunal, câmara) exerce a jurisdição dentro da medida que lhe fixam as regras sobre competência.318

A função jurisdicional é una e atribuída abstratamente a todos os órgãos integrantes do Poder Judiciário. Porém, a necessidade de divisão e organização racional do trabalho faz com que o exercício dessa jurisdição seja distribuído entre os diversos órgãos a partir de alguns critérios. Em outras palavras, por meio de regras que atribuem a cada órgão o exercício da jurisdição, com referência à dada categoria de causas (regras de competência), excluem-se os demais órgãos jurisdicionais para que só aquele deva exercê-la ali, em concreto.319

No que se refere ao procedimento monitório, as regras de competência não apresentam nenhuma peculiaridade, de modo que competirá à Justiça Comum Estadual o processamento desta, de acordo com as regras gerais previstas no Código de Processo Civil (arts. 94 a 100).

316 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil, vol. 1. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 295.

317 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. v 1. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 92.

318 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 230.

319

Quando o ajuizamento da demanda monitória se der pela Fazenda Pública ou em face dela, seja na qualidade de autora, ré ou interveniente, competente para o processamento será a Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal, ou a Vara da Fazenda Pública estadual, quando na comarca houver essa justiça especializada.320

Se o litígio que envolve as partes decorrer de relação empregatícia, competente para conhecer e julgar o pedido monitório será a Justiça do Trabalho, conforme dispõe o art. 114 da Constituição Federal.321

No que se refere aos Juizados Especiais Cíveis, muito embora existam opiniões em contrário,322323 não nos parece que essa justiça especializada seja competente para conhecer e julgar a demanda monitória. Conforme assinalado em capítulo próprio, ao autor é dada a faculdade de optar entre o procedimento comum (ordinário ou sumário), e o procedimento especial monitório, levando em conta as particularidades do caso e o interesse em abrir mão das despesas processuais e honorários advocatícios.

Da mesma forma, desde que o litígio que envolve as partes não exceda o teto estabelecido pela Lei 9.099/95, que é de quarenta salários mínimos (art. 3º, I), ao autor á dada a possibilidade de mover a ação de cobrança, cujo objeto seja uma prestação de dar pecúnia, coisa certa ou incerta, perante os Juizados Especiais, mas sem utilizar para tanto o procedimento monitório, ainda que disponha de prova escrita destituída de eficácia de título executivo. Isso porque essa justiça especializada é caracterizada pela existência de um

320 ALVIM, José Eduardo Carreira. Procedimento Monitório: Lei 9.079, de 14/07/95. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2000, p. 62.

321 O procedimento monitório é admissível no processo trabalhista. Trata-se de ação de conhecimento de rito especial compatível com o processo do trabalho, razão pela qual deve ser admitida naquela justiça especializada (CLT, 769). É comum a existência de documentos escritos por meios dos quais a empresa reclamada faz o cálculo das verbas rescisórias mas não efetua o pagamento. Como se trata de documento escrito, sem eficácia de título executivo, cabe ação monitória para que, expedido o mandado de pagamento, a empresa, querendo, efetue o pagamento. NERY, Rosa Maria de Andrade & NERY Junior, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. 8. ed. ver., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p 1.309.

322Carreira Alvim entende que é possível a propositura de ação monitória perante os Juizados Especiais, desde que o pedido não exceda quarenta vezes o salário mínimo, exceto contra a Fazenda Pública, dada a restrição contida no art. 3º, II. ALVIM, José Eduardo Carreira. Procedimento Monitório: Lei 9.079, de 14/07/95. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2000, p. 62.

323 Nelson Nery também entende que é perfeitamente possível o ajuizamento perante os Juizados Especiais, desde que se obedeça o teto legal de quarenta salários mínimos. NERY, Rosa Maria de Andrade & NERY Junior, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. 8. ed. ver., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p 1.312.

procedimento que lhe é próprio, marcado pela celeridade, oralidade, informalidade e concentração dos atos processuais, o que a torna, a nosso ver, incompatível com o rito traçado no Código de Processo Civil para a via injuncional.324

O procedimento delineado pela Lei 9.099/95 prevê uma série de atos processuais, como a audiência de conciliação realizada por um órgão da jurisdição leigo, que o incompatibiliza com o procedimento estabelecido nos arts. 1.102a e seguintes do Código de Processo Civil. A sumariedade procedimental que o caracteriza não possibilitaria ao réu a oposição de embargos ao mandado monitório.325 Ademais, o procedimento estabelecido nos Juizados Especiais prevê a conciliação prévia, que deverá ser necessariamente observada para, apenas depois, na hipótese de frustrada a conciliação, promover-se a atividade cognitiva por meio da audiência de instrução.326

Dessa forma, não nos parece pertinente a propositura da demanda monitória perante os Juizados Especiais. Essa justiça especializada pode ser considerada incompetente para conhecer e julgar o pedido monitório, tendo em vista as peculiaridades procedimentais estabelecidas pela Lei 9.099/95. O art. 3° da sobredita lei estabelece claramente quais são as hipóteses em que essa justiça especializada poderá ser utilizada.

Ademais, a nosso ver, não há qualquer vantagem ao autor, que disponha de prova escrita destituída de eficácia de título executivo - salvo uma eventual conciliação - em optar pelo ajuizamento da ação condenatória perante os Juizados Especiais. Por meio da via injuncional, ajuizada evidentemente perante a Justiça Comum, poderia obter, initio litis, a expedição de mandado de pagamento ou entrega, o que poderia ocasionar a formação de um título executivo judicial de forma mais célere, caso não fosse efetuado o pagamento, ou não fossem opostos os embargos.

324 Elaine Macedo considera flagrantemente incompatível o procedimento formalmente simplificado, que prioriza a justiça conciliatória, e aquele que tem início a partir de um comando de império ordenando o pagamento da obrigação. MACEDO,Elaine Harzheim. Do procedimento monitório. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 174.

325MARCATO, Antonio Carlos. O processo monitório brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 59.

326 MACEDO,Elaine Harzheim. Do procedimento monitório. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 174.

De qualquer forma, trata-se de mais uma opção colocada à disposição dos jurisdicionados para a obtenção de tutelas diferenciadas.327 Cabe ao

credor, tendo em vista as suas necessidades e as peculiaridades do caso concreto, optar pelo procedimento que lhe for mais vantajoso, seja mediante a propositura da demanda (pelo procedimento comum ou especial) perante a Justiça Comum, seja mediante o ajuizamento de uma ação condenatória perante os Juizados Especiais.

No documento MESTRADO EM DIREITO PUCSP São Paulo, 2006 (páginas 105-108)