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A jornada de trabalho na legislação brasileira

No documento APOSTILA DE DIREITO DO TRABALHO (páginas 61-64)

EMPREGADO ALIMENTAÇÃO HABITAÇÃO SOBRE O SALÁRIO

13. JORNADA DE TRABALHO 1 Conceito

13.5 A jornada de trabalho na legislação brasileira

A composição da jornada de trabalho poderá obedecer a três critérios: do tempo efetivamente trabalhado; do tempo à disposição; do tempo de deslocamento.

Ao se verificar a letra do art. 4º, da CLT, vê-se que a regra geral no Brasil é considerar-se a jornada de trabalho como o tempo à disposição do empregador no centro de trabalho, aguardando ou executando ordens.

Em princípio, é irrelevante para o cômputo da jornada o fato de o empregado não estar efetivamente trabalhando (critério do tempo efetivamente trabalhado). Importa mesmo é que ele se encontre no centro de trabalho à disposição do empregador (critério do tempo à disposição) e estará cumprindo a sua jornada de trabalho. É o que ocorre, p. ex., na hipótese de paralisação da produção por falta de matéria prima, recebendo os empregados os salários pelo período – ainda que não haja efetivamente trabalho prestado.

Serão também computados os períodos a que a lei atribui os mesmos efeitos – casos de interrupção e suspensão -, parcial ou integralmente.

Não obstante possa ser incluído no tempo à disposição, o tempo despendido pelo obreiro para deslocar-se entre residência-trabalho-residência (critério do tempo de deslocamento), a doutrina e a jurisprudência trabalhistas têm entendido que tal critério não se encontra acobertado pela regra do art. 4º da CLT. Somente em alguns casos especiais, por disposição expressa, foi o critério do tempo de deslocamento acolhido, por exemplo, no caso das “turmas de conservação de ferrovias” (art. 238, § 3º da CLT).

Há também o caso do sistema do cálculo salarial estritamente por peça, em que se computa o valor do salário segundo o total da produção efetivada pelo empregado, ainda que garantido um valor mínimo (art.78 da CLT combinado com o art. 7º, VII, da CF), cujos efeitos alcançados se aproximam da aplicação do critério do tempo efetivamente trabalhado.

13.5.1 Horas IN ITINERE

Neste ponto, é forçosa a referência àquelas que a jurisprudência trabalhista denomina horas in itinere, correspondendo a uma exceção à não aplicação do critério do tempo de deslocamento.

A construção jurisprudencial passou a considerar como jornada de trabalho o chamado tempo in itinere, isto é, aquele em que o empregado é transportado, em condução do empregador, para estabelecimento que se encontra em local sem outro meio de acesso público ou de difícil acesso, de sua residência para o serviço e vice-versa.

Com a edição da Lei nº 10.243/01, mediante acréscimo do §º 2º ao art. 58 da CLT,as horas in itinere passaram a ter previsão legal, passando o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o seu retorno a ser computado na jornada de trabalho “quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador fornecer a condução”.

As condições para o cômputo do período de deslocamento casa – trabalho – casa, como jornada de trabalho, são:

1. em primeiro lugar, que o empregado seja transportado em condução fornecida pelo empregador;

2. e que o local de trabalho seja de difícil acesso ou não esteja servido por transporte regular público.

É indispensável o transporte em condução fornecida pelo empregador, assim entendido também aquele realizado por empresa privada especializada contratada pelo empregador, não importando, inclusive, que o transporte seja oferecido pela empresa tomadora do serviço, no caso de terceirização.

O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou não, importância pelo transporte fornecido, para local de difícil acesso, ou não servido de transporte regular, não afasta o direito à percepção do pagamento das horas in itinere (TST, Enunciado n.º 320).

Não havendo transporte regular, serão consideradas para a contagem das horas da jornada de trabalho não só as horas nas quais o trabalho foi prestado na empresa, mas também aquelas despendidas durante a condução (TST, Enunciado n.º 90).

Assim, satisfeitas as condições – ausência de transporte regular no percurso e transporte em condução fornecida pelo empregador -, se no estabelecimento da empresa o trabalho é de 8 horas diárias, computadas as horas in itinere, o empregado terá feito horas extras, a serem remuneradas com o respectivo adicional. Se o tempo do deslocamento, ida e volta, é de 2 horas, o empregado deverá trabalhar apenas 6 horas no estabelecimento do empregador. Se o trabalhador cumpre jornada de 8 horas na empresa, as duas excedentes serão tidas por extraordinárias, devendo ser remuneradas com o adicional mínimo de 50% sobre a hora normal.

Havendo transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas itinerantes remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público (TST, Enunciado n.º 325). No exemplo anterior, se o empregado utiliza transporte público regular em parte do trajeto, esse tempo não será considerado como jornada; o tempo in itinere limitar-se-á àquele gasto no percurso sem transporte público regular. A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento das horas in

empregado não será beneficiado com o pagamento das horas in itinere. A jurisprudência do TST somente o protege no caso de ausência do transporte público.

Quanto ao local de difícil acesso, a jurisprudência tem considerado, de maneira geral, que sítios estritamente urbanos (situados no perímetro urbano das cidades) não tendem a configurar local de trabalho de difícil acesso.

Por isso, o local de difícil acesso tende a configurar-se, predominantemente, no meio rural. Trata-se de presunções que admitem prova contrária – são juris tantum. Segundo critérios especiais de cômputo da jornada de trabalho, fala-se em tempo de prontidão e tempo de sobreaviso. O caráter especial destes critérios decorre do fato de serem aplicáveis a categorias específicas (art. 244 da CLT) e de não serem as horas assim compreendidas, computadas na jornada e remuneradas segundo as mesmas regras incidentes sobre as horas normais. Ambos os casos correspondem a noções intermediárias entre o tempo laborado ou à disposição e o tempo extracontratual.

13.5.2Tempo de prontidão – hipótese legal contida no § 3º do art. 244 da CLT – corresponde ao período em que o ferroviário permanece na empresa ou via férrea respectiva, aguardando ordens. Integra o contrato e o tempo de serviço do obreiro e, ainda que, o trabalhador não se encontre efetivamente laborando, encontra-se nas dependências ou cercanias do estabelecimento, o que implica em restrição à sua disponibilidade pessoal e, por essa razão, dá-se conseqüência contratual a este período. Por isso mesmo, tal integração contratual do tempo prontidão é especial e a lei estabelece que as “horas de prontidão serão, para todos os efeitos, contadas à razão de 2/3 (dois terços) do salário-hora normal”. A escala de prontidão não poderá ultrapassar as 12 horas.

13.5.3 Tempo de sobreaviso - hipótese legal contida no § 2º do art. 244 da CLT - corresponde ao período em que o ferroviário permanece em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço. Assim, verifica-se também no presente caso que o obreiro tem a sua disponibilidade pessoal relativamente restringida, daí decorrendo conseqüências contratuais. Ressalte-se que tal restrição é muito menor do que a verificada nas horas de prontidão. Também integra o contrato de trabalho e o tempo de serviço do obreiro. Também aqui a integração contratual do tempo sobreaviso é especial e a lei estabelece que as horas de sobreaviso, “para todos os efeitos, serão contadas à razão de 1/3 (um terço) do salário normal”. A escala de sobreaviso não poderá ultrapassar 24 horas.

Uso de BIPs, pagers e telefones celulares e a analogia com o tempo de sobreaviso – o avanço tecnológico passou a permitir o uso pelo empregado de artefatos de comunicação, como BIPs, pagers e telefones celulares, viabilizando o contato imediato com a empresa e o conseqüente retorno ao trabalho. O enquadramento jurídico da nova situação, no entanto, não é pacífico. Uma corrente doutrinária entende que, em face da relativa restrição à disponibilidade do obreiro, pode ser aplicado analogicamente o tempo de sobreaviso. A outra corrente, por sua vez, entende que o avanço tecnológico suprimiu a restrição à disponibilidade, uma vez que o empregado pode deslocar-se livremente (respeitada certa distância geográfica), conforme seus interesses pessoais e, por isso, não se aplicaria a analogia com o tempo de sobreaviso. Este último entendimento recebeu reforço da Orientação Jurisprudencial nº 46 da SDI do TST.

Vale frisar, no entanto, que, após ser chamado ao serviço, seja por BIP, pager ou telefone celular, o empregado ao atender à convocação comparecendo ao local de

trabalho passa, automaticamente, a ficar à disposição da empresa, prestando serviço normal ou em horas extras, conforme o caso.

13.5.4 Tempo residual à disposição – refere-se a pequenos períodos de disponibilidade do empregado, nos momentos anteriores e posteriores à efetiva prestação de serviços, após a Lei nº 10.243/01, a previsão passou a ser expressa, art. 58,§ 1º da CLT que reza “ não serão descontados nem computados como jornada extraordinária as variações de horário no registro de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dez minutos diários”. Assim, as pequenas variações, de até 5 minutos, totalizando um total de 10 minutos por dia, não serão consideradas para qualquer fim.

No documento APOSTILA DE DIREITO DO TRABALHO (páginas 61-64)