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A justiça como a alma da sociedade

No documento Ilegalismos e jogos de poder : (1840-1880) (páginas 123-165)

O que fez a medicina em face dos micróbios? Ciência positiva experimental fez obra de observação e de prática: estudou-os na sua textura, nos seus movimentos, nos seus costumes; isolou-os; indagou os meios que lhes são favoráveis ou funestos; cultivo-os; classificou-os; e, assim armada de conhecimentos úteis, iniciou contra eles um duro combate, sob as formas de profilaxia e de terapêutica.234

Os primeiros bacharéis mato-grossenses.

Considerado um dos mais respeitados historiadores mato-grossenses, José de Mesquita era, na realidade, advogado. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1913, escreveu em vários jornais e revistas, foi poeta, escreveu crônicas, contos e um número invejável de artigos e ensaios sobre os mais variados assuntos. Desembargador e presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso entre 1930 e 1940, também ajudou a fundar a Academia Mato-grossense de Letras e o Instituto Histórico de Mato Grosso, do qual era membro. Como representante máximo da justiça mato-grossense, representou o Estado, através do Tribunal de Justiça, em vários conclaves e encontros de nível internacional, como o Congresso Nacional de Direito Judiciário e a Conferência Brasileira de Criminologia, em 1936, além de ter sido correspondente de várias sociedades, com destaque aqui para o Instituto Genealógico Brasileiro.

Sua vasta obra e erudição por certo estão a merecer uma análise mais acurada e profunda. De nossa parte, estamos conscientes de que qualquer tentativa de interpretar o seu pensamento, sem recorrer ao estudo do conjunto de sua produção é bastante temerária. Mesmo assim, considerando que não se trata aqui de investir nessa propositura, vamos ousar discutir apenas dois de seus vários escritos, por estarem relacionados ao direito e à criminalidade na então província de Mato Grosso. Referimo-nos a Crimes célebres e Os

primeiros bacharéis mato-grossenses.235

Esses dois ensaios, pode-se dizer, são estratégicos para os nossos objetivos, e logo saberemos o porquê. Por ora, anote-se que José de Mesquita, pelas facilidades inerentes às

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MATTOS, Júlio de, Prefácio da edição portuguesa da obra Criminologia, de R. Garofalo, 1925.

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funções que exercia e por suas preocupações com a criminalidade no Estado, teve acesso e examinou, dentre outros, o volumoso processo instaurado em 1872, pelo assassinato do Tenente Coronel Lauriano Xavier da Silva, e que, na época, fora indigitado como o seu autor, como há de se recordar, o tal do Joaquim Ourives. O que nos interessa neste capítulo, portanto, é o olhar que Mesquita lança sobre o passado, a sua versão sobre esse mesmo crime, e como o enquadra dentro de uma tipologia que tem por fundamento as considerações em torno das patologias criminais (patogêneses). Ao final, o que se espera é que, juntamente com outra versão, a do Dr. Ledo Vega,236 Chefe de Polícia na época, possamos oferecer uma discussão interessante a respeito das verdades, ou melhor, de três histórias da verdade, já que o historiador também tem a sua.

Nessa perspectiva, gostaríamos de mostrar em que sentido os dois textos estão estreitamente relacionados e sugerem uma determinada leitura do passado – um olhar que engendra e reafirma domínios de saber, do saber judiciário. No primeiro, interessa-nos examinar a sua percepção de como o direito, através dos magistrados, advogados e toda a instituição jurídica, foi capaz de transpor para um território ainda inóspito, como o da província no século XIX, os fundamentos da ciência. Embora não diga explicitamente, trata-se aí de garantir à ciência jurídica o privilégio de haver instituído o que podemos chamar de discurso fundador, uma vez que sem o seu concurso, organizando política e juridicamente a província, promovendo, assim, as bases do progresso, as demais ciências, carreiras e atividades profissionais não poderiam ter florescido ainda no final do século XIX. Como deixar de anotar, nessa perspectiva, as instigantes análises com que Foucault nos brinda em A verdade e as formas jurídicas?237 O que se esconde por detrás desse discurso pretensamente fundador? Vilania? Obscuras relações de poder? Solenidade da origem? Preferimos adotar o conselho de Foucault - “o historiador não deve temer as

mesquinharias.238 Podemos dizer, portanto, que Os primeiros bacharéis mato-grossenses” é um texto ideologicamente estratégico. Mesquita coloca-se na posição de sujeito de conhecimento habilitado para exercer dois domínios – o histórico e o jurídico. Embora

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APEMT – Secretaria da Polícia da Província de Mato Grosso em Cuiabá – Parecer nos autos do inquérito policial a que procedeu sobre o assassinato do Ten. Cel. Lauriano Xavier da Silva o Chefe de Polícia, Dr. José Marcelino de Araújo Ledo Vega, datado de 12 de dezembro de 1873, enviado ao Presidente da Província, General José de Miranda da Silva Reis, em 19 de dezembro de 1873. [Doc1302].

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FOUCAULT, Michel, A verdade e as formas jurídicas, 1991.

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escritos em épocas diferentes, há nitidamente uma mesma linha teórica que os perpassa. Para os nossos propósitos, podemos dizer que a leitura de Os primeiros bacharéis mato-

grossenses facilita a compreensão de Crimes célebres, este sim mais elaborado e

pretensioso que o primeiro.

Crimes célebres é certamente o texto sobre criminalidade na província no século

XIX mais referenciado pela historiografia regional. Contudo, suas considerações sobre o tema têm sido utilizadas de modo até certo acrítico. Existem, de acordo com a perspectiva que estamos adotando aqui, duas questões que atravessam de ponta a ponta o seu texto. A primeira, e mais importante, é que o autor, ao se propor a escrever uma história da criminalidade na província de Mato Grosso, sua tipologia e o que tornava os crimes particularmente célebres, elege como marco cronológico na linha do tempo a década de 1870, ponto limite que define o antes e o depois, e que foi por ele denominada de “década

fatídica”. O que daí decorre é que se ao poder judiciário, pela sua competência e

capacidade, ficava garantido o direito de instituir um discurso pretensamente fundador, então ele também estava habilitado para estabelecer, na perspectiva de uma história da criminalidade, a década de 1870 como fatídica. Nesse sentido, 1870 se constitui, no discurso de José de Mesquita, em um grande divisor de águas.

A segunda questão, como decorrência da primeira, é que esse discurso ao se instituir como aquele que conhece e sabe quais são as causas motrizes da violência e da criminalidade, também aponta para práticas judiciárias e policiais saneadoras, de higiene, disciplinares, e que, por atuarem no espaço das práticas sociais, engendram domínios de saber. Mas disto não fala, porque não é da ordem do seu discurso. Fala, isto sim, de um projeto redentor que deveria começar pela educação.

O título da primeira dessas crônicas – Os primeiros bacharéis mato-grossenses – já é significativo. Sem nos informar porque, José de Mesquita assume desde logo que todos nós, seus leitores, somos cúmplices, de que já está sedimentada a idéia de que o discurso jurídico, a prática jurídica, no século XIX se constituiu e se firmou como discurso fundador, como aquele que deu início ao processo civilizador na província de Mato Grosso. E o que é fundamental à sua compreensão, senão a busca de suas origens? Tratar do discurso fundador é remeter-se à história das origens. O que nos conduz a um outro problema – quando e quem está na origem desse discurso.

Mesquita, num perfeito jogo estratégico, nos compromete a todos desde logo. Partindo do pressuposto de que todos, sem exceção, concordamos com a idéia de que é o discurso jurídico, suas práticas sociais e enquanto ciência, que nas origens organiza a sociedade, o autor nos formula a seguinte questão: “qual foi o primeiro bacharel mato- grossense?”239 Embora isto não venha ao caso presentemente, poderíamos, enquanto historiadores, formular uma outra pergunta: “qual foi o primeiro historiador mato- grossense? Pouco importa. Certamente, mudaríamos o eixo e a relação das ciências com a sociedade, mas continuaríamos falando de uma história das origens, continuaríamos engendrando domínios de saber, trocaríamos a ciência jurídica pela ciência histórica. Mas deixemos essas questões de lado por enquanto e voltemos ao texto.

É possível até prever com antecedência o desfecho de sua crônica, pois quem diz história das origens certamente também diz o antes e o depois. É inerente, é próprio dessa construção, ou melhor, é a sua razão de ser, o estabelecimento de uma linha limítrofe (e por certo imaginária, embora construída com referenciais teóricos) entre o antes e o depois, entre o caos primitivo (que não é uma simples questão de eufemismo) e a ordem que surge – fiat lux –, entre o período das trevas e o surgimento da luz; é de sua competência delimitar fronteiras e criar domínios de saber – de um lado o campo do direito e suas práticas judiciárias, de outro as outras ciências sociais e naturais; fronteiras, que ao se constituírem, territorializam um campo de saber, de onde emana o conhecimento que torna possível construir a história da verdade na perspectiva da justiça, da ordem, da lei, da norma. Territorializar, estabelecer fronteiras, nesse sentido, implica, porque é inerente a essas práticas, desterritorializar, desqualificar outros saberes, outras práticas sociais

Perscrutando a memória de antanho atrás de quem supostamente teria sido o primeiro bacharel mato-grossense, fato ao qual, de maneira desavisada, só poderíamos dar crédito por conta de uma história das efemérides, do excepcional, do extraordinário, da mera curiosidade, José de Mesquita nos surpreende com a idéia de que descobrir a procedência desse primeiro bacharel é de fundamental importância para a história do direito em Mato Grosso.

Como dizíamos, compulsando as crônicas publicadas na imprensa (1839) e as fontes orais que ainda tinha à sua disposição, o autor se surpreende que ambas são omissas a esse

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respeito. Ou melhor, encontra um nome, o de um certo Dr. Prudêncio Geraldes Tavares da Veiga Cabral, formado em direito pela Universidade de Coimbra no ano de 1822, que teria sido reconhecido doutor no Brasil, contudo, apenas em 1834, por decreto imperial. Este seria, de acordo com sua pesquisa o primeiro bacharel mato-grossense, mas a quem só reverencia meio a contragosto – “... há que se lhe reconhecer, desta maneira, até prova em

contrário, o direito de ter sido na ordem cronológica, como o primeiro bacharel mato- grossense.”240 Aliás, pelo fato de que nas origens também está o caos, apressa-se em explicar a carência de diplomados do período colonial até o início do século XIX: a verdadeira ciência jurídica e sua prática surgem concomitante à autonomia política. Fica claro, nesta perspectiva apontada, que os cabedais jurídicos que o suposto pioneiro bacharel possuía também não atendiam aos interesses pátrios. Aqui também se evidencia um antes e um depois entremeado por um período de transição – 1822-1832.

A carência de bacharéis antes da autonomia política, o que é próprio de uma história das origens, tem causas que, ao invés de desqualificar, qualificam o direito. Assim, a ausência de diplomados genuinamente mato-grossenses no período anterior à Independência estava relacionada com as condições sociais em que o território mato- grossense se encontrava naquele momento. Nomeia, em primeiro lugar, o que chama de “fase de sedimentação étnica”, na qual o discurso jurídico, antes de ser inócuo, não tinha razão para surgir entre os da terra - as práticas sociais, a política reinol do período teriam impedido o desenvolvimento do direito como uma verdadeira ciência, a não ser aquela ditada pelos interesses administrativos da coroa portuguesa. De fato, bastou ocorrer a autonomia política para que acontecessem importantes reformas, como a do Código do Processo Criminal, a do Código Criminal (1832) e o Regulamento nº 120 (1842), dentre outros decretos e leis baixados no mesmo período. Essa fase, que cobre todo o interregno desde o descobrimento (por certo, das minas de Cuiabá) ao alvorecer do século XIX, Mesquita a reputa como de sedimentação étnica, onde “... elementos vários, da mais

diversa procedência, se fundem, se caldeiam, plasmando, ao cabo de lenta elaboração, as primeiras estratificações do que se pode considerar historicamente a nossa primitiva

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camada social, ao alvorecer do século passado.”241 O que era o território da Capitania, senão “uma confusa amálgama de elementos díspares e instáveis”?

A certeza com que se refere e nomeia o período revela que nas origens, na perspectiva das práticas sociais e políticas, reinava uma verdadeira anarquia, sempre na óptica do autor, cujo discurso da normalidade tem de recorrer ao expediente inevitável de sempre desqualificar o antes, já que o discurso, ao engendrar domínios de saber, vive e se alimenta do tempo pretérito, no sentido de que o seu tempo histórico é essencialmente cumulativo, finalista, e tem telos. Aí, conclui, não poderia vingar o direito. De nossa parte, podemos complementar o seu raciocínio com uma idéia que só poderia surgir mesmo com Foucault: conquanto a província tivesse sua razão de ser como guardiã de fronteiras, de responsabilidade militar na constituição de uma territorialidade, no seio do corpo social ainda não havia ocorrido a estatização da guerra e o surgimento da política no seu sentido moderno; de uma política que nada mais é do que a guerra continuada por outros meios, pela instauração de artigos de paz, dentre os quais o direito assume, agora pensando na crônica de José de Mesquita, a primazia de haver se constituído no discurso fundador e instaurador das regras de convivência social. Eis, nestes termos, como trata de definir o alvorecer da província:

... um conglomerado de sertanistas aventurosos, em guerra aberta com as hostilidades da natureza e com os primevos dominadores da terra, e de cujo agitado viver transparece, não raro, um episódio de luta ou uma cena angustiada de miséria, partilhados de heroísmo, através das pinturescas narrativas barbosianas.242

Não menciona, mas podemos supor, através dessa leitura, que alude a alguma coisa próxima ao estado de natureza jus-naturalista, cujo pacto social na província só irá se construir século XIX, mais precisamente após as convulsões nativistas que marcaram a década de 1830.

Embora essa idéia seja impensável, quando se trata dos “primevos dominadores da

terra”, a luta de todos contra todos, a insegurança individual, fruto da ausência da

organização política e administrativa, é marcante no texto. Mais ainda, trata-se de um entrelaçamento confuso entre o público e o privado, com predominância deste, cujo resultado, de acordo com sua visão retrospectiva, só poderia ser gerador de incertezas e

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MESQUITA, José de, op. cit., p.38.

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MESQUITA, José de, op. cit., p.38; quando diz “pinturescas narrativas barbosianas”, refere-se ao cronista José Barbosa de Sá.

guerras. Nessas condições, de homens rudes em árdua luta com os ásperos elementos da natureza, portentosa e indomável, não poderiam nascer filhos que fossem diferentes – o espírito culto, para ele, definia-se como antípoda do elemento rude, esses “fortes espécimes

de rijos conquistadores do sertão.”

Mas, para Mesquita, há ainda um outro elemento que se liga ao primeiro e que ajuda a explicar a carência aludida – era a “infixidez” do elemento dirigente. A inconstância de capitães generais, juízes de fora, ouvidores, membros da milícia e provedores da real fazenda, ou seja, a alta rotatividade das autoridades dirigentes da província, não teria permitido o surgimento do que nomeia como “surtos mentais” para designar o espírito culto. Em outros termos, não teria havido por parte dessas figuras, desses elementos essencialmente exógenos, nenhum interesse maior que não fosse relacionado ao ouro e ao apresamento de índios. No mais, restringiam-se às questões ligadas ao fisco e às constantes querelas motivadas por desencontros de competências administrativas.243

Em outras palavras, esse período não poderia ver florescer a sociedade culta, sob a regência do direito. Nem mesmo o esforço do governo, em 1799, enviando à Europa sete estudantes para cursarem a Universidade de Coimbra ou a Academia de Marinha – agraciados com uma espécie de bolsa de estudos da época, destinada ao custeio de passagens e pensões alimentares –, foi suficiente para o surgimento desse espírito culto. Mais uma vez, Mesquita se insurge contra o elemento exógeno, e arremata: “todos nomes

inexpressivos e apagados que as crônicas locais jamais referiram...”244 E como todo

historiador, Mesquita também conjectura: para ele, dado esse caráter inexpressivo, teria sido bem provável que esses sete estudantes não tenham se formado ou, então, sequer tenham retornado a Mato Grosso. Desnecessário seria insistir com a idéia de que o discurso fundador exige, pelo menos neste caso, o elemento endógeno. Sim, tinham saído e eventualmente poderiam ter voltado formados, pouco importa; o que é decisivo é que, mesmo assim, não teria florescido o tal espírito culto, uma vez que, formados lá fora, o arcabouço doutrinário absorvido por esses bacharéis continuaria a ser estranho aos interesses nativos. Por isso mesmo, a preocupação do discurso em desqualificar e assim se chegar ao vórtice das relações de poder e de domínios de saber – o que vinha de fora não

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Ao contrário do que pensa o autor, acreditamos que embora com outra roupagem, já que podemos trocar “infixidez” por interinidade, o certo é que esse problema continuará a atravessar todo o século XIX.

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atendia aos interesses internos, por isso essas figuras faziam papel de estranhos, mesmo sendo filhos da terra: não o indivíduo, mas o conhecimento.

1822. Autonomia política. A vontade de saber fixa uma data de transição, a partir da qual é possível vislumbrar uma origem alvissareira, dispensando o período anterior como farsa, arremedo, caos. Este aspecto é interessante porque aponta para duas questões, que em outras circunstâncias poderiam ser examinadas como inerentes ao conceito de

descontinuidade, já que Mesquita afirma que as transformações que irão ocorrer não

nascem no interior do próprio discurso jurídico, mas fora, no campo da política e da formação do Estado. Pois bem, quais esses dois elementos que afirmam que o conhecimento é produto da descontinuidade?

Antes de qualquer coisa, é preciso apontar no texto onde se encontra a idéia central que comporta esta suposição. Diz Mesquita:

Ao raiar do século XIX já se nos depara certo espírito de estabilidade e organização nesta então Capitania de Mato Grosso, espírito que mais se acentua graças ao movimento que precedeu e se seguiu entre nós a autonomia política proclamada para todo o Brasil em 1822.245

Até aí nenhuma novidade, já que a história institucional consagrou esse momento como de consolidação nacional com a emancipação política do Brasil em relação a Portugal. Podia, de acordo com o seu raciocínio, finalmente vingar o espírito culto em conformidade com os princípios maiores da civilização e do nacionalismo. Mas, em termos de ruptura com o passado, o movimento de superação é tanto obra de transformações internas - “de uma verdade que se corrige a partir de seus próprios princípios de

regulação”,246quanto efeito, principalmente, de um acontecimento decisivo - a autonomia política. Esta hipótese condiz, em termos gerais, com as críticas que Foucault consagrou à teoria do conhecimento Ocidental. Assim, ao invés da superação do conhecimento ser simplesmente obra interna ao próprio conhecimento, como se a ciência, com uma suposta neutralidade, não sofresse interferência externa, foi a nova organização política, com a formação e consolidação do Estado nacional, que exigiu, impôs mesmo, mudanças no campo do direito civil, criminal e comercial. E o que fez o direito, enquanto ciência, senão responder às novas exigências, como se tudo não passasse de um movimento interno de

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MESQUITA, José de, op. cit., p.39.

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superação? Afinal, esse procedimento também faz parte da construção de um discurso, ou melhor, de uma história da ciência enquanto história da verdade. E as reformas vieram logo em seguida – em 1830 e 1832, mas principalmente em 1842, com a Reforma do Judiciário e sua regulamentação através do famoso Regulamento Nº 120, de 31 de janeiro de 1842, conhecido praticamente por todos os magistrados e autoridades policiais da época, popularizado por seus comentadores, como eram os casos do já referido Roteiro dos

No documento Ilegalismos e jogos de poder : (1840-1880) (páginas 123-165)

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