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A Juventude Estudantil Católica Feminina e a formação do movimento secundarista

No documento SUSANA ROMAN BLANCO PÉREZ (páginas 76-81)

Estado poderia ser abalada, principalmente no período político em questão.

Segundo Khoury (1998, p. 90),

quando gradualmente, a JEC vai passando de um trabalho mais individual com os estudantes, no qual procura desenvolver neles princípios morais e vivência espiritual, para um trabalho mais social, de tomada, progressiva, de consciência dos problemas do meio, o conflito se acirra, encontrando adeptos tanto de um lado quanto do outro, entre os militantes e a própria Igreja. A perspectiva do engajamento com a realidade social é mais praticada pelos núcleos de base, do que pela orientação do Movimento, devido às características da experiência que esses núcleos vivenciam.

Com o envolvimento crescente da Juventude Estudantil Católica com os problemas sociais, crescem também os embates com a Igreja. A partir desse confronto de opiniões, no ano de 1964, segundo Khoury (1998), o movimento começa a se desmantelar. Em 1966, a CNBB propõe a descentralização do movimento. Enfraquecido e desestruturado, a JEC, reunida em Conselho, decide que não mais tem condições de atuar.

É em meio a essa trajetória da JEC que a seção feminina, pela qual a JEC nasceu, deve ser compreendida. Por isso, vale ressaltar o lugar da JECF – Juventude Estudantil Católica Feminina no movimento leigo da Igreja Católica.

II. 6. A Juventude Estudantil Católica Feminina e a formação do movimento secundarista católico

A Juventude Estudantil Católica do Brasil – JECB, movimento de estudantes secundaristas, organizou-se inicialmente, como um grupo basicamente feminino, criada em 9 de junho de 1935, a partir do artigo 6º dos Estatutos da Ação Católica Brasileira (ACB), por

iniciativa do Episcopado Nacional. Dependia diretamente da hierarquia eclesiástica e foi considerada uma das organizações fundamentais da Ação Católica.

Segundo Dale (1995), nos estatutos da AC de 1935, pode se ler:

Art. 6º - Constituem seções importantíssimas da JC: a) Juventude Estudante Católica (JEC), para a mocidade do curso secundário; b) Juventude Universitária Católica (JUC), só para universitários, onde seja possível; c) Juventude Operária Católica (JOC), para a mocidade operária.

Logo que possível, a JUC e a JOC passarão a funcionar independentemente da Juventude Católica, constituindo assim organizações fundamentais da AC Brasileira. (Dale, 1995, p.28).

A Juventude Estudantil Católica Feminina (JECF), ainda segundo Dale (1995), iniciou efetivamente suas atividades em 1937, como parte da Juventude Feminina Católica (JFC), passando a ser autônoma somente a partir de 1948. Esse movimento, em princípio, atuava nos colégios, expandindo-se, mais tarde, pela região diocesana.

Esse autor informa que a JEC, quando criada, era uma seção apenas feminina, o que a fez receber o nome de Juventude Estudantil Católica Feminina (JECF). Além disso, por estar vinculada à Ação Católica, o programa anual da JECF, elaborado pelas dirigentes (militantes) de todas as regiões do país, ficava subordinado à análise daqueles que ocupavam os lugares superiores na hierarquia católica. Ou seja, apesar do esforço de reunir membros de todas as regiões para elaborar o programa anual da JECF, essa iniciativa não contava com a autonomia dos membros que dela participavam, já que dependia pela análise e aprovação dos superiores da Igreja.

Khoury (1998) afirma que a atuação da JECF, nas escolas, no um primeiro momento, apresentava um caráter de associação religiosa e que, para a Igreja, essa seria uma forma de aproximar-se dos jovens, agregando-os para, assim, ampliar os adeptos às crenças católicas.

Para essa autora, a expansão da JECF começa em 1947, com a Sessão Internacional, na França, quando aconteceu o encontro de estudantes secundaristas, do qual participaram duas dirigentes brasileiras, uma da Juventude Feminina Católica – JFC e a outra da Juventude Estudantil Feminina Católica18. Segundo ela, o contato com o movimento especializado de outros países impulsionou o trabalho da Juventude Estudantil Católica Feminina no Brasil. Essa expansão ocorreu primeiramente no Rio de Janeiro, onde estava localizada a sede da

Equipe Nacional, seguida por São Paulo e Recife.

Khoury (1998) destaca o ano de 1950 como referência para expansão da JECF, pois foi quando, a partir da realização do I Encontro Latino-Americano da Juventude Estudantil Católica – JEC e da Juventude Universitária Católica – JUC, as dirigentes nacionais começaram a viajar pelo país, com a finalidade de divulgar a JECF e constituir um grupo capaz de sustentar e levar adiante o movimento estudantil católico.

Após 1950, as sanções pelas quais passou a JEC também podem ser atribuídas à seção feminina, tornando desnecessário reiterar o que já foi apontado. Nessas condições, vale analisar as práticas realizadas por essa seção do movimento estudantil católico entre as décadas de 1950 e 1960. Para tanto, a análise realizada tem por base três tipos diferentes de fontes: o caderno de orientações (capítulo 3), a série de correspondências (capítulo 4) e os relatórios de atividades (capítulo 5).

CAPÍTULO III

– AS PRÁTICAS DA JECF PELA

ANÁLISE DO CADERNO DE

ORIENTAÇÃO À DIRIGENTE

Neste capítulo, são analisadas as práticas da Juventude Estudantil Católica Feminina para o que é tomado como fonte um caderno de orientações produzido pela Equipe Nacional da JECF para direcionar as ações das novas dirigentes jecistas. Essas indicações são explicitadas na capa do caderno, onde constam os responsáveis pela confecção do material.

Fonte: Caderno de orientações para dirigentes, capa.

Como se pode observar, tratar-se de um Documento da Ação Católica, da seção JEC Brasil, sob a responsabilidade de Secretaria Nacional, sediada no Estado do Rio de Janeiro. É formado por quarenta e cinco páginas, sem explicitar a data a que se refere19.

Por considerar que os responsáveis pela produção (Ação Católica – Secretaria Nacional da JEC) e a destinação do caderno (novas dirigentes da Juventude Estudantil Católica Feminina), pode-se afirmar que as indicações buscavam realizar a estratégia da Igreja

19 Embora não apresente data, pela série de correspondências analisadas (capítulo IV), do período compreendido

entre a década de 1950 e 1960, verifica-se que as práticas das jecistas são voltadas ao cumprimento de orientações encontradas no caderno. Essa constatação possibilita supor que esse material foi produzido entre essas décadas, apesar de não ser possível afirmar isso categoricamente. Por esse motivo, as citações feitas do Caderno são identificadas apenas como “Caderno de orientações”. Nas citações de outras fontes, segue-se o

no que concerne à aproximação de possíveis militantes, a fim de, assim, ampliar o rebanho, os seguidores, transformando-os em praticantes dos preceitos católicos, para o que se apresentava como fundamental o trabalho de apostolado, pautado no entusiasmo e testemunho.

ENTUSIASMO e TESTEMUNHO, duas palavras que devem marcar os seus contatos com o novo grupo. As meninas descobrirão a JECF através de você e é preciso que vejam como ela deve ser. Fale a elas com entusiasmo. Nada mais desanimador que sentir que os que nos falam parecem nos querer impingir algo em que eles mesmos parecem não acreditar... E você acredita em JECF, não acredita? Você crê na possibilidade de cristianizar o meio estudantil, não crê?

Bem, então faça as meninas sentirem isto. E seja, você mesma, um testemunho do que pode o amor ao meio, a consciência do que é ser cristã, do que é ser militante. Seja a sua vida o transbordamento daquilo que você VIVE e ACREDITA. (Caderno de orientação à dirigente, p. 5).

Pelo que se pode observar, os responsáveis pela confecção do caderno, como representantes dos interesses da Igreja, além de usar as jovens secundaristas para ampliar o rebanho, reconhecia que para alcançar os fins visados, era preciso reafirmar os preceitos da fé, usando a fé, a credulidade das jovens como estratégia de convencimento. Outro exemplo do uso da fé como estratégia é a representação que a Igreja criou da JECF e do trabalho de suas militantes: eram tidas como representantes de Cristo para santificar o meio estudantil.

No entanto, mesmo como representantes de Cristo, na própria confecção do material, fica evidente que as práticas realizadas pelas jecistas precisariam do respaldo da hierarquia da Igreja, haja vista serem jovens que precisavam de amparo e direção. Assim, especificava-se tanto a proximidade em relação ao Filho de Deus, quem o representava mais. Pela estrutura das orientações é possível perceber essa relação hierárquica, os vínculos das práticas das JECF com os preceitos da Igreja Católica.

No documento SUSANA ROMAN BLANCO PÉREZ (páginas 76-81)