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Estrutura das orientações

No documento SUSANA ROMAN BLANCO PÉREZ (páginas 81-85)

Observa-se que, pela disposição dos tópicos no caderno de orientações às dirigentes, se revela a relação das práticas definidas para a JECF com os preceitos da Igreja Católica.

É possível verificar essa relação já após a capa, ao ser apresentada uma oração, denominada de “Oração do jovem estudante”. Essa oração é seguida de textos que descrevem a importância de ser uma dirigente. Nesses textos, são discutidos os papéis da educação da juventude e da família, os problemas e particularidades do meio estudantil e a aplicação do método “ver-julgar-agir”.

Não se pode afirmar, ao certo, quais seriam as dimensões desse material, uma vez que não se teve acesso ao documento em sua materialidade, pois só foi possível analisá-lo em microfilme. Mesmo assim, percebe-se que se trata de um material de produção simples, datilografado, constando, até mesmo, erros de datilografia.

De qualquer modo, o material consubstancia-se em estratégia de prescrição das práticas eleitas pela Ação católica a ser adotada por esse seguimento e o controle das mesmas. O material é todo montado com dispositivos de leitura que objetivam constituir essas práticas e garantir que não houvesse desvios na apropriação das prescrições. Já no sumário, disponível no fim do material, pode-se perceber o modo peculiar pelo qual as orientações para as práticas da JECF foram constituídas.

Fonte: Caderno de orientação à dirigente, p. 45.

Estudantil Católica mantinham vínculo estreito com os princípios defendidos pela Igreja, especialmente se observado que o caderno é aberto com uma oração.

O sumário conforma-se em receituário das atividades que deveriam ser desenvolvidas pelas jecistas. Ele é ordenado pela seqüência de ações a serem realizadas nas atividades de cada uma dos grupos vinculados ao movimento.

Pela disposição do sumário, verifica-se, pela seqüência Escola – Meio Estudantil – JECF, que a preocupação versa sobre os lugares de atuação da militância estudantil católica. Especificados esses lugares, é explicitado o método de atuação da JEC, os princípios que o norteiam, para que, em seguida, passar às orientações para organizar grupos de novos militantes.

Entre essas orientações, verifica-se que é conferida uma ênfase na organização da primeira reunião, que serviria de modelo para as demais. Observa-se que, já para a primeira reunião, há uma preocupação com a introdução do método ver-julgar-agir, que ordenava as iniciativas da Ação Católica.

Os tópicos Vida de estudante, comunidade, disciplina aparecem como exemplos de temas que poderiam ser pauta de várias reuniões, sem perder de vista o método ver-julgar- agir. Verifica-se que para o julgar, são determinados os parâmetros que deveriam ser utilizados pelas jecistas, pois aquilo que é observado, ou seja, que está no âmbito do “ver”, a depender de como é julgado, pode produzir as mais diferentes práticas. Assim, definir parâmetros para o “julgar”, ou, como apontado no caderno, dispor as “idéias básicas” que devem nortear o julgamento, é imprescindível para ter controle sobre a ação, sobre as práticas a serem desenvolvidas. Assim, já por esse sumário, é possível perceber as estratégias, no sentido de Certeau (2004), dos dirigentes da JECF para controlar a ação, o agir, as práticas das jecistas.

O tópico Revisão de uma Assembléia aponta para a prática de avaliar as reuniões realizadas. Nesse momento, aos participantes é conferido poder de expor as possíveis falhas e os pontos positivos da reunião. Desse modo, as dirigentes poderiam perceber que pontos deveriam ser valorizados e quais deveriam ser refutados, por não conseguir alcançar os objetivos pretendidos: o de aglutinar mais e mais militantes. Nesse movimento, percebe-se um espaço definido para, ao possibilitar que os participantes avaliem as reuniões, seja avaliado o próprio movimento jecista, a fim de reparar falhas e fortalecer a inserção das jovens. Portanto,

militantes, para que a inserção da jecista, ao passo que estivesse presa aos interesses da Igreja, não tivesse resistência na atuação entre os pares e não fosse desviante do que lhe fora prescrito.

Em Explicar como se trabalha na JECF são informadas as atribuições que as militantes deveriam exercer para fazer parte da JECF. Nesse tópico, portanto, pode ser percebida a estratégia para fazer com que as militantes ficassem cientes das práticas de apostolado que precisariam desenvolver no meio em que estivessem inseridas, ou seja, no meio estudantil, do qual precisariam ser consideradas também as demais pessoas que dele faziam parte. Com essa estratégia, evidenciava-se também o vínculo aos princípios da Igreja, que precisariam ser cumpridos exemplarmente.

E, se, por um lado, a estrutura do caderno evidencia a estratégia de controle do movimento, por outro, a própria confecção do caderno pode ser considerada como uma estratégia, na medida em que visava não só o controle das práticas, mas a unificação dessas práticas a fim de que elas constituíssem um padrão em todos os lugares onde a militante jecista se fizesse presente. Ou seja, o caderno pode ser visto como estratégia de formatação e controle das práticas jecistas em todas as regiões do país.

Nesse sentido, pode-se afirmar que essa estratégia visava ao universalismo, assim como universalista pretendia ser a Igreja Católica, pois não se verifica que houvesse orientações para regiões específicas, mas apenas um caderno que servia a todas as regiões, a todas as militantes, independente de suas especificidades, de suas particularidades.

Para compreender como deveriam ser as práticas pensadas pela Equipe Nacional, ou seja, pela hierarquia da Igreja, vale analisar o conteúdo do caderno.

No documento SUSANA ROMAN BLANCO PÉREZ (páginas 81-85)