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1. R EFERENCIAL T EÓRICO

1.4 L EGISLAÇÃO R EVISITADA

1.4.5 A legislação sanitária

A Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA (RDC) que detalha os requisitos técnicos à concessão de registro de cosméticos infantis pela Agência foi atualizada recentemente. Trata-se da RDC n.º 15, de 24 de abril de 2015,

retificada em 6 de maio do mesmo ano. Esse regramento foi resultado de consulta pública realizada pela Agência, que propôs a atualização dos requisitos em comento.

Entre os destaques da Resolução proveniente dessa consulta estão: o estabelecimento de critérios como faixa etária, a formulação dos produtos, os testes de segurança e as advertências de rotulagem. Além de apresentar os dizeres de rotulagem especificados para cada tipo de produto, em forma de anexo, a proposta mantém a determinação da Resolução anterior (n.º 38/2001), que foi revogada, de que figuras, imagens ou desenhos constantes dos rótulos, das embalagens e de material de divulgação não devem induzir sua utilização por crianças de idade inferior à indicada.

Essas orientações são de extrema valia para o trabalho dos tradutores no que diz respeito ao acréscimo de informações como advertências na tradução de rótulos de produtos importados e que sejam provenientes de países cuja legislação seja divergente sobre esses aspectos. Ademais, embora se saiba que nem sempre tradutores têm influência sobre as figuras, as imagens e os desenhos constantes dos rótulos, de certo a presença ou a ausência desses elementos impacta seu trabalho, considerando que o rótulo virtual é um hipertexto com partes que interagem entre si.

1.4.5.1 O Click Saudável

A proposta de modernização do CDC, como apresentada na seção 1.1.4, não é a única iniciativa do Estado no sentido de proteger o consumidor em face à revolução causada pelas plataformas de comércio eletrônico. Muito pouco se encontrou, entretanto, de orientações e/ou normas substanciais da ANVISA a respeito dessa modalidade de comércio no que concerne aos cosméticos, inclusive infantis.

De acordo com matéria publicada em seu site, a ANVISA esclarece que:

No Brasil, a venda de cosméticos, alimentos, produtos de limpeza e produtos para saúde pode ser feita pela internet. Entretanto, é necessário que estes produtos estejam regularizados na ANVISA e atendam os requisitos de segurança e eficácia específicos de cada categoria.26

Apesar de alertar para o fato de que produtos comercializados em meio virtual também devem estar registrados no órgão, a Agência não faz qualquer menção à oferta dos produtos em si por meio da web nesse trecho.

A ação da Agência e do Ministério da Saúde é no sentido de prover informações genéricas ao consumidor que lhe permitam se conscientizar melhor antes de adquirir produtos pela internet. Nesse sentido, foi criado o

Click Saudável, projeto que objetiva “auxiliar o internauta a encontrar

informações mais confiáveis sobre alguns dos produtos que consome.”27

Essa iniciativa é resultado de uma parceria firmada entre a ANVISA e o Mercado Livre - maior site de e-commerce no Brasil -, e prevê a inclusão de 12 milhões de anúncios publicitários com informações de utilidade pública para orientar os consumidores que procuram, no Mercado Livre, produtos cuja regulamentação é de competência da Agência. Em contrapartida, o site de comércio virtual “vai fornecer à ANVISA os dados dos responsáveis por publicidades irregulares e uma ferramenta de busca e remoção desses anúncios”.28

De certo, esse movimento no sentido de educar o cidadão para o consumo é relevante diante de tantas opções referentes a lojas virtuais, a produtos e a procedência do que se pode consumir via click. Entretanto, acredita-se que esses alertas não substituem informações claras, precisas e ostensivas sobre as características de um produto, e que medidas repressivas

26 Anvisa e MercadoLivre firmam parceria e lançam o Click Saudável. Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/anvisa+portal/anvisa/sala+de+imprensa/menu+- +noticias+anos/2015/anvisa+e+mercadolivre+firmam+parceria+e+lancam+o+click+saudavel. Acesso em: 26 fev. 2016.

27 Ibidem.

28 Anvisa e MercadoLivre firmam parceria e lançam o Click Saudável. Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/anvisa+portal/anvisa/sala+de+imprensa/menu+- +noticias+anos/2015/anvisa+e+mercadolivre+firmam+parceria+e+lancam+o+click+saudavel. Acesso em: 26 fev. 2016.

às publicidades irregulares podem prevenir acidentes de consumo, mas nem sempre contribuem com a escolha do consumidor.

O projeto foi inaugurado em abril de 2015 em Brasília e, em sua fase inicial, conta com uma página na internet: www.clicksaudavel.gov.br. O objetivo desse espaço é reunir informações que orientem a população sobre a compra de produtos em sites de comércio eletrônico. Acessando a página, encontra-se, de fato, uma série de artigos sobre produtos sujeitos à vigilância sanitária. São exemplos: “Agrotóxicos na amamentação: benefício supera riscos”; “Evite o consumo de alimentos à base de Goji berry”; e “O pH da água pode influenciar na saúde dos consumidores?”.

Navegando pelo site, a aba “cosméticos” traz duas publicações, uma de extremo interesse desta pesquisa: “De olho nos cosméticos infantis: saiba como proteger seu filho de reações indesejadas”. Ao clicar no link, porém, o conteúdo não está disponível. Tentou-se contato com a ANVISA por meio de correio eletrônico para comunicar a impossibilidade de acesso ao material, entretanto, não houve resposta.

Conforme mencionado previamente, esses textos - embora educativos - apresentam apenas informações gerais sobre produtos cuja fabricação e comercialização estão sujeitas ao Sistema de Vigilância Sanitária. Restam, porém, dúvidas quanto à eficácia do clicksaudavel.gov.br do ponto de vista da promoção da segurança do consumidor, na medida em que o site não proporciona dados mais específicos sobre produtos.

Como saber, então, se um sabonete contém uma substância à qual se é alérgico? Como se informar sobre o modo de uso de um produto desconhecido? Sabe-se, obviamente, que esse papel deve ser desempenhado pelos rótulos, e que nenhum site poderia cobrir toda a oferta de produtos. Considera-se, de fato, que o projeto em comento seja pertinente à educação para um consumo mais consciente. Por essa razão, acredita-se que o Click Saudável seria um ótimo mecanismo de empoderamento do consumidor e de promoção da cidadania; em caráter complementar, porém, não como o principal aliado do Governo na proteção à saúde do “e-consumidor”.