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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

3. A EDUCAÇÃO INFANTIL

3.2. Os ordenamentos legais da década de 1990

3.2.2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Quando tomamos por base a essência de nosso estudo, verificamos que para nós foi o resultado da implementação do Fundef que incidiu decisiva e diretamente na organização nacional para oferta da Educação Infantil, na década de 1990, do que propriamente a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

De acordo com os preceitos legais da Constituição federal e em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no ano de 1996, foi aprovada a LDB 9394/96 que definiu a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica e estabeleceu o atendimento de crianças de 0 a 03 anos em creches e de 04 a 06 em pré-escolas36.

Em nosso entendimento a lei nacional da educação atua muito mais no âmbito educativo do atendimento do que propriamente em sua forma de organização, exceto pelos incisos I e II do artigo 30.

Nosso posicionamento pode ser justificado por meio do artigo 30 da lei. A separação da oferta educativa à criança pequena em espaços diferenciados, dividida conforme a faixa etária pode ter evidenciado muito mais o caráter fragmentado do atendimento do que as práticas articuladas entre educação e cuidado.

Acreditamos que as políticas de atendimento à criança pequena precisam ser analisadas de forma globalizada de modo que sejam consideradas

36 A partir de 2006, o atendimento pré-escolar passou por um processo de reorganização. As leis 11114/05 e 11274/06 definem a antecipação e a ampliação do Ensino Fundamental obrigatório, com duração agora de nove anos e ingresso a partir dos seis anos de idade. Economicamente, a vantagem é maior na incorporação desses meninos e dessas meninas à outra etapa da educação básica de que na formulação e implementação de políticas públicas que, efetivamente, respeitem as especificidades da criança de 0 a 06 anos.

[...] as ações voltadas à assistência social, à saúde, à alimentação, à guarda e à educação. Trata-se de uma tentativa de se romper com a versão tradicional que divide a história do atendimento infantil em dois momentos distintos: o primeiro, quando a ênfase das ações estava no assistencialismo e, num segundo, em que a preocupação se desloca para os aspectos educacionais (SILVA, 1999, p. 41).

No âmbito educacional, o 29º artigo da lei afirma que a primeira etapa da educação básica “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social” [...] (BRASIL, 1996, p. 22).

Torna-se fundamental considerar a importância e o caráter positivo dessa afirmativa ao destacar que as práticas desenvolvidas dentro das unidades educativas devem compreender a criança como um ser integral e único.

Neste sentido, houve sim implicação decisiva da aprovação da lei à Educação Infantil quando selecionamos para análise as questões educativas do atendimento. Ao referir-se à aprovação da lei, Oliveira (2002) defende que

Esta condição, ao mesmo tempo que rompe com a tradição assistencialista presente na área, requer um aprofundamento do debate acerca de quais seriam os modelos de qualidade para a educação coletiva de crianças pequenas. Os modelos educacionais defendidos na área têm muitos elementos comuns, em virtude da intensa circulação de ideias e de proposições em relação à educação infantil em curso desde o século XIX, com a universalização do discurso da psicologia e a difusão internacional da ideia de jardim-de-infância (OLIVEIRA, 2002, p. 35).

No período, verificou-se também um avanço nas discussões, tanto acadêmicas quanto nas instâncias governamentais37, acerca das questões pedagógicas que envolvem tal questão.

Para Oliveira (2002) esses debates foram legitimados por “novas concepções acerca do desenvolvimento da cognição e da linguagem” que deram nova forma ao planejamento das propostas pedagógicas para a área.

Evidenciamos aqui a ação do Ministério da Educação. Após a aprovação da lei, o MEC não poupou esforços e nem investimentos financeiros para a elaboração, a publicação e a divulgação de documentos de cunho pedagógico, prático e educativo para orientar as práticas do dia-a-dia.

37 Não aprofundaremos aqui as discussões acerca das questões vinculadas à prática pedagógica. Para mais conhecimento sobre a temática consultar: ROCHA (1999); KUHLMANN JR (2000); OLIVEIRA (2002).

Dentre esses, destacamos as “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil” e os “Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil”, esses últimos distribuídos gratuitamente a todos os municípios brasileiros, no final da década de 1990.

Em consonância e impulsionado por estímulos e incentivos do próprio Ministério, o município de Amparo ampliou o programa de formação continuada voltada aos profissionais da área, após a chegada dos RCN/EI, assim como dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN.

A lei também, em seu capítulo IV, assim como a Constituição, confirmou o papel da União em prestar apoio técnico e financeiro às esferas estaduais e municipais a fim de que estas pudessem desenvolver seus sistemas de ensino, mas, geralmente, os recursos financeiros que chegavam destinados às crianças pequenas, eram insuficientes.

Nota-se, com isso, que as Secretarias de Educação, órgãos responsáveis pela oferta de vagas nas esferas municipais, têm buscado atender e acolher as suas crianças, porém, não se pode desconsiderar que as estratégias utilizadas são extremamente excludentes, pois se apóiam na necessidade e não na opção familiar ou no direito da criança.

Podemos destacar ainda que a última LDB ao considerar esse atendimento como complementar a ação da família e do Estado pode ter legitimado a não universalização. A partir do momento em que a oferta de matrículas foi reconhecida como direito, mas não entendida como frequência obrigatória pela criança, o Estado desobrigou-se da oferta.

Inferimos, portanto a partir dessa constatação que as propostas planejadas para a Educação Infantil e descritas no documento ministerial de 1993 parecem vir na contramão das ações propostas pelo governo federal, demonstrando assim a contradição entre as proposições legais e a política implementada.

Por fim, afirmamos que a integração da Educação Infantil, pela LDB, como primeira etapa da Educação Básica deve sim ser reconhecida como um esforço nacional para a legitimação dessa acolhida a um caráter educativo, no entanto, tal referência é resumida, uma vez que em apenas três parágrafos a lei define a finalidade, a organização das instituições e orienta as práticas educativas.

3.3. A política nacional para organização da Educação Infantil na