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Entrevista com a Srª Orley Zucatto Mantovani Nóbrega de Assis

3. A EDUCAÇÃO INFANTIL

4.2. Procedimentos metodológicos

4.2.1. Entrevistas

4.2.1.2 Entrevista com a Srª Orley Zucatto Mantovani Nóbrega de Assis

A segunda entrevista que realizamos foi com a Srª Orley Zucatto Mantovani Nóbrega de Assis que esteve à frente da Secretaria Municipal de Educação entre os anos de 1993 a 1996.

A trajetória da Srª Orley junto a funções de orientação na SME teve início em 1990. Atuando como coordenadora pedagógica a professora auxiliou nesse mesmo ano na implementação do PROEPRE, capacitando professores em encontros de formação continuada e visitando as salas em que o programa era aplicado.

De acordo com a ex-secretária, nesse período, a pré-escola se configurava como um atendimento estruturado e reconhecido com prestígio pela população. Faltava, no entanto, ao município o atendimento público às crianças pequenas, especialmente aos bebês.

Neste sentido, ela distingue a história das creches no município: antes e pós 1992, quando são iniciadas as obras para a construção das primeiras creches que automaticamente vincularam- se ao Departamento de Assistência Social.

Não se sabe ao certo como as profissionais que lá atuaram foram selecionadas nem qual a formação mínima exigida. Contudo, recorda-se ela, no ano de 1993 tiveram início as discussões para transposição das creches à Secretaria Municipal de Educação.

Da mesma forma que o ex-prefeito, a professora destaca a relevância e a importância desses debates para o período em que nem mesmo a legislação federal fazia referência a tal necessidade.

Ao assumir a Secretaria Municipal de Educação em 1993, não houve alterações nas formas de organização da pré-escola. A vinculação das creches à SME efetivou-se em 1994.

A partir daí a ação dirigiu-se à criação das funções de diretora para as Unidades com até 05 turmas formadas e de supervisora para visitar as salas, verificando e orientando o trabalho pedagógico com o PROEPRE.

Nessa organização, a professora convidada a assumir a primeira função atuava um período em uma das turmas de pré-escola da Unidade Escolar e no outro desempenhava funções administrativas. Já para a função de supervisora a atuação era somente no âmbito administrativo e pedagógico, sem trabalhos diretos com crianças.

A preocupação do ex-prefeito com a valorização dos servidores traduziu-se na Secretaria Municipal de Educação pela organização de concursos públicos para provimento de alguns

cargos e cursos de “reciclagem45” para merendeiras, professores e auxiliares de desenvolvimento infantil46.

Apesar de não termos os dados da evolução das matrículas das turmas de berçário e Profic das creches municipais, segundo a Profª Orley a transformação mais significativa relacionada à oferta de vagas ocorreu nessas turmas, uma vez que a pré-escola já se constituía como um atendimento consolidado.

Assim, o atendimento educacional municipal naquele momento destinava-se apenas à Educação Infantil, portanto, além das ações de valorização profissional direcionada a todos os servidores, foram também implementadas ações específicas ao quadro do magistério pré-escolar, tais como a incorporação da hora-atividade ao salário base e a possibilidade de “dobra de período”.

Os benefícios destinados especificamente ao corpo docente nasceram de proposituras da então secretária, discutidos e aprovados pelo chefe do executivo.

Neste sentido, é afirmado pela Srª Orley ter sido dada autonomia a ela para formular ações e participar do processo de tomada de decisão que, segundo o chefe do executivo, era centralizada no gabinete.

Em relação aos critérios de atendimento a educação pré-escolar sempre ofereceu matrículas em meio-período às famílias que procurassem por esse serviço educativo. Com a incorporação das creches à SME primeiramente as vagas para atendimento integral foram destinadas às crianças cujas mães trabalhassem fora do lar.

A constatação de que mesmo selecionando as crianças que seriam matriculadas não se absorveria todo o contingente foi deliberada na instância da secretaria que esse critério de acesso não mais seria válido. Deveriam ser matriculadas ou incorporadas à lista de espera todas as crianças cujas famílias desejassem compartilhar a educação delas com a esfera pública, no caso as creches municipais.

45 O uso do termo reciclagem para conceituar o processo de formação continuada “é característico da década de 1990 esse termo trás consigo o ideário da atualização profissional, caracterizada por cursos rápidos, em consonância com a lógica da produção capitalista; capacitação: tornar capaz quem ainda não é” (PEREIRA, 2008, p. 20).

46 Após a vinculação das creches à Secretaria Municipal de Educação realizaram-se concursos públicos para provimento das funções de Auxiliar de Desenvolvimento Infantil, exigindo-se como formação mínima o diploma de conclusão do 1º grau. As servidoras que já atuavam com as crianças na organização anterior também passaram a fazer parte do quadro de servidores da Educação.

Assim como o ex-prefeito a Srª Orley destaca como um dos programas complementares implementado a concessão de bolsa de estudo a universitários, detalhando que nessa oferta os servidores municipais eram beneficiados por ter uma cota reservada a eles.

Além disso, também foi enfatizada a implementação do PROEPRINHO, proposta pedagógica similar àquela já desenvolvida na pré-escola, porém destinada às crianças de 0 a 03 anos.

Não houve afirmação quanto à existência de transporte público destinado às crianças da Educação Infantil. No entanto, sabe-se que o ano de 1998 registrou algum atendimento desse tipo e que a extinção ocorreu em 1999.

Registrou-se nesse período a continuidade da parceria já estabelecida com a Secretaria Municipal de Saúde por meio do atendimento no Núcleo de Especialidades, do Programa de Saúde Bucal e da Aplicação do Teste de Acuidade Visual, todos, aliás, existentes até os dias de hoje e desenvolvidos junto aos alunos da rede municipal de ensino.

Outros níveis de ensino também foram registrados no período. A existência da oferta de matrículas na Educação de Jovens e Adultos iniciou-se no período em que o MOBRAL era o responsável por essa modalidade de ensino. Ampliou-se esse atendimento com a implementação em 1995 do Telecurso 2000 nas modalidades de 1º e 2º graus.

O processo de municipalização tardio do Ensino Fundamental fez com que os recursos financeiros fossem aplicados quase que exclusivamente na Educação Infantil, resultando no investimento em materiais pedagógicos para as escolas e em formação para os professores.

Finalizando, foi exposto pela Srª Orley que o envolvimento de demais atores sociais nos processos de tomada de decisão se dava por meio de discussão de assuntos pertinentes com o grupo de supervisores e de diretores do período.