• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO I. FISCALIZACION Articulo

4 A LEI 1566 DE 2012: SAÚDE, DIREITOS E ESTIGMAS

Esse capítulo analisa os debates no Congresso da República da Colômbia em torno da aprovação da Lei 1566 de 2012, dirigida à população consumidora de substâncias psicoativas. A Lei é importante na história do país, pois cria-se através dela um mecanismo específico para o atendimento das pessoas que quiserem fazer tratamento por causa do consumo de SPA. Em anos anteriores essa população não tinha esse atendimento, porque o regime de saúde não considerava o consumo de SPA como uma problemática de saúde pública. Ao mesmo tempo, procurarei mostrar como a Lei não apresenta apenas novidades, mas é influenciada pelas leis anteriores, que previam punições ou algum tipo de atendimento a esse público.

Para realizar a análise, baseio-me no vídeo do debate final para aprovação da Lei 1566 de 2012, realizado no Congresso da República da Colômbia, no dia 5 de junho desse ano. Esse foi acessado através de solicitação enviada por e-mail ao arquivo do Congresso da República. Com o material audiovisual pronto, transcrevi as falas dos congressistas que participaram do debate que teve caráter decisório. Dele participaram representantes dos diversos partidos políticos com representação naquele momento, entre eles o Partido Liberal, o Partido Conservador, o Partido de la U, o Partido Cambio Radical, o Polo Democrático Alternativo, a Alianza Verde, o Partido Mira, o Centro Democrático, entre outros. No final do debate, a votação foi pela aprovação da Lei por unanimidade.

4.1 Um problema de saúde pública

A Lei 1566 de 2012 estabeleceu normas para garantir a atenção integral à saúde às pessoas consumidoras de sustâncias psicoativas, além de criar o prêmio nacional “Entidade comprometida com a prevenção do consumo, abuso e adição às substâncias psicoativas”. Ela conta com 12 artigos que definem os mecanismos de atendimento, de regulação e de obrigatoriedade do Estado e demais instituições envolvidas.

A referida lei foi uma proposta apresentada pelos representantes do Partido Político da U – o partido da bancada do governo à época da presidência de Juan Manuel Santos, Elias Raad e Alba Luz Pinilla. No começo do debate eles consideram que as seguintes proposições deveriam ser inseridas na versão final da Lei:

Se incluye la expresión el abuso y la adicción para el artículo 1 da ley 1566. Se incluye para el artículo 2 la atención integral. Toda persona con trastornos mentales o cualquier consecuencia del uso o abuso de sustancias psicoactivas lícitas o ilícitas tendrán derecho a ser atendidas por el sistema de seguridad en salud, o entidades públicas o privadas que atiendan dichos trastornos. Para el artículo 3 se incluye que la atención de las personas con abuso, consumo y adicción a las SPA, referidas en el artículo 1ro en la presente ley se realizará a través de los servicios de salud habilitadas en las IPS [Instituições Prestadoras de Serviços]. Cualquier modalidad establecida por el ministerio de salud, entre ellos los servicios amigables, unidades de salud mental, los centros de atención comunitaria, los equipos básicos de atención primaria en salud, y otras modalidades que formule el ministerio. Para el artículo 10 se incluye que la instancia especializada será el ministerio de salud y protección social, será la instancia responsable de realizar el seguimiento y evaluación de impacto de la política pública de salud mental y la política de reducción del consumo de SPA y su impacto, así como la formulación, los criterios y los estándares de calidad de las IPS pública o privada en el territorio nacional. Garantizando la integralidad, los estándares de calidad, el respeto de la dignidad y los derechos de las personas sujetas de atención […] Instancia que estará integrada por un equipo interdisciplinar y expertos en prestación de servicios en salud mental y reducción del consumo de SPA [Substâncias Psicoativas] (COLOMBIA, 2012, Video 1, Minuto 51:05).

Essas proposições, feitas ao texto final da Lei, são de muita importância, porque ficam inseridas no documento que é aprovado pela Assembleia. Além disso, elas permitem identificar elementos que estão relacionados com a visão sobre os usuários de drogas enquanto vítimas de um processo de abuso e vício. Têm um diálogo com a visão médica sobre o consumo de substâncias psicoativas que pode se identificar nas leis referenciadas nos capítulos anteriores. A compreensão do consumidor de drogas como doente insere também o debate no âmbito da necessidade de garantia de direitos e da dignidade da vida humana. O sujeito aqui

aparece em dois sentidos: como sujeito de direitos e como sujeito ‘assujeitado’ (no sentido foucaultiano) ao tratamento e olhar médico.

Nestes aportes fica estabelecido que a pessoa que sofre de um transtorno mental ou qualquer alteração derivada do consumo de substâncias psicoativas deverá receber atendimento nas instituições públicas ou privadas de saúde. Para compreender a Lei 1566/2012 nesse aspecto é preciso considerar que o sistema de saúde na Colômbia é contributivo e oferecido pelas instituições privadas, chamadas de Entidades Promotoras de Saúde (EPS). Parte do financiamento das EPS é realizado com investimento público e a outra parte é financiada através do regime contributivo, no qual colaboram o trabalhador e o empregador (CHACON, 2017). Assim, com a Lei 1566/2012, o Estado obriga as EPS a fazerem o atendimento da população consumidora de substâncias psicoativas, algo inexistente na proposta da Lei 100 de 199329 que regulamenta o funcionamento do regime de saúde na Colômbia, na qual as EPS e as Instituições Prestadoras de Serviços (IPS)30 não tinham obrigatoriedade de atender essa população.

Gostaria de mostrar agora como algumas dessas ideias aparecem no texto da Lei, destacando os artigos importantes e mencionados nos apontamentos dos congressistas. O artigo primeiro da Lei reconhece, portanto, “que o abuso ou a adição a substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas, é um assunto de saúde pública e bem-estar” – e considera que eles devem ser tratados como um problema de saúde pública:

ARTÍCULO 1. RECONOCIMIENTO. Reconózcase que el consumo, abuso y adicción a sustancias psicoactivas, lícitas o ilícitas es un asunto de salud pública y bienestar de la familia, la comunidad y los individuos. Por lo tanto, el abuso y la adicción deberán ser tratados como una enfermedad que requiere atención integral por parte del Estado, conforme a la normatividad vigente y las Políticas Públicas Nacionales en Salud Mental y para la Reducción del Consumo de

29 Lei de atendimento geral em seguridade social, na qual o atendimento à saúde da população torna-se contributivo e se privatiza na Colômbia, estando na contramão do manifestado na constituição política do país que fala da saúde como um direito fundamental, portanto, seu serviço deveria ser gratuito.

30 A diferença entre as Entidades Promotoras de Saúde (EPS) e as Instituições Prestadoras de Serviços (IPS) é que as primeiras são organizações intermediárias entre o Estado, usuários e centros de atendimento, que cooptam todos os recursos econômicos dos contribuintes e do Estado para contratar clínicas, hospitais – que, por sua vez, são as IPS (que fazem o atendimento da população).

Sustancias Psicoactivas y su Impacto, adoptadas por el Ministerio de Salud y Protección Social. (COLOMBIA, 2012, p. 01).

O artigo primeiro estabelece que o consumo e o vício de substâncias psicoativas serão considerados um problema de saúde e, por isso, o tratamento será conforme o estabelecido por essa área de conhecimento. O artigo terceiro da referida Lei, por sua vez, estabelece quais são os serviços integrais de atendimento para a população consumidora de substâncias psicoativas:

ARTICULO 3. SERVICIOS DE ATENCION INTEGRAL AL