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A Lei Maria da Penha (Lei N° 11.340/06) Como Instrumento de Combate

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1 O DRAMA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM PROBLEMA

1.3 O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL: A

1.3.3 A Lei Maria da Penha (Lei N° 11.340/06) Como Instrumento de Combate

A partir da influência dos documentos acima mencionados, dentre outros, da contribuição de renomadas juristas, da mobilização de muitas mulheres anônimas, de feministas e de movimentos de mulheres em audiências públicas realizadas em vários Estados do Brasil que apontavam para a necessidade premente de uma legislação específica que contemplasse seus direitos, foi que o Brasil produziu sua própria legislação para combater a violência contra a mulher. Referimo-nos à Lei n° 11340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha.

Todavia, um acontecimento em particular serviu como fator desencadeador de todo esse processo. A designação de Lei Maria da Penha, que a Lei 11340/2006 recebeu, foi uma homenagem feita a uma sobrevivente da violência doméstica. Maria da Penha Maia Fernandes12 é uma cearense que nasceu em 1945 em Fortaleza. Graduou-se em Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal do Ceará e fez Mestrado em Parasitologia em São Paulo, período em que conheceu um professor de economia colombiano, Marco Antônio Heredia Viveiros, que brevemente viria a ser seu esposo e seu maior algoz. Três filhos nasceram como fruto desta relação.

12 Os dados biográficos aqui apresentados foram extraídos de: NERY JUNIOR, 2011, p. 10-13,

O drama da violência doméstica de Maria da Penha teve início quatro anos após o seu casamento. Inicialmente as agressões eram verbais e psicológicas. Com o tempo foram progredindo, até que em 1983, seu esposo tentou matá-la com um tiro nas costas que a deixou paraplégica. À época do incidente criminoso, seu marido alegou que eles haviam sido vítimas de um assalto e inclusive feriu-se com uma faca para acobertar sua tentativa de homicídio. Depois de cinco meses em hospitais de Fortaleza e Brasília, Maria da Penha voltou para casa. Mal sabia ela o que a aguardava. Duas semanas depois, seu marido tentou assassiná-la novamente. Ele tentou eletrocutá-la durante um banho, ocasião em que ela tomou coragem e decidiu separar-se dele e denunciá-lo.

Mesmo diante da gravidade da violência sofrida por Maria da Penha e das tentativas de assassinato às quais ela havia sido submetida o sistema judiciário brasileiro não deu a devida atenção aos seus reclames. Durante 15 anos ela esperou por justiça e não obteve êxito. Diante da possibilidade de prescrição do crime cometido pelo seu esposo contra sua vida, Maria da Penha decidiu recorrer a órgãos internacionais. Em 1998, o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL Brasil) e o Comitê Latino-Americano do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM Brasil), juntamente com Maria da Penha recorreram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) encaminhando uma petição contra o Estado brasileiro, relativa ao paradigmático caso de violência doméstica do qual ela tinha sido vítima (Processo Maria da Penha n° 12051). A denúncia à OEA baseou-se dentre outras coisas na violação de vários artigos da Convenção Interamericana para

Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra A Mulher, a famosa “Convenção

de Belém do Pará”, que o Brasil havia ratificado três anos antes.

A petição impetrada pelos órgãos internacionais e por Maria da Penha foi aceita e uma vez apurado o caso junto às testemunhas, concluiu-se que o agressor havia agido com dolo, de forma premeditada. Uma vez que a justiça brasileira não tomou nenhuma decisão cabível para o processo, não adotou nenhuma medida processual e punitiva contra o agressor, as peticionárias denunciaram o Estado brasileiro por crime de tolerância à violência doméstica. O caso Maria da Penha serviu como uma espécie de evidência que apontou

para um padrão sistemático de omissão e negligência em relação à prática comum de violência doméstica e familiar contra as mulheres brasileiras.

Como o Estado brasileiro não apresentou à Comissão da OEA resposta alguma com respeito à admissibilidade ou ao mérito da petição, apesar das solicitações formuladas pela Comissão ao Estado em 19 de outubro de 1998, em 4 de agosto de 1999 e em 7 de agosto de 2000, nem se pronunciou frente à denúncia, em 2001, a OEA, em seu Informe n° 54 de 2001, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica no caso de Maria Penha que acabou se tornando paradigmático para todas as mulheres brasileiras. O último item que aparece nas conclusões do Informe n° 54 reitera a condenação contra a postura letárgica e omissa da justiça brasileira:

[...] o Estado violou os direitos e o cumprimento de seus deveres segundo o artigo 7 da Convenção de Belém do Pará em prejuízo da Senhora Fernandes, bem como em conexão com os artigos 8 e 25 da Convenção Americana e sua relação com o artigo 1(1) da Convenção, por seus próprios atos omissivos e tolerantes da violação infligida (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS – RELATÓRIO N° 54/01 – OEA, 2001).

As recomendações que surgem a seguir exigem, dentre outras coisas, a finalização imediata do processo penal do agressor de Maria da Penha; a instauração de um processo investigativo a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados no processo, bem como tomar as medidas administrativas, legislativas e judiciárias cabíveis; reparações simbólica e material por parte do Estado brasileiro à Maria da Penha diante da demora na resposta judicial; e, a adoção de políticas públicas voltadas à prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher no Brasil.

O caso Maria da Penha foi o primeiro de aplicação da Convenção de Belém do Pará. A utilização desse instrumento internacional de proteção aos direitos humanos das mulheres e o seguimento das peticionárias junto à Comissão da OEA, sobre o cumprimento da decisão pelo Estado brasileiro, foram decisivos para que o processo fosse concluído em âmbito nacional, e posteriormente, para que o agressor fosse preso, em outubro de 2002, quase vinte anos após o crime, poucos meses antes da prescrição da pena.

A Lei Maria da Penha é fruto de um intenso trabalho de articulação iniciado em 2002, por meio de um consórcio de ONGs e pela mobilização de diversos segmentos da sociedade brasileira. Ela cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, define as formas de violência às quais a mulher poderá estar sujeita, descreve o espaço onde essa violência ocorre e aponta medidas protetivas para as vítimas além de prescrever sanções para os agressores. Esta Lei foi reconhecida pela ONU em 2008 como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra a mulher (www.spm.gov.br).

Dentre os principais objetivos da Lei Nº 11.340/06, Lei Maria da Penha13, poderíamos mencionar: a caracterização da violência doméstica e familiar como violação dos direitos humanos das mulheres; a garantia de proteção e procedimentos policiais e judiciais mais humanizados, para as vítimas da violência doméstica; a apresentação de aspectos conceituais e educativos, muito mais que punitivos, o que a qualifica como uma das legislações mais avançadas e inovadoras do mundo no tratamento do fenômeno da violência doméstica contra a mulher; a promoção de uma real mudança nos valores sociais que naturalizam a violência que ocorre nas relações domésticas e familiares; a elaboração de respostas que possam romper com a cultura machista, gerar novas práticas, reparar as omissões e afastar definitivamente a banalização em torno da violência doméstica, tornando-se assim, um instrumento de mudança política, jurídica e cultural.

A Lei 11.340/06 apesar de não ser exclusivamente uma lei penal, por apresentar em seu bojo disposições administrativas, processuais e princípios gerais, é indubitavelmente, uma lei onde predomina o efeito penal, uma vez que ela “incrementa o poder punitivo do Estado e, consequentemente, diminui o status libertatis do indivíduo” (PORTO, 2012, p. 23), elemento este que tem gerado protestos entre juristas que defendem uma posição minimalista ou garantista de interpretação do ordenamento jurídico brasileiro. A legitimidade social desta Lei está solidamente embasada numa,

[...] realidade cruel de violência preconceituosa e histórica do homem contra a mulher [...] a Lei 11.340/06 não cria novos tipos penais, mas traz em si dispositivos complementares de tipos preestabelecidos,

com caráter especializante, em referência aos quais exclui benefícios despenalizadores art. (41), altera penas (art. 44), estabelece nova majorante (art. 44) e agravante (art. 43), engendra inédita possibilidade de prisão preventiva (arts. 20 e 42) etc. (PORTO, 2012, p. 23).

O Caput da referida Lei e seus quatro primeiros artigos definem com clareza sua especificidade e delimitação. Em relação à especificidade da Lei Maria da Penha, a mulher é primeiramente apresentada como sujeito de direitos, independente de quaisquer condições ou variáveis. Sua classe social, nível cultural, orientação sexual ou suas convicções religiosas não interferem na possibilidade de gozo pleno dos direitos propostos pela referida Lei que, doravante, são garantidos pelo simples fato da mulher ser uma “pessoa humana” (Art. 2°). A Lei apresenta também delimitações referentes aos direitos garantidos por ela. Sua intenção é “coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher” além de propor a criação de instrumentos e mecanismos de assistência e proteção para mulheres em situação de violência doméstica ou familiar, responsabilizando a família, a sociedade e o poder público pela criação das condições necessárias para o pleno cumprimento desta Lei (Art. 1°, 3°, 4°).

Em suma, a Lei trata de direitos de mulheres que vivem em situação de violência, particularmente aquele tipo de violência que ocorre no âmbito das relações domésticas ou familiares. Para isso, ela tipifica a violência doméstica e familiar contra a mulher em termos legais. De acordo com os artigos 5° e 6° da Lei Nº 11.340/06:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma

Uma vez que a violência doméstica e familiar contra a mulher foi tipificada, que seu espaço físico de ocorrência foi delimitado e que as relações interpessoais que configuram tal delito foram bem determinadas, o próximo passo estabelecido em Lei foi definir os contornos ou as formas de manifestação deste tipo violência que já não se restringe apenas aos atos violentos que causam lesões corporais ou aos delitos de ordem sexual. Os conceitos das formas nas quais a referida violência se manifesta são ampliados:

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,

entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

A seguir, a Lei trata da assistência à mulher em situação de violência doméstica através da proposição de diretrizes que visam a implantação de medidas integradas de prevenção por meio de “um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais” que tem como finalidade “coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher” (Art. 8°) que serão executadas “de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública,

entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso” (Arts. 9°).

Os Artigos 10° a 12° estabelecem medidas a serem adotadas pela autoridade policial nos casos em que a violência doméstica se configure. Estas medidas visam dar maior segurança à mulher vítima de violência e surgem como mecanismos de proteção a fim de que ela receba um atendimento adequado. O Artigo 11 prevê uma série de providências a serem tomadas imediatamente em situações de violência doméstica:

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

Os Artigos 13 a 17 estabelecem os procedimentos legais, as instâncias onde poderão ser instauradas as representações, a abertura dos processos, os julgamentos e as execuções das causas cíveis e criminais resultantes da prática da violência contra a mulher. Esta representação estava condicionada, num primeiro momento, à livre vontade da mulher agredida que, de acordo com o seu próprio arbítrio, poderia renunciar à representação perante um Juiz (Art. 16°).

O Artigo 16° foi alvo de calorosos debates entre os operadores do direito e os juristas. No dia 06 de junho de 2010 foi protocolado junto ao Supremo Tribunal Federal uma Ação Direta de Inconstitucionalidade questionando a legitimidade de sua proposição. A decisão final desta Ação foi publicada recentemente, em 01 de agosto de 2014, e alterou em definitivo o teor do Artigo 16°. De acordo com o texto do STF decidiu: “[...] assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico, [...]”14, ou seja, nos casos em que a violência contra a mulher ocorrer e for acompanhada

de lesões corporais, independentemente da extensão ou gravidade destas lesões, a representação não mais dependerá da vontade da vítima, ao contrário, ocorrerá de forma incondicionada.

Os Artigos 18° a 24° da Lei 11340/06 explicitam uma série de medidas protetivas de urgência ou providências judiciais que podem ser concedidas em caráter emergencial à vítima de violência doméstica e familiar a fim de possibilitar o cumprimento efetivo da Lei, dentre as quais consta a possibilidade de prisão preventiva do agressor em qualquer fase do inquérito (Art. 20°). Entre as medidas protetivas propostas pela Lei, encontramos aquelas que limitam as ações do agressor, tais como o afastamento do lar ou do local de convivência com a vítima (Art. 22°), as que dão suporte logístico à vítima e aos seus dependentes, como o encaminhamento para um programa de proteção ou a recondução em segurança ao seu domicílio (Art. 23°) e as que protegem o patrimônio composto pela sociedade conjugal ou particular da vítima (Art. 24°).

Além das referidas medidas protetivas, a mulher vitimada pela violência doméstica e familiar pode procurar diretamente o Ministério Público que é o órgão responsável junto às demais entidades envolvidas na aplicação da Lei Maria da Penha por ingressar com o processo criminal contra o agressor (Art. 25° e 26°) tendo a vítima, assegurado o direito ao acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária conforme prescreve a Lei:

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado.

A Lei prevê ainda a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que poderão contar com equipe de atendimento multidisciplinar composta por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde que deverá atuar conjuntamente para o bom andamento do processo e para a promoção de ações que contemplem as esferas física e psíquica da vítima, de seus dependentes, principalmente quando forem crianças e adolescentes e de reorientação e possível

recuperação do agressor (Art. 29° a 32°). Enquanto os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher não forem criados:

Art. 33. [...] as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput.

As disposições finais preveem a possibilidade de atuação conjunta entre a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios com a finalidade de criar centro de atendimento integral e multidisciplinar, casas-abrigos, “delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia médico- legal especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar” (Art. 35°), dentre outras ações que visam promover o enfrentamento do problema e, inclusive, a reeducação e reabilitação do agressor, e a operacionalidade da Lei em todo País (Art. 34° a 45°).

Uma vez apresentada a Lei Maria da Penha, é necessário refletir sobre a efetividade de sua aplicação na sociedade brasileira e os resultados obtidos desde que entrou em vigor, no ano de 2006, até o momento.

Uma pesquisa realizada entre os meses de agosto de 2012 e julho de 2013, intitulada “Violência Contra a Mulher e Acesso à Justiça: Estudo Comparativo sobre a aplicação da Lei Maria da Penha em cinco Capitais”, realizada pela CEPIA15 (Cidadania, Estudos, Pesquisa, Informação e Ação), ONG que teve participação efetiva no processo de elaboração e consolidação da Lei 11340/06, e cujo relatório final foi publicado em outubro de 2013, apresenta alguns dados que podem ser usados como indicadores acerca da efetividade da Lei no Brasil.

A pesquisa empírica teve como foco central as instituições de segurança pública e justiça e a forma como seus operadores compreendem a Lei 11.340/2006 e sua aplicação no cotidiano das delegacias e juizados de cinco

15 A CEPIA é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, voltada para a

execução de projetos que contribuam para a ampliação e efetivação dos direitos humanos e o fortalecimento da cidadania, especialmente dos grupos que, na história de nosso país, vêm sendo tradicionalmente excluídos de seu exercício (NERY JUNIOR, 2011, p. 14).

capitais brasileiras que foram selecionadas em virtude da diversidade de contextos que representam. As cidades escolhidas foram Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Entre os entrevistados encontravam-se delegada(o)s de polícia, juíza(e)s, promotora(e)s de justiça, defensora(e)s pública(o)s e profissionais de equipes multidisciplinares, dentre outros diretamente vinculados com discursos e práticas relacionadas à aplicação da Lei Maria da Penha e a defesa dos direitos das mulheres (BARSTED e PITANGUY, 2013, p. 5)

Como resultado da pesquisa alguns dados importantes vieram à tona. Constatou-se, por exemplo, um alto índice de aprovação social da Lei Maria da Penha em pesquisas de opinião que foram realizadas desde que a referida Lei entrou em vigor, em 2006. Dados de uma pesquisa recente conduzida pelo DataSenado (2013) indicaram que 99% das mulheres entrevistadas já haviam ouvido falar sobre a Lei Maria da Penha. Este percentual reflete não somente o alto investimento que vem sendo feito por meio de campanhas educativas que abordam a temática da violência contra a mulher e as recentes conquistas que elas têm alcançado, como também indica uma crescente conscientização das

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