Em 23 de dezembro de 2005, foi publicada no Diário Oficial da União, a
Lei 11.232/2005, a qual “Altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 –
Código de Processo Civil, para estabelecer a fase de cumprimento das sentenças
no processo de conhecimento e revogar dispositivos relativos à execução
fundada em título judicial, e dá outras providências.”, com vigência a partir de
23 de junho de 2006 (cf. art. 8º).
Na exposição de motivos de encaminhamento da referida legislação para o
Exmo. Sr. Presidente da República, subscrita pelo então Ministro de Estado da
Justiça, constou que o seu objetivo era o de “melhoria dos procedimentos
executivos”.
64 Araken de Assis, Manual da execução ..., pp. 99/100. 65 Araken de Assis, Manual da execução ..., p. 107.
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Ali foi apontado que a “execução permanece o ‘calcanhar de Aquiles’ do
processo. Nada mais difícil, com freqüência, do que impor no mundo dos fatos os
preceitos abstratamente formulados no mundo do direito. Com efeito: após o
longo contraditório no processo de conhecimento, ultrapassados todos os
percalços, vencidos os sucessivos recursos, sofridos os prejuízos decorrentes da
demora (quando menos o ‘damno marginale in senso stretto’ de que nos fala
ÍTALO ANDOLINA), o demandante logra obter alfim a prestação jurisdicional
definitiva, com o trânsito em julgado da condenação da parte adversa. Recebe
então a parte vitoriosa, de imediato, sem tardança maior, o ‘bem da vida’ a que
tem direito? Triste engano: a sentença condenatória é título executivo, mas não
se reveste de preponderante eficácia executiva. Se o vencido não se dispõe a
cumprir a sentença, haverá iniciar o processo de execução, efetuar nova citação,
sujeitar-se à contrariedade do executado mediante ‘embargos’, com sentença e a
possibilidade de novos e sucessivos recursos. Tudo superado, só então o credor
poderá iniciar os atos executórios propriamente ditos, com a expropriação do
bem penhorado, o que não raro propicia mais incidentes e agravos. Ponderando,
inclusive, o reduzido número de magistrados atuantes em nosso país, sob índice
de litigiosidade sempre crescente (pelas ações tradicionais e pelas decorrentes
da moderna tutela aos direitos transindividuais), impõe-se buscar maneiras de
melhorar o desempenho processual (sem fórmulas mágicas, que não as há),
ainda que devamos, em certas matérias (e por que não?), retomar por vezes
caminhos antigos (e aqui o exemplo do procedimentos do agravo, em sua atual
técnica, versão atualizada das antigas 'cartas diretas' ...), ainda que expungidos
rituais e formalismos já anacrônicos.”
A tônica da alteração legislativa, portanto, era o de procurar dar
efetividade ao processo de execução lastreado no título executivo judicial
66-
67.
66 Humberto Theodoro Júnior, a respeito, anotou que “todas as sucessivas reformar que nos últimos anos
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simplificar e agilizar a satisfação dos créditos merecedores da tutela jurisdicional. Busca-se, numa palavra, a efetividade de tal tutela, cuja protelação além do razoável equivale à denegação de justiça, e
à violação de um direito fundamental (CF, art. 5º, inc. LXXVIII).” (A reforma da execução do título extrajudicial – Rio de Janeiro : Forense, 2007, pp. 13/14).
67 Nesse sentido:
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ART. 745-A DO CPC. TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS. CRÉDITO DE ALIMENTOS.
1. Tendo em vista a importância do crédito alimentar, sua execução pode ser feita por meio de cumprimento de sentença (art. 475-J do CPC).
2. A efetividade do processo, como instrumento de tutela de direitos, é o principal desiderato das reformas processuais produzidas pelas Leis n. 11.232/2005 e 11.382/2006. O
art. 475-R do CPC expressamente prevê a aplicação subsidiária das normas que regem o processo de execução de título extrajudicial àquilo que não contrariar o regramento do cumprimento de sentença, sendo certa a inexistência de óbice relativo à natureza do título judicial que impossibilite a aplicação da norma em comento, nem mesmo incompatibilidade legal. Portanto, o parcelamento da dívida pode ser requerido também na fase de cumprimento da sentença, no prazo de 15 dias previsto no art. 475-J, caput, do CPC (REsp n. 1.264.272/RJ). 3. Aplicam-se as disposições do art. 745-A do CPC às obrigações alimentares decorrentes de títulos judiciais e extrajudiciais, já que não há justificativas para o afastamento de meios mais céleres, tal como o previsto no referido artigo, para a percepção de créditos alimentares.
4. É indispensável a manifestação do credor, mormente na hipótese de crédito alimentar, em atenção ao disposto nos arts. 313 e 314 do CPC. A mera impugnação não é motivo de rejeição do parcelamento, sob pena de esvaziamento do sentido da norma.
5. Recurso especial conhecido e desprovido.”
(REsp 1194020/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/08/2014, DJe 25/08/2014).
“PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PARCELAMENTO DO VALOR EXEQUENDO. APLICAÇÃO DO ART. 745-A DO CPC. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE PROCESSUAL. ART. 475-R DO CPC. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. HIPÓTESE DE PAGAMENTO ESPONTÂNEO DO DÉBITO. NÃO INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO ART. 475-J, § 4º, DO CPC. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DESCABIMENTO ANTE O CUMPRIMENTO ESPONTÂNEO DA OBRIGAÇÃO VEICULADA NA SENTENÇA. PRINCÍPIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 165, 458 E 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
...
2. A efetividade do processo como instrumento de tutela de direitos é o principal desiderato das reformas processuais engendradas pelas Leis 11.232/2005 e 11.382/2006. O art. 475-R do
CPC expressamente prevê a aplicação subsidiária das normas que regem o processo de execução de título extrajudicial, naquilo que não contrariar o regramento do cumprimento de sentença, sendo certa a inexistência de óbice relativo à natureza do título judicial que impossibilite a aplicação da norma em comento, nem mesmo incompatibilidade legal.
Portanto, o parcelamento da dívida pode ser requerido também na fase de cumprimento da sentença, dentro do prazo de 15 dias previsto no art. 475-J, caput, do CPC.
3. Não obstante, o parcelamento da dívida não é direito potestativo do devedor, cabendo ao credor impugná-lo, desde que apresente motivo justo e de forma fundamentada, sendo certo que o juiz poderá deferir o parcelamento se verificar atitude abusiva do exequente, uma vez que tal proposta é-lhe bastante vantajosa, a partir do momento em que poderá levantar imediatamente o depósito relativo aos 30% do valor exequendo e, ainda, em caso de inadimplemento, executar a
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Nessa toada, importante lembrar que a Emenda Constitucional n. 45, de 2004,
acresceu como direito e garantia fundamental que “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.” (CF, 5º. LXXVIII).
De todas as modificações trazidas pela referida Lei n. 11.232/2005, a que
maior efetividade emprestou ao processo de execução foi aquela prevista no
artigo 475-J, do Código de Processo Civil de 1973, na redação seguinte
68:
Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou
já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante
diferença, haja vista que as parcelas subsequentes são automaticamente antecipadas e é inexistente a possibilidade de impugnação pelo devedor, nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 745-A. 4. Caracterizado o parcelamento como técnica de cumprimento espontâneo da obrigação fixada na sentença e fruto do exercício de faculdade legal, descabe a incidência da multa calcada no inadimplemento (art. 475-J do CPC), sendo certo que o indeferimento do pedido pelo juiz rende ensejo à incidência da penalidade, uma vez configurado o inadimplemento da obrigação, ainda que o pedido tenha sido instruído com o comprovante do depósito, devendo prosseguir a execução pelo valor remanescente.
5. No caso sob exame, a despeito da manifestação de recusa do recorrente (fl. 219), o Juízo deferiu o pedido de parcelamento ante a sua tempestividade e a efetuação do depósito de 30%, inclusive consignando o adimplemento total da dívida (fl. 267), ressoando inequívoco o descabimento da multa pleiteada.
6. A Corte Especial, por ocasião do julgamento do REsp 1.028.855/SC, sedimentou o entendimento de que, na fase de cumprimento de sentença, havendo o adimplemento espontâneo do devedor no prazo fixado no art. 475-J do CPC, não são devidos honorários advocatícios, uma vez desnecessária a prática de quaisquer atos tendentes à satisfação forçada do julgado. No caso concreto, porém, conquanto tenha-se caracterizado o cumprimento espontâneo da dívida, o Tribunal condenou a recorrida ao pagamento de honorários advocatícios, o que, em face de recurso exclusivo do exequente, não pode ser afastado sob pena de reformatio in pejus.
7. Recurso especial não provido.”
(REsp 1264272/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 22/06/2012)
68No novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), a previsão está no artigo 523: “Art. 523. No
caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver. § 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento. § 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante. § 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.”.
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da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e,
a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II,
desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.
§ 1º Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o
executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta
deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo
correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze
dias.
§ 2º Caso o oficial de justiça não possa proceder à avaliação, por
depender de conhecimentos especializados, o juiz, de imediato, nomeará
avaliador, assinando-lhe breve prazo para a entrega do laudo.
§ 3º O exeqüente poderá, em seu requerimento, indicar desde logo os
bens a serem penhorados.
§ 4º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput deste
artigo, a multa de dez por cento incidirá sobre o restante.
§ 5º Não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz
mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a
pedido da parte.”
Com isso, sem o cumprimento voluntário da obrigação líquida, após
regular intimação, tem o credor, em seu favor, o acréscimo ao valor da execução
de uma multa de 10% (dez por cento) sobre o valor da dívida não adimplida
69. A
respeito da necessidade de intimação para o adimplemento da obrigação, o
Superior Tribunal de Justiça, em acórdãos de recurso especial repetitivos (CPC,
543-C)
70, decidiu:
69 Para Luiz Fux a previsão do artigo 475-J, do Código de Processo Civil de 1973, deve ser lida como
sendo espécie de “liquidação por iniciativa do devedor”. Nas palavras do citado doutrinador “a Lei nº 11.232/2005 alterou a legitimidade do vencido para iniciar a execução, porquanto o novel artigo 475-J esvaziou-lhe relativamente a utilidade, ao não condicionar à sua convocação, à iniciativa do exequente, (...) Assim sendo, o devedor ao invés de iniciar a execução, cumpre-a.” (Luiz Fux, O novo processo ..., p. 58.).
70 O correspondente a este artigo, no novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) é o artigo 1.036:
“Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.”