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A Liberdade e o Liberalismo Econômico por Amartya Sen

Capítulo 3. O início da preocupação com o desenvolvimento sustentável

3. Desenvolvimento sustentável: A influência do Mercado, do Estado e da Sociedade

3.1 A Liberdade e o Liberalismo Econômico por Amartya Sen

pretensões compartilhadas por todos os países, de unir o progresso econômico e material com a necessidade de uma consciência ecológica.

Esta conferência foi considerada um marco da história da humanidade, pois ocorreu um redirecionamento do desenvolvimento até então realizado pela humanidade. Depois desta conferência, ficou claro que o padrão consumista e autodegradante que havia sido o modelo do desenvolvimento até então não poderia continuar, porque o mundo estava dando sinais de que os limites já estavam sendo ultrapassados. O principal objetivo do Rio 92 foi à conscientização de que o futuro da humanidade depende de esforço mútuo, não só dos governos, mas da sociedade civil, das empresas, de todos. Os países não estão isolados, a globalização também significa autodependência, principalmente a nível ambiental, o que significa que o futuro da humanidade estaria nas mãos de todos, indiscriminadamente.

3. Desenvolvimento sustentável: A influência do Mercado, do Estado e da Sociedade Civil

3.1 A Liberdade e o Liberalismo Econômico por Amartya Sen

Amartya Sen é um defensor da liberdade humana em todas as esferas da vida social sob quaisquer circunstâncias. A liberdade comercial e de mercado é vista por ele como essencial para o sucesso econômico e também para o desenvolvimento humano como um todo.

A decadência do regime comunista e o fortalecimento do capitalismo são uma das comprovações do sucesso da liberdade econômica e comercial. Além disso, esse assunto já foi abordado por diversos pensadores econômicos ao longo do século XX, e todos eles, inclusive o precursor do socialismo, Karl Marx, defendia idéias condizentes com a liberdade de mercado, como por exemplo, a importância do livre emprego.

A defesa da liberdade, por Sen, não o impede de reconhecer a importância da ética empresarial e obviamente, de leis governamentais que fiscalizem o comportamento das empresas para a manutenção da ordem no business world. Além disso, essas regras ajudam

também as empresas a tomarem atitudes que levem em consideração os direitos dos cidadãos e a preservação do meio-ambiente136.

Para entender a lógica do mercado e as razões que levam uma empresa a adotar ou não medidas sustentáveis, temos que entender primeiramente, a “otimalidade de Pareto”.

A otimalidade de Pareto busca entender a maximização do bem-estar ou utilidade de dois agentes econômicos em conjunto, onde se conclui que a utilidade de um indivíduo só aumenta se a de outro diminuir.

O teorema de Arrow-Debreu137 compartilha da mesma lógica e acrescenta a questão da eficiência dos mercados. De acordo com o modelo Arrow-Debreu, uma das condições para que o equilíbrio competitivo assegure a alocação ótima dos recursos é que os participantes dos mercados partilhem das mesmas informações a respeito das variáveis econômicas138.

A grande questão desta lógica é tentar maximizar a utilidade de todos os indivíduos sem haver prejuízo de nenhum deles, preservando o objetivo maior do capitalismo que é o lucro, proveniente da maior eficiência possível dos mercados. Todavia, não é possível um aumento de liberdade individual, sem a diminuição da liberdade dos demais dentro de um equilíbrio de mercado competitivo, ou seja, há no sistema capitalista atual, uma lógica progressiva de aumento da desigualdade social em todos os aspectos.

No entanto, como toda a tese do autor é voltada para a busca da preservação da liberdade, o que o interessa não é a mensuração da satisfação dos indivíduos, mas a disponibilidade que estes possuem para exercerem suas liberdades e desenvolverem suas capacidades.

O aumento da utilidade econômica de alguns agentes econômicos torna-os economicamente e socialmente mais fortes perante os demais. As empresas são agentes

136 A. Sen (2000, p.137)

137 O modelo Arrow-Debreu é um modelo de equilíbrio geral sob incerteza no qual os indivíduos podem comprar ou vender promessas de pagamento caso ocorra um dado estado da natureza. Para isso, deve existir um número de securities no mínimo igual ao de estados do mundo, o que torna o modelo bastante irrealista. Se o número de empresas for igual ou maior do que o número de estados da natureza, então as oportunidades de mercado disponíveis aos indivíduos (via compra ou venda short de diferentes quantidades de securities) são idênticas àquelas de um mercado correspondente Arrow-Debreu. Retirado do Artigo de Dante Mendes Aldrighi.

econômicos de grande poder e algumas delas buscam mantê-lo através da busca do lucro máximo em curto prazo, mesmo que para isso tenham que adotar medidas que prejudiquem seus consumidores, como a diminuição da qualidade dos seus produtos e o encarecimento dos mesmos.

O poder das empresas no mundo capitalista contemporâneo transcende a esfera do mercado, a cada dia o poder político delas vem aumentando e governos inteiros estão à mercê dos interesses das grandes corporações. Segundo Amartya Sen:

“A influência política visando ao ganho econômico é um fenômeno muito real neste mundo em que vivemos” 139.

Segundo alguns autores como Amartya Sen a liberalização econômica, veio para privilegiar os consumidores de todo o mundo, pois com as barreiras alfandegárias muitas empresas eram privilegiadas pelos governos locais e não precisavam se preocupar com a concorrência dos produtos estrangeiros, muitas vezes mais baratos e sofisticados que os nacionais.

Grandes pensadores econômicos como Adam Smith, David Ricardo e até mesmo Karl Marx, eram contra esse sistema de “burguesia protegida”, que nada mais era que um sistema que privilegiava a já abastada classe empresarial e comercial dos grandes centros urbanos globais em detrimento de um maior custo para os consumidores. Esse sistema não incentivava as empresas a evoluírem tecnicamente ou a pensarem em termos de responsabilidade social. Citando Adam Smith:

“A ampliação do mercado pode com freqüência ser suficientemente condizente com o interesse do público, mas a redução da competição há de ser sempre contrária a esse interesse, e somente pode servir para permitir aos negociantes, elevando seus lucros acima do que seria o natural, extorquir em benefício próprio um ônus absurdo do resto de seus concidadãos140.”

Com a mudança de rumos do capitalismo e o início da política de liberalização, as empresas foram forçadas pela concorrência externa a baratear seus produtos através de tecnologia e modelos de gestão mais integrados a realidade do mundo globalizado. As que

139 A. Sen (2000, p.147) 140 A. Sen (2000, p.148)

não se adaptaram a essa nova realidade faliram e uma minoria delas evoluíram e se tornaram grandes conglomerados industriais e se espalharam pelo mundo.