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Motivos para as empresas caminharem para o desenvolvimento sustentável

Capítulo 4. Governança Corporativa

5. Motivos para as empresas caminharem para o desenvolvimento sustentável

Segundo Hart e Milstein (2004), existem quatro motivadores para a sustentabilidade global:

z O aumento da industrialização a nível global (agora todos os países, não só os países desenvolvidos) sem precedentes na história, trouxe consigo conseqüências a nível mundial. Diante deste fato, observou-se que a manutenção das práticas poluentes atuais se tornou insustentável, principalmente quando se reflete sobre o bem-estar das gerações futuras. Portanto, o desafio atual é encontrar uma solução para a necessidade de uma modificação tecnológica das práticas atuais para um conjunto de novas práticas que garantam uma sustentabilidade futura.

z O aumento do número de atores e da ação da sociedade civil (ONGs, em detrimento do poder dos governos nacionais) fortalecida pelo desenvolvimento das novas tecnologias de informação que tem possibilitado a formação de padrões mundiais de fiscalização e conduta.

z Novas tecnologias, sustentáveis e mais limpas, que podem substituir com mais eficiência as tecnologias atuais, sendo consideradas a chave para o desenvolvimento sustentável.

z A globalização vista como responsável pelo aumento da população, da pobreza e da desigualdade.

Do ponto de vista empresarial, apesar de, em primeira instância, haver uma certa repulsa em ter que reformular o que já está estabelecido, a longo prazo, uma atividade empresarial sustentável pode trazer maiores lucros e abrirem maiores mercados.

Quando lembramos que mais de 65% da população mundial estão praticamente fora do mercado, quatro bilhões de pessoas a mais, é mais do que motivo suficiente para que as grandes empresas internacionais invistam no segmento social de suas empresas. Obviamente que incluir mais da metade da população mundial que se encontra excluída não é uma tarefa fácil nem responsabilidade das empresas, mas enxergar que esta fatia da população mundial, por mais que tenha um poder aquisitivo muito baixo, também consome, já demonstra o grande potencial desta fatia populacional excluída. Neste caso, aumentar o poder aquisitivo deste segmento da população seria garantir um enorme mercado futuro para novos produtos, compensando assim os custos provenientes de uma empresa sustentável.

Pode parecer fácil, mas a discussão sobre o desenvolvimento sustentável é algo muito difícil, principalmente para os países em vias de desenvolvimento, que não têm capital suficiente para investir em novas tecnologias e também não podem dar-se ao luxo de dispensar investimentos de grandes empresas multinacionais, pelo fato destas não se enquadrarem aos padrões internacionais exigidos. Apesar de ser uma raridade, como poderemos ver mais adiante no exemplo brasileiro, muitos investimentos internacionais foram perdidos justamente pelo contrário, ou seja, muitas empresas não investiram no país por considerarem a legislação muito frouxa no que diz respeito aos critérios ambientais.

Entretanto, mesmo em países menos desenvolvidos, a consciência cultural da sociedade está crescendo, fazendo pressão junto ao governo e sector empresarial para que se tomem medidas para evitar problemas ecológicos e sociais. Isto significa que, mesmo lidando com legislações menos rigorosas, hoje podemos dizer que vivemos em um mundo onde existe, numa visão minimalista, da idéia de cidadão global. Por exemplo, empresas como a Monsanto e a Nike, que não deram devida importância às perspectivas dos stakeholders, tiveram, na década de 90, suas imagens envolvidas em escândalos contra suas práticas ambientais e de trabalho, fazendo-as rever suas práticas na tentativa de limpar sua reputação e permanecer com o direito de operação222.

Essa mudança de concepção de riqueza por parte das empresas permitiu que o sucesso e enriquecimento das empresas passassem a fazer parte do interesse de vários setores da

sociedade envolvidos direta ou indiretamente com as empresas, ampliando o numero de

stakeholders dos projetos e planos das empresas.

O aumento do numero de stakehoders das empresas fez com que a transformação da empresa tradicional moderna em empresa cidadã passasse a ser interesse geral da sociedade. Infelizmente, esse modelo de empresa ainda se faz pouco presente nos paises subdesenvolvidos, no entanto já constitui maioria absoluta nos paises desenvolvidos e vem crescendo vertiginosamente sua presença nos paises emergentes, como comprovaremos mais adiante no estudo empírico de uma empresa brasileira de mineração.

Neste caso, temos que chamar atenção para o relacionamento entre empresa e

stakeholders. Segundo os autores, no futuro as grandes empresas serão aquelas que

conseguirem operar com tecnologias revolucionárias e com um sistema administrativo que seja capaz de incluir as necessidades da sociedade aos objetivos da empresa. Como vimos acima, mesmo grandes empresas, quando não consideram a opinião da sociedade, sofrem as conseqüências. Diante deste fato, podemos concluir que empresas que não se redimirem como a Nike e a Monsanto, terão poucas probabilidades de fazerem parte da economia no futuro.

Algumas multinacionais também estão percebendo, depois de analisarem exemplos como de Muhammad Yunus, com o Grameen Bank em Bangladesh, que os pobres são fontes de criatividade e inovação que devem ser ouvidas, podendo ser uma fonte de inspiração e novas possibilidades de lucros.

Por exemplo, a Hindustan Lever Ltda. (HLL), uma subsidiária da Unilever PLC, tem sido pioneira no desenvolvimento de mercados entre a população rural pobre da Índia. Por meio do desenvolvimento de produtos especificamente voltados para as necessidades únicas dessa população, a HLL tem sido capaz de aplicar a ciência e a tecnologia para produzir shampoos e sabonetes acessíveis a esse grande e novo mercado. Hoje, mais da metade da receita da HLL vem de consumidores localizados na base da pirâmide. Ainda mais importante, usando abordagens de desenvolvimento de produtos, marketing e distribuição pioneiras na Índia rural, a Unilever, tem sido capaz de alavancar um rápido, crescente e

lucrativo negócio para outras partes do mundo em desenvolvimento, como o Brasil. 223

Apesar destes exemplos, a realidade é que a maior parte das multinacionais ainda acredita que o mercado voltado para as classes baixas não agregaria valor, sem mesmo antes tentar realizar uma pesquisa de mercado séria que pudesse realmente indicar as novas possibilidades que surgiriam neste segmento ignorado. Mas, se as empresas investirem na capacitação social desta parte da população excluída, entenderão que apostar neste mercado, segundo a estratégia de sustentabilidade, seria uma forma de aumentar seus lucros, através de um acesso maior a mercados de escala e atingir grandes objetivos.

Um último comentário retirado do artigo de Stuart Hart (2004) sobre negócios e desenvolvimento sustentável, na próxima década, o desenvolvimento sustentável será uma das maiores oportunidades na história do comércio para se investir em novas tecnologias224.

223 S. Hart et. al (2004)

Capítulo 5. A Cia Vale do Rio Doce