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CAPÍTULO III – SITUANDO O REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. A Linguagem Matemática

Enquanto pesquisador participei de várias discussões em torno da Matemática como uma linguagem o que tem sido objeto de muitas reflexões. Neste trabalho optei por reafirmar a Matemática enquanto uma linguagem e, para isto utilizei dois argumentos de Gómez- Granell (2006, p. 274) quando assim se posiciona:

Em primeiro lugar, tal como ocorre em qualquer linguagem, o domínio da linguagem matemática implica também um conhecimento de aspectos sintáticos e semânticos. Em segundo lugar, seria preciso admitir que a linguagem matemática constitui uma forma de discurso específico que, embora guarde estreita relação com a atividade conceitual, mantém a sua própria especificidade como discurso lingüístico.

A autora afirma que “a Matemática está ligada a compreensão, isto é, a apreensão do significado; apreender o significado de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e acontecimentos” e, isso é fundamental para que os alunos jovens e adultos das turmas dos Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio passem a compreender melhor, por meio da tradução da linguagem natural para a linguagem matemática, os conteúdos de Geometria Plana.

O trabalho realizado, nestas duas turmas, pode trazer exemplos vivos abordando temas como: custo de vida, salário, inflação, medidas de comprimento, área, volume e transformação de unidades de medida que são assuntos do seu cotidiano e utilizados nos seus trabalhos exercidos em hospitais. Sabemos, pois, que a Matemática está presente na vida desses alunos, ou seja, de todos nós.

Contudo, estes alunos não conseguem visualizar os diferentes conhecimentos matemáticos presentes em situações cotidianas e chegam a verbalizar que “não fazem uso da linguagem matemática” e, de um modo geral, não a associam à vida escolar.

Percebe-se ainda que ao resolver cálculos, passados pelo professor em sala de aula, envolvendo números inteiros pequenos, podem parecer simples para eles, mas, se for números grandes, o aluno da EJA pode encontrar inúmeras dificuldades, pois, segundo Gomes-Granell (2006, p. 260), a linguagem matemática envolve a “tradução” da linguagem natural para uma linguagem matemática formalizada, permitindo a abstração do essencial das relações matemáticas envolvidas.

Em alguns casos, os alunos conseguem fazer esses cálculos mentalmente, mas, em cálculos mais complexos, não sabem explicar como e por que fizeram tal abstração para chegar ao resultado esperado pelo professor.

Para o professor, no cálculo demonstrado pelo aluno, de um modo geral, ele não está preocupado com o caminho que o aluno percorre até chegar a determinada resposta de um problema proposto, mas sim, com o que ele espera no resultado final apresentado. Pode-se pensar com isso, que muitos dos “erros” cometidos pelos alunos estão relacionados ao fato de que eles decoram as regras e manipulam os símbolos de acordo com elas, sem procurar um entendimento mais apurado da questão.

Não se pode esquecer ao observar estes casos, se existe variação nas respostas às questões propostas, a partir da naturalidade dos alunos, pois, uma das hipóteses com a qual se trabalha é que, os caminhos percorridos para a utilização da Matemática, podem variar, uma vez que estes alunos são oriundos de contextos sociais diferentes, incluindo pessoas da zona urbana e rural e, conseqüentemente, fizeram e fazem uso da linguagem matemática para diferentes fins.

Acredito, pois, que este estudo que ora apresento nos apontará contribuições para o ensino da matemática, visto que na escola, as dificuldades na aprendizagem dos alunos vão sempre existir no que se refere à memorização de regras, cálculos, fórmulas, dentre outros.

Percebo com isto, que ao longo dos anos, o desafio da escola cresce de forma assustadora, principalmente, nas escolas em que se trabalham com a EJA. Neste sentido, precisa ser construído uma prática que respeite, resgate e valorize os usos cotidianos que os alunos fazem da língua escrita e da linguagem matemática e, também, promova o acesso à norma padrão.

Ao fazermos uso do posicionamento de Latorre apud Klüsener (2001, p.180), quando afirma que:

A linguagem matemática não pode ser entendida como a transcrição de códigos. Aprendê-la significa mapear a realidade, desenvolvendo a capacidade de interpretar, analisar, sintetizar, significar, conceber, projetar. Valorizando a importância da linguagem na construção dos conceitos matemáticos, passamos a entender a Matemática como uma linguagem.

Então, a autora ressalta que, “além do rigor, o aspecto utilitário e a importância em nossa comunicação são evidenciados pela universalidade da linguagem matemática”. Podemos consolidar esse posicionamento com Klüsener (2001, p. 35) quando complementa afirmando que: “ Para que as idéias sejam manifestadas ou aspectos e fenômenos da realidade sejam construídos mentalmente, são usados elementos de comunicação chamados símbolos matemáticos, a fim de abstrair e transformar pensamentos em linguagem”.

Diante das observações da autora, pode-se perceber que para o aluno aprender Matemática, e em especial a Geometria Plana, é necessário que ele aprenda a utilizar diferentes linguagens (aritmética, geométrica, algébrica, gráfica, entre outras), que estão presentes em sala de aula. Desta forma, o aluno estará tornando o domínio dos assuntos estudados mais fácil para ser entendido.

Complementando esse pensamento, Danyluk (1991, p. 45) afirma que:

Somos capazes de nos comunicar num processo histórico-social e universal através da leitura e da escrita, rompendo fronteiras geográficas e temporais. Além disso, é preciso compreender todas as formas de interpretação, explicação e análise do mundo, feitas pelo homem. A Matemática corresponde a uma dessas formas, com seus códigos e linguagens, e com seu sistema de comunicação e representação construído ao longo de sua história.

Com isso, percebe-se que a aprendizagem da Geometria Plana para os alunos da EJA está diretamente ligada a compreensão dos códigos e linguagens formalizados através da leitura, da escrita e da interpretação da linguagem natural para a linguagem matemática.

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