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CAPÍTULO III – SITUANDO O REFERENCIAL TEÓRICO

3.6. Interpretação e comunicação no processo de aprendizagem da

Ao passar a investigar e analisar as diferentes linguagens que estão impregnadas nas aulas de Geometria Plana percebi que as minhas preocupações ganharam uma maior atenção, no sentido de que, o aluno da EJA passe a entendê- las. Mas, para isto, o professor da disciplina deve estar alerta quanto às linguagens que devem ser trabalhadas em sala de aula. O exemplo desse fato Silveira (2008, p. 1) ao afirmar que: “a linguagem do professor, a linguagem dos alunos e a linguagem da matemática são tratadas no dia-a-dia de sala de aula”. E continua a autora:

“A linguagem matemática é formalizada através de expressões algébricas, algoritmos, gráficos, operações, bem como por outros tipos de expressões e símbolos que sintetizam os conceitos de seus objetos, suas definições e suas propriedades”. A formalização oferece forma ao conteúdo matemático e é objetivada através da escrita. A objetivação é o processo de valorizar o objeto que é proveniente do conceito e tem o objetivo de deixar o texto desprovido de subjetividade, ou seja, que o texto adquira significados claros e objetivos.

Na Geometria Plana, a linguagem simbólica e figural precisa ser traduzida para a linguagem natural, mas é fato, que não só temos que traduzir símbolo por símbolo, porque dessa forma o aluno poderá deixar de entender o significado dos conceitos geométricos tratados, suas definições e suas propriedades. Para Silveira (2008) “a interpretação e a formalização do conteúdo geométrico são objetivadas através da escrita pelo aluno. A objetivação feita pelo aluno deve ser valorizada e o objeto de estudo, que é proveniente do conceito, passa a ser observado de forma a deixar o texto desprovido de subjetividade. Portanto, ‘não existe objetividade sem subjetividade’”.

Os textos matemáticos dos livros didáticos apresentam uma linguagem que não é clara para o aluno. Para Silveira (2008), ”a linguagem do aluno é subjetiva enquanto que a linguagem matemática é objetiva”. Este é um dos motivos, pelos quais os alunos da EJA apontam como dificuldade em sua aprendizagem, por meio do confronto com as diversas linguagens.

É preciso que professor e aluno entrem num acordo de idéias, no propósito de esclarecê-las e entendê-las. É por meio do diálogo que, ambos, devem dirimir as dúvidas do assunto tratado e, com isto, participar de um jogo de linguagem que possa fornecer esse entendimento. Assim, Silveira (2008, p. 57) se posiciona:

O jogo de linguagem é concebido como uma forma de vida. O jogo de linguagem consiste de linguagem e pelas atividades com as quais ela vem entrelaçada. A forma de vida são os significados compartilhados tanto pela lógica da matemática, pela lógica do professor e pela lógica do aluno. No jogo “uma parte grita as palavras, a outra age de acordo com elas”.

Esta atividade dialógica entre professor e aluno deve ser constante, no sentido de ser com ela, a forma de fazer o aluno entender os conteúdos expostos e culminar com uma aprendizagem satisfatória. Isso leva a pensar que “a representação dos objetos matemáticos é um dos obstáculos para a aprendizagem do aluno porque os seus símbolos, na perspectiva dos alunos, ‘são frios e sem sentido’”, afirma Silveira (2008, p. 66).

Daí surge à importância de tratar a leitura e a interpretação de um enunciado matemático como ponto primordial para o entendimento de cada conceito que está sendo trabalhado em sala de aula. Nesta perspectiva, Wittgenstein (2001,

prop.1.739, p. 25) em o Tractatus Lógico-Philosophicus afirma que, “Todo signo, sozinho, parece morto. O que lhe confere vida? Ele está vivo no uso”.

Para o professor instigar o aluno a dar sentido a uma proposição geométrica, deverá ensiná-lo a buscar o significado de cada palavra que compõe essa proposição, explicar palavra por palavra, símbolo por símbolo, de modo a fazer o seu aluno a compreender o sentido da proposição.

Na maioria das vezes, o texto matemático escrito em linguagem natural não é compreensível para o aluno da EJA, como também, a regra matemática subentendida não é interpretada de acordo com a lógica da matemática. Assim se reporta Silveira (2008, p. 7).

A regra matemática é uma regularidade de juízos. Quando o aluno segue uma regra que não é a regra prevista pela lógica da matemática mostra que ele não intui o sentido correto da regra. A regra que para a lógica da matemática, deveria ter um sentido único, para o aluno, passa a constituir diferentes sentidos.

Para os alunos da EJA, isso fica bem evidente, nas dificuldades apontadas por eles nos seus registros, em entender as diversas linguagens envolvidas. Por essa razão, as simbologias e as regras matemáticas não estão claras, daí surgem as dificuldades na aprendizagem. Segundo Wittgenstein apud Silveira (2005, p. 58), “existe semelhança entre o cálculo, a gramática e os jogos de linguagem porque eles seguem regras. O cálculo segue regras matemáticas, a gramática segue regras gramaticais e os jogos de linguagem seguem regras estabelecidas pelos participantes do jogo”.

A comunicação entre professor e aluno é fundamental para o entendimento do assunto tratado. Quando o professor convida o seu aluno a participar da aula com o seu conhecimento prévio, está dando oportunidade para ele –aluno - expor suas percepções e suas dúvidas por meio da fala. Este é um momento muito rico, porque o professor pode compreender o que o aluno não compreende.

Portanto, este diálogo, permanente, faz com que o aluno se sinta confiante nas suas colocações, na certeza de que irá interagir com o professor e seus colegas. Com essa prática, o professor poderá procurar entender a lógica do aluno por meio do erro.

“Apontar simplesmente o erro do aluno é não dar importância às suas conjecturas. O erro compreendido apenas como erro passa a ser objeto de vergonha do aluno e, conseqüentemente, objeto de medo. Quando o erro é explorado e compreendido, passa a ser objeto de investigação do professor e do aluno”.

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