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CAPÍTULO 4 – REPRESENTAÇÕES DO JUDICIÁRIO PELA MÍDIA

4.4 A mídia e o Judiciário

CNJ – Conselho Nacional de Justiça STJ – Superior Tribunal de Justiça TST – Tribunal Superior do Trabalho TSE – Tribunal Superior Eleitoral

STM – Superior Tribunal Militar TJ – Tribunal de Justiça

TJM – Tribunal de Justiça Militar TRF – Tribunal Regional Federal TRT – Tribunal Regional do Trabalho TRE – Tribunal Regional Eleitoral

4.4 A mídia e o Judiciário STF CNJ Juízes Estaduais do DF e Território Juízes de Direito (Juiz-auditor) e Conselhos de Justiça (Auditorias Militares Estaduais, do DF e Territórios) COLÉGIOS RECURSAIS Conselhos de Justiça (Auditorias Militares da União) STJ Juizados Especiais Juízes

Federais Juízes do Trabalho Juízes e Juntas Eleitorais TJs TJs TJM ou TJ TRFs TRTs TREs TST TSE STM CNJ

Não podemos ignorar que há ruído na comunicação entre a mídia e o Judiciário, e para tentar compreender o distanciamento entre eles, é preciso destacar as diferenças desde a sua constituição. Como refere Rocha (2008, p. 39), o Judiciário é “um órgão de Estado, oriundo da tradicional divisão do poder político em três partes, culturalmente aceita e socialmente sedimentada”, e a mídia constitui-se “de empresas privadas, que naturalmente oferecem produtos para obtenção de lucro financeiro”.

O contexto conflituoso passa, também, pelas diferenças entre a visão de mundo dessas duas instituições, já que mídia e Judiciário constroem sua própria tradução do real. De um lado o Judiciário, como desaguadouro das tensões sociais, em busca da operacionalização de sua atuação; de outro a mídia, como transmissora de informações, à procura de acontecimentos noticiosos que capturem e mantenham o interesse do público.

Inúmeras especificidades condicionam a relação por vezes tensa, por vezes de declarado conflito entre esses dois setores cruciais para a vida democrática. Um exemplo marcante é a distância entre a imposição da notícia em “tempo real”, na mídia, e o tempo necessário para os trâmites processuais, no Judiciário. Para Rocha (Id., p. 40), “é preciso destacar que o tempo da mídia em nada corresponde ao tempo judicial.” Há condições indispensáveis para que se possa atingir um resultado justo, como o “amadurecimento da decisão, a concessão de oportunidades iguais para ambas as partes, o preenchimento das condições processuais para um julgamento técnico e moralmente acertado”. Entretanto, “por sua natureza comercial, essas condições democráticas não importam às empresas privadas da mídia”.

A instabilidade nas relações entre Judiciário e mídia apresenta-se, por vezes, contraditória, pois ainda que não haja compatibilidade entre as linguagens desses dois atores sociais, ambos trazem a mesma fundamentação para legitimar seus discursos, que é “trabalhar no interesse da democracia, em nome dos interesses dos cidadãos, e da realização de seus direitos” (Id., p. 27). A dinâmica social em que ocorre a interação entre Judiciário e mídia é complexa, e sua apreensão corre o risco de ser condicionada pela argumentação “do senso

comum conduzido pelas categorias midiáticas” (Id., p. 29), pelas representações sociais construídas.

Como refere Eisenberg (2007, p. 2), “as dissonâncias e ambiguidades que hoje emanam das vozes do Judiciário e da mídia são um reflexo inequívoco da distância dos olhares dessas duas instituições perante nossa realidade social.” Os pontos de atrito iniciam já na percepção dos fatos: para o Judiciário, há um caso, para a mídia, uma história, ainda que ambos demandem postura investigativa.

Eventos midiáticos resultam da apreensão da realidade pelas instituições do mundo da opinião que controlam a informação circulante. Fatos jurídicos provêm da apreensão e classificação da realidade pelas instituições do direito. Fatos jurídicos e acontecimentos noticiosos surgem, respectivamente, quando fatos sociais são reescritos pelas normas legais e pelas normas dos manuais de redação. Ao se encontrarem diante de um mesmo fato social, esses dois universos de tradução podem produzir resultados dissonantes, pois enquanto no universo midiático existe a tendência da “espetacularização da narrativa que a torna sedutora ao público” (id. ibid. p. 2), no jurídico, as peculiaridades de um caso podem exigir que ele seja mantido no chamado segredo de justiça, não podendo ser objeto de narrativa jornalística, o que induz ao conflito.

Eisenberg (Id., p. 3) chama de “quase casos-jurídicos” a consequência dos “céleres processos de digestão das informações jornalísticas” em confronto com a necessária execução do processamento institucional, que contém “ritos e procedimentos que jornalistas podem ignorar, mas não juízes”. Esses quase- casos jurídicos tornam difícil a convivência entre a mídia e o Judiciário, pois os juízes podem se deparar com casos que possuem como um de seus elementos constitutivos a cobertura ostensiva por parte da mídia, que “já os julgou em seus tribunais sociais autoconstituídos no seio de sua audiência”.

O Brasil, inserido num cenário de desigualdade social aliado a uma experiência democrática recente, se vê colocado numa situação paradoxal. De um lado a Constituição garante direitos individuais e coletivos, de outro o poder público, omisso em muitas áreas, mantém práticas arraigadas. Isso esvazia o poder constitucional e acaba por atingir a imagem do poder Judiciário, levando ao que a mídia expõe, reiteradamente, como a crise desse poder.

Os veículos midiáticos posicionam-se a respeito da atuação de integrantes dos poderes de Estado. Com efeito, na última década, a mídia divulgou diversos escândalos de corrupção envolvendo integrantes dos três poderes, o que abalou a credibilidade dessas instituições.

Na próxima seção, apresentamos duas pesquisas de opinião sobre o poder Judiciário, distinguindo entre representação social e opinião pública.