• Nenhum resultado encontrado

5 PERCURSOS DA EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL: DA MÚSICA

5.1 Conhecendo o campo da pesquisa da Educação Musical

5.1.2 A Música na escola e a formação de professores de Música

Sabe-se que a formação de professores tem sido um dos temas mais discutidos em vários países. Com as novas demandas que acontecem na sociedade contemporânea, observa-se que a formação profissional de professores precisa prepará-los para as diversas funções nas quais os professores serão responsáveis dentro da escola regular e em outros contextos sociais.

Em 2008, através da Lei 11.769 (BRASIL, 2008), a Música passou a ser conteúdo curricular obrigatório na Educação Básica, e as escolas teriam que adaptar os currículos escolares para essa nova realidade e teriam 3 anos para se adaptarem as novas exigências29. A Lei existe mas, a implementação do ensino de Música nas escolas de Educação Básica, ainda está em fase de implantação, muitos gestores ainda não compreendem a Lei e/ou não sabem como implementar o ensino de Música na escola. Os desafios são diversos e refletem o pensamento de muitos gestores, professores e profissionais da Música, além de que é necessário respeitar os diversos contextos educacionais no Brasil.

Há uma grande diversidade de concepções e perspectivas sobre o ensino de Música na escola, como por exemplo: Qual o objetivo do ensino de Música na Educação Básica?; Quais os conteúdos que devem ser ensinados?; Qual a função da Música na escola (além da que envolve diretamente os professores)?; Quem deverá ensinar Música na escola? Observa-se que as pesquisas atuais na Educação Musical procuram trazer discussões sobre a aplicabilidade da Lei 11.769 / 2008

29Cf. Brasil (1996).

(BRASIL, 2008) e a atuação de professores nos contextos formais e informais de ensino de Música.

O ensino de Música no Brasil passou por diversos momentos que evidenciam as transformações e singularidades na sociedade em cada momento histórico. O ensino de Arte não ocupava uma posição de relevância ou de igualdade com outras áreas de conhecimento, e isso acontece até os dias atuais, refletindo na falta de profissionais especializados nas diferentes linguagens artísticas, carga horária reduzida, espaços físicos inadequados, falta de diretrizes e currículo adequado para as diversas realidades e contextos.

O desafio para implementação da Lei 11.769 / 2008 (BRASIL, 2008) ainda esbarra em diferentes concepções sobre o ensino de Arte na Educação Básica que foram construídas pelas diversidades e ambiguidades históricas sobre a Arte na escola. Além disso, existe a luta para desmistificar os vestígios da prática polivalente, assim como criar uma diretriz norteadora para o ensino de Música, seus conteúdos e estratégias de ensino na Educação Básica.

Desde o século XIX, a Música, de alguma forma, fez-se presente dentro do ambiente escolar, utilizada através de diversas abordagens e assumindo diferentes funções dentro da escola. Em 1854, através do Decreto 1.331-A de 17 de fevereiro (BRASIL, 1854), a Música esteve na escola de forma obrigatória. Antes desta data, os jesuítas utilizavam a Música como meio para catequizar os indígenas no Brasil. É necessário mencionar que neste período, as escolas brasileiras possuíam um caráter elitista da Educação Musical, ou seja, uma pequena parcela da população pode ter acesso.

No século XX, o Canto Orfeônico, idealizado pelo compositor Heitor Villa- Lobos, surgia como um método musical, realizado para o ensino de coletivo de Canto Coral. Este projeto estava ligado aos ideais do governo de Getúlio Vargas, governo populista, através do Canto Orfeônico começaria um movimento patriótico significativo com as grandes movimentações cívicas, contribuindo para uma Educação Musical apoiada em seu tempo, mas sofre modificações políticas e sociais, e que foi uma longa experiência musical brasileira, que foi de 1930 ao fim da década de 1950. Os objetivos do Canto Orfeônico eram o civismo, buscando a valorização da Pátria; o segundo era o desenvolvimento da disciplina, considerando a experiência musical de forma coletiva; o terceiro é a ligação à Educação Artística, realizada através da prática coletiva do canto.

O Canto Orfeônico foi implementado em todo país e chegou a preparar professores para atuarem com os materiais didáticos específicos desenvolvidos por Villa-Lobos. Em 1971, a Educação Artística, a partir da Lei 5.692 (BRASIL, 1971), passa a ser incluída no currículo escolar, e, através desta Legislação, foi se definindo as áreas artísticas a serem comtempladas nesse currículo.

Inicialmente, os cursos de formação de professores eram Graduação curta de 2 anos que contemplavam as 4 linguagens artísticas: Artes Cênicas, Artes Plásticas, Desenho e Música, nas quais os professores iriam atuar no 1º Grau30. A Licenciatura plena, de 4 anos, habilitava os professores a atuarem no 2º Grau31. Essa característica, dos cursos de Educação Artística, e por compreender as 4 linguagens artísticas, acabou por influenciar a prática docente dos professores oriundos desse tipo de formação, favorecendo assim à docência polivalente e fragilizada.

Alguns autores da literatura da área criticavam este tipo de formação, no qual favorecia a prática polivalente e que fragilizada todo o currículo da disciplina na escola, pois alguns professores possuíam habilitações especificas, mas eram obrigados a trabalhar as 4 linguagens, e esses efeitos marcaram a história do ensino de Arte na escola, e esta polivalência ainda continua presente nos dias atuais.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) vigente, nº 9.394 / 1996 (BRASIL, 1996), extinguiu, em seu artigo 26, parágrafo 2º, a nomenclatura de Educação Artística, sendo renomeada para Ensino de Arte, passando a ser uma disciplina obrigatória, e que incluiu novos indicadores para o ensino de Arte na escola.

O Ensino de Arte deve, a partir de então, promover o desenvolvimento cultural dos alunos e que isso deve acontecer nos diversos níveis da Educação Básica, conforme afirma Brasil (1996): “[...] ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.

Em 2013, através da Lei nº 12.796 (BRASIL, 2013), estabeleceu-se que o Ensino de Arte deve estar em todos os níveis da Educação Básica, esclarecendo que é na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, respeitando as características específicas, como idade e contextos diferenciados contando com a

30Atualmente como Ensino Fundamental. 31Ensino Médio nos dias atuais.

presença de professores especialistas e pedagogos (Educação Infantil e Ensino Fundamental I – primeiro ciclo).

A LDB nº 9.394 / 1996, em seu artigo 62, trouxe à tona a formação exigida para os profissionais da Educação, tornando o curso de Licenciatura requisito para atuar na Educação Básica (BRASIL, 1996). Com as mudanças ocorridas na sociedade e em seus diversos contextos de ensino, as leis também seguem essas transformações e são adaptadas com as necessidades.

Com a Lei nº 11.769 / 2008 (BRASIL, 2008), surgem diversas temáticas que estão em evidência nos círculos de discussões sobre o ensino de Música na Educação Básica e em outros espaços de ensino, um desses temas é a formação de professores de Música na atualidade, compreendendo a formação inicial e continuada de professores, assim como os cursos e os currículos que irão preparar esses profissionais.

A formação de professores é algo complexo que requer das instituições de ensino uma (auto)avaliação para analisar e atender as necessidades de formação na atualidade, levando em consideração as demandas atuais e os diferentes contextos de ensino de Música. Através de políticas públicas educacionais, é possível discutir e criar novas estratégias de formação que viabilizem a qualificação do trabalho dos professores para atuarem em diversos contextos.