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I.4. Aspetos Epidemiológicos da Malária

I.4.2. A Malária – Dados Globais

Como referido anteriormente ao longo deste trabalho, a malária é uma doença infeto parasitária que ataca ou abrange um quarto da população ao nível do mundo. Segundo Gurgel;

Fotsing e Zaninetti (2007, p. 2705), “todos os anos, a malária contamina entre 150 e 300 milhões de pessoas, sendo que mais de um milhão e meio de mortes são atribuídas a cada ano a esta doença, cujas principais vítimas são crianças”. Por este facto a OMS considera esta doença como o maior problema de saúde pública, particularmente nos países do Terceiro Mundo, entre eles os Países do continente africano particularmente os da África subsaariana (Cordeiro et al, 2002).

Segundo Thiago (2003), esta doença continua sendo na atualidade uma das mais importantes doenças transmissíveis em termos de morbidade e mortalidade, em que pesem bora o facto das campanhas de controle e erradicação datarem desde a segunda metade da década de 1940, com contribuições significativas na assistência técnica e no apoio financeiro da OMS e outras organizações internacionais.

Esta doença tem uma taxa de incidência em mais de 40% da população em mais de 100 países e territórios o que corresponde a mais de dois bilhões de pessoas, estão expostas ao risco. Por norma, estima-se que 300 a 500 milhões constituem os novos casos e cerca de um milhão de mortes por ano. A malária encontra-se distribuída entre os continentes africano, asiático e americano de acordo com o mapa abaixo (OMS, 1995).

Figura 10 - Mapa dos países livres de Malária e países com Malária endêmica em fases de controle

Fonte: World Health Organization. World malaria report 2009. Disponível em:

http://www.who.int/malaria/world_malaria_report_2009/en/index.html

Geralmente, os discursos globais a respeito da malária têm sido pautados pelos axiomas de objetivos maiores de controlo da doença, consagrados através de declarações internacionais, pois indica um comprometimento técnico e financiamento aos países mais afetados. Em 1955, o Programa de Erradicação da Malária, lançado pela OMS, daria o primeiro passo e de seguida, em 1978 na Conferência Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários, mais conhecida pela Declaração de Alma-Ata, viria a marcar o início de uma atenção especial para os programas de saúde horizontal (Sequeira, 2010).

Com isso, foram criados 1998 o movimento Roll Back Malária - Fazer Recuar a Malária, uma parceria mundial iniciada pela OMS, PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), UNICEF (Agência das Nações Unidas para a Infância) e Banco Mundial, que procura trabalhar com governos, outras agências de desenvolvimento, diversas ONG’s e companhias do setor privado, para se reduzirem os custos humanos e socioeconómicos do paludismo (Idem).

Segundo Kamat (2013, p.14), os elevados casos de morbimortalidade por malária em África, em 2000 impulsionou a realização da Cimeira de Abuja, sob o auxílio do Roll Back Malaria - RBM e da OMS, que conduziu à Declaração de Abuja, em que 44 dos 50 países africanos afetados pela doença estavam representados, assim como vários delegados de organizações multilaterais.

Nesta cimeira, os líderes africanos presentes comprometeram-se a garantir que, até 2005, 60% dos doentes de malária iriam ter acesso a um tratamento acessível, atempado e adequado RBM e (OMS, 2000, p. 2).

Segundo Sequeira (2010), outro conjunto de iniciativas e modo de canalizar financiamento para as atividades de controlo da malária viriam a destacar-se, nomeadamente o Programa de Reforço do Controlo da Malária em África (World Bank Booster Program for Malaria Control in Africa), em 2005, a Iniciativa Presidencial da Malária (The President´s Malaria Initiative) liderada pela USAID, desde 2005/2006. Ainda há que fazer referência que em Outubro de 2007, Bill e Melinda Gates viriam a definir a erradicação da malária como o grande objetivo da sua fundação, tendo recebido o apoio da OMS.

Em termos conceptuais:

O controlo da malária refere-se à redução da doença para um nível em que já não constitui um problema de saúde pública. Já erradicação da malária é considerada pela redução permanente a zero da incidência da infeção causada por um agente específico, como resultado de esforços deliberados e temporalmente limitados. Uma vez alcançada a erradicação, não são necessárias

medidas de intervenção (OMS, 2006c, p. 4-16). Por fim, a eliminação da malária significa a redução para zero da incidência das infeções causadas por um parasita específico, numa determinada área geográfica, como resultado de um esforço deliberado, sendo requeridas medidas continuadas de prevenção do restabelecimento da transmissão (OMS, 2014).

Segundo Das e Horton (2010), a decisão de mudar de uma estratégia de controlo para outra - de eliminação da malária - implica a existência de sistemas de saúde fortalecidos e um compromisso sustentável, por parte dos governos.

Por isso, para muitos países africanos, a malária é considerada uma das principais causas de morbimortalidade. De acorco com os dados, estima-se que em 2012 registaram-se 207 milhões de casos de malária e 90% das mortes por malária ocorrem na África Subsaariana, e 77% ocorrem em crianças menores de cinco anos de idade (OMS, 2013).

Segundo os dados disponíveis, as crianças e mulheres grávidas fazem parte do grupo mais afetado por esta doença WHO (2013). Um relatório do escritório regional da OMS (2010) na África demonstra que entre 86% e 90% das 781 mil mortes anuais associadas à malária em África são dominadas pelas crianças. A respeito da sua prevalência, vários estudos têm demostrado que os riscos associados à malária variam de acordo com a geoespacialidade, com as regiões geográficas, com o ano e com a estação do ano (Arab; Jackson; Kongoli, 2014; Baird et al, 2002 e Thomson et al, 2003).

Nos anos anteriores aos citados acima, em 2008, por exemplo, havia uma estimativa de 190 a 240 milhões de casos, com 0,7 a 1,0 milhões de mortes, a maioria dos quais na África subsaariana WHO (2009), o que demostra que se trata de uma doença que vai atingindo cada vez maior número da população.

De acordo com um dos últimos relatórios mundiais (World Malária Report 2016), em 2015, 40 dos 91 países, onde ocorre à transmissão da malária, reduziram as taxas de incidência para 40% ou mais, entre 2010 e 2015. Em relação às taxas de mortalidade por malária, entre 2010 e 2015 ocorreu uma redução de 29%. Da totalidade das mortes registadas, no ano de 2015, 92% referiam-se à África subsaariana e, em termos globais, 70% incidiam sobre crianças com menos de cinco anos (OMS, 2016).

A redução da morbimortalidade é resultado da implementação de vários documentos estratégicos internacionais, tais como os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (objetivo número 6: combater a malária e outras doenças; meta: reverter e reduzir a incidência da malária e outras doenças), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (objetivo número 3) os objetivos definidos pela Assembleia da OMS, em 2005 (em 2015, redução em 75% dos casos e mortes por malária) e os objetivos, ainda mais ambiciosos, do Global Malária Action

Plan (GMAP) fixados pelos parceiros da iniciativa Fazer Recuar a Malária (Roll Back Malária) de reduzir as mortes por esta doença para perto de 0%, em 2015 (OMS, 2013, p. 12).

Em termos cronológicos têm-se alguns marcos a considerar:

9 1955, o Programa de Erradicação da Malária, foi lançado pela OMS;

9 1978, a Conferência Internacional sobre Cuidados de Saúde Primários - Declaração de Alma-Ata marcou o início de uma atenção especial para os programas de saúde horizontais;

9 1998, criado o movimento Roll Back Malária (Fazer Recuar a Malária), uma parceria mundial iniciada pela OMS, PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), UNICEF (Agência das Nações Unidas para a Infância) e Banco Mundial, que procura trabalhar com governos, outras agências de desenvolvimento, diversas ONG e companhias do setor privado, para se reduzirem os custos humanos e socioeconómicos do paludismo (Sequeira, 2010).

9 2000, realizada a Cimeira de Abuja face aos elevados casos de morbimortalidade por malária em África (Kamat, 2013, p. 14).

Em síntese, pressupõe-se que a malária seja uma das mais antigas doenças infecto-parasitárias do mundo, considerando-se cinco espécies ou parasitas que infetam o ser humano.

Geralmente a sua ocorrência, como referido ao longo do trabalho, está fortemente associada a questões socioambientais, sobretudo a variação da temperatura por outro lado, e por outro, a aspetos relacionados com a presença de corpos de água ou mesmo a própria precipitação, condições necessárias para o desenvolvimento do vetor e do parasita. Por ser uma doença cujo sua ocorrência está circunscrita nas relações espaciais, as condições sociais resultantes das particularidades de uso e ocupação do solo, e das relações de produção dentro de uma sociedade, têm sido os fatores que condicionam a sua maior ou menor incidência, por exemplo.

No contexto deste trabalho, os aspetos relacionados com os fatores sociais acima descritos é que exercem uma influência significativa não apenas na ocorrência como também na incidência da malária, ou seja, que em conjunto com outros fatores e elementos condicionam a existência da doença, por isso, são considerados por condicionantes da malária, sobretudo no que se refere aos aspetos de ordém social ou de relações geosociais, por exemplo. Faz-se referência a questões relativas à educação, as condições económicas que

exercem influências em tantos outros fatores, as questões relacionadas com as politicas públicas e a própria política da saúde – malária.

Finalmente, considerando que o escopo geográfico em análise neste trabalho está relacionado com Moçambique, um país do continente africano, torna-se necessário trazer uma abordagem sobre estas particularidades na circunscrição geográfica em causa, aspetos que são tratados no capítulo a seguir.

CAPITULO II.

A MALÁRIA EM MOÇAMBIQUE: Condicionantes e Determinantes Socioambientais.

Neste capítulo apresentaram-se informações relacionadas com a malária em Moçambique, começa-se com uma abordagem histórica da malária no país com particular ênfase nas políticas públicas desenvolvidas e de seguida são arroladas as projeções ao longo dos anos, ou seja, a apresentação dos dados relacionados com o peso da malária no que se refere a sua incidência a partir de fontes secundárias e dados oficiais a respeito da doença.

Apresentaram-se de igual forma os dados secundários relacionados os determinantes e condicionantes socioambientais. Enfim, no capítulo em causa será feita uma apresentação do estado atual da geografia da malária em Moçambique a partir de dados secundários.