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Diga-me eu esquecerei, ensina-me e eu poderei lembrar, envolva-me e eu aprenderei.

(Benjamin Franklin)

Quando surge o desejo de desvencilhar a figura do professor como detentor do saber e exaltar uma prática mais humanizada mais próxima do estudante surge o termo “mediação”. O termo mediação apresenta dois significados que definem o campo que está sendo utilizada. (MEIER e GARCIA, 2007, p. 37), traz à definição do termo na psicologia esse termo significa o estabelecimento de elos intermediários entre estímulo e resposta, na religião se refere à intercessão junto a uma divindade. Os autores ainda trazem a definição na área da educação que diferentemente de ensinar, mediar é uma espécie de interação especializada em que a “aprendizagem” encontra a “autonomia para aprender” e, juntas, possibilitam a construção de pessoas capazes de andar por si só na construção do conhecimento. (MEIER e GARCIA, 2007, p. 34)

Corroborando com os autores (D’AVILA, 2008, p. 39) diz que a mediação do ponto de vista educativo “designa a função social que consiste em ajudar o indivíduo a perceber e a interpretar seu meio”.

Nesse sentido a pesquisa apresenta a possibilidade de auxiliar docentes à ofertarem processos de ensino que caracterizem conhecimento significativo aos discentes com deficiência visual. Sustentado na fala de (D’AVILA, 2008, p. 39) que afirma que “mediação didática, por assim dizer, consiste em estabelecer as condições ideais à ativação do processo de aprendizagem”. Pressupõe-se que o ensino da matemática requer do docente uma atenção maior no sentido de desenvolver no aluno um conhecimento do mundo que favoreça que esse discente tenha condições de solucionar as situações do seu cotidiano.

Vygotsky (2000) destaca que o sujeito nasce social e constrói sua individualidade/autonomia contando com uma série de mediações. Idealiza-se que a identidade sujeito-objeto é mediada, intercedida no sentido de constituir o processo que promove a relação do homem com o mundo e outros homens.

A mediação sustenta os dispositivos cognitivos internos de cada sujeito possui, como as informações, as experiências, as práticas e todo conhecimento do sujeito favorecendo

que o novo conhecimento acomode à realidade interna desses sujeitos. A intenção é de que essa pesquisa ressalte a importância da mediação didática, e a relevância desse conceito como o fenômeno que intervenha nos processos cognitivos dos estudantes. Na relação entre sujeito e objeto, ou melhor, entre estudante e o conhecimento, o professor pode ser identificado como um mediador a partir das suas práticas.

O professor trabalha com os conteúdos para auxiliar os alunos a ampliarem suas capacidades cognitivas, para que os estudantes apresentem condições de elaborar conhecimento por si mesmo. Nessa perspectiva existe uma importância fundamental do “outro” no processo de ensino-aprendizagem.

Nessa perspectiva, o docente como mediador, tem uma função de promover condições de ensino que desenvolvam no aluno uma aprendizagem com significado, amparado com suas ações, práticas, concepção e visão de mundo, sua afinidade com a disciplina que ministra sua postura e atitude diante de sua profissão, o domínio do assunto ensinado, e os conhecimentos didático-pedagógicos, são essenciais para o desenvolvimento de um ensino significativo. Nessa ótica, o docente necessita ter uma boa base teórica e metodológica, bem como saber realizar um bom planejamento e ter a finalidade de colaborar o significado ativo da aprendizagem do aluno.

Libâneo (1998, p.29) afirma que o professor intercede à mediação e a relação ativa do aluno com o conteúdo, inclusive com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando o conhecimento, a experiência e o significado que o aluno traz à sala de aula, seu potencial cognitivo, sua capacidade e interesse, seu procedimento de pensar, seu modo de trabalhar. Assim partimos do entendimento de que o conhecimento de mundo ou o conhecimento prévio do estudante tem de ser respeitado e ampliado.

Sobre os processos de estratégias de “ensinagem”7 (ANASTASIOU; ALVES, 2003, p. 73) traz considerações sobre as questões que permeiam as estratégias de trabalho docente, para autora, essas atividades concentram-se metodologias dialéticas, à ação da

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Termo adotado para significar uma situação de ensino da qual necessariamente decorra a aprendizagem, sendo a parceria entre professor e alunos condição fundamental para o enfrentamento do conhecimento, necessário à formação do aluno, durante o cursar da graduação. A expressão ensinagem foi inicialmente explicitada no texto de ANASTASIOU, L. G. C., resultante da pesquisa de doutorado: Metodologia do Ensino Superior: da prática docente a uma possível teoria pedagógica, Editora IBPEX, Curitiba, 1998, p. 193-201

ensinagem, à organização curricular, o papel do professor e estudante. A autora ainda apresenta considerações sobre a organização da aula, em que os professores iniciam por uma aula expositiva dialogada, substituindo assim a expositiva tradicional.

Nesse processo podemos observar que a mudança de atitude do professor se caracteriza como ação mediadora sobre as experiências vivenciadas pelos estudantes, uma vez considerada torna-se elemento de mobilização para elaboração do conhecimento. Contudo mediar conhecimentos, para além do conteúdo eminente memorizado, necessita um processo de autonomia de elaboração e construção de informação que deve ser uma ação docente e uma atividade desenvolvida pelo estudante.

O professor, a professora precisa assumir uma postura mais relacional, dialógica, cultural, contextual e comunitária. Durante muito tempo a formação do professor era baseada em “conteúdos objetivos”. Hoje o domínio dos conteúdos de um saber específico (científico e pedagógico) é considerado tão importante quanto as atitudes (conteúdos atitudinais ou procedimentais (GADOTTI, 2003, p. 24).

Entende-se que uma ação docente baseada em metodologias de mediação traz a proposta de discussão metodológica, em que a ação e a atribuição do docente sejam consolidadas com o desenvolvimento do conhecimento pelo estudante e que esse saber se consolide de forma intercalada, o ensino seja desafiador às novas aprendizagens, favorecendo que o estudante elabore seus conhecimentos através das tarefas persistentes, de tal forma que o procedimento relacione o estudante ao elemento de estudo e os coloquem numa junção de pensamentos e de produção de novos conhecimentos.

Os autores, MAURI; ONRUBIA; COLL, (2007) apresentam cinco ações do docente mediador, com intuito de aprimorar o entendimento dos estudantes com o processo formativo. Essas ações são estabelecidas a partir da atitude docente: a) estabelecer condições iniciais relacionadas com a composição dos grupos e o tipo de atividades que serão propostas; b) definir instruções específicas para realização da atividade de forma cooperativa; c) definir, em parceria com os estudantes, regras de interação facilitando sua aplicação no transcurso das interações durante a execução da atividade; d) apoiar a regulação das interações do grupo; e) adaptar o ensino às necessidades específicas de cada grupo observando diretamente o processo de trabalho, intervindo, proporcionando ajuda imediata e contingente, corrigindo, dando mais informações, perguntando.

Destacamos a Sequência FEDATHI como metodologia que indica ao docente a utilização de uma postura mediadora, com atitudes que instigam o estudante a se desenvolver com autonomia, desenvolvendo senso crítico, e elaborando o conhecimento de forma que esse aprendizado tenha significado.

A Sequência FEDATHI propõe que as ações do professor sejam norteadas com atitudes de mediação e ressalta, o discente como elemento primordial na elaboração de novos conhecimentos, esses sendo trabalhados intencionalmente num processo de interação professor/aluno.

Para (Lima 2007, p. 43)

Desenvolver o trabalho docente em um ambiente investigativo possibilita no estudante a formação de conceitos de forma significativa, aonde o professor conduzirá uma prática de mediação e proporcionando que as atividades sejam desenvolvidas, através da valorização das experiências vividas dos estudantes com o objetivo de elaborar conhecimento.

A Sequência FEDATHI, oferece através de suas fases a utilização da postura reflexiva do docente, quanto a sua prática, assim favorece e permite ao estudante o incentivo para que ele torne-se investigador dos conceitos ministrados durante a aula.

Adotar uma atitude de docente mediadora, demanda ao professor uma avaliação constante das suas metodologias utilizadas para o processo de ensino em sala de aula, levando em consideração suas experiências, bem como o conhecimento e domínio de saberes constituintes de sua formação.

Dependendo de cada momento da história os processos de ensino se caracterizam, determinando metodologias e estratégias para se trabalhar em sala de aula e transmitir os conhecimentos científicos. As metodologias de ensino vão se transformando de acordo com a necessidade e modelo da que a sociedade impõe.

Na sociedade do século XXI, em que o avanço tecnológico se faz cada vez mais presente na escola, às estratégias de ensino baseadas no ensino tradicional estão fadadas o fracasso, já que os estudantes têm contato direto com o conhecimento e as informações são discriminadas numa rapidez que ultrapassa os muros da escola.

Os docentes do século XXI que atuam com estudantes com deficiência visual, ainda enfrentam dificuldades metodológicas, tanto no âmbito de informação, adaptação e

instrumentos. Nesse sentido o professor que utiliza a prática docente mediadora considera que o estudante tem possibilidade de elaboração de conceitos de forma que essa aprendizagem seja significativa.

Para que essa prática se desenvolva faz-se necessário que o professor:

Deixe de ser um executor, um simples aplicador de um currículo, tornando-se um construtor de currículos, adaptados a cada aluno, através da forma como são operacionalizados, ou seja, das tarefas escolhidas, das formas de gestão dos espaços e da organização do trabalho (individual, em dupla, em grupos), passando pelas formas de avaliação previstas e pelo contrato didático estabelecido (SANTOS, 2010, p. 116).

A mediação de ensino se desenvolve através de metodologias que foquem a ação docente de forma que a prática alcance o estudante e que desenvolva nele uma forma autônoma de elaboração e conhecimento e de relação e interação com objeto de estudo.

Nessa perspectiva, ao nos remetermos a elaboração de conhecimento é importante entender que essa condição favorece ao professor ensinar x aprender, no entanto entender os processos da aprendizagem e como se caracteriza no sujeito, pode nortear o professor o desenvolvimento e organização das estratégias e as atividades educativas que foquem a intencionalidade pedagógica.

Vygotsky (2000) destaca abordagens sobre aprendizagem i) aprendizagem e desenvolvimento: processos independentes ii) aprendizagem e desenvolvimento: processos idênticos iii) aprendizagem e desenvolvimento: processos diferentes e relacionados. O autor lembra que os processos de aprendizagem e desenvolvimento nos indivíduos não são idênticos. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente. (VYGOTSKY, 1998, p. 115)

A aprendizagem e o desenvolvimento não acontecem apenas a partir da mediação da escola, no entanto é na escola que indivíduos fazem contato com a ciência e tem acesso ao conhecimento historicamente sistematizado.

Nessa perspectiva Vygotsky contribui para a educação ao considerar que uma adequada organização da educação é o caminho para o desenvolvimento e aprendizagem do sujeito com probabilidades de generalizações conceituais atribuídas ao pensamento.

Nesse processo o autor afirma que o processo de construção e elaboração da compreensão pode ser ajudado “mediado” por outra pessoa.

A ideia do autor pressupõe que a educação deve exercer um papel transformador do sujeito e assim da sociedade, de modo que esses homens fossem educados sócios culturalmente e é através da educação e do aprendizado que se passa a continuidade da vida social.

A teoria de Vygotsky estabelece em seus estudos que o mediador deve oportunizar ao estudante não apenas as informações prontas, o autor sugere o docente estimule e instigue a busca da elaboração de novo conhecimento e esses seja por descoberta, elaboração do próprio sujeito. A Sequência FEDATHI traz a proposta de que o saber matemático não é estruturado apenas como produção intelectual, mas sim, como uma estrutura cultural que envolve a própria compreensão e os significados do que é ser um matemático; neste aspecto, todo saber proposto ao estudante é contextualizado pelo professor com base na comunidade do saber acadêmico. (SANTANA, NETO, ROCHA, 2004, p. 04)

Para Shechtman (2009) a mediação pedagógica é um processo de comunicação e de elaboração de significados, que tem como finalidade alargar as possibilidades de diálogo e argumento, desenvolvendo, de modo significativo, processos e conteúdos trabalhados em espaços educacionais, além de incentivar a construção de um saber crítico e contextualizado, gerado na intermediação professor e aluno, isto é, a mediação.

Entendemos assim que nessa perspectiva a prática pedagógica se caracteriza como uma atuação dinâmica de um professor que busca fomentar no aluno, adotando uma conduta intencional, provocando a curiosidade, a motivação, à autonomia e o gosto pelo aprender.

A autora ainda ilustra a necessidade de:

“O professor mediador precisa conhecer profundamente os conteúdos sobre os quais trabalha e as técnicas consideradas mais eficientes para ensinar para ensina-las”. Deve aprender a aprender, saber como se aprende, conhecer os processos de subjetivação humana, ser criativo, atencioso, dedicado e autodidata (SHECHTMAN, 2009, p.98).

Entendemos assim que as ações pedagógicas exercidas pelos docentes que estão voltadas a realização de transmitir o conhecimento, mesmo que essa prática seja designada

apenas como transmissão de conteúdos, e que não desenvolva no estudante senso crítico, ela se identifica como mediação. No entanto o objetivo da ação docente não se completa como mediadora. Partindo dessas premissas a mediação do ensino deve estar baseada a partir da efetivação do desenvolvimento, nas situações que o indivíduo possa executar sozinho.

Para Nogueira; Bellili e Pavanello, (2013) ensinar Matemática em qualquer fase da escolarização, mas, principalmente, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, não é uma tarefa simples. Isso porque existem:

“[...] dificuldades que se referem à própria natureza do conhecimento matemático, mas existem também dificuldades decorrentes de uma visão um tanto irreal ou distorcida da disciplina”, visão esta que reduz a Matemática a um “[...] conjunto de regras, técnicas e procedimentos que priorizam a memorização do que como a busca de compreensão de fenômenos e de soluções para

problemas” (NOGUEIRA; BELLINI; PAVANELLO, 2013, p.56).

Priorizar a ação pedagógica, objetivando a elaboração do conhecimento matemático, é um trabalho longo e que estabelece muita atenção e, em se tratando de alunos com deficiência, o professor deve saber, antes de tudo, conviver com a própria ansiedade para que ela não prejudique sua ação.

No entanto é importante frisarmos que o docente deve considerar as especificidades e capacidades de interpretação e da realidade dos estudantes, assim como as diversas categorias de aprendizagem, as necessidades individuais, além dos estímulos de cada indivíduo. O professor deve organizar e planejar suas aulas apresentando situações que desafiem adequadamente esses estudantes com deficiência de maneira que o docente possa observar e identificar suas potencialidades.

No próximo capítulo, serão discutidas as questões sobre educação de jovens e adultos e suas especificidades com alunos deficientes visuais.

6 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E O ALUNO (A)