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A Revolução Verde a partir da década de 1950 teve enorme repercussão no desenvolvimento internacional (Grove e Edwards, 1993), com a produtividade global tendo quintuplicado.

Além disso, o aumento da produtividade agrícola a custos mais baixos por unidade de produção de alimentos (DFID, 2004), tem conduzido a um declínio real dos preços dos cereais no mercado nacional.

Até o final da Segunda Guerra Mundial o crescimento na produção de alimentos era obtido unicamente através da expansão da área (Norman et al., 1997; Ruttan, 2002), entretanto, a partir da década de 1960, os sucessivos ganhos na produção agrícola foram obtidos através de incrementos progressivos na produtividade, o que fez que o uso de terras destinadas à agricultura desde a década de 1960 tenha aumentado 12%, equivalente a 1,5 bilhão de hectares (FAO, 2004), correspondendo a 11% da superfície da terra.

A experiência histórica no aumento da produtividade agrícola no Japão e em Taiwan (Johnston e Mellor, 1961) é extraordinária. No espaço de 30 anos (de 1890-1920) aproximadamente, a produtividade japonesa duplicou, enquanto a de Taiwan, no período de 1901-10 a 1931-40, aumentou de 130 a 160%.

O bom desempenho nesses casos argumentam os autores, deve-se a três elementos- chave:

1) pesquisa agropecuária e seleção de variedades de maior rendimento; 2) maior aplicação de fertilizantes;

3) uso de cultivares mais produtivo e de práticas de exploração melhoradas.

Adicionalmente, para estes autores, contribuiu ainda para esse quadro de sucesso, o elevado grau de complementaridade entre os diversos fatores de produção agrícola que está

Não obstante esse relativo sucesso, o aumento da produtividade trouxe significativos desafios ambientais (DFID, 2004), que ameaçam potencialmente a viabilidade futura dos sistemas agrícolas:

a) degradação da terra;

b) limites à disponibilidade de água; c) perda da biodiversidade;

d) diversidade genética agrícola em declínio; e) alterações climáticas.

Alguns estudiosos (Altieri e Nicholls, 2005) arguem que o avanço extraordinário na produção mundial de alimentos a partir da chamada “agricultura industrial” ocorreu com o uso intensivo de fertilizantes e pesticidas e com a especialização das culturas.

Como explicam estes autores, o uso de monoculturas geneticamente homogêneas não possuem os mecanismos de defesa ecológicos para tolerar o intenso impacto das pragas.

Os fertilizantes, embora bastante elogiados como responsáveis pelo aumento temporário da produção agrícola, têm associados e algumas vezes escondidos, os elevados custos ambientais.

O uso inadequado de fertilizantes (Smil, 2000; Tilman et al., 2001; Cassman, Dobermann e Walters, 2002; Altieri e Nicholls, 2005) polui o meio ambiente devido ao desperdício na aplicação e ao fato de que estes são usados ineficientemente nas culturas, o que se configura como uma questão de gestão. Ao deixar de ser recuperado pela cultura, o fertilizante acaba se incorporando ao ambiente, situando-se principalmente, em águas superficiais ou subterrâneas.

Apenas 30% do nitrogênio (Cassman; Dobermann e Walters, 2002) e cerca de 42% do fósforo (Smil, 2000) aplicados, são retidos pelas lavouras. Uma quantidade significativa de nitrogênio e uma parcela menor de fósforo são perdidas nas áreas agrícolas.

Os acréscimos nas aplicações de nitrogênio e fósforo (Tilman et al., 2002) são susceptíveis de serem tão eficazes para aumentar o rendimento das lavouras, por causa dos retornos decrescentes. Para os autores, considerando tudo o mais constante, a eficiência máxima do nitrogênio é obtida com os primeiros aumentos na adição de nitrogênio, entretanto, a eficiência declina a partir da adição de níveis mais elevados desses produtos. Por outro lado, a quantidade de diversidade de culturas por unidade de terra arável (Altiere e Nicholls, 2005) tem diminuído e as plantações têm mostrado uma forte tendência à concentração.

Em relação à especialização decorrente da agricultura industrial, (Altiere e Nicholls, 2005) destacam que a diversidade de culturas por unidade de terra arável tem diminuído, revelando uma forte tendência à concentração.

Dentro de uma perspectiva ecológica, a especialização é considerada (Altieri, 2000) como a primeira onda de problemas ambientais, ocasionando as doenças do ecótipo (erosão, perda de fertilidade do solo, salinização e alcalinização, poluição dos sistemas de água) e as doenças de biocenose, que compreendem: a perda de safra, a eliminação de inimigos naturais, ressurgimento das pragas, resistência genética a pesticidas, contaminação química e destruição de mecanismos naturais de controle. A segunda onda de problemas ambientais para o autor é a biotecnologia. O uso de transgênicos são susceptíveis de aumentar a utilização de pesticidas e acelerar a evolução de super ervas daninhas e estirpes resistentes às pragas de insetos.

Há uma preocupação crescente (FAO, 2001) de que a expansão e a intensificação da agricultura podem conduzir à degradação da base de recursos naturais (solo, água, vegetação e biodiversidade) e, consequentemente, a uma redução na produção e na produtividade agrícola.

Entretanto, a intensificação agrícola por si só, para aumentar a produtividade das terras já cultivadas, não deve ser uma ameaça, já que (FAO, 2001), a intensificação desde que adequadamente gerenciada é importante para atender as necessidades de aumento da produção agrícola, reduzindo a pressão da expansão agrícola em zonas frágeis e marginais.

Para outros estudiosos (Dumanski et al.,1998) a intensificação agrícola é muitas vezes necessária para alcançar sistemas mais sustentáveis. Para tanto, há necessidade de se promover mudanças para produção com padrões mais elevados de gestão.

O sucesso excepcional da Revolução Verde na Ásia alimentou a esperança que o milagre do desenvolvimento agrícola poderia também transformar as economias africanas. Entretanto, na última década, não obstante as melhores expectativas (Meijerink e Roza, 2007), a produtividade agrícola não aumentou de forma significativa, e o pior, os efeitos negativos da Revolução Verde tornaram-se mais evidentes, com o uso excessivo de pesticidas.

A base dos recursos naturais que a agricultura depende, ponderam os autores, é pobre e deteriorada, consequentemente, o crescimento da produtividade se torna cada vez mais difícil de atingir.

Dentro de uma perspectiva quantitativa, a baixa produtividade agrícola (Gollin; Parente e Rogerson, 2002) é uma das principais razões da pobreza de alguns países, muito embora os países que iniciaram o processo de desenvolvimento mais tarde, deverão apresentar crescimento mais rápido.

exploração dos recursos naturais, particularmente na exploração dos recursos da terra.

Os resultados do estudo realizado por Zhao (1988, apud Hitzhusen, 1993) confirmam a crença de que, a degradação da terra em países em desenvolvimento constitui uma grande ameaça à capacidade destes países de produzir alimentos. Isso decorre do fato de que (Hitzhusen, 1993) a maioria deles são mais dependentes de seus recursos naturais, principalmente a terra e a água, e a degradação da terra ameaça significativamente o crescimento agrícola.

A análise de um conjunto de dados de 62 países elaborada pela Food and Agriculture Organization ( FAO) no período de 1960 a 1990 (Gollin; Parente e Rogerson, 2002), confirma:

1) existe uma relação negativa entre produtividade e PIB per capita e a percentagem de emprego na agricultura. Essa mesma relação se mantém entre a produtividade da agricultura em relação a da não agricultura;

2) há uma relação positiva entre o crescimento na produtividade agrícola de um país e o deslocamento do trabalho para outros setores da economia, sinalizando que a melhoria da produtividade agrícola permite a liberação de recursos para outros setores da economia e pode apressar o início da industrialização com significativos impactos no rendimento relativo do país.

No Brasil, a modernização da agricultura foi induzida (Alves; Contini e Hainzelin, 2005) pelo processo de industrialização assentado na política econômica governamental adotada entre 1950 e 1970, favorecendo a indústria em detrimento da agropecuária. Ainda segundo esses autores, no processo de modernização, três políticas públicas foram determinantes à sua implementação:

a) crédito subsidiado ( destinado principalmente à compra de fertilizantes e maquinaria);

b) o programa de extensão rural e,

c) o intenso investimento em pesquisa (criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA) e educação em ciências agrárias (criação de cursos de pós-graduação).

Muitas vezes criticado por alguns estudiosos, o processo de modernização não se deu da mesma forma como ocorreu com a Revolução Verde no México e na Ásia (Hoffmann e Kageyama, 1985), devido provavelmente ao estágio mais avançado do processo de industrialização e da agricultura. Enquanto o foco da modernização brasileira concentrou-se

para as culturas de café, soja, cana-de-açúcar, em outros continentes, explicam os autores, a Revolução Verde orientou-se para os cereais básicos como arroz, trigo e milho, já que um de seus objetivos era a solução da fome nos países em desenvolvimento.

A política agrícola dos anos oitenta (Alves e Pastore, 1980) foi implementada considerando-se os seguintes aspectos:

a) suas ações eram voltadas à produção;

b) apostavam no aumento de área e de produtividade para assegurar a sustentabilidade;

c) a modernização da agricultura foi viabilizada com o incontestável apoio dos instrumentos de preços mínimos, crédito, pesquisa e extensão; e, finalmente,

d) a reforma agrária estava limitada às regiões onde a estrutura agrária não era favorável à modernização.

Por outro lado, esses autores destacam que os estímulos para o setor podiam ser compreendidos como uma compensação necessária à política macroeconômica que, por meio de câmbio sobrevalorizado e outros instrumentos de controle, favorecia a industrialização em detrimento da atividade agropecuária.

Independente da abordagem considerada, no período de 1947 a 2002 (Alves; Contini e Hainzelin, 2005), o PIB agrícola brasileiro cresceu anualmente em média 3,6%, superando o crescimento populacional anual de 2,4%.

A evolução da produção, em geral, se dá em função do aumento da área cultivada, do aumento do uso de insumos e/ou da elevação da produtividade, mas no período de 1990 a 2000 o crescimento da produtividade agrícola (Alves; Contini e Hainzelin, 2005; Contini et al. 2010; Contini e Martha Júnior, 2010) prevalece para explicar a expansão na produção nacional das principais culturas agrícolas.

Não obstante a excelente performance, da produtividade brasileira, os dados disponíveis em vários países ou regiões (WHO, 1990) mostram uma correlação entre o uso de agrotóxicos e o rendimento das lavouras. Quando as práticas agrícolas são bem conduzidas, a produção aumenta com o aumento no uso de agrotóxicos. Entretanto, acima de um certo nível, a utilização de agrotóxicos se torna um fator limitante, ou seja, a correlação não é diretamente proporcional. Nos casos do Japão e da África, a relação entre o uso de agrotóxicos por unidade de área de terra é 85 kg por hectare, enquanto a relação entre as produções correspondentes é de apenas 4,5 kg/ha.

O expressivo desempenho na produção e na produtividade agrícola brasileira assenta- se (Contini et al., 2010) em três pilares:

a) a ousadia e o espírito empreendedor de produtores pioneiros ao decidirem investir nos Cerrados;

b) a existência de terras baratas passíveis de mecanização no Centro Oeste;

c) a implantação de instrumentos de política agrícola, tais como: crédito rural e garantia de preços mínimos.

A evolução histórica da produção da área e da produtividade para os principais grãos: arroz, milho, feijão, soja e trigo (Contini et al., 2010), no período de 1975 a 2010, demonstra que enquanto a área cultivada com essas lavouras cresceu 45,6%, a produção elevou-se 268,0%. A produtividade média dos grãos, segundo os autores saltou de um valor médio de 1.258 kg/ha em 1977, para 3.000 kg/ha em 2010. No período, a taxa média anual de crescimento é de 3,2%.

Na pecuária, semelhante desempenho (Contini e Martha Jr., 2010) é registrado na produção de carnes (aves, bovina e porco) que passou de 4.270 mil toneladas em 1978 para 22.144 toneladas em 2009. Nesse período a produção de carne de aves aumentou 10 vezes, a de carne de porco esse aumento foi de 3 vezes e a de carne bovina o incremento foi de 3,7 vezes.

Quanto ao comércio exterior, o Brasil tem ampliado e diversificado sua pauta de exportações, incorporando novos mercados. Em 1995, a participação do Brasil no comércio internacional que era de 5% elevou-se em 2008 para 8% (Liapis, 2010), assumindo a posição de segundo maior exportador agrícola, após os Estados Unidos.

No entanto, nas últimas três décadas do século XX a evolução na produção agrícola foi acompanhada de avanços em outros setores, trazendo transformações na economia e na política que alteraram significativamente a ordem mundial. Os fenômenos como a globalização, a integração das cadeias de valor, as rápidas inovações tecnológicas e as restrições ambientais mudaram vertiginosamente o contexto do papel da agricultura.

O mundo da agricultura também mudou significativamente desde 1982 com o Relatório de Desenvolvimento Mundial sobre a Agricultura e, posteriormente, em 1987, a partir dos conceitos de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade, pela Comissão Brundtland.

O Relatório Bruntdland despertou a comunidade internacional para a questão do uso dos recursos naturais ao mesmo tempo em que cria com a fluidez e a ambiguidade de seu conceito de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade, um conceito ideal que se

adapta a qualquer região ou país, conclama a comunidade mundial às responsabilidades com o meio ambiente, e constituem-se em vigorosos instrumentos de política internacional.

A partir desses conceitos e do surgimento da globalização, a emergente nova agricultura redefine os papéis de produtores, de empresários e do próprio Estado e, paralelamente, enfrenta o desafio de produzir mais, tornar-se mais sustentável sem dissociar- se da agenda mais ampla do desenvolvimento.

Independente dessas transformações, a agricultura continuará a ter papel proeminente para os países em desenvolvimento já que representa o principal sustento das pessoas mais pobres, atuando ainda como instrumento para a redução da pobreza, além de constituir-se em uma ferramenta ímpar no desenvolvimento sustentável.