• Nenhum resultado encontrado

A natureza dos grupos – homogéneos vs heterogéneos

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 79-85)

4. Realização da prática profissional

4.5 A formação de grupos

4.5.1 A natureza dos grupos – homogéneos vs heterogéneos

A formação de grupos, tendo em conta o nível dos alunos, é uma condição indispensável no ensino da Educação Física. Assim, esta formação de grupos deve ir ao encontro das necessidades e especificidades dos alunos e da turma. Sejam grupos constituídos por alunos do mesmo nível, ou grupos

62

constituídos por alunos de níveis diferentes, o essencial desta organização tem a ver com a possibilidade de promover o desenvolvimento dos alunos nas diferentes modalidades

De modo a colocar em evidência a experiência tida ao longo deste ano lectivo, procurei relatar as vantagens e desvantagens de cada tipo de formação de grupos, recorrendo à análise da formação de grupos nas 6 modalidades que leccionei ao longo do ano lectivo.

Iniciando a análise aos grupos heterogéneos, estes foram utilizados em 5 modalidades: Basquetebol, Voleibol, Ginástica Acrobática, Dança e Badminton.

A base para esta decisão esteve sempre relacionada com a vantagem mais evidente na utilização dos grupos heterogéneos, isto é, a aprendizagem cooperativa. Deste modo, assumi como verdade, que no relacionamento de alunos de nível superior com alunos de nível inferior poderia proporcionar evolução de todos, desde que os objectivos definidos para cada um fossem distintos. Por esta razão, a divisão da turma em grupos heterogéneos teve resultados positivos na maioria das modalidades em que foram utilizados. Os excertos seguintes reflectem esta vantagem da divisão por grupos de desempenho heterogéneo:

“É possível verificar a potencialidade da Ginástica Acrobática, visto que deste modo, aqueles alunos que realizam apenas uma das funções, sentem-se integrados e importantes na realização das diferentes tarefas. Assim, a criação

de grupos heterogéneos é um factor positivo e potenciador da percepção de inclusão por parte do aluno tecnicamente mais fraco, sentindo-se útil,

podendo mesmo os efeitos desta forma de organização ser comparada com os efeitos presentes no MED, onde os alunos menos hábeis não se sentem excluídos, muito pelo contrário.” (Reflexão Final da UD de Ginástica)

“Por outro lado, o par Marta9/Marta1, deu-me uma enorme alegria. Pela prestação da Marta9 ao longo das aulas, era evidente que a sua avaliação seria próxima do excelente, no entanto, fiquei também muito surpreendido com a prestação da Marta1. Apesar de ter a consciência de que ter a Marta9 como

63

par ajuda imenso, também tenho a noção que a Marta1 tem vindo a evoluir

na sua forma de estar, e não é só na Dança.” (Reflexão da Aula nº 51)

“Organizei os pares, de forma heterogénea, visto que deste modo, os

alunos com mais dificuldade podem beneficiar da qualidade dos alunos mais aptos. Penso que esta foi a decisão acertada, visto que assim pude verificar que a Marta1 não é assim tão má como eu pensava, apesar de ter

alguns erros técnicos e falta de dinâmica. Assim, a Marta1 teve a possibilidade de ter mais oportunidades de resposta, visto que a Marta5 (par) é uma aluna com um nível elevado, ajudando-a na realização das sequências.” (Reflexão da Aula nº 37)

Uma característica transversal a todos os excertos relaciona-se com a riqueza que a aprendizagem cooperativa pode ter. Na Unidade Didáctica de Ginástica Acrobática, a diferença de desempenho entre os alunos não se verificava, no entanto foi inevitável a formação de grupos heterogéneos, visto que a existência de um aluno com um peso acima da média, assim como alunos que não têm estrutura física para assumir a função de base, colocavam dificuldades (senão impossibilidades) na formação de grupos homogéneos. Por conseguinte, a opção foi a formação de grupos heterogéneos, sendo que em cada grupo, existiam dois alunos com características de bases e dois alunos com características de volante.

Já nas Unidade Didácticas de Dança e de Badminton, a formação de pares e grupos heterogéneos também esteve presente. A aprendizagem por imitação (no caso da Dança) e a possibilidade de os alunos menos evoluídos exercitarem com os colegas mais evoluídos (no caso do Badminton) foram as principais razões desta opção.

No entanto, próximo do final da Unidade Didáctica de Badminton, compreendi que a opção de realizar a abordagem desta modalidade estruturada em grupos heterogéneos, talvez não tenha sido a mais correcta. Pensamento plasmado no excerto do final da Unidade:

“Se houvesse a possibilidade de reiniciar a Unidade Didáctica, optaria por uma organização diferente. Inicialmente, manteria as equipas heterogéneas e o

64

treino por equipas, tal como aconteceu na „pré-época‟. No entanto, nos torneios, (…) a opção seria bem diferente, optando por uma organização que cumprisse os mesmos objectivos, mas que promovesse mais competições entre alunos com um nível de jogo aproximado.” (Reflexão Final da UD de Badminton)

Após a reflexão das aulas em que se realizaram as competições em Badminton, verifiquei que a falta de competitividade nos jogos entre alunos com nível diferente foi uma evidencia que prejudicou a competitividade dos torneios. Deste modo, seria mais adequado que as aulas correspondentes à exercitação e consolidação fossem realizadas em grupos heterogéneos, visto que, tal como evidência um dos excertos anteriores, trouxe vantagens aos alunos. No entanto, nos torneios, para que a que a competitividade fosse maior deveria ter considerado grupos de competição constituídos por alunos com níveis de desempenho semelhantes (grupos homogéneos).

Depois desta ponderação das vantagens de uma ou outra formação de grupos, fica evidente que cada formação tem vantagens e desvantagens, consoante a especificidade da modalidade em causa, bem como o tipo de alunos. Deste modo, ficou patente que a formação de grupos heterogéneos, pode não ser a mais adequada em determinadas modalidades ou organizações de aula.

A divisão por níveis de desempenho assume-se também como uma estruturação válida. Nesta formação, a tarefa planeada é, normalmente, ajustada a todos os alunos do grupo, permitindo que a competição dentro do grupo será mais equilibrada, porquanto existe um nível similar de desempenho entre alunos. Neste contexto, o exemplo do Badminton, assim como o ensino da Natação com diferentes níveis dentro da turma (excerto seguinte), colocam em evidência a necessidade de em algumas modalidades e situações concretas, formar grupos homogéneos, no sentido de proporcionar aos alunos experiências que lhes possibilitem a progressão no processo ensino- aprendizagem.

65

“Analisando agora as características da turma relativamente à Natação, considero que existem níveis diferentes dentro da turma, pelo que será necessário separar os alunos por níveis.” (Reflexão da Aula nº 17)

Após toda esta análise sobre a formação de grupos, fica evidente que a formação de grupos deve ser utilizada em consonância com os objectivos pretendidos. Se até aqui não tinha uma ideia fixa de qual das divisões seria a mais adequada, após este ano lectivo, passei a ter uma certeza: todas as estruturas organizacionais aportam vantagens e desvantagens, sendo necessário decidir em função da situação concreta.

4.5.2 A socialização como factor decisor na formação de grupos

Ainda dentro da prática da formação de grupos, a socialização dos alunos assume um papel importante, visto que as afinidades entre alunos podem influenciar o ambiente de aprendizagem (Rosado & Ferreira, 2009). Segundo os mesmos autores, as “ligações emocionais” e a gestão das emoções destacam-se como aspectos nucleares da gestão dos ambientes de aprendizagem.

A necessidade de compreender as diferentes formas de socialização dos alunos, assim como as afinidades ou incompatibilidades entre eles, foi determinante no processo decisivo relativo à divisão de grupos ou pares, ao longo das aulas.

Na formação dos pares ou grupos, uma das minhas preocupações foi a manutenção de um clima propício à obtenção de um elevado sucesso no desempenho das tarefas por mim propostas. Assim sendo, as amizades entre alunos, assim como as quezílias estiveram presentes no momento de definir os grupos ou os pares de trabalho.

Segundo Rosado & Ferreira (2009), a relação entre alunos pode ser percebida como hostil ou amigável, bem como competitiva ou colaborativa, pelo que os professores devem prestar atenção a estes relacionamentos. Por esta razão, uma das minhas preocupações foi não colocar, no mesmo grupo, alunos que tivessem algum tipo de incompatibilidade. Tendo o referido em

66

conta, ao longo do ano lectivo tive a preocupação de não colocar no mesmo grupo a Marta3 e a Marta4, pois apercebi-me que a relação delas não era a melhor, e deste modo, não se vislumbrava adequada, quando o objectivo da tarefa era a aprendizagem em cooperação. Por outro lado, a forte relação existente entre a Marta4 e a Marta6, assim como a Marta5, a Marta7 e o Rui3, foram tidas em conta no momento em que era necessário atingir um objectivo em grupo.

Na modalidade de Dança, esta preocupação foi ainda mais evidente, visto que o facto de nenhum dos alunos estar familiarizado com o cha-cha-cha, fez com que estivesse num nível aproximado de desempenho. Deste modo, a formação de grupos homogéneos ou heterogéneos não teve tanta implicação na definição dos pares, sendo que estes foram definidos em função da afinidade dos alunos entre si, como é referido no excerto seguinte:

“Foi vantajoso a manutenção dos pares ao longo das aulas, visto que os pares foram construídos tendo em conta a afinidade e o relacionamento entre os elementos. Esta relação construída pelos pares, fez com que os alunos se mantivessem empenhados, enfatizando o trabalho de cooperação, no sentido de evoluírem como pares.” (Reflexão Final da UD de Dança)

Em suma, para além das habilidades motoras, a natureza dos relacionamentos entre os diferentes alunos é uma fonte de conhecimento importante a utilizar no momento da tomada de decisão acerca da formação de grupos de trabalho. No entanto, independentemente do critério utilizado, o importante é possibilitar aos alunos experiências de qualidade que lhes permitam a obtenção de aprendizagem ao longo do ano lectivo. Por conseguinte, cabe ao professor ponderar a relação entre o tipo de aprendizagem, o nível dos alunos, a relação entre eles e os objectivos a alcançar. É da correcta conjugação destes factores que a tomada de decisão deve surgir. Importa também referir que o jogo entre os diferentes tipos de constituição de equipas deve ser uma realidade no contexto de ensino- aprendizagem. Para além de todas as características referidas anteriormente, no decorrer deste ano lectivo, deparei-me com outra especificidade da turma,

67

que me fez tomar um conjunto de decisões específicas para o resolver: o baixo nível de aptidão física dos alunos.

4.6 O baixo nível de aptidão física – que consequências para as

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 79-85)