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A NATUREZA pelo foco de áreas específicas do conhecimento científico

PARTE I: CONTEXTUALIZAÇÃO E CONSIDERAÇÕES

2.2. A NATUREZA pelo foco de áreas específicas do conhecimento científico

Como já visto no primeiro tópico deste capítulo, a história pode revelar a evolução das mais diversas formas de apropriação pela sociedade humana do objeto NATUREZA. Esta área do conhecimento se constitui em um espaço através do qual a sociedade pode apropriar-se das relações e dos acontecimentos que se desenvolvem historicamente, incluindo a dinâmica de modificação em torno do objeto NATUREZA por outras áreas específicas do conhecimento científico. Ela vai então estar para o estudo das representações sociais da NATUREZA como apoio às análises geográficas, ecológicas, sociológicas; como caminho para situar historicamente os elementos de evolução conceituais, filosóficos e ideológicos que marcam as construções e reconstruções das representações e das construções teóricas da NATUREZA nestas e em outras áreas do conhecer.

Na busca da apreensão dos construtos científicos da NATUREZA, que permeiam estas outras áreas do conhecimento definidas como importantes para este foco interdisciplinar, algumas concepções vão se delineando atrelada as concepções filosóficas historicamente desenvolvidas e já abordadas anteriormente.

A ecologia e a biologia, como áreas do conhecimento científico que têm na NATUREZA o objeto do seu conhecimento, têm importância fundamental no estudo das representações sociais deste objeto. O desenvolvimento conceitual destas ciências em torno do objeto NATUREZA vai revelar mudanças que se constituem como elementos presentes em diferentes concepções e contornos do universo simbólico do senso comum, acerca da NATUREZA.

Assim, apenas como ilustração, quando a NATUREZA é tomada como objeto para a ecologia em seus primórdios, ela se apresenta completamente dissociada do ser humano, distante, como o estudo da casa dos seres vivos, sem a presença do homem e tem nos ecossistemas naturais a sua principal unidade de estudo. Uma concepção de NATUREZA, talvez, apoiada pela posição de NATUREZA enquanto negatividade, proposta por Hegel, para o qual a NATUREZA existe apenas através da consciência humana. Em outro extremo poderia estar a NATUREZA para a biologia, também em seus primórdios, com o naturalismo darwiniano. Uma posição que através da teoria da evolução das espécies naturaliza o homem, como um ser vivo qualquer, um animal, que como os outros, trilhou o seu próprio caminho evolutivo, como parte integrante da NATUREZA. Uma posição mais orientada pelo dualismo cartesiano que naturaliza o homem para lhe destacar a consciência.

Numa abordagem contemporânea a ecologia se coloca em outro extremo. A posição da NATUREZA enquanto objeto para o conhecimento humano é abandonada por um objeto que inclui neste objeto a humanidade. São novos contornos de relações que através da ecologia humana define um objeto mais integrado de conhecimento, incluindo na casa dos seres vivos o homo sapiens e evoluindo para o conceito de ecossistemas urbanos, cuja referencia básica é o conceito de ambiente na busca de uma concepção integrada da sociedade com a NATUREZA.

Nesta ótica o ambiente é entendido, então, enquanto uma totalidade que integra todos os elementos que compõem o universo em permanente dinâmica e inter-relação, como afirma Seara (apud. Alves e Silva, 1998, p.10):

“O ambiente é a totalidade do planeta e os elementos que o compõem: físicos, químicos e biológicos, tanto os naturais quanto os artificiais, tanto os orgânicos quanto os inorgânicos, nos distintos níveis de sua evolução, até o homem e suas formas de organização na sociedade, onde a rede de inter-relações existentes entre estes elementos se encontra em estreita dependência e influência recíprocas”.

Na geografia a proposta para uma abordagem integrada entre a NATUREZA e a sociedade toma a paisagem como pista nesta direção, em especial para o encaminhamento de situações problemas. A referência está na paisagem enquanto categoria analítica, que segundo Gomes (1994, p. 148) assume o seguinte recorte:

“ ‘Paisagem’ que significam recortes do espaço, reservatórios de utopias: estética, políticas, intelectuais e didáticas. E mais ainda: paisagem, enquanto conceito que envolve oposição e nostalgia, que se pronuncia no mundo urbano-industrial contra o mundo urbano-industrial, contra a sua ‘fragmentação’ e ‘alienação’.

Estes elementos vão influenciando o imaginário social na construção do senso comum e até de concepções filosóficas que levam a diferentes formas de conceber o objeto NATUREZA e em conseqüência a diferentes posições quanto à relação homem, sociedade humana/NATUREZA. Inclusive Moscovici (1977), na sua busca de justificar a naturalidade da condição social da espécie humana, atribui a sociedade humana e as suas construções sociais à categoria de NATUREZA, quando elimina por completo a estranheza desta a partir da naturalização da humanidade. Esta ótica traz a sociedade humana e o homem para a NATUREZA em sua condição singular de evolução, com sua diferenciada capacidade de refletir sobre si mesmo, sobre o seu futuro, e de, portanto, na sua singularidade, fazer história, influenciando nos rumos de sua existência e no desenvolvimento da sociedade. Uma posição arriscada, que pode estar abrindo espaço para a negação desta singularidade na relação com a diferenciada condição de outras espécies animais. É claro que, como coloca Passmore (1995), uma singularidade caracterizada por uma estranheza contida a partir dos limites impostos pela NATUREZA à sociedade humana, em função da condição

natural da espécie humana, enquanto constituindo com os outros elementos naturais uma comunidade ecológica.

Como se vê a NATUREZA enquanto objeto de conhecimento para a sociedade humana é prenhe de informações imagens e sentidos que se articulam no espaço e no tempo numa dinâmica de se fazer e refazer a partir de focos diversos que extrapola uma única área do conhecer e uma única concepção filosófica e científica. A própria história da sociedade humana, a partir de suas várias áreas de conhecimento, vai então, definindo e redefinindo a NATUREZA como objeto de conhecimento. São conhecimentos científicos que, segundo Moscovici, quando faz referência à psicanálise (1978), na medida de sua importância para a vida social, passam a ser reconstruídos também como conhecimento do senso comum, no universo de significados dos grupos sociais, integrando-se às suas conversações cotidianas, definindo e redefinindo as condutas, os costumes e as práticas desses indivíduos e grupos em sociedade. Um fenômeno cada dia mais efervescente e dinâmico em torno do objeto NATUREZA na medida da agudização da problemática ambiental e de sua repercussão na qualidade de vida dos indivíduos, das comunidades, dos grupos sociais, promovendo a permanente construção e reconstrução de diferentes formas de pensar este objeto e de fazer a relação sociedade/NATUREZA, no contexto dessa problemática.