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1 INTRODUÇÃO

3.4 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NO MODELO DE POLÍCIA

A forma de atuação dos órgãos de segurança pública do País carrega hoje traços predominantes e decorrentes das motivações das suas origens, principalmente dos órgãos encarregados pelas atividades de polícia. A polícia nasceu com a missão de combater a criminalidade que vem se tornando mais complexa com o passar do tempo. Conforme já apresentado neste trabalho, verifica-se a grande dificuldade do poder público em reduzir os crescentes índices de criminalidade na maioria dos estados do País e muitas são as justificativas: a falta de efetivo, a omissão do Estado, a necessidade de reestruturação das polícias, a necessidade de mudanças na legislação penal, etc. Entretanto, verifica-se que criminalidade e segurança são assuntos que sempre geraram acaloradas discussões nos mais diversos setores e ambientes da sociedade.

Considerando apenas o que se espera das forças policiais, porém, há grande dificuldade em definir o que se quer. Há correntes que defendem a necessidade de enfatizar a prisão dos culpados, fazendo com que a polícia opere como um braço da justiça criminal. Outras defendem que sejam priorizadas as ações voltadas para a redução da criminalidade. Segundo Rolim (2006) tais correntes apresentam o seguinte conflito – prevenir o crime é um objetivo que pode ser alcançado mediante a presença ostensiva dos policiais nas ruas, de tal forma que se crie uma sensação de onipresença policial para que os eventuais delinquentes mudem de ideia quanto a realização de atos criminosos. Esta última medida, talvez por ser mais visível politicamente, venha sendo mais empregada e destacada em detrimento de ações voltadas para atuar nas causas do problema.

Entretanto, cada vez mais, países desenvolvidos e democráticos vêm percebendo as vantagens de se adotar modelos de polícia que se caracterizam pela proximidade entre o policial e o cidadão. Este modelo, denominado policiamento comunitário, quebra o paradigma da polícia que causa medo aos cidadãos. Pelo contrário, objetiva o estreitamento do contato com estes com o intuito de aumentar a confiança mútua. O policial passa a ser reconhecido como um amigo, pacificador e interessado nos problemas individuais e coletivos da comunidade onde atua.

Ainda segundo Rolim (2006) na viabilização operacional de um projeto de polícia comunitária nota-se como primordial a elaboração de estratégias que estimulem a participação

da comunidade na elaboração dos planos de ação para os problemas locais. Em tais projetos, vislumbra-se o estabelecimento de formas coletivas de vigilância e de colaboração dos cidadãos com a polícia. Observam-se exemplos neste sentido com o estabelecimento de canais diretos de comunicação entre os moradores e os policiais, inclusive com o uso de equipamentos rádio. Outra forma de atuação tem sido a implantação de conselhos comunitários de segurança pública que funcionam como órgãos de controle e que contribuem na orientação do trabalho policial.

Ao mesmo tempo, o policial comunitário deverá desempenhar uma função básica para o sistema de inteligência policial – a coleta de informações necessárias à prevenção do crime. Em contato direto com a comunidade, ele passará a reconhecer as principais ameaças que ela enfrenta e saberá repassar à instituição não apenas a natureza desses problemas, mas outros dados imprescindíveis a respeito do perfil e do modus operandi daqueles que violam a lei na região. Aliás, pode-se esperar que os policiais comunitários desenvolvam uma capacidade maior do que a dos patrulheiros que circulam por toda a cidade, exatamente por conta do grau de conhecimento que passam a acumular sobre a região sob sua responsabilidade. (ROLIM, p. 81, 2006).

Percebe-se, então, que o modelo favorece o trabalho de inteligência por parte dos policiais no âmbito das comunidades onde atuam. Desta forma, a polícia conseguiria consolidar as informações sobre a criminalidade e violência na região, com as finalidades de identificar com mais precisão as tendências presentes, informar a população sobre os riscos de vitimização e identificar os grupos mais vulneráveis à ação dos infratores.

Ora, do exposto no cenário do policiamento comunitário, não se pode deduzir que os profissionais da segurança privada poderiam ser amplamente aproveitados como contribuintes neste projeto. Os vigilantes, principalmente os que atuam na segurança patrimonial e de pessoas, atuam de maneira mais fixa e em espaços físicos de amplitude mais limitada do que cobertos pelo patrulhamento policial. Portanto, têm condições de serem aproveitados como agentes preparados para coletar informações no ambiente onde atuam e nas áreas vizinhas. Tais informações poderiam ser aproveitadas pelo setor público na montagem do cenário da criminalidade local, o qual por sua vez, poderia ser utilizado, também, em proveito do setor privado, na medida em que auxiliariam no planejamento das medidas de segurança a serem adotadas pelas empresas em determinado espaço, face às informações e a interpretação dos dados estatísticos disponíveis. Conforme afirma Rolim (2006) uma parte considerável dos crimes é cometida em decorrência de situações consideradas favoráveis aos infratores, os quais analisam o esforço exigido para a prática do crime, o risco concreto que se corre ao praticá-lo e o tamanho da recompensa oferecida pela

sua realização. Então, considerando estes fatores, é possível planejar ações preventivas com vistas a defender melhor os alvos de crime, dificultando aos infratores a aproximação, bem como é possível de se desenvolver políticas que estimulem as pessoas a agir de forma correta e educada, evitando o cometimento de delitos.

Portanto, o modelo de policiamento comunitário tende a facilitar o estreitamento do contato dos policiais com os vigilantes de determinado setor, formando uma rede de colaboradores com a finalidade comum de proporcionar um ambiente mais seguro para todos. Verifica-se, mais uma vez, que há espaço a ser explorado na criação de um ambiente de apoio mútuo entre os setores públicos e privados de segurança. Para tanto, é fundamental que o crescimento de iniciativas nesta direção seja acompanhado da devida regulamentação de amparo e que defina limites de forma precisa, tudo para que se possa obter o melhor proveito da contribuição do setor privado para com a segurança pública sem, entretanto, colocar em risco a segurança de áreas sensíveis do Estado.

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