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A segurança privada como aliada do sistema nacional de segurança pública no combate à criminalidade no Brasil

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARCELO SANTOS GONÇALVES

A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL

Recife-PE 2015

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A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato

Sensu em Segurança Privada, da Universidade do Sul de

Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Especialista em Segurança Privada.

Orientação: Prof. João Schorne de Amorim, Msc.

Recife-PE 2015

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A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Segurança Privadae aprovada em sua forma final peloCurso de Pós-Graduação Lato Sensu em Segurança Privada, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Recife-PE, 16 de abril de 2015.

_____________________________________________________ Professor orientador: João Schorne de Amorim, Msc.

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A minha querida e amada “filha” que me inspira a cada sorriso e que me orgulha a cada palavra.

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Em primeiro lugar agradeço a Deus, por ter me dado saúde, forças e motivação para superar os obstáculos e atribulações que pairaram sobre o meu caminho durante o período de confecção deste trabalho. Só Ele sabe tudo o que enfrentei para conciliar a dedicação ao Curso, com os deveres da profissão e com a devida atenção à minha família.

Não estaria aqui sem a ajuda das pessoas mais importantes na minha vida: meu pai Edmar e minha mãe Luzinete, responsáveis pelos fundamentos morais que carrego e que me “carregam”.

Obrigado à minha esposa Ana Paula e à minha filha Marina pelo incentivo constante e pela paciência com os meus vários momentos de ausência ou falta de atenção.

Aos meus tutores e professores, de todas as disciplinas do presente Curso, pelo esmero e dedicação no processo de ensino e aprendizagem e pela atenção dispensada a nós alunos. Com certeza, este foi um fator relevante para a minha motivação crescente ao longo Curso.

Ao Prof. João Schorne de Amorim, meu orientador neste trabalho, pelas orientações precisas e objetivas, que muito me ajudaram em todo o processo de confecção do TCC.

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O presente trabalho de conclusão de curso, do Programa de Pós-Graduação em Segurança Privada da Universidade do Sul de Santa Catarina, apresenta como tema a Segurança Privada Como Aliada do Sistema Nacional de Segurança Pública no Combate à Criminalidade no Brasil. Por meio da metodologia da pesquisa bibliográfica, o trabalho tem o objetivo de apresentar possíveis soluções para o desenvolvimento da colaboração mútua entre os setores público e privado de segurança, visando maior eficácia na prevenção e no combate à violência no Brasil. O aumento constante da criminalidade no País, a partir do final do século XX, associado à ineficiência do Estado em cumprir o seu dever constitucional de prover a segurança à sociedade, por meio dos seus órgãos de segurança pública, tem gerado crescente sensação de insegurança nos cidadãos. Percebe-se neste cenário a principal justificativa para o crescimento dos serviços privados de segurança no País. Como prática comum e crescente, a sociedade e o próprio setor público recorrem às empresas de segurança privada com o intuito de garantir proteção mais eficaz para os seus ativos e patrimônios. A despeito do receio que ainda há sobre o ingresso da iniciativa privada no que antes era considerado monopólio estatal do uso legítimo da força, o Estado já reconhece a necessidade da complementariedade do setor. Ao longo da pesquisa são analisadas questões essenciais para a viabilização da contribuição mútua entre os setores, como a legislação vigente, o processo de formação dos profissionais de ambos os setores, a quebra de paradigmas culturais, o modelo de polícia utilizado no Brasil e os limites da abertura à privatização. A partir de iniciativas públicas, privadas ou oriundas do próprio seio da comunidade, como um exemplo mostrado neste trabalho, nota-se que há espaço para progressos na direção proposta - somatório de esforços - com a adoção de medidas eficientes, que podem proporcionar ganhos em segurança para os cidadãos, instituições e para o próprio Estado Brasileiro.

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This working course completion, the Program of Graduate Studies in Private Security at the University of Southern Santa Catarina, has as its theme the Private Security As Allied's National Public Security System in Combating Crime in Brazil. Through bibliographical research methodology, the study aims to present possible solutions for the development of mutual cooperation between the public and private sectors of safety to more effectively in preventing and combating violence in Brazil. The steady increase in crime in the country, from the end of the twentieth century, associated with the inefficiency of the State to fulfill its constitutional duty to provide security to society, through its law enforcement agencies, has generated growing sense of insecurity in citizens. It can be seen in this scenario the main reason for the growth of private security services in the country. As a common and growing practice, society and the public sector itself resort to private security companies in order to ensure more effective protection for its assets and assets. Despite the fear that there is still about the entry of the private sector in what was considered state monopoly of the legitimate use of force, the state already recognizes the need for complementarity in the industry. During the research key issues are analyzed for the viability of the mutual contribution between sectors, such as the current legislation, the process of training of professionals of both sectors, the breaking of cultural paradigms, the police model used in Brazil and the limits opening to privatization. From public initiatives, private or coming from the community itself, as an example shown in this work, we note that there is room for progress in the direction proposed - sum efforts - with the adoption of efficient measures that can provide gains in security for citizens, institutions and the own Brazilian State.

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1 INTRODUÇÃO...8

2 A SEGURANÇA PÚBLICA E A PRIVADA NO BRASIL...11

2.1 A CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL...11

2.2 A SEGURANÇA E O PAPEL DO ESTADO...12

2.3 A SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL...15

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...22

3.1 ASPECTOS LEGAIS E ESTRUTURAIS...22

3.2 A INTELIGÊNCIA NO COMBATE A CRIMINALIDADE...25

3.3 CAMINHOS E OPORTUNIDADES PARA A INTEGRAÇÃO...27

3.4 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NO MODELO DE POLÍCIA...30

3.5 UMA INICIATIVA BEM SUCEDIDA...32

3.6 RISCO CONTROLADO - EXPERIÊNCIA AMERICANA...34

4 CONCLUSÃO...37

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1 INTRODUÇÃO

Poucas questões no Brasil e no mundo atual atraem tantas preocupações quanto à violência e o avanço da criminalidade. O tema da segurança, no seu sentido mais amplo, envolvendo todos os atores responsáveis ou passíveis de contribuir para o controle social e o aumento do bem estar social, está no centro da agenda política da atual. A criminalidade está presente de forma indiscriminada em países de primeiro e de terceiro mundos, impondo às sociedades o desafio de descobrir maneiras eficientes para lidar com a questão de tamanha complexidade. Os índices referentes à criminalidade no Brasil vêm crescendo consideravelmente nas últimas décadas. Fatores como o aumento da desigualdade social, a grande concentração populacional nos grandes centros urbanos, somada a falta de infraestrutura de apoio, a expansão do tráfico de drogas e o desenfreado crescimento populacional, contribuem para este fenômeno. A criminalidade se multiplica, amplia suas modalidades e se infiltra por todos os setores e ambientes da sociedade, desafiando as instituições voltadas para o seu controle.

No Brasil, para a sua segurança, a população depende da atuação do Estado, o qual possui o dever constitucional de promover ações e medidas que permitam o controle social de forma ampla, oferecendo estímulos positivos para que os cidadãos possam conviver em paz entre si. O monopólio da violência física é legitimado somente ao Estado. Apenas este pode usar da força para fornecer aos cidadãos a segurança necessária por meio da prevenção e repressão de comportamentos criminosos, lesivos ao próprio Estado e à integridade física, moral e patrimonial dos cidadãos. Todavia, as dificuldades que se apresentam aos Órgãos de Segurança Pública no Brasil são inúmeras e acabam por causar a ineficácia no controle da criminalidade.

Fruto deste cenário, verifica-se no Brasil o elevado e o constante crescimento do setor privado de segurança, com a multiplicação de empresas voltadas para a segurança de pessoas, de patrimônios particulares, de instituições financeiras e de transporte de valores. Setores públicos e parcela crescente da população, influenciados pela sensação de insegurança, recorrem a estas empresas buscando garantir sua proteção. Entretanto, a segurança privada ainda é vista com grande preconceito, devido a fatores como a carência de atualização da normatização, a elevada atuação de empresas ilegais e ao baixo nível de profissionalização do setor. Nota-se, porém, que o efetivo de vigilantes (denominação

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convencionada ao profissional da segurança privada) é consideravelmente superior ao do somatório de todos os profissionais dos órgãos de segurança pública do País, aspecto que também faz despertar sentimento de receio no Estado. Presentes por todo o País, as empresas de segurança privada são controladas e fiscalizadas pelo Estado através da Polícia Federal, e o setor é regulamentado a nível federal.

A complexidade e os índices atuais da criminalidade não deixam dúvidas sobre a incapacidade do Estado em prover a segurança plena à sociedade brasileira, e fazem com que a atuação das empresas privadas de segurança seja não só desejada como necessária no presente cenário. As opiniões se divergem quanto ao incentivo ao setor, entretanto, percebe-se que não há outro caminho senão estudar a melhor forma de empregá-lo, de maneira que exerça eficiente complementariedade ao trabalho dos órgãos de segurança pública. Atualmente, as áreas e formas de atuação de cada setor estão bem definidas, haja vista evitar a sobreposição de responsabilidades e a garantir que os direitos constitucionais dos cidadãos não sejam feridos. Portanto, é neste ponto que se encontra o nosso problema: há no Brasil dois seguimentos voltados para garantir a segurança da sociedade, o público e o privado. Então, de quais maneiras a Segurança Privada no Brasil pode contribuir, de forma sistematizada, com os Órgãos de Segurança Pública no combate à criminalidade no Brasil?

Portanto, considerando o cenário atual do Brasil, à organização, à regulamentação e o emprego dos Órgãos de Segurança Pública, e a crescente atuação das empresas privadas voltadas para a segurança, este trabalho de pesquisa tem o objetivo geral de apresentar possíveis soluções para o desenvolvimento da colaboração mútua entre os setores público e privado de segurança, visando maior eficácia na prevenção e no combate à violência no País. A pesquisa também apresenta análises sobre as características gerais e a legislação que regula os dois setores, aborda experiências já vivenciadas no Brasil e no exterior, com a finalidade de apresentar oportunidades de integração sistemática. A análise do conteúdo teórico com a intensão de transportá-lo para medidas práticas faz crescer a importância deste trabalho. Nota-se que a preNota-sente pesquisa trata de tema de interesNota-se direto da população, haja vista o Nota-seu anseio por medidas que conduzam a uma maior sensação de segurança. As pessoas almejam poder ir e vir com tranquilidade, conduzir seus empreendimentos comerciais sem medo de terem seu patrimônio roubado, de entrarem em instituições financeiras e sentirem protegidos, ou seja, de terem seus direitos constitucionais plenamente garantidos. Como o Estado, sozinho, não consegue cumprir com eficácia o seu dever previsto na Constituição Federal em vigor, outras soluções possíveis certamente atraem o interesse social. Portanto, este trabalho mergulha no impasse que existe entre a certeza sobre a importância da união de esforços entre

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os setores público e privado de segurança no Brasil, e a forma de como e onde permiti-la, a fim de apresentar possíveis oportunidades.

Com este intuito, a pesquisa trilhou uma sequência lógica de abordagens para alcançar o seu objetivo principal. Inicialmente, buscou-se realizar uma ambientação sobre o cenário atual da violência no Brasil e no mundo, focando na sua diversidade e complexidade. A partir de então, é analisado o papel do Estado Brasileiro como responsável pela condução das ações de controle social no País, expondo suas limitações e vulnerabilidades. Em seguida, passa-se a tratar sobre a evolução da segurança privada, com abordagens sobre suas características e particularidades no Brasil. Construída a fotografia do que já fato, inicia-se o estudo sobre os possíveis caminhos para a integração dos setores público e privado de segurança. Um caso real, prático e bem sucedido em uma comunidade, é explorado para mostrar uma possibilidade e a viabilidade de projetos neste sentido. Entretanto, com o intuito de mostrar que o assunto é muito mais complexo do que parece, é explorado o exemplo dos Estados Unidos da América, que abriram as portas para a privatização da segurança. Por fim, o trabalho mostra que o tema apresenta um campo fértil para discussões e possibilidades, mas que o caminho é longo e ávido por mudanças, adaptações e correções no sistema de segurança vigente no País.

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2 A SEGURANÇA PÚBLICA E A PRIVADA NO BRASIL

2.1 A CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL

Poucas questões no mundo atual atraem tantas preocupações quanto à violência e o avanço da criminalidade. Este fenômeno é facilmente justificado haja vista a segurança ser uma das necessidades básicas mais importantes de qualquer sociedade. Desde os primórdios da humanidade o homem usa os meios disponíveis a sua época para conseguir se alimentar, se manter saudável e se proteger. O homem também é um ser essencialmente social e para sua sobrevivência necessita relacionar-se com o mundo que o cerca, ou seja, pessoas, natureza, grupos sociais e instituições. Entretanto, é sabido que nem sempre é harmônica a relação entre a vida em comunidade e a segurança. A disputa por espaço, por dinheiro, por condições privilegiadas, ou pela simples busca desesperada por melhores condições de sobrevivência, são alguns dos fatores causadores dos conflitos sociais do mundo moderno.

A desigualdade social se mostra o problema central e causador de todas as vertentes e variedades de tipos de violência. Em busca de melhores condições devida, grandes contingentes populacionais deixaram a vida rural para superlotar cidades sem condições de infraestrutura para ampará-los. A falta de educação, de emprego, de condições sanitárias mínimas e de alimentação, leva milhares de pessoas ao limite da sobrevivência. Então, para muitos destes parece só haver soluções como, roubar, matar, traficar, etc. A criminalidade do mundo atual está cada vez mais complexa e impregnada em todos os setores da sociedade, entre os ricos e pobres. Está mais diversificada pelo tráfico de drogas e de pessoas, pela corrupção generalizada, indo até os conflitos violentos no trânsito, nas comunidades e nas famílias. No Brasil, um estudo apresentado por Júlio (2014), consolidado no Mapa da Violência 2014, mostra que entre 2002 e 2012, o número total de homicídios registrados pelo Ministério da Saúde passou de 49.695 para 56.337, sendo o maior registrado no País. Mostra, também, que nenhuma capital, em 2012, teve taxa de homicídio abaixo do nível epidêmico. Números como os apresentados por Júlio mostram que a criminalidade é uma tendência já confirmada é a disseminação da violência nas diferentes regiões e cidades.

Martins (2014, p.1) contribui e acrescenta:

“Diante de tanta insegurança temos o crescimento de outro elemento característico da modernidade: o individualismo. Um indivíduo amedrontado e inseguro tende a pensar somente no seu próprio bem-estar, separando a sociedade em vários indivíduos que pensam e agem para si próprios, excluindo aquele que lhes é

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diferente. As desigualdades sociais e o crescimento da criminalidade aumentam ainda mais o medo e a sensação de insegurança na sociedade de risco. O bombardeio de notícias sobre a violência majorou a sensação de medo desenfreada na população”

Percebe-se, então, um comprometimento crescente da paz social no mundo e no Brasil, repercutindo na rotina diária dos cidadãos e gerando nestes um sentimento de impotência e de falta de proteção.

O tema segurança pública é carente de publicações acadêmicas, e talvez este seja o grande motivo da freqüente ocorrência no Brasil e no mundo, de tentativas imediatistas e pouco fundamentadas para tratar o assunto, muitas vezes contaminadas por manipulação política e com apresentação de objetivos e resultados questionáveis. Confrontos envolvendo medidas radicais como a de “tolerância zero” e propostas mais humanistas geram acaloradas discussões desprovidas de análises mais aprofundadas e fundamentadas. Mas afinal, com quem o cidadão brasileiro pode contar. De quem é a atribuição de zelar pela segurança pública no País?

2.2 A SEGURANÇA E O PAPEL DO ESTADO

Perante este cenário de insegurança crescente o cidadão brasileiro tem a sua disposição o braço do Estado, o qual tem a responsabilidade constitucional de zelar pelo controle social. Assim prevê a Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88):

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.”

Ainda segundo a CF/88 a polícia federal atua como polícia judiciária da União, sendo responsável pela apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e

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empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional. A polícia rodoviária federal tem a função de realizar o patrulhamento ostensivo das rodovias federais e a polícia ferroviária federal encarrega-se do patrulhamento das ferrovias. As polícias civis, nos casos que não forem competência da União, atuam como polícia judiciária na apuração de infrações penais, exceto as militares. As polícias militares, como polícia administrativa, atuam como polícia ostensiva e na preservação da ordem pública. Já os bombeiros militares têm a incumbência das atividades voltadas à defesa civil. No âmbito dos municípios podem ser previstas, também, as guardas municipais, com o encargo de proteger os bens, serviços e instalações dos mesmos.

O Estado, portanto, dispõe de um aparato de segurança organizado e que poderia estar suprindo os anseios por segurança da sociedade. Entretanto, não é o que se pode observar quando os cidadãos são questionados sobre assunto. O governo federal procura manter reserva e distância quando se trata do tema segurança pública no Brasil. Uma vez que, por determinação constitucional, o controle das polícias militar e civil fica a cargo dos estados, suspeita-se de que não há interesse por parte da União em mostrar maior responsabilidade sobre o assunto, trazendo para si a centralização do estudo para a adoção de medidas mais efetivas, as quais, normalmente, mostram resultados de longo prazo. Certamente, como se trata de assunto de difícil e demorada solução, é melhor para governo federal que os estados continuem com esta “mancha” de ineficiência.

“O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz é o responsável pela elaboração do Mapa da Violência no Brasil, um estudo detalhado sobre os índices de criminalidade em todos os municípios. Ele afirma que o governo federal deve ajudar a envolver municípios no combate à violência tomando a frente no trabalho de inteligência e mapeando os problemas regionais. “O combate tem que ser específico para cada tipo de região. Tem que haver diagnóstico. O primeiro passo da cura é a consciência da enfermidade. Difundiu-se entre nós a ideia de que a violência é um fenômeno quase natural, o que é um erro. Ela é um fenômeno determinado por fatores específicos que podem ser removidos” (WAISELFISZ apud MELLO, p. 1).

Além da falta de engajamento efetivo do Estado, são vários os problemas elencados como fatores contribuintes para a ineficácia do Sistema de Segurança Pública no Brasil. Como exemplo, verifica-se a política da hiperostensividade policial, ou seja, a busca pelo aumento, cada vez maior, do número de policiais nas ruas, especialmente nos Estados, fundada na ideia de que a saturação evita o cometimento de crimes e reduz a criminalidade.

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Entretanto, estudos mostram que a redução da criminalidade baseada preponderantemente na presença do policial não gera efeitos concretos na redução de forma efetiva e perene. Essa constatação se baseia principalmente no fato de que a presença da polícia ostensiva apenas evita a prática do crime momentaneamente, pois resulta apenas no deslocamento da criminalidade, sem evitar que o crime seja praticado.

Outro aspecto a considerar é a necessidade de “sintonia fina” entre a polícia judiciária, onde o ciclo começa, e o Poder Judiciário, onde o ciclo se fecha com o julgamento. Considera-se esta uma grande resposta para se reduzir o número de crimes, pois apenas o criminoso preso ou que tenha a certeza de que o será deixa de praticar novos delitos. Portanto, é fundamental a existência de um sistema de justiça criminal forte, aparelhado e equilibrado. A falta de organização e equilíbrio de efetivos e encargos faz com que policiais que deveriam estar trabalhando ostensivamente estejam envolvidos com processos investigativos e vice-versa. E o resultado é a ineficiência no desenvolvimento do ciclo com a consequente punição aos criminosos.

“[...] a redução da criminalidade depende essencialmente de investigação, de apuração dos crimes e dos autores, para que sejam levados a julgamento pelo Poder Judiciário, condição essencial para que sejam condenados. Porém, na contramão da relevante e indispensável função que exerce no contexto social e jurídico, a Polícia Judiciária está em evidente declínio, à beira do colapso, gerando severas críticas de alguns ‘especialistas’ ao modelo de investigação criminal existente no Brasil, [...]”. (COSTA, 2014).

Portanto, a impunidade tem sido uma doença crônica, causadora de descrédito por parte da população sobre todo o sistema judiciário no País. Há grande necessidade do governo federal em desenvolver iniciativas, através do Ministério da Justiça, para as mudanças legais e nos aparatos da Justiça e execução penal para reduzir as brechas da impunidade e assegurar a punição ágil dos criminosos como instrumento de dissuasão.

Verifica-se do exposto que a problemática do provimento do nível de segurança desejável pela população é um tema de grande complexidade, na medida em que são necessárias mudanças de monta, que vão desde a reorganização estrutural e funcional no âmbito órgãos de segurança pública, até a reformulação do sistema judiciário. Só assim, será possível ao Estado cumprir o seu dever constitucional de garantir a segurança da sua população.

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2.3 A SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL

O resultado de toda essa problemática envolvendo a atuação do Estado na promoção da segurança à sociedade brasileira, é a busca dos cidadãos e instituições de formas mais eficientes para garantir a sua proteção. Segundo AUSEC (2013), com o intuito de resolver a questão da segurança pública, [...] “já existem projetos de lei, que se propõem a evoluir o sistema, fazendo com que a morosidade e a ineficiência sejam peças do passado. Porém, até que chegue esse momento tão desejado por toda a sociedade, em que a polícia deixe de ser reativa e passe a atuar preventivamente de fato, precisamos de medidas alternativas.”

A solução mais procurada, então, tem sido o pagamento às empresas privadas pela prestação de serviços de vigilância. Como forma alternativa, algumas empresas e instituições têm preferido adotar no quadro organizacional, o seu setor próprio de segurança, chamado de serviço orgânico de segurança. Entretanto, tudo tem o seu preço e nem todos têm condições de pagar. A sensação de insegurança tem sido o fator motivador do crescimento da segurança privada, criando o que muitos doutrinadores chamam de “indústria” da segurança, tamanha a expansão e a oferta de tal serviço. Portanto, na ausência de um serviço eficiente de segurança prestado pelo Estado, que o tem como obrigação, quem tem mais, gasta mais e se protege melhor, até por ser sempre um alvo mais visado pelos criminosos.

Conforme a portaria nº 387/2006, do Departamento da Polícia Federal (DPF), são consideradas atividades de segurança privada: vigilância patrimonial, transporte de valores, escolta armada, segurança pessoal e cursos de formação.

Vigilância patrimonial

É exercida dentro dos limites dos estabelecimentos, urbanos ou rurais, públicos ou privados, com a finalidade de garantir a incolumidade física das pessoas e a integridade do patrimônio no local, ou nos eventos sociais. As empresas de vigilância patrimonial não poderão desenvolver atividade econômica diversa da que estejam autorizadas e somente poderá ser exercida dentro dos limites dos imóveis vigilados e, nos casos de atuação em eventos sociais, como show, carnaval, futebol, devem se ater ao espaço privado objeto do contrato.

Transporte de valores

A atividade de transporte de valores consiste no transporte de numerário, bens ou valores, mediante a utilização de veículos, comuns ou especiais.

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Escolta armada

A atividade de escolta armada visa a garantir o transporte de qualquer tipo de carga ou de valores.

Segurança Pessoal

A atividade de segurança pessoal é exercida com a finalidade de garantir a incolumidade física de pessoas.

Curso de formação

Os cursos de formação têm por finalidade formar, especializar e reciclar os vigilantes.

Portanto, verifica-se que os serviços de segurança a serem prestados por empresas privadas são específicos, limitados e previstos em lei. No Brasil, o marco regulatório da segurança privada é, atualmente, legislado pela Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983, e pelos Decretos n. 89.056/83 e 1.592/95, complementados por decretos e portarias específicas que atribuíram novos requerimentos à regulação. De acordo com este ordenamento jurídico, a segurança privada é apresentada como subsidiária e complementar à segurança pública, sendo que, desde 1996, suas atividades são reguladas, controladas e fiscalizadas pelo Departamento da Polícia Federal, por meio de portarias e demais documentos legais emitidos pelo órgão. (ZANETIC, 2009).

A legislação citada e as normas que a complementa deixam necessariamente clara a fronteira de atuação entre os setores público e privado de segurança. Deixa evidente, também, que para poder atuar no mercado, qualquer empresa tem que estar autorizada para tal, bem como a obrigação de todo vigilante estar vinculado a uma empresa regularizada.

Zanetic(2009) ressalta:

“Embora haja uma clara distinção entre a polícia e as forças privadas que exercem policiamento, verificada em termos tanto dos poderes conferidos aos policiais (como por exemplo, o poder de prender) quanto das “vocações” das duas forças – vigilantes possuem características mais preventivas e voltadas ao controle e regulação de acesso, com seus objetivos definidos pelo contratante e seus interesses privados, enquanto a polícia tem perfil mais repressivo e punitivo, há uma importante tensão no sentido de ampliação do campo de ação dos agentes privados sobre a esfera de atuação da polícia, criando zonas por vezes pouco definidas de distinção entre os dois setores.”

A definição dos limites citada por Zanetic e especificada em normas é fundamental para que não haja sobreposição de encargos, atuação de agentes em missões para

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as quais não têm capacitação e consequentes embaraços judiciais. Observa-se, por exemplo, em casas de show e outros estabelecimentos privados, a atuação das empresas de segurança privada na segurança interna, somente dentro dos limites do estabelecimento.

Segundo AUSEC (2013) o crescimento acelerado da segurança privada com a expansão e a oferta de tal serviço fez aumentar a concorrência empresarial no setor. Empresas cada vez buscam se aperfeiçoar e se modernizar, proporcionando serviços diferenciados, de forma a atender as demandas atuais, driblando os constantes aumentos da criminalidade. Entretanto, um grande problema é o fato de que ainda assim, existe no mercado um número altíssimo de empresas funcionando sem estarem regularizadas, empregando material inadequado e, principalmente, pessoal sem a devida formação. Na realidade, são empresas que oferecem um grande risco aos contratantes e se aproveitam das fragilidades das famílias e dos empresários, oferecendo serviços que nunca são entregues, se aproveitando das falhas do sistema. Cardoso (2011) afirma que “muitas empresas oferecem ao mercado, profissionais muitas vezes sem a mínima qualificação, tudo para atender à demanda e concorrer em tão atraente negócio. Como não é tão barato se proteger, a clandestinidade e seus preços atrativos cresceram paralelamente ao mercado regular.” Este certamente é o principal motivo dos corriqueiros casos de abusos por partes dos vigilantes, das situações ilícitas originadas por suas condutas desmedidas e do cada vez maior número de demandas judiciais que envolvem algum ente da segurança privada, tanto na esfera cível quanto criminal.

Zanetic (2009) destaca que o setor tem sua demanda disseminada em diferentes setores da sociedade, sendo os principais contratantes dos serviços de segurança privada o setor público, os bancos, as indústrias e o setor de serviços, sendo o setor público o maior contratante. Na maioria dos países o contingente de vigilantes supera, em muito, o de policiais, formando um verdadeiro exército privado. No Brasil a situação é ainda pior, pois o policiamento sucateado faz a categoria privada ganhar ainda mais importância junto à sociedade. O sucateamento da polícia acaba gerando outro problema à sociedade brasileira, que é o do segundo emprego do policial, que diante de salários tão defasados se vê obrigado a compor sua renda trabalhando em seus horários de descanso, exercendo o chamado “bico”, o qual se dá principalmente com o exercício de atividades de segurança privada.

“Em 2012, foram R$ 10 bilhões as despesas com vigilantes e sistemas eletrônicos, três vezes mais que há 10 anos. Naturalmente que a expansão da rede bancária cresceu exponencialmente para cerca de 35 mil agências, mas os assaltos recuaram para 422 em 2011, contra 1.903 no ano 2000. Em compensação, houve um aumento

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expressivo nos arrombamentos dos terminais eletrônicos espalhados pelo país – 182 mil, sendo 50 mil fora das agências, segundo relatório de 2011 – reconhece a Febraban, porém sem divulgar os números de ocorrências. Em relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA), Segurança Cidadã das Américas, divulgado nos últimos dias, apontou o Brasil como tendo 4,9 seguranças privados em 2012 para cada policial. Só perde nas três Américas para a minúscula e pobre Guatemala, com 6,7.”(AUSEC, 2013).

O grande efetivo existente no País de profissionais das empresas de segurança (vigilantes), o qual extrapola, de forma considerável, o número de agentes dos órgãos de segurança pública, é um dos aspectos que impactam na desconfiança e no preconceito para com o setor, haja vista a carência de controle eficiente sobre o seguimento. Segundo Coelho (2011), no Brasil, para cada agente da segurança pública temos de dois até quatro vigilantes atuando na segurança privada, com um crescimento de 60%, entre 2006 e 2011, no contingente de profissionais cadastrados na Polícia Federal.

Outro fator que faz aumentar o receio do cidadão para com o setor privado de segurança é o baixo nível de escolaridade exigido dos seus agentes. Atualmente, o vigilante precisa ter concluído somente o ensino fundamental. Este aspecto é considerado fundamental quando se questiona se este nível de formação é suficiente para que um agente de segurança corresponda ao que se espera dele, principalmente quanto ao seu nível de discernimento para agir em situações complexas envolvendo risco.

Para CARDOSO (2011) “Em função disso [baixo nível de formação dos vigilantes], somos obrigados a estar em contato com profissionais despreparados, por exemplo, na entrada de um banco, ou então somos informados pela mídia da atuação irrespon-sável de algum vigilante, como, por exemplo, a morte de uma pessoa que ele achava ser perigosa. Muitos destes vigilantes agem pensando que são policiais, pois estão embasados no status de autoridade que a profissão está ganhando [...]”.

Consequência do problema apresentado por Cardoso é o grande número de ocor-rências, envolvendo vigilantes, desenquadradas dos aspectos legais, atos que vão do mero constrangimento aos ilícitos penais como o homicídio, e que geram número crescente de de-mandas judiciais envolvendo o setor. Portanto, verifica-se que a formação do vigilante é um aspecto que precisa ser revisto, pois interfere em diversos aspectos da sua atuação junto ao público como, a postura, a apresentação, a educação, o respeito, e principalmente o nível de resposta empreendido às situações problemáticas as quais estão sujeitos.

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Entretanto, já não se enxerga mais a possibilidade da sociedade atual viver em se-gurança sem a atuação da sese-gurança privada. Embora sua existência precise ainda de muitos ajustes e continue causando implicações negativas, é impossível imaginar que o Estado vá assumir a responsabilidade pela segurança. No cenário de violência do mundo atual a inter-venção da iniciativa privada acabou se configurando como um "mal necessário" diante do su-cateamento dos serviços públicos de segurança. No entanto, segundo Cardoso (2011) é muito importante que a segurança privada fique adstrita à função de auxiliar da segurança pública. O Estado deve admitir a importância da segurança privada e a existência dos problemas ligados a ela, sendo mais efetivo em sua regulação e fiscalização, para que a prestação de serviços de segurança não acabe por produzir ainda mais danos à sociedade.

Entretanto, a despeito dos números apresentados, os quais conferem à segurança privada um grau de importância considerável para fins de contribuição na manutenção do controle social, no Brasil as discussões sobre formas de adotar parceiras entre os setores público e privado caminham de forma lenta. Neste sentido, iniciativas de alguns estados já são percebidas nos últimos anos como, por exemplo, o primeiro simpósio sobre segurança privada ocorrido em Aracajú-SE, o qual teve como tema “As Relações da Segurança Privada e Pública Após a Copa do Mundo”. (COELHO, 2011). De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de Sergipe (SINDESP/SE), durante o encontro foi discutido sobre o trabalho desenvolvido pela segurança pública e privada para o sucesso da Copa do Mundo de 2014.

Coelho (2011) acrescentou:

“O encontro tem o objetivo principal de esclarecer sobre o papel a ser desempenhado por ambos os setores. “É importante esse debate porque a sociedade passa a entender o papel da segurança pública e privada. Por vezes se tem eventos públicos com segurança do governo, quando na verdade deveria ser com segurança privada, cabendo apenas a Polícia Militar a parte que lhe compete à constituição que é a segurança das vias e não da segurança interna em eventos particulares”.

A organização da segurança para a condução da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, deu mostras de que é possível caminhar para uma maior aproximação entre os setores. Foi uma experiência que obteve sucesso e que certamente servirá como laboratório para o estudo de possibilidades mais amplas e permanentes de emprego conjunto. Neste sentido, parece ser interessante de ser trabalhado o campo das informações. O mercado de segurança privada tem suas empresas distribuídas por todo território nacional. Os vigilantes estão presentes nas instituições financeiras, nos estabelecimentos comerciais, na defesa de

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patrimônio de particulares, sobretudo nos mais variados tipos de órgãos públicos distribuídos pelo País. Já assim estão colaborando sobremaneira com os Órgãos de Segurança Pública, pois permite que estes possam dedicar maior atenção imediata às áreas externas. Além do fator presença, o vigilante dispõe de todo o aparato tecnológico de segurança disponível na atualidade, como os circuitos fechados de televisão, dispositivos eletrônicos de alarmes e sensores de presença, etc. Ora, então essa quantidade enorme de “agentes” da segurança privada, espalhados por todo “canto”, não poderiam participar como alimentadores do Sistema de Inteligência de Segurança Pública, de forma a contribuir na prevenção do crime, principalmente ajudando na montagem de cenários estatísticos a serem utilizados nos planejamentos do setor público?

Mas uma questão é fundamental, será que o modelo de polícia adotado no Brasil atualmente favorece a aproximação com o setor privado de segurança? Este aspecto também deve ser considerado importante, pois parece essencial a quebra do modelo tradicional de polícia para que o terreno passe a ser fértil à contribuição mútua entre policiais, cidadãos e instituições. Neste sentido, é possível encontrar modelos de policiamento no exterior que facilitem o estudo sobre esta integração. É o caso do modelo de Policiamento Comunitário ou de Proximidade adotado no Japão (KOBAN), que utiliza estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento e comprometimento com o local de trabalho e com as comunidades na preservação da ordem pública, da vida e do patrimônio das pessoas.

Segundo Rolim (2006) um modelo, proativo, de policiamento deve estar tão próximo e vinculado às comunidades quanto possível, inclusive com a retomada dos patrulhamentos a pé. A ideia central nesse caso é substancialmente diferente daquela direcionada para o número de prisões efetuadas ou taxa de resolução de crimes. Compartilha também o pressuposto de que uma intervenção racional das forças policiais, em parceria com entidades da sociedade civil, pode alterar várias das condições que são preditivas do crime e da violência. Iniciativas importantes adotadas também no Brasil serão abordadas como a criação das Unidades de Polícia Pacificadora, no Rio de Janeiro. Iniciativas no emprego do modelo de policiamento comunitário passaram a ser comuns nas nações democráticas e o interesse pela sua efetividade é cada vez maior.

Rolim(2006) ainda afirma:

[...] “alguns dos cuidados básicos a serem observados na viabilização operacional de um projeto de policiamento comunitário envolvem a elaboração de estratégias de mobilização da comunidade que estimulem a participação e a definição de objetivos

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gerais pelos residentes.Ao mesmo tempo, o policial comunitário deve desempenhar uma função básica para o sistema de inteligência policial – a coleta das informações necessárias à prevenção do crime”.

Não se teria neste ponto, então, uma forte possibilidade de contribuição dos vigilantes? É certo que muito é preciso mudar para que haja a integração desejada entre os órgãos de segurança pública e as empresas de segurança privada. As necessidades de adaptações começam pela mentalidade de segurança e policiamento, percorrem a formação dos profissionais de ambos os setores, e a adequação da legislação e dos sistemas de controle, particularmente referentes a setor privado. É um caminho longo a ser percorrido, com muito a ser estudado.

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3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 ASPECTOS LEGAIS E ESTRUTURAIS

Na medida em que a criminalidade aumenta, se diversifica e se enraíza pelos variados setores e classes da sociedade brasileira, é preciso unir esforços com inteligência e, sobretudo, de forma fundamentada. É de suma importância a aproximação entre os órgãos de segurança pública, principalmente na troca de dados de inteligência. Neste mesmo diapasão, percebe-se também a possibilidade de abertura de portas de acesso ao setor privado de segurança. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), criada em 2007, a qual faz parte da estrutura organizacional do Ministério da Justiça, tem a incumbência de assessorar este na implantação e no acompanhamento da Política Nacional de Segurança Pública.

Art. 12. À Secretaria Nacional de Segurança Pública compete: [...]

III - elaborar propostas de legislação e regulamentação em assuntos de segurança pública, referentes ao setor público e ao setor privado;

IV - promover a integração dos órgãos de segurança pública;

V - estimular a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança pública; [...]

VIII - estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a elaboração de planos e programas integrados de segurança pública, objetivando controlar ações de organizações criminosas ou fatores específicos geradores de criminalidade e violência, bem como estimular ações sociais de prevenção da violência e da criminalidade;

[...]

X - implementar, manter, modernizar e dirigir a Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização - Rede Infoseg;

[...]

Verifica-se do exposto que é a partir da Política Nacional de Segurança Pública que se pretende criar oportunidades para maior integração entre as diversas instituições de segurança do País, por meio da elaboração de planos e programas integrados. Consequência deste Plano, em 2007, por meio da PL 1937, o Sistema Único de Segurança Pública (Susp),

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com a finalidade geral de integrar as ações policiais no âmbito da União, dos Estados e dos municípios.

Em seu Art. 2º, apresenta 8 (oito) objetivos do SUSP, que resumidamente consistem em:

I - Estabelecer condições adequadas à integração sistêmica para viabilizar a cooperação inter-institucional e potencializar, em escala nacional, as competências institucionais, regionais ou locais dos órgãos de segurança pública;

II - Criar um ciclo básico comum, com currículo mínimo uniforme; III - Organizar e difundir dados policiais, tornando possível a permuta de informações e o trabalho cooperativo entre as polícias brasileiras; [...]

VII - Instalar, em cada Estado e no Distrito Federal (DF), um Gabinete de Gestão Integrada para discussão das prioridades a serem compartilhadas na provisão de segurança pública e estratégias cooperativas; e,

[...]

A operacionalização deste Sistema é feita por meio da instalação dos Gabinetes de Gestão Integrada (GGI) nos Estados participantes do programa. Os GGI são fóruns deliberativos constituídos pelo secretário estadual de segurança pública, e representantes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar e guardas municipais. Verifica-se, portanto, que os GGI são a “ponta da linha” do sistema para fins de integração. Esta mudança de paradigma na forma de se pensar segurança no Brasil é recente e carece de amadurecimento. Há muito que se evoluir para conseguir vencer os inúmeros obstáculos que interferem no caminho da integração entre órgãos públicos, dentre eles: históricos, culturais, estruturais e legais.

O Plano Nacional de Segurança Pública também apresenta considerações e limitações do setor privado de segurança no Brasil e, para estas, propõe dentre suas soluções a criação de mecanismos voltados à integração entre a segurança pública e a privada:

Para enfrentar os problemas diagnosticados na segurança privada, as seguintes me-didas devem ser adotadas:

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3) descentralizar e desburocratizar os processos de credenciamento e cancelamento de autorizações para empresas de segurança privada; transferir essa atribuição, assim como a responsabilidade direta pela fiscalização e controle, aos estados e municí-pios, com clara divisão de tarefas entre os dois níveis de governo. O Ministério da Justiça, por intermédio do Departamento de Polícia Federal (DPF), manteria sua função reguladora e coordenadora da atividade no país, responsabilizando-se dire-tamente, porém, apenas pela fiscalização dos serviços particulares prestados a ór-gãos públicos federais e em áreas sob jurisdição da União;

Estima-se provável que esta opção, por descentralizar o controle e a fiscalização do setor para os estados e municípios, além de outros benefícios, permitiria maior aproximação do setor privado, das iniciativas de integração já existentes no âmbito público, como a instalação dos GGI no âmbito dos estados. No nível estadual, a discussão sobre formas do setor privado de segurança poder contribuir com o SUSP fica facilitada, podendo, inclusive, ser estudada a participação de representantes na composição dos GGI.

[...]

5) criar um banco de dados nacionalmente integrado e totalmente informatizado sobre as empresas de segurança, vigilância, transporte de valores e segurança orgânica, que permita cruzar informações do DPF, das Secretarias de Segurança estaduais, da Receita Federal, do INSS, do Cadastro Geral de Atividade Econômica (CAGED), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS), do Diário Oficial, das Juntas de Comércio estaduais e de outras fontes. Além de reunir todos os dados disponíveis sobre as empresas e os trabalhadores, o banco deveria incluir informações sobre armas furtadas/roubadas de firmas e/ou agentes de segurança particular;

[...]

Esta medida certamente aumentaria a eficiência no controle das empresas de segu-rança privada. Naturalmente, a desconfiança sobre o setor tenderia a ser diminuída incenti-vando a abertura de portas para a integração.

O Plano Nacional de Segurança Pública chega a propor medidas práticas que po-deriam começar a estreitar os laços entre os agentes públicos e privados.

[...]

12) criar mecanismos legais e transparentes de colaboração entre a vigilância parti-cular e a segurança pública, como parte de programas integrados de controle da criminalidade. Canais de comunicação (rádios, celulares, pagers , intranets, alarmes conectados a postos policiais, entre outros) e protocolos de troca de informações en-tre vigilantes e policiais poderão potencializar os recursos e aumentar a eficácia de ambos os serviços de segurança.

Percebe-se que ações como estas, de simples operacionalização, poderiam começar a criar uma cultura de ação conjunta e apoio mútuo. O ganho seria muito grande para

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ambos os lados - os vigilantes poderiam contribuir com os órgãos de segurança pública servindo como acionadores e informantes treinados - em contrapartida, o maior entrosamento entre os setores poderia proporcionar uma resposta mais rápido aos alarmes dos vigilantes. Considerando a grande quantidade de vigilantes distribuídos pelos mais variados setores do comércio, de transportes, de estabelecimentos financeiros e empenhados na proteção de patrimônios e pessoas, ter-se-ia uma ampla cobertura de vigilância oferecida por estes agentes privados.

3.2 A INTELIGÊNCIA NO COMBATE A CRIMINALIDADE

O general, estrategista e filósofo chinês Sun Tzu (544 - 496 a.C.), na sua famosa obra A Arte da Guerra afirma “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas [...]”. Neste livro, possuidor de ensinamentos sobre estratégias militares que ainda hoje são estudados por exércitos do mundo inteiro, o autor dedica várias linhas à importância das informações para o sucesso das operações. Essa premissa está cada vez mais presente também no mundo empresarial, variando-se apenas aquilo que é considerado “o inimigo”. Retornando ao foco do tema estudado, propõe-se como o inimigo a própria criminalidade. Vários são os fatores que a constroem, a sustentam, a tornam complexa e mutável. Conforme expõe Muniz (2001) não é possível se discutir soluções de polícia e segurança pública sem se fazer o uso da ciência. As pesquisas ajudam na correção de rumos, na percepção das demandas, e na compreensão da problemática de cada ambiente ou cenário. As informações são, portanto, as peças formadoras destes grandes cenários. O trabalho eficiente de um sistema de inteligência permite, através do estudo de dados, informações e conhecimentos, a montagem de cenários prospectivos, fundamentais no planejamento operacional e administrativo de qualquer organização.

“Uma previsão busca identificar novos atores que poderão atuar e os possíveis efeitos de suas atuações. Assim, o sucesso na previsão daquilo que é provável que aconteça e a eficiência da estimativa decorrente dependerão da adoção, por parte do analista, de uma metodologia prospectiva de eficácia comprovada e do estudo do problema de forma multidisciplinar. Esta “previsão” deve basear-se na construção de cenários prováveis, o que possibilitará a identificação de novos atores, acompanhar suas trajetórias, imaginar eventos prováveis, as interdependências entre os atores e entre estes e os eventos. Com a elaboração de cenários, pode-se, ainda, identificar fatores críticos em qualquer evolução de situação, possibilitando a

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antecipação aos fatos, e permitindo minimização de uma possível ameaça ou a exploração, ao máximo, de uma oportunidade potencial. É o que se chama construir o futuro.” (FERNANDEZ, p. 15, 2006)

A atividade de inteligência no Brasil evoluiu muito e continua a sofrer transformações com o objetivo de diminuir a visão preconceituosa com a qual era percebida, certamente decorrente da forma como era concebida nas suas origens. Cada vez mais ela vem sendo considerada como um meio fundamental de apoio aos gestores de toda natureza, por meio do fornecimento de informações e conhecimentos para apoio a processos decisórios baseados em análises criminais. Assim também vem ocorrendo no âmbito da segurança pública, como prova a criação da Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que instituiu o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP). O Subsistema possui a finalidade de coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País. Outro fator importante é o avanço tecnológico que, com a diversificação e a modernização dos meios de tecnologia da informação (TI), tem contribuído muito para a aplicabilidade das atividades de inteligência em apoio às de segurança, bem como na integração dos OSP com outros órgãos afins.

A atividade de inteligência também vem se expandindo no âmbito do setor privado de segurança, porém ainda muito voltado para o viés da Inteligência Competitiva, hoje intensamente aplicada no mundo empresarial. Entretanto, trata-se de um importante início, na medida em que o perfeito entendimento sobre as finalidades da inteligência pode ajudar na construção futura da mentalidade de compartilhamento de informações. Percebe-se que a relação inteligência – setor privado ainda é vista com bastante receio. Basta que faça uma observação sobre o ocorrido nos últimos anos nos Estados Unidos, onde boa parte da alta cúpula de inteligência e investigação era privatizada. O vazamento de informações sensíveis do Governo causou sérios problemas diplomáticos ao País. No entanto, trata-se neste trabalho do apoio da segurança privada no seu nível elementar, ou seja, “na ponta da linha”, enxergando-se o vigilante como um agente de inteligência. A Copa do Mundo de 2014, no Brasil, foi um grande laboratório para se comprovar a importância do contato aproximado entre as empresas de segurança privada e os órgãos públicos. Por ocasião deste evento, verificava-se que as missões e os limites de cada setor estavam claramente definidos, porém, o contato sistematizado entre eles foi fundamental para o sucesso da segurança de uma maneira geral.

Naturalmente, considerando as especificidades e as motivações profissionais de cada setor de segurança, o público e o privado, não se pode esperar que seja desenvolvido, a

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curto prazo, um grande interesse por este caminho de aproximação, principalmente ao se tratar da área de inteligência. É necessário compreender a prioridade comercial das empresas privadas. Afinal, estas existem devido ao retorno financeiro que obtêm dos contratos estabelecidos, portanto, quanto mais deles melhor – este é o principal objetivo. Outra consideração relevante é o fato de que elas tiveram origem e vêm ganhando cada vez mais espaço justamente devido à incapacidade do setor público de proporcionar a segurança necessária à sociedade. Ora, então se torna fundamental, primeiramente, um trabalho de mudanças de paradigmas em ambos os setores - uma mudança cultural que desperte a consciência sobre como pode ser vantajoso para os dois lados o resultado do apoio mútuo que resulte no ganho de segurança de uma maneira geral. O agente de segurança, independente de ser público ou privado, precisa pensar e agir como tal e, ao mesmo como tempo, como um cidadão que almeja, nos momentos em que se encontra despido da farda, se sentir seguro ao sair às ruas com sua família.

3.3 CAMINHOS E OPORTUNIDADES PARA A INTEGRAÇÃO

Nota-se, portanto, a necessidade de um trabalho de base a ser executado nas escolas e cursos de formação. É preciso também despertar nos bancos acadêmicos o interesse de se aprofundar estudos nesta área. A iniciativa da implantação das discussões poderia partir dos estados, com o apoio do governo federal. Não parece muito provável que o estímulo de estudos no meio acadêmico dos órgãos de segurança pública, no sentido de se perceber medidas práticas e pontuais de apoio mútuo entre os OSP e os vigilantes privados, poderia originar excelentes ideias. Coordenações no campo das comunicações seria um campo fértil. Poderia se estudar o estabelecimento de redes rádio específicas por meio das quais os vigilantes teriam acesso rápido à polícia militar estadual. Outra possibilidade estaria na sistematização do intercâmbio de informações – as empresas de segurança privada não poderiam ter acesso, mesmo que limitado em alguns aspectos, ao banco de dados referentes à criminalidade em determinada região de interesse? Em contrapartida, estas mesmas empresas não poderiam contribuir na alimentação destes bancos de dados, com as observações e impressões diuturnas coletadas pelos seus vigilantes? Naturalmente, tais medidas implicariam em uma série de padronizações e uniformizações de conhecimentos e procedimentos no âmbito dos setores.

Tudo isso estaria em perfeita consonância com os objetivos do Estado quando em 20 de junho de 2000 colocou em vigor o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), com o

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principal objetivo de fomentar a integração de políticas de segurança, políticas sociais e ações comunitárias, aperfeiçoando o Sistema de Segurança Pública brasileiro como um todo. O PNSP foca na importância da discussão conjunta de soluções para a criminalidade, com a participação do maior número possível de atores afins a segurança.

Nesse sentido, participação não é uma palavra vazia, um slogan demagógico, uma retórica populista, nem uma fórmula mágica. É condição efetiva da elaboração competente e do monitoramento racional de toda política pública de segurança que se pretenda consistente e conseqüente. Esse novo ângulo de abordagem exige que as proposições estejam em sintonia com a complexidade do problema a ser enfrentado e, portanto, se traduzam em projetos multidimensionais, que mobilizem recursos multissetoriais, que envolvam atores públicos e privados de diferentes tipos e que se inspirem em conhecimentos interdisciplinares.

[...]

Será muito importante que, ato contínuo, a sociedade civil seja também convocada para uma grande mobilização nacional pela construção social da paz, em cujo âmbi-to as entidades não-governamentais, as associações, os sindicaâmbi-tos, as instituições re-ligiosas, as universidades e os representantes da iniciativa privada serão chamados a participar de um amplo mutirão, a ser desenvolvido em múltiplos níveis, simultane-amente, visando integrar a juventude excluída.

Verifica-se, então que há espaço para avançar no propósito da integração, o que pode ainda faltar é a plena confiança dos setores públicos sobre o privado. O receio de que este possa se tornar uma ameaça em potencial ao Estado democrático de direito, por ser vulnerável às conjunções políticas, parece difícil de ser vencido. Segundo ANDERLE (2007) tamanha força, “fora de controle, corre-se o risco de se perder de vista a distinção entre o público e o privado no domínio da segurança interna, bem como poderão surgir milícias populares, para grupos divergentes defenderem interesses próprios ou uns contra os outros, “exércitos particulares” para guardar áreas de domínio do crime, ou o combate da criminalidade por iniciativa privada”.

Entretanto, até mesmo neste sentido, não seria mais interessante buscar a proximidade entre os setores? – não seria esta uma forma de dissuadir a ameaça de se ter uma força de segurança cada vez maior, distante de qualquer vínculo de comprometimento com as forças públicas?

Outro ponto que precisa ser priorizado com urgência é o nível de formação do vigilante, a começar pela escolaridade mínima exigida para o ingresso na atividade. Atualmente, o cidadão interessado em ser um profissional da segurança privada precisa ter cursado até a 4ª série do ensino fundamental. Cada vez mais se espera mais dos vigilantes – que saibam atuar com firmeza e precisão, mas com a devida educação e cordialidade; que

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saibam agir conforme as leis que regulam o setor e atentos aos direitos dos cidadãos; que saibam usar os meios modernos à disposição; que possam se tornar veículos de informação para sistemas de inteligência; dentre outras expectativas. Ora, não se trata de muita responsabilidade para pouca formação? Não são atribuições que necessitam de poder de discernimento, muitas vezes com pouco de tempo para reação?

Entretanto, segundo ZANETIC (2009) esse quadro vem sendo aos poucos modificado, embora ainda se verifique a baixa profissionalização do setor, principalmente no que se refere ao perfil dos vigilantes, com um nível de qualificação, escolaridade e renda bastante inferior ao dos policiais, este quadro vem se alterando significativamente ao longo do tempo. Por meio de dados extraídos da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), Zanetic afirma que é possível se verificar importantes mudanças no perfil socioeconômico e profissional da população empregada tanto na segurança pública quanto na atividade de vigilância e guarda, nas diferentes regiões do Brasil. O nível de escolaridade dos vigilantes privados é, ainda hoje, consideravelmente menor do que o dos policiais, porém vem melhorando aceleradamente, assim como entre os profissionais das forças públicas.

É muito provável que o crescimento natural do nível de escolaridade no universo dos vigilantes empregados seja decorrente do aumento na demanda por profissionais mais qualificados na área de segurança. Verifica-se atualmente a imperiosa necessidade do vigilante se adequar e se adaptar ao uso de meios tecnológicos avançados e que se encontram à disposição do setor. É comum hoje, por exemplo, a utilização de equipamentos rádio providos de recursos facilitadores para a exploração segura, rápida e com possibilidades de integração entre diferentes redes. O vigilante está inserido em um sistema de segurança composto por diversos meios que se complementam e suplementam com o objetivo de fornecer ao cliente um serviço com a menor vulnerabilidade a falhas possível. Naturalmente, neste sistema, o fator humano [o vigilante] é considerado a peça chave, pois possui a responsabilidade de saber utilizar com eficiência todos os outros meios, sabendo tirar o melhor proveito destes.

Verifica-se, então, do exposto, que o aumento do nível de escolaridade exigido para o profissional da segurança privada precisa ser formalizado, para que o próprio vigilante receba a credibilidade necessária por parte dos cidadãos e empregadores, oferecendo com isso, maior confiança também para o setor. Outro aspecto, diretamente relacionado ao perfil do vigilante, que pode influenciar no processo de aproximação entre os setores público e

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privado de segurança, criando oportunidades de atuação conjunta, é o modelo de polícia adotado no País.

3.4 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NO MODELO DE POLÍCIA

A forma de atuação dos órgãos de segurança pública do País carrega hoje traços predominantes e decorrentes das motivações das suas origens, principalmente dos órgãos encarregados pelas atividades de polícia. A polícia nasceu com a missão de combater a criminalidade que vem se tornando mais complexa com o passar do tempo. Conforme já apresentado neste trabalho, verifica-se a grande dificuldade do poder público em reduzir os crescentes índices de criminalidade na maioria dos estados do País e muitas são as justificativas: a falta de efetivo, a omissão do Estado, a necessidade de reestruturação das polícias, a necessidade de mudanças na legislação penal, etc. Entretanto, verifica-se que criminalidade e segurança são assuntos que sempre geraram acaloradas discussões nos mais diversos setores e ambientes da sociedade.

Considerando apenas o que se espera das forças policiais, porém, há grande dificuldade em definir o que se quer. Há correntes que defendem a necessidade de enfatizar a prisão dos culpados, fazendo com que a polícia opere como um braço da justiça criminal. Outras defendem que sejam priorizadas as ações voltadas para a redução da criminalidade. Segundo Rolim (2006) tais correntes apresentam o seguinte conflito – prevenir o crime é um objetivo que pode ser alcançado mediante a presença ostensiva dos policiais nas ruas, de tal forma que se crie uma sensação de onipresença policial para que os eventuais delinquentes mudem de ideia quanto a realização de atos criminosos. Esta última medida, talvez por ser mais visível politicamente, venha sendo mais empregada e destacada em detrimento de ações voltadas para atuar nas causas do problema.

Entretanto, cada vez mais, países desenvolvidos e democráticos vêm percebendo as vantagens de se adotar modelos de polícia que se caracterizam pela proximidade entre o policial e o cidadão. Este modelo, denominado policiamento comunitário, quebra o paradigma da polícia que causa medo aos cidadãos. Pelo contrário, objetiva o estreitamento do contato com estes com o intuito de aumentar a confiança mútua. O policial passa a ser reconhecido como um amigo, pacificador e interessado nos problemas individuais e coletivos da comunidade onde atua.

Ainda segundo Rolim (2006) na viabilização operacional de um projeto de polícia comunitária nota-se como primordial a elaboração de estratégias que estimulem a participação

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da comunidade na elaboração dos planos de ação para os problemas locais. Em tais projetos, vislumbra-se o estabelecimento de formas coletivas de vigilância e de colaboração dos cidadãos com a polícia. Observam-se exemplos neste sentido com o estabelecimento de canais diretos de comunicação entre os moradores e os policiais, inclusive com o uso de equipamentos rádio. Outra forma de atuação tem sido a implantação de conselhos comunitários de segurança pública que funcionam como órgãos de controle e que contribuem na orientação do trabalho policial.

Ao mesmo tempo, o policial comunitário deverá desempenhar uma função básica para o sistema de inteligência policial – a coleta de informações necessárias à prevenção do crime. Em contato direto com a comunidade, ele passará a reconhecer as principais ameaças que ela enfrenta e saberá repassar à instituição não apenas a natureza desses problemas, mas outros dados imprescindíveis a respeito do perfil e do modus operandi daqueles que violam a lei na região. Aliás, pode-se esperar que os policiais comunitários desenvolvam uma capacidade maior do que a dos patrulheiros que circulam por toda a cidade, exatamente por conta do grau de conhecimento que passam a acumular sobre a região sob sua responsabilidade. (ROLIM, p. 81, 2006).

Percebe-se, então, que o modelo favorece o trabalho de inteligência por parte dos policiais no âmbito das comunidades onde atuam. Desta forma, a polícia conseguiria consolidar as informações sobre a criminalidade e violência na região, com as finalidades de identificar com mais precisão as tendências presentes, informar a população sobre os riscos de vitimização e identificar os grupos mais vulneráveis à ação dos infratores.

Ora, do exposto no cenário do policiamento comunitário, não se pode deduzir que os profissionais da segurança privada poderiam ser amplamente aproveitados como contribuintes neste projeto. Os vigilantes, principalmente os que atuam na segurança patrimonial e de pessoas, atuam de maneira mais fixa e em espaços físicos de amplitude mais limitada do que cobertos pelo patrulhamento policial. Portanto, têm condições de serem aproveitados como agentes preparados para coletar informações no ambiente onde atuam e nas áreas vizinhas. Tais informações poderiam ser aproveitadas pelo setor público na montagem do cenário da criminalidade local, o qual por sua vez, poderia ser utilizado, também, em proveito do setor privado, na medida em que auxiliariam no planejamento das medidas de segurança a serem adotadas pelas empresas em determinado espaço, face às informações e a interpretação dos dados estatísticos disponíveis. Conforme afirma Rolim (2006) uma parte considerável dos crimes é cometida em decorrência de situações consideradas favoráveis aos infratores, os quais analisam o esforço exigido para a prática do crime, o risco concreto que se corre ao praticá-lo e o tamanho da recompensa oferecida pela

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