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A necessidade de prequestionamento do objeto do dissídio e a impossibilidade

dor

Os embargos de divergência, assim como os demais recursos excepcionais, são dotados

de características específicas, essencialmente relacionadas à admissibilidade recursal, em especial

60 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p.

1000.

61 “Art. 489. São elementos essenciais da sentença: (...) § 1.º Não se considera fundamentada qualquer decisão

judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...) III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;”

62 ALVIM, Teresa Arruda; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO,

Rogerio Licastro Torres. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo. In: ALVIM, Teresa Arruda et al (Coords.). 2.ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 100.

4.3. A necessidade de prequestionamento do objeto do dissídio e a impossibilidade de (...) 109

o prequestionamento e a impossibilidade de reexame de matéria fático-probatória nos recursos

extraordinário e especial.

O prequestionamento é requisito constitucional específico dos recursos excepcionais, o

qual requer, a partir do conceito de “causas decididas”, a emissão de juízo de valor pelo Tribunal

de origem sobre a interpretação de dispositivo, constitucional ou de lei federal conforme o caso,

para efeito de preenchimento do referido requisito.

Deveras, a configuração do prévio questionamento não significa a expressa menção do

dispositivo infraconstitucional ou constitucional apontado como violado no acórdão proferido

pelas Cortes de origem.

Com efeito, para o efetivo cumprimento do requisito de admissibilidade, é imprescindível

que no aresto objeto do recurso especial e/ou recurso extraordinário a questão tenha sido discutida

e decidida fundamentadamente pelo Tribunal a quo, ou seja, tenha sido emitido um juízo de valor

sobre a questão, sob pena de não preenchimento do requisito do prequestionamento, indispensável

para o conhecimento do recurso excepcional.

Em tal contexto, necessário consignar que o STF tem adotado entendimento similar ao

STJ, ao não admitir a configuração de prequestionamento em razão da simples oposição de

embargos de declaração

63-64

.

Em síntese, a clássica orientação doutrinária no sentido de que a Corte Constitucional

admite prequestionamento ficto, o que teria inclusive fundado o art. 1.025

65

do CPC/2015, tem

sido mitigada reiteradamente em julgados do STF

66-67

.

63 “A tardia alegação de ofensa ao texto constitucional, apenas deduzida em embargos de declaração, não supre

o prequestionamento. Incidência da Súmula n.º 282/STF. (...)” (Excerto da ementa do ARE 1141297 AgR, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, Processo Eletrônico DJe-187 divulg. 05.09.2018 public. 06.09.2018).

64 “As questões constitucionais invocadas no recurso extraordinário não foram prequestionadas, em que pese a

interposição de embargos de declaração. Óbice das Súmulas 282 e 356 do STF.” (Excerto da ementa do ARE 926722 AgR, Relator(a): Min. Edson Fachin, Segunda Turma, Processo Eletrônico DJe-093 divulg. 04.05.2017 public. 05.05.2017).

65 “Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-

questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.”

66 “O requisito do prequestionamento obsta o conhecimento de questões constitucionais inéditas. Esta Corte

não tem procedido à exegese a contrário sensu da Súmula STF 356 e, por consequência, somente considera prequestionada a questão constitucional quando tenha sido enfrentada, de modo expresso, pelo Tribunal a quo. A mera oposição de embargos declaratórios não basta para tanto. Logo, as modalidades ditas implícita e ficta de prequestionamento não ensejam o conhecimento do apelo extremo. Aplicação da Súmula STF 282: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.” (Excertos da ementa do ARE 707221 AgR, Relator(a): Min. Rosa Weber, Primeira Turma, Processo Eletrônico DJe-173 divulg. 03.09.2013 public. 04.09.2013).

67 “O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido arguida pela parte recorrente. A

configuração do instituto pressupõe debate e decisão prévios pelo Colegiado, ou seja, emissão de juízo sobre o tema. O procedimento tem como escopo o cotejo indispensável a que se diga do enquadramento do recurso extraordinário no permissivo constitucional. Se o Tribunal de origem não adotou tese explícita a respeito do fato jurígeno veiculado nas razões recursais, inviabilizado fica o entendimento sobre a violência ao preceito evocado pelo recorrente. (...)” (AI 495485 AgR, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, Acórdão Eletrônico DJe-150 divulg. 31.07.2012 public. 01.08.2012).

110 Capítulo 4. Requisitos específicos de admissibilidade dos Embargos de Divergência (...)

Assim, somente pode ser objeto dos embargos de divergência matéria prequestionada

68

e devidamente enfrentada no acórdão embargado julgado pelo órgão fracionário do Tribunal

Superior, no recurso extraordinário ou recurso especial, conforme o caso. Ademais, ainda

que a causa tenha sido decidida pelo Tribunal de origem, mas não apreciada pelo STF ou STJ

no julgamento dos referidos recursos, não haverá tema julgado a ser confrontado no recurso

uniformizador, o que inviabiliza o próprio conhecimento dos embargos de divergência

69

.

Sobre o tema, o entendimento de Eduardo Arruda Alvim, Daniel Willian Granado e

Eduardo Aranha Ferreira:

Para que haja interpretação divergente, apta a ensejar a ensejar o cabimento dos embargos de divergência nos termos do art. 1043 do CPC/2015, é preciso que haja prequestionamento. Com efeito, somente com o enfrentamento da questão pela turma julgadora é que se pode cogitar da interpretação de embargos de divergência, caso o órgão fracionário tenha decidido a questão jurídica de forma diversa de outro órgão.70

Por outro lado, assim como nos demais recursos excepcionais, não é possível no julga-

mento dos embargos de divergência o reexame de matéria fática-probatória, materializada nas

Súmulas 7/STJ e na 279/STJ.

Sobre a temática, aduz Luis Guilherme Aidar Bondioli que:

Nesse confronto entre teses jurídicas próprio dos embargos de divergência não se permite um reexame dos fatos firmados nos julgamentos precedentes, a exemplo do que se observa em sede de recurso extraordinário (Súmula n.º 279 do STF) ou especial (Súmula n.º 7 do STJ). Há mero cotejo entre distintas interpretações do direito material ou processual, à luz das premissas fáticas anteriormente firmadas, a fim de que se decida qual daquelas interpretações deve prevalecer.71

68 Araken de Assis pontua que “É preciso, de toda sorte, que a questão julgada haja sido devidamente “prequestio-

nada” (rectius: decidida) no acórdão embargado. É claro que, ante a função estrita do julgamento nos tribunais superiores, a questão há de ser de direito (federal ou constitucional). (ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. 9.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 991).

69 “AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. INADMISSI-

BILIDADE. DOSIMETRIA DA PENA. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE PRE- QUESTIONAMENTO. DIVERGÊNCIA NÃO COMPROVADA. 1. Os embargos de divergência objetivam a resolução interna de dissenso pretoriano existente entre órgãos colegiados, a fim de que o Tribunal uniformize, internamente, a sua interpretação. 2. O novo Código de Processo Civil trata dos embargos de divergência nos arts. 1.043 e 1.044, os quais estabelecem que esses são cabíveis quando o acórdão de órgão fracionário, em recurso especial, divergir de qualquer outro órgão do Superior Tribunal de Justiça, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito. 3. Não se admitem embargos de divergência quando o alegado dissenso se dá entre acórdãos proferidos em habeas corpus, em recurso ordinário em habeas corpus ou mesmo em súmula, o que exatamente ocorreu, in casu. 4. O tema referente à suposta ilegalidade nas interceptações telefônicas nem sequer foi examinado pelo acórdão da Quinta Turma, ora embargado, ao fazer incidir as Súmulas 211/STJ e 282/STF. (...).” (Excertos da ementa do AgRg nos EREsp 1575657/SP, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, DJe 18.09.2018).

70 ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. In: ALVIM, Eduardo Arruda; GRANADO, Daniel William;

FERREIRA, Eduardo Aranha (Coords.). 6.ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 1058.

71 BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. Comentários ao Código de Processo Civil: Dos Recursos – volume XX

(arts. 994-1044). In: GOUVÊA, José Roberto Ferreira; BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar; FONSECA, João Francisco Naves da (Coords.). São Paulo: Saraiva, 2016, p. 291.