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CAPÍTULO 4 – EXECUÇÃO DO PROGRAMA REUNI NA UNB: desafios e estratégias

4.3 A ação governamental de políticas públicas educacionais para o nível superior: o Reun

4.3.3 A necessidade de renovação e recredenciamento de cursos

Outro processo fundamental acarretado pelo Reuni refere-se à necessidade de regulação dos cursos de graduação da UnB para atendimento do dispositivo de outra política implementada pelo governo Lula: o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

Como parte do ciclo avaliativo do referido sistema, a necessidade de recredenciamento e renovação do curso é garantia de que a instituição atende à regulação nacional dos cursos superiores. Esse processo, no caso da UnB, teve que ser revisto devido a dois processos principais: o reconhecimento de cursos novos e renovação de cursos da instituição no sistema e-MEC34 e o credenciamento dos cursos de graduação que foram criados pela expansão de vagas do Reuni.

Tínhamos muitos processos parados, não havia projetos políticos pedagógicos, chamamos todos os coordenadores de curso para começar a pegar os projetos políticos pedagógicos dos cursos e a partir daí a gente foi realizando os reconhecimentos um a um. Em 2008, a universidade estava completamente irregular junto ao MEC.(Gestor 02, informação verbal).

Durante as entrevistas, surgiu na fala desse gestor e dos demais (grupo 1) que a realização do Reuni trouxe a garantia ao governo federal de que os cursos oferecidos por universidades federais buscassem se adequar aos parâmetros nacionais de regulação da educação superior, criando uma rotina na universidade em atender a essa demanda do Inep. O objetivo desse esforço era garantir que houvesse uma reestruturação acadêmica no sentido de orientar os cursos nos padrões da avaliação de cursos nacionais. Essa reestruturação não foi radical e nem obrigatória, mas buscava revitalizar e renovar projetos políticos pedagógicos (PPP).

Entre as duas frentes de expansão de vagas de graduação da UnB no Reuni, cursos novos e cursos tradicionais que ampliaram suas vagas, somente os cursos novos precisavam obrigatoriamente apresentar um PPP novo; para os cursos tradicionais foi facultativo –

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A Plataforma e-MEC foi criada pelo governo federal para que as instituições de educação superior pudessem acompanhar o processo de regulação dos seus cursos de graduação oferecidos tanto modalidade presencial como a distância. Serve, portanto, para credenciamento e recredenciamento institucional; autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de curso. A plataforma permite que a instituição acesse os dados de seu curso e os atualize conforme o processo de regulação solicitado pelo MEC à instituição. Foi instituído pela Portaria Normativa nº 40, de 2007 do MEC.

aqueles que quisessem poderiam reformulá-lo, caso não quisessem, teriam somente de adequar os dados solicitados para renovação do reconhecimento do curso.

Contudo, grande parte dos cursos tradicionais à época acabaram por realizar determinadas alterações visando dar organicidade a seu PPP. O motivo disso foi que, embora fossem opcionais as alterações, houve, durante o Reuni, vários processos de avaliação externa in loco – avaliação que o Inep faz visitando a instituição, visando avaliar suas instalações e demais condicionantes da oferta de ensino.

Cabe assinalar que, em geral, essa preocupação de renovação do PPP aparece principalmente na fala dos entrevistados do grupo 1, os gestores. Para os professores da FAV (grupo 2), não houve narrativa que vinculasse reformulação do PPP ao Programa Reuni.

Para os cursos entrevistados, somente o curso de Gestão de Agronegócios teve a criação de formulação de seu PPP. Para os outros dois cursos investigados, Agronomia e Medicina Veterinária, não houve reformulação pedagógica do Reuni, entretanto houve renovação da portaria de reconhecimento dos seus cursos, à época do Reuni, como foi comum aos demais cursos da UnB.

Em 2014, o curso de Medicina Veterinária reformulou o PPP de seu curso e, em 2015, o curso de Agronomia apresentou um projeto de reformulação de PPP que está sendo deliberado pelo DEG. Na UnB, o trâmite usual é que os cursos proponham o novo PPP, que é repassado ao DEG para as devidas adequações e orientações da Coordenação pedagógica do decanato e, em seguida, o projeto é encaminhado ao Cepe, que, em caso de aprovação, submete ao Consuni.

Os professores entrevistados de ambos os cursos (Agronomia e Medicina Veterinária), quando questionados sobre a reformulação de seu PPP atual e se tal reformulação teria relação com o Reuni, foram todos impositivos ao declarar que a atual reformulação dos cursos não tem relação com o Reuni. Para ambos os cursos, existia uma demanda interna sobre essa reformulação que era anterior ao Reuni.

Nesse sentido, a atual reformulação parte da constatação dos professores de ambos cursos em atender às demandas sociais e do mercado de trabalho da prática profissional. É natural e sadio esse processo de reformulação de PPP, que visa sempre atualizar os discentes dos avanços ocorridos em determinada área do conhecimento para atender a demanda social e as especificações dos conselhos de classes das atividades exercidas pelos graduados de tais cursos.

Além disso, a formulação de ações no sentido de alinhar os cursos aos parâmetros de avaliação (autoavaliação e avaliação externa) gerou outras realizações importantes no curso

de Agronomia, que foram: (i) a expansão de ações no sentido de incentivar a pesquisa e extensão como o Programa de Educação Tutorial (PET35) e a empresa Júnior da Agronomia; e (ii) a formulação do Núcleo Docente Estruturante (NDE36) do curso de Agronomia.

O PET é uma política da Capes que já existia desde 1979. Mais o PET sendo criado aqui no curso de Agronomia deu uma movimentação grande aos alunos [...] o que demonstra que quando você tem ações que interessam aos estudantes, que são ações inclusivas, os estudantes buscam. Eu me contraponho ao pensamento de alguns professores que os alunos não querem saber de nada, isso não é verdade, os alunos estão aí e respondem muito bem a algumas ações que eles percebem que vão favorecê-los. [...] A empresa Júnior que existe hoje na Agronomia surgiu de alunos do PET-Agronomia. Era um grupo de discussão do PET que tratava de trabalho em empreendedorismo, esses alunos discutiram durante um ano o que era empreendedorismo e o que se podia fazer, daquele grupo surgiu os alunos que deram origem à empresa Junior. (Professor Agro 06, informação verbal).

Já para a UnB, o Reuni trouxe um novo projeto político pedagógico institucional (PPPI), criado em 2011. O projeto é fruto das diversas consultas e análises surgidas por meio dos seminários institucionais e comissões de discussão e trabalho criadas no período de execução do Reuni na UnB. Esse documento tem importância por ter sido realizado com a participação da comunidade acadêmica e por se tratar de um projeto de reformulação objetivando discutir e abranger a expansão de vagas e cursos que a instituição se propunha a realizar.

Entretanto, podemos apreciar dois lados desse feito. O primeiro é que, em parte, esse PPPI se coaduna com a ideia do contrato de gestão, pois foi uma resposta à necessidade que o Reuni tinha de atender ao Sinaes: “a integração dos resultados das diferentes dimensões da avaliação (avaliação de cursos de graduação [...] e avaliação institucional) deve ser efetuada para que se tenha uma adequada aferição das mudanças ocorridas a partir da adesão ao Reuni” (BRASIL 2007c, p.04).

O segundo lado é que nem sempre a execução de instrumentos e os procedimentos em atendimento a órgão de controle, como por exemplo o MEC e o Inep, são negativos. No caso especial da UnB, houve uma maior discussão no que se refere à Comissão Própria de

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O Programa de Educação Tutorial é formado por grupos de estudantes que, sob a tutoria de professores, desenvolvem ações voltadas a atender a integração do ensino, pesquisa e extensão, sendo, portanto, mais uma ação de fortalecimento da aprendizagem desenvolvido em instituições de educação superior.

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Núcleo Docente Estruturante (NDE) é um conceito criado pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes) que parte da ideia de que, nos cursos de graduação, deveriam ser criados núcleos com docentes que zelariam pelas diferentes atividades acadêmicas, em especial pela formulação do projeto pedagógico do curso. Cabe destacar que o NDE é recomendado, mas não obrigatório, pois cabe à autonomia departamental avaliá-lo como instrumento pertinente no auxílio das atividades curriculares. Atualmente, a normatização do NDE está no parecer Conaes nº 4, de 2010 e na resolução Conaes nº1, de2010.

Avaliação (CPA) e sua finalidade institucional (OLIVEIRA, 2015). Entretanto, os benefícios não ocorreram somente na UnB. Do ponto de vista da política de avaliação da educação superior vigente no país, essa Comissão passou a melhorar a avaliação interna da universidade, desenvolvendo-a segundo as necessidades da própria instituição, tendo por tanto um caráter muito mais formativo.

Nessa visão de que houve um quadro maior de reformulação e uma renovação da dimensão acadêmica, o gestor 03 cita outros processos cuja reformulação foi inevitável diante do processo de expansão ligado diretamente com a questão da autoavaliação contínua da instituição: a avaliação docente, que foi reestruturada e alocada de forma optativa para o preenchimento via internet pelo discente e o processo de progressão funcional dos professores da UnB.

Além disso, havia a ideia de um trabalho continuado de formação docente por meio de cursos. Esses cursos forneceriam subsídios pedagógicos ao docente, por meio de uma parceria com a Faculdade de Educação (FE). Apesar de tal prerrogativa ter sido debatida e pensada por meio da Coordenação de Integração das Licenciaturas (CIL), a grande demanda do serviço não pode ser oferecida de forma constante, mais sim de forma sazonal, sendo, ainda hoje, ofertada em cursos de tempos em tempos dentro da instituição.

Todos esses processos precisaram ser reformulados por causa da expansão de professores e alunos advindos do Reuni, que aumentou substancialmente o tamanho da comunidade acadêmica. No caso da UnB, esses processos de reformulação foram mencionados pelo ex-reitor José Geraldo como a refundação da UnB:

A Universidade ficou muito grande, sofisticada e muito complexa. Por isso, tivemos que fazer diagnósticos para entender essa mudança e trabalhar a modernização, incluindo poder informatizar a Universidade e modificar a estrutura, o que significa superar práticas que aqui estavam muito arraigadas no corpo técnico, por falta de concursos que não tínhamos. Um novo cabedal de técnicos afeiçoados às novas possibilidades tecnológicas chegou e precisávamos fazer um diagnóstico para a modernização. Esse processo implicou mudança da estrutura gestora com a criação de dois decanatos. Foi preciso planejar, ordenar melhor o orçamento e investir profundamente nos processos e na gestão das pessoas. (UnB, 2012, p.35).

A expansão de funcionários demandou a modernização da estrutura da instituição. O efeito direto foi a criação de dois decanatos no âmbito institucional: o Decanato de Gestão de Pessoas (DGP),que visava tratar da expansão de pessoal, e o Decanato de Planejamento, Orçamento e Finanças (DPO), para tratar diretamente da expansão do orçamento na

instituição. A mudança de estruturas que antes eram secretarias para decanatos visou dar maior liberdade à instituição para a tomada de decisões.

Esse processo, entretanto, não é exclusivo da UnB. O Reuni trouxe diferentes realidades em todas as universidades federais do Brasil, pois cada uma delas teve que se readequar e inovar com os novos desafios trazidos por esse programa, desafios estes que não eram somente a expansão de vagas na graduação, mas, sim, toda uma sistemática de mudanças que se refletiam tanto academicamente como administrativamente. Roberto (2011) ao estudar o caso da Universidade Federal de Viçosa (UFV), cita igualmente a criação de processos diferenciados que tiveram que ser criados para o trato da avaliação docente.

O próximo capítulo apresentará os resultados e análises obtidos na investigação da meta do Reuni ligada à expansão de vagas, tratamento das vagas ociosas e evasão de forma geral na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) nos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Gestão de Agronegócios. Será apresentado também o tutorial de cálculo da evasão e vagas ociosas. Ele foi produzido com a finalidade de dar apoio às coordenações de cursos de graduação na investigação desses fenômenos.

CAPÍTULO 5 – TRAJETÓRIA DA EXPANSÃO DE VAGAS NA FACULDADE DE