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A noção de acontecimento discursivo como possibilidade de marcas na história

4 ROMPENDO AS FRONTEIRAS DA ESTRUTURA: O PÚBLICO NO

4.3 A noção de acontecimento discursivo como possibilidade de marcas na história

O debate acerca do acontecimento discursivo permeia, há algum tempo, os espaços que se propõem a analisar o funcionamento do discurso. Neles, o que há de comum é a tentativa de diferenciação com os acontecimentos históricos e jornalísticos. Silva (2008) coloca a necessidade dessa diferenciação, para que a AD possa demarcar sua análise distinguindo o termo acontecimento daquele trabalhado pelas Ciências Sociais e pelas Ciências da Comunicação.

Assim, o acontecimento histórico é compreendido como fato que marca uma sociedade, e sobre o qual se possibilitam leituras diversas (o olhar e a análise dos

historiadores); já o jornalístico desenrola-se sobre o presente, a partir da imediaticidade e do apelo que possui e do público a que se destina.

Com isso, tem-se que tanto o acontecimento histórico quanto o jornalístico possibilitam narrativas e interpretações diversas, sendo que esse último, calcado na seleção de fatos que permeiam a atualidade sobre a qual se volta e lhe dá sentido, é pré-selecionado. Isso ocorre a partir de intencionalidades (desde a seleção de pautas até a escolha de entrevistados, a formulação do texto e sua edição e publicação100), mas, principalmente, a partir de interesses do veículo em que será divulgado. É interessante lembrar que essa seleção nem sempre é consciente, especialmente por parte do profissional que acredita não estar sendo afetado pelos mecanismos de funcionamento da ideologia e concebe essa seleção como “neutra”.

Sabemos, no entanto, que essa neutralidade é impossível de ser obtida. Como afirma Silva (2008) “Enquanto linguagem, o dizer jornalístico não traz um fato, mas um gesto de interpretação do mesmo”. Assim, produz e reproduz sentidos que podem, inclusive, servir como fonte para interpretação de acontecimentos históricos, esses, perpetuados no tempo e no arquivo.

Feita essa diferenciação inicial, abordemos a noção de acontecimento discursivo a fim de que não seja confundido com os demais. Aqui, defendemos que o discurso funciona como acontecimento, na medida em que produz novos sentidos, irrompe o já-dito e estabelece novos processos de dizer, o que implica mudanças nas “formas” e nos “conteúdos”, mas também – e principalmente – em como esses elementos, inseparáveis na construção do sentido, possibilitam o surgimento de novos efeitos.

Sendo assim, para vislumbrar e compreender o acontecimento é preciso trazer o discurso na completude de seus processos, percebendo como as diversas categorias que o constituem – separadas por questões metodológicas, mas indissociáveis na concretude do real – se articulam para constituir esse (possível) novo.

Isso significa pensar na singularidade do sentido de público no discurso educacional de Lula como uma mediação no processo histórico-discursivo. Sua complexidade diz respeito tanto às questões da sua organização interna – a não explicitação do privado, a tentativa de estabelecimento de uma lógica pública identificada com a sociedade civil, o chamamento à individuação a partir da identificação e inserção nesse contexto, etc. – quanto aos fatores “externos” que produzem neles sentidos outros: a constituição imaginária de Lula na

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Estamos usando o exemplo da mídia impressa, mas tal mecanismo é comum a qualquer uma delas, inclusive naquelas em que as etapas para a construção da notícia não se encontra tão bem compartimentalizada.

sociedade brasileira, o processo histórico de retomada/amplificação da participação social no Estado, negada pela conjuntura anterior, por exemplo.

Esses fatores permitem dizer que, mesmo que se inscreva no discurso da Terceira Via, as mediações que constituem esse objeto fazem dele um discurso diverso daquele percebido, apontado como acontecimento histórico na Europa. Isso faria do discurso de Lula acerca do público educacional um acontecimento discursivo?

Para que possamos entender melhor essa discussão, nos baseamos especialmente em “O Discurso: estrutura ou acontecimento?”, onde Pêcheux (20066) traça uma análise do processo discursivo e os seus deslocamentos a partir de um dizer, a partir do qual reflete e expõe os momentos de análise discursiva propostos por ele. São elas:

1 - a fase da descrição, que “supõe [...] o reconhecimento de um real específico sobre o qual ela se instala: o real da língua”. (PÊCHEUX, 2006, p.50, grifos do original). Isso significa considerar a base linguística que constitui o discurso em sua especificidade, nas suas relações internas que constituem o dito. Portanto, aborda-se o fato linguístico como algo que se põe para além dos elementos linguísticos que o constituem, mas que não ignora a sua “matéria” imediata. Pelo contrário, pretende perceber como se encontram articuladas as palavras, o dito, e é a partir da possibilidade de perceber, neles, derivas, que se percebem as leituras sobre as relações sujeito/sociedade. Assim, justifica-se a necessidade de trabalhar com associações, paráfrases e sinonímias, observando, nesse eixo, o deslocamento dos sentidos, a partir das articulações presentes no próprio texto. Sendo esses deslocamentos possibilitados pelas marcas linguísticas mas não presas a elas, os sentidos constroem-se, sempre, pelas articulações com a história.

Pensamos aqui em como os sentidos de aproximação/contradição que relacionam público e o privado na esfera educacional têm muito a ver com a relação Estado/sociedade, de modo que a percepção de como estão estruturadas e referidas essas noções indica um caminho para compreender a natureza desse discurso. Nesse sentido, pudemos perceber no discurso de Lula uma remissão à noção de público-estatal, bem como a aproximação com uma noção mais ampla de público, não representada nessa perspectiva, e que toma a sociedade civil como espaço do público, em contraposição ao estatal, da ordem do político. Há, ainda, o atravessamento do discurso que se opõe ao fortalecimento dos espaços públicos, caracterizado no Estado neoliberal, este sendo referido sempre como uma oposição aos ideais governamentais e aos interesses do governo.

2 – Perceber os espaços de deriva no interdiscurso. Por ser a análise um gesto de interpretação que toma dizeres como representativos de discursos os quais se pretendem

transparentes, a primeira etapa, de descrição, não é suficiente, uma vez que “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro.” (PÊCHEUX, 2006, p. 53). Necessita-se, assim, perceber nessa superfície discursiva os atravessamentos de outros dizeres.

Esses lugares de deriva não se constituem como visões de mundo distintas, as quais colocam o real sob a condição da interpretação dos sujeitos (segundo essa visão, não haveria real, mas diversos “reais”). Como já vimos, essas possibilidades dos sentidos decorrem do lugar no mundo que tem a ver com a ideologia. Na constituição de um novo sentido para o público, não há a tentativa de negar os sentidos já estabelecidos, mas de trazê-los em um processo de ressignificação a partir do estabelecimento de relações outras. Daí a necessidade de mostrar que associações são estabelecidas e que silêncios são (im)postos a fim de que essa nova percepção de público possa, enfim, irromper.

É somente após essas “fases” do desvelamento discursivo que o analista pode, enfim, perceber a discursividade como estrutura e/ou acontecimento. Para isso, discute-se a necessidade de não somente perceber o discurso filiado a redes de memórias, pois

[...] todo discurso é o índice potencial de uma agitação nas filiações sócio-históricas de identificação, na medida em que ele constitui ao mesmo tempo um efeito dessas filiações e um trabalho (mais ou menos consciente, deliberado, construído ou não, mas de todo modo atravessado pelas determinações inconscientes) de deslocamento em seu espaço. (PÊCHEUX, 2006, p.56).

Há, assim, a necessidade de compreender o discurso para além das estruturas dadas: significa captar a sua singularidade também como possibilidade de filiações a outras condições para além das já colocadas nas redes de memória, ou possibilidades de significar já dadas em outros contextos, outras condições de produção. Indicando ou não transformações significativas, um dado dizer integra um discurso que não é sempre o mesmo, ou, sendo o mesmo, é sempre diferente. Entender o discurso como acontecimento é entender que há sempre a condição de romper e/ou desestruturar o que já está (aparentemente) posto e estabilizado.

Essa aparente estabilização é uma construção ideológica, uma vez que a língua, ao ser posta em funcionamento pelo discurso, é opaca. Dessa maneira, o deslocamento do espaço legal para o político, funcionando aqui por meio do pré-construído “a educação é direito de todos e dever do Estado”, silencia a continuidade do próprio texto constitucional (art.205): “educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada

garantindo a interpretação social acerca do papel do Estado, funciona portanto, por meio de um silenciamento presente na memória social, mas estabilizada no arquivo, pois, como revela Cury (2006), público e privado encontram-se, desde os tempos da monarquia, contemplados pelas ações estatais.

Percebemos aí um conflito de interpretações que remete ao debate acerca da constituição do próprio discurso e seu funcionamento. O entendimento de que o discurso é, concomitantemente, estrutura e acontecimento ou, em um caminho oposto, de que uma possibilidade exclui a outra, interfere no modo de analisá-lo, e traz implicações teóricas. Quando, por um lado, pensa-se o discurso como sempre novo – o dizer nunca se repete e traz sempre algo que o projeta para além – corre-se o risco de remeter às elaborações de Benveniste, derivando para uma perspectiva mais enunciativa, que desconsidera o funcionamento ideológico. Sabemos que há nesse caso a tentativa de negar a existência da estrutura, seja pelo peso das elaborações teóricas a que o conceito está vinculado – o estruturalismo –, seja pela dificuldade que ainda se apresenta em considerar a análise do discurso como “semi-história” ou “semilinguística”.

A história é feita pelos homens a partir das condições concretas. Se a história não se repete, é possível designar o acontecimento histórico como tal a partir de análises sobre o já- ocorrido, estabelecendo conexões dialéticas que envolvem, também, os nexos causais e os consequentes dos fatos, determinando-lhes a importância.

Diante disso, o discurso se coloca como elemento de construção dessa história, não se confundindo com o acontecimento histórico, mas dele fazendo parte na produção dos sentidos que constituem a história, inscrevendo-se na memória discursiva da sociedade101. A história não é representada no discurso, ela é constitutiva dele, vale lembrar. Atribuir a um fato a denominação de histórico é atribuir-lhe a importância de acontecimento, porque modifica algo ou permite a modificação na realidade social, seja de forma objetiva (no modo de produção ou sua organização) ou subjetiva (o entendimento sobre o mundo e seus elementos).

Na esteira dessa reflexão, perguntamo-nos: o acontecimento discursivo poderia ser assim classificado no momento de sua incidência ou post-festum? O analista do discurso, mesmo valendo-se de categorias e elementos que contribuem para que objetivamente apresente os sentidos veiculados no dizer e a partir deles projete um porvir, pode, na

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Lembrando que diferentemente de outras leituras, consideramos que a memória discursiva não abrange completamente o já-dito de forma que dele não se diferencie, mas não o exclui e nem se apoia apenas nos acontecimentos discursivos. Os dizeres da ordem do cotidiano constituem-se justamente nessa relação de apagamento e retomada, possibilitada pela memória que constitui o já-dito em um dado momento, mesmo que ele não possa ser identificado a partir de um momento (histórico ou discursivo) fundante.

emergência de seus estudos, atribuir a um discurso o papel de acontecimento? Como determinar essa linha tênue entre a reprodução e a inovação?

Tais questionamentos podem evitar a banalização do termo acontecimento discursivo, atribuído como uma novidade àquilo que se julga passível de modificar o já-posto no âmbito das formulações discursivas e da atribuição de sentidos (novamente) estabilizados. A aparente re-estabilização seria, assim, conhecida e concebida se, após sua incidência, pudéssemos comprovar sua permanência?

Se defendermos que os sentidos habitam a história, e as palavras são “inquilinas” desses sentidos no processo de construção/formulação do discurso, estamos pensando em discurso e história como uma inter-relação em que os sentidos são construídos no processo histórico. As tomadas e retomadas de uma memória constituída e expressa (ou silenciada) em um período determinado atravessam os dizeres e, pela atuação dos sujeitos nessa materialidade (discursiva), irrompe o novo, instaurando sentidos outros.

Por isso, o acontecimento discursivo não o é assim classificado por incidir diretamente na história, mas por incidir no discurso como construto da história. Portanto, é uma retomada e um processo que possibilitam o equívoco na construção de novos efeitos de sentido, que atuam na construção de um imaginário sobre o acontecimento que o propulsiona. Ele é a possibilidade de deslocamentos, construída pela atuação dos sujeitos nessa mesma história, quando interpretam a objetividade e atribuem sentidos a ela, constituindo assim o real na sua completude: a marca do ser social capaz de teleologia, de fazer história com ou sem a consciência da totalidade e das mediações presentes em cada particularidade.

Tentar entender os limites e as relações que se estabelecem entre o acontecimento discursivo e histórico, bem como compreender o que faz com que um discurso irrompa a “estrutura” (social e linguística), passa por esclarecer que a pré-existência de um universo de coisas sobre as quais os homens se movem não deve ser compreendida como uma limitação. Daí a dificuldade de utilização do termo estrutura, que remete a um engessamento. A incidência do novo na esfera do discurso está dessa maneira intrinsecamente ligada à questão do acontecimento discursivo. Sendo assim, cabe explicitar o que é o novo para o discurso na forma como o concebemos.

Já afirmamos que, de acordo com a Teoria do Discurso, “o discurso não se confunde com a língua, nem com a fala, nem com o texto” (FLORÊNCIO et al, 2009, p.24), o que já exclui o entendimento de que qualquer dizer pode ser considerado um acontecimento. Como são entendidos como parte de um processo discursivo, os discursos originam-se e se estendem para além do momento da enunciação, uma vez que constituem parte essencial do processo

histórico. Destaque-se aqui, novamente, a importância da história como a base para o entendimento de todo e qualquer esfera que constitui o ser social, razão pela qual retomamos esse conceito para esclarecer o que é o acontecimento discursivo e como pode ser explicado a partir de uma analogia com o acontecimento histórico.

Sabemos que é porque são capazes de fazer história que os homens se constituem como tais, como sujeitos capazes de imprimir a subjetividade nos seus atos, modificando a objetividade102. Esse processo de respostas às necessidades humanas através do pôr teleológico – a capacidade de prévia-ideação, de colocação de uma finalidade a partir de uma análise da causalidade posta no real – garante ao sujeito ser “sempre o sujeito do seu tempo e de sua sociabilidade” (FLORÊNCIO et al, 2009, p. 43).

Isso tudo porque os homens desenvolvem-se a partir das práticas sociais e da ideologia que garantem a sua inserção social. Certamente, a singularidade de cada forma de sociabilidade carrega as marcas da história que a determinou (ou seja, o próprio homem é sujeito e objeto de sua história) e somente pode ser compreendida na relação que estabelece com a universalidade, por meio das mediações.

Quando abordamos a processualidade histórica, estamos nos referindo à satisfação das necessidades do gênero humano, cada vez mais elaboradas e complexas diante das respostas já apresentadas por ele ao longo da sua existência. A compreensão de tal processualidade necessita, portanto, de que a relação entre essência (os elementos de continuidade existentes em cada particularidade) e fenômeno (os elementos que singularizam essa mesma particularidade) sejam igualmente entendidos como determinantes no desenvolvimento humano.

Se um processo, seja ele qual for, representa a passagem de uma etapa à outra, para compreendê-lo é necessário saber que os vários momentos que o constituem como tal distinguem-se entre si. Como afirma Lessa (2012, p.10) “cada momento é único, irrepetível – o que quer dizer é novo, inédito – e concomitantemente é portador de todas as determinações passadas que condicionaram sua gênese”.

A irrepetibilidade do fenômeno, ou seja, a constituição do novo, não nos permite, no entanto, classificar como acontecimento todo dizer que se se inscreve no processo discursivo. Como Lessa (2012) bem explica, há uma interação constante entre os aspectos singulares e

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Lembremos que objetividade e subjetividade não se contrapõem no real, constituindo este em sua completude.

universais de cada etapa dos processos, havendo uma determinação da essência no fenômeno e vice-versa103.

A passagem de uma etapa a outra não representa o rompimento imediato das ideologias existentes nos momentos de ruptura das bases das relações sociais – o que provoca uma mudança no ser social. É justamente por ser um processo, que as mediações nas etapas podem, inclusive, provocar um “retrocesso”, caso as condições subjetivas não sejam condizentes com as mudanças objetivas. Como enfatiza Leontiev (2004), caso ocorra uma mudança objetiva, é necessário que as forças sociais que buscam a construção do novo continuem o embate nessa esfera, a fim de não ganhar espaço e superar as representações de contradições existentes em uma etapa anterior.

Uma grande parte da realidade guarda a sua iluminação anterior porque as significações, as representações e as idéias não se modificam automaticamente, desde que perderam seu terreno nas condições objetivas da vida. Elas podem conservar a sua força como preconceitos e muitas vezes só após uma luta perseverante é que elas acabam por perder o seu prestígio aos olhos dos homens. (LEONTIEV, 2004, p. 148).

Sendo o discurso uma das mediações presentes no desenvolvimento histórico do homem, ele traz em si esse conflito e acompanha essa lógica. O acontecimento ocorre, portanto, quando a singularidade do fenômeno tem força para provocar uma mudança na essência. Em relação ao discurso, isso significaria a instauração de novos efeitos de sentido que produzam marcas na história, de forma que esse discurso constitua papel relevante na processualidade histórica.

É por isso que o discurso, de uma maneira ampla, é apresentado por Pêcheux como estrutura e acontecimento: ele sempre traz uma memória (discursiva) e a ressignifica em outro momento (traz as marcas da atualidade em que se apresenta).

O acontecimento é, desta maneira, uma etapa do processo discursivo que provoca sua descontinuidade, um rompimento na “lógica” aparentemente estabelecida em determinadas Formações Ideológicas e Discursivas. A quebra resulta da ilusão da impossibilidade dos equívocos discursivos, o que significa que as intepretações continuam a ser vinculadas à construção linguística ou aos sentidos já estabelecidos socialmente.

Assim, mais do que “classificar” um discurso como acontecimento, cabe ao analista compreender a abrangência daquele e perceber os seus deslizamentos, mostrando o funcionamento como uma possibilidade de irrupção do novo.

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O autor exemplifica a questão destacando que Lukács vê na teoria marxiana a superação da essência como eterna. Trata-se aqui de uma categoria que responde ao ser do homem, podendo ser modificada profundamente pelo fenômeno, como no caso de um processo revolucionário.

Sendo assim, defendemos que os deslocamentos de sentido de público educacional no discurso de Lula apoiam-se na reconfiguração de uma relação Estado-sociedade, em que há o atravessamento de diversas Formações Discursivas as quais permitem uma ressignificação sem que, no entanto, essa seja imediatamente percebida pelo auditório social a quem se dirige ou o público que o vivencia. Ele é, sem dúvida, um marco discursivo que desestrutura os sentidos já estabilizados sem que, no entanto, se desidentifique totalmente com os mesmos.

CONCLUSÃO

Embora pareça repetitivo e um tanto quanto fugidio – como se faltasse ao autor/pesquisador a capacidade e lhe sobrasse a modéstia – é preciso ressaltar antes das considerações finais que um trabalho científico jamais está concluído. Mesmo uma tese, em que supostamente há a obrigação de lançar um olhar inédito sobre um objeto de estudo, a impressão que se tem é que faltam, sempre, algumas observações, reflexões e retomadas; que ainda há o que falar, o que estudar, o que compreender. No entanto, mais que aspirar ao conhecimento que (supostamente) preenche as falhas, aceitamos e ansiamos a angústia da inconclusão, por entendê-la como parte mais significativa da nossa condição humana.

Não se trata de evocar a “essência divina” ou buscar a completude além do mundo dos homens, mas destacar que a inquietude que nos assola responde à impossibilidade de trazer, em uma reflexão longa que seja, toda a complexidade do objeto que ousamos compreender. É pensar que aqui trazemos um recorte desse real e, sendo assim, acolhemos a impossibilidade de captar todas as suas mediações.

Portanto, o que apresentamos, ao longo dessas páginas, foi a compreensão de uma particularidade – o discurso da política educacional de Lula – a partir de uma de suas faces, os