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A NORMA DE UM REI DISTANTE E A PRÁTICA CAMARÁRIA.

Com a morte de D. Sebastião em 1578 e a falta de sucessores ao trono, chegou ao fim a Dinastia dos Avis, colocando Portugal numa situação política difícil, só resolvida pela força política do rei Felipe II, da Espanha, ao se proclamar rei de Portugal em 1580, iniciando o período conhecido como União Ibérica. Durante o governo de Felipe II (Felipe I em Portugal), que durou de 1580 a 1598, foi compilado um código de leis – Código Filipino – que só entrou em vigor após a morte de seu idealizador, no governo de seu filho, Felipe III.

O Código Filipino passou a vigorar em Portugal e suas possessões ultramarinas, a partir da sua primeira impressão e promulgação ocorridas em 1603. De acordo com Cândido Mendes de Almeida, num estudo publicado sobre o Código Filipino em 1870, o Direito Civil português, encerrado nas Ordenações Filipinas, recebeu influência do Direito Romano, do Direito Canônico, de acordos entre os Reis Católicos Ibéricos e o papado romano, dos costumes antigos dos povos ibéricos, com abertura para determinadas prerrogativas locais, além de contar com decisões assentadas nas reuniões da Casa da Suplicação e do Porto 252.

Para Cândido Mendes, o Código Filipino “seguiu, no método e sistematização das matérias, o Código Manoelino, e a quase totalidade das disposições deste estão ai incorporadas; mas contém muitas outras extraídas das reformas feitas durante todo o século XVI”. Sendo tributário dos códigos anteriores (Código Afonsino, 1446, e Código Manuelino, 1521), o Filipino guardava certas especificidades ideológicas que podem estar relacionadas, entre outros fatores, às mudanças propostas e aceitas pelos Reis Católicos com a promulgação das reformas da Igreja acordadas no Concílio de Trento (1546-1562) 253.

A relação entre o novo código jurídico e as mudanças advindas do Concílio de Trento pode ser constatada no Alvará, de 12 de setembro de 1564, ainda promulgado por D. Sebastião e adicionado ao Livro Segundo das Ordenações. Nesse alvará, D. Sebastião recomendava a observância do Sagrado Concílio Tridentino em todos os domínios da monarquia portuguesa. Ressaltava ainda que “além da obrigação geral, que os Reis e Príncipes cristãos [tinham] de procurar ajudar e favorecer a execução dos ditos Decretos”,

252

ALMEIDA, Cândido Mendes de. Ao leitor. In: CÓDIGO Filipino, ou, Ordenações e Leis do Reino de

Portugal: recompiladas por mandado d‟el-Rei D. Filipe I. Ed. fac.- similar da 14ª ed. de 1821, p. 7; 21. Ver

também: ALMEIDA, Cândido Mendes de. Ao leitor. In: AUXILIAR jurídico. Apêndice às Ordenações Filipinas, vol. 1. Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian, s/d.

253

deveriam procurar “sempre a reformação dos abusos e a pureza e estabelecimento das coisas da nossa Santa Fé Católica” 254

.

Para Graça Salgado, além de incorporar os assentos morais cristãos acordados no Concílio, o Código Filipino também foi produzido para responder às inquietações dos administradores e funcionários monárquicos e aos próprios ditames do Rei acerca das novas possessões coloniais. O Código acabou reunindo “em um só corpo legal, as chamadas leis extravagantes, promulgadas, em abundância, no transcurso do século XVI para dar suporte jurídico ao contexto iniciado com a descoberta de novos mercados coloniais. Nesse sentindo, “essas codificações regulavam, precipuamente, os poderes delegados pelo monarca a seus agentes, ou seja, a supervisão imediata dos negócios administrativos e suas inúmeras atribuições” 255

.

O Código é composto de cinco livros. O primeiro livro contém, prioritariamente, o regimento dos magistrados e oficiais da justiça com todos os seus deveres, direitos e atribuições, assim como diretrizes para sua forma de atuação. Estabelecendo relações com o nosso objeto de pesquisa, no primeiro livro, encontramos os direitos e deveres dos oficiais do Senado da Câmara (juiz, vereador, procurador, tesoureiro) e dos funcionários (porteiro, pregoeiro, escrivão, carcereiro), e também matéria sobre os pesos e medidas, taxações e impostos.

No segundo livro, trata-se das relações entre a Igreja Católica e o Estado, instituindo o regimento para posse material (bens móveis ou de raiz) por parte dos Clérigos e religiosos em geral, a justiça secular aplicada a estes, e as leis gerais para as Ordens religiosas, Inquisidores e excomungados. Além disso, ele traz também matéria sobre a publicação e validação dos papéis emitidos pelo Rei e sua chancelaria (cartas, alvarás, provisões, leis etc.), prerrogativas e privilégios de nobres, cavaleiros, fidalgo, desembargadores, entre outras matérias.

Aborda-se, no livro seguinte, prioritariamente, os processos civis e crimes, sobretudo, no que tange às ações, condução dos julgamentos, validação e tomada de depoimento das testemunhas, formas de inquirição e investigação, adequação das sentenças, formas de apelação, penhora e perda de bens. Trata também do regimento sobre bens do vento ou evento, como por exemplo, gados.

Já o livro quarto compreende os direitos das pessoas e das coisas sob o ponto de vista civil e comercial, atentando para procedimentos legais para compra, venda e aluguel de bens móveis e de raiz, aforamentos de terras, empréstimos, contratação de criados, sobre validação

254

CÓDIGO Filipino, ou, Ordenações e Leis do Reino de Portugal...vol. 2, p. 503-504.

255

de testamento, partilha de bens etc. Além de constar matéria sobre a relação entre as mulheres e os negócios, sobre órfãos e viúvas.

O último livro ocupa-se das matérias penais e as penalidades em geral para crimes e contravenções, tais como heresia, sodomia, falsificação, vadiagem, crimes de Lesa-Majestade etc.

Entre os compiladores do Código Filipino – ou os recompiladores dos demais códigos portugueses –, estavam altos funcionários da corte, como Desembargadores do Paço e pessoas do Conselho Real. Muitas foram as modificações sofridas pelo Código durante seus 220 anos de vigência (1603 a 1823), tendo em vista as “grandes mudanças políticas havidas no Estado, já pelas novas ideias que se iam desenvolvendo na sociedade civilizada, depois dos abalos do século XVI; e após a revolução de 1789 (Revolução Francesa), de que tanto Portugal como o Brasil iam sentir os efeitos” 256

.

Dos primeiros anos de vigência do código até o fim da União Ibérica, a ordem era adequar os velhos moldes da jurisprudência reinol portuguesa aos ditames tridentinos, provocando um enrijecimento da moral ocidental cristã, presente em todo o corpo literário do Código. Com o fim da União Ibérica, estava aberta a possibilidade para uma recopilação da legislação ou, até mesmo, a fundamentação de um novo código compatível com os tempos vividos pela monarquia portuguesa nesse momento. No entanto, um novo código não foi produzido, mas muitas leis extravagantes foram lançadas, a partir daí, como uma reação ao domínio castelhano, que buscava legitimar o trono de D. Pedro II e assegurar a permanência de sua Dinastia no poder.

Na introdução de um compêndio de auxílio à leitura e análise do Código Filipino publicado em 1869, Cândido Mendes chama a atenção para o fato de que não havia nenhuma edição brasileira do Código Filipino. Fato esse que só iria mudar um ano depois da publicação do seu „Auxiliar Jurídico ao Código Filipino‟, ou seja, em 1870. O autor afirma que ninguém nunca se dispôs a publicar o Código no Brasil, provavelmente, “temendo os gastos da empresa e a reforma total da Legislação ali consignada” 257. Todas as edições do Código que vieram ao Brasil, durante todo o período colonial e depois, foram trazidas de Portugal. Esse dado é importante para mensurarmos as dificuldades de obtenção da cópia dos cinco volumes do Código e atentar para as formas de circularidade das normas e leis oriundas do Reino para com suas possessões. A questão do acesso e permanência de uma cópia do Código Filipino na Câmara de Natal exemplifica essa questão.

256

ALMEIDA, Cândido Mendes de. Ao leitor. In: CÓDIGO Filipino, p. 29.

257

Com o fim da ameaça holandesa e a restauração do poder lusitano em 1659, o Senado da Câmara de Natal passou a ser o órgão administrador oficial a serviço da metrópole. Sendo assim, em 29 de dezembro de 1682, os camaristas “decidiram que fossem retirados numerários para comprar uma Ordenação, por não haver uma neste Senado” 258

. Não era aceitável que um órgão oficial, a serviço da metrópole e do controle dos vassalos nas possessões reinóis, não estivesse munido do Código. Quase um mês depois dessa decisão de compra do Código, os camaristas mais uma vez atentam para necessidade da aquisição de uma cópia. Como elas eram impressas em Portugal, o preço deveria ser bastante considerável, porém, apesar disso, em 21 de janeiro do ano seguinte, levando em consideração as ordens oriundas da Comarca da Paraíba através de postura do Desembargador, “que tratava sobre o melhoramento do Conselho e seu Povo, os oficiais mandaram que se desse a execução de tudo que se deve ao Senado para que se adquirisse um Livro das Ordenações, por ser necessário à Casa da Câmara” 259

.

Apesar da aparente urgência com que o escrivão registrou a necessidade da compra das Ordenações e do esforço dos Camaristas – que resolveram recolher tudo o que a população devia ao Senado para essa aquisição –, ainda em meados de 1683 essas cópias não haviam sido adquiridas, pois, “para satisfazer a obrigação do imposto do Desembargador que mandou que se comprasse um Livro das Ordenações para que melhor se governasse, encarregaram o Escrivão da Câmara, que carregasse receita no Livro de Carga e Descarga” 260

.

Não encontramos menção direta que possibilitasse afirmar categoricamente quando a Câmara de Natal adquiriu de fato uma cópia do Código. Todavia, alguns outros documentos reportam que uma cópia foi adquirida. Isso porque, em 16 de outubro de 1723, foi registrada num Termo de Correição da Câmara de Natal, a “ordem do Ouvidor Geral para que o Escrivão lesse o título 66 da Ordenação e mostrasse esse registro aos novos Vereadores no dia de sua posse”, intentando que, “cumprissem suas obrigações às quais faltavam muito por não terem o Regimento da Lei, prejudicando a Cidade e o Povo”. No mesmo documento, o escrivão registrou um reforço para essa ordem do Ouvidor, afirmando mais que “desse conhecimento do título 66 da Ordenação na posse dos Vereadores, para que cumprissem a contento com suas obrigações”. O Ouvidor Manoel Fonseca e Silva assina o documento 261

.

258

LTVSCN, Termo de Vereação de 29 de dezembro de 1682, cx. 03, lv. 1674-1698, fl. 49.

259

LTVSCN, Termo de Vereação de 21 de janeiro de 1683, cx. 03, lv. 1674-1689, fl. 50.

260

LTVSCN, Termo de Vereação de 22 de julho de 1683, cx. 03, lv. 1674-1689, fl. 52v-53.

261

O Título 66, ao qual o Ouvidor se refere, está contido no Tomo I, Livro I, contendo cinquenta parágrafos sobre os direitos e deveres do Vereador 262. Muitas são as prerrogativas destinadas aos Vereadores e, por isso, a preocupação do Ouvidor para que aqueles entrassem em contato com as Leis Filipinas.

Num outro documento, um Termo de Vereação do Senado da Câmara de 1791, o escrivão registrou que, “conforme Ordem do Livro I, Título 18, Parágrafo 36, autorizaram através de portaria a compra efetuada pelo preço de 10$880 réis pelo Procurador [...] de nove pesos de metal”, sendo estes: “meia arroba, oito libras, quatro libras, duas libras, uma libra, uma quarta, meia quarta, metade de meia quarta e uma onça para servirem de padrão, cujos pesos [não] deverão sair desta Câmara, em virtude da tal Portaria” 263

.

Verificando no Código Filipino a informação descrita para localização de tal determinação, encontramos, nos parágrafos sobre a ordem das cidades e vilas, que fossem de 400 vizinhos (e daí para cima), deveriam ter vários padrões de metal diferentes, os quais totalizando 16 padrões. É possível que a Câmara já possuísse os demais padrões, uma vez que ela anuncia a compra de somente nove dos dezesseis exigidos. No entanto, comparando a compra realizada pela Câmara e o disposto nas Ordenações, percebemos que a Câmara seguiu integralmente a determinação. A diferença, entre a medida anunciada pela compra dos pesos da Câmara ser em libra e a do Código estabelecer em arráteis, deve surtir pouco efeito corrigido, talvez, com a compra de pesos diferenciados, já que a medida do arrátel é de 429 gramas, enquanto da libra é variável conforme o lugar, podendo pesar de 380 a 550 gramas, ou seja, pode pesar a mesma coisa que o arrátel 264.

Em outro Termo de Vereação, que atesta a existência das Ordenações na Câmara de Natal, em 1798, o Almotacé da cidade do Natal entrou em confronto com o Almotacé do Termo da cidade, em que ambos questionavam a atitude um do outro. O segundo Almotacé, ou seja, do termo, cercanias e ribeira da cidade, foi “chamado à Câmara e lhe mandaram ler o título dos Almotacés na Ordenação”, sem hesitar, o Almotacé do termo argumentou em defesa própria, “afirmando que a Câmara devia dar parte dos seus, sendo-lhe respondido que se não intrometesse no que lhe não era determinado pela Câmara e ainda lhe determinaram que continuasse com o que lhe era incumbido” 265

.

262

CÓDIGO Filipino, ou, Ordenações e Leis do Reino de Portugal...vol. 1, f. 144-153.

263

LTVSCN, Termo de Vereação de 10 de setembro de 1791, cx. 02, lv.1784-1803, fl. 177v-178.

264

Ver: ACIOLI, V. L. C.; ASSIS, V. M. A. de; BARBOSA, M. S. F. Fontes repatriadas, Tabela: moedas e unidades de peso, capacidade e comprimento antigas, usadas no Brasil, p. 121.

265

Diante dos vários artigos e disposições do Código acerca da regulamentação do comércio, escolhemos tratar a questão dos pesos e medidas, que deveriam ser regulados de acordo com os padrões emitidos pelo reino e devidamente prescrito no Código Filipino, como um exemplo claro da intervenção do Estado sobre as práticas mercantis. Conforme o Código é necessário que “os Oficiais dos Conselhos saibam quais e quantos padrões, medidas e pesos são obrigados ter, e isso mesmo as pessoas, que por razão dos seus ofícios são obrigados a ter pesos e medidas” 266

, todos declarados no Código.

Os pesos e medidas, concernentes a cada vila e cidade, eram designados pela quantidade de habitantes de cada localidade, sendo assim, à época de sua criação, todas as vilas da Capitania do Rio Grande do Norte deveriam ter todos os pesos e medidas necessários às localidades com mais de 400 vizinhos, guardados “em uma arca, ou armário do Conselho com duas fechaduras, a qual a arca, ou armário, estará na Câmara, e o procurador do Conselho terá uma chave, e o escrivão da Câmara outra”, sendo que “por esses padrões se concertaram qualquer pesos e medidas outras, que se derem para o dito Conselho [...], e não os emprestaram a nenhuma pessoa”, estabelecendo o aferidor como o responsável por tal atividade 267. As pessoas particulares também deveriam ter seus próprios pesos e medidas.

Embora haja uma aparente distinção entre aqueles que eram oficiais de ofícios mecânicos e os negociantes, é possível afirmar que, na maioria das vezes, aqueles que exerciam determinados tipo de ofício eram os mesmos que mantinham lojas abertas ou comercializavam em suas casas e oficinas. Esse foi o caso, por exemplo, dos ourives e boticários, que além de produzirem, acabavam também comercializando seus produtos. Para esses oficiais e negociantes, o Código Filipino exigia que possuíssem, em seu poder, pesos e medidas específicos.

José Francisco de Paula Cavalcante, o Capitão-Mor da Capitania, enviou ao Príncipe Regente D. João, em 1806, uma extensa carta contento informações populacionais da Capitania. Consta na mesma que havia no Rio Grande do Norte, naquele ano, 177 negociantes, perfazendo pouco mais que 0,3 % do total da população apresentada na carta 268. Poucos anos depois, num Mapa Estatístico da Capitania, compilado entre 1811 e 1813, existiam na Capitania 469 negociantes, representando quase 1% da população total

266

CÓDIGO Filipino, ou, Ordenações e Leis do Reino de Portugal...tomo I, tit. XVIII.

267

CÓDIGO Filipino, ou, Ordenações e Leis do Reino de Portugal...tomo I, tit. XVIII.

268

AHU_ACL_CU_18, CX. 9, D. 623. CARTA do [Capitão-Mor do Rio Grande do Norte], José Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque, ao príncipe regente [D. João] remetendo um mapa da população do Rio Grande do Norte e uma relação dos distritos que necessitam de novas companhias de ordenanças.

apresentada no documento 269. De um censo populacional para outro, num intervalo de aproximadamente sete anos, a população absoluta da Capitania só havia aumentado em 1.238 habitantes, por outro lado, o número de negociantes praticamente triplicou.

Embora tenhamos consciência das incertezas e flexibilizações com as quais devemos analisar toda essa documentação, acreditamos que esses números demonstram a atração, sempre crescente, que as práticas mercantis vieram a incitar nas sociedades modernas. Esses negociantes, cujos produtos de comercialização não foram identificados nos mapas populacionais apresentados, poderiam ser mercadores de grãos, cereais, vinhos, aguardente, panos, pescados, frutas, candeias, carnes, comerciantes de armarinhos, de drogas aromáticas ou medicinais; seja qual fosse sua ocupação mercantil ou produto comercializado, caso a mercadoria não fosse por unidade, tais mercadores deveriam possuir pesos e medidas específicos ditados pelo Código Filipino, regulado e vigiado pela Câmara.

Pretendendo aprofundar as aproximações dessa discussão acerca do espaço institucional ao nosso objeto de estudo, passaremos, nesse momento, a analisar as câmaras da Capitania do Rio Grande do Norte e sua atuação na regulamentação e vigilância das práticas comerciais, evidenciando as práticas econômicas, os produtos, os agentes de comércio, sua regulamentação e sua burla.

Os mecanismos de regulamentação do comércio.

As licenças de comércio para abertura de lojas e práticas de ofício, emitidas pela Câmara, constituíam um dos primeiros dispositivo de regulamentação mercantil. Isso porque elas deveriam ser requisitas em Câmara logo no início do ano.

Em janeiro de 1682, o Senado da Câmara de Natal resolveu que todo aquele que “vendesse fazendas secas e exercesse ofício e não tirasse as devidas licenças no mês de Janeiro” seria condenado em 2$000 réis 270

. Esse mandado deveria funcionar com um reforço das prerrogativas já ditadas nas próprias posturas, tendo em vista que, alguns anos antes, em meados do ano de 1679, a Câmara deliberou “que as pessoas que vendiam aguardentes, vinhos e produtos secos e molhados, assim como os que exerciam ofícios, tirassem suas licenças no prazo de um mês, com penas acertadas pelos oficiais anteriores” 271. Sendo assim,

269

BNRJ, I – 32, 10, 5. Mapas estatísticos do Rio Grande do Norte. 1811-1826-1834. Mapa geral da Importação, Produção, Consumo, Exportação, o que ficou em ser, da População, Casamentos, Nascimentos e Mortes na Capitania do Rio Grande do Norte calculado o termo médio dos anos de 1811, 1812 e 1813. Doc. 12.

270

IHGRN, LTVSCN, Termo de Vereação de s/d de janeiro de 1682, cx. 03, lv. 1674-1698, fl. 42v-43.

271

estava previsto, pelos editais e acordos camarários, que as licenças de abertura de lojas e de ofícios careceriam ser regularizadas logo no início do ano, tendo em vista a sua gerência e vigilância por parte da câmara durante todo o ano.

As demais Câmaras da Capitania precisariam seguir o exemplo de sua congênere em Natal, já que o Senado da Câmara de Portalegre acabou condenando “Ana Maria Cabral, Miguel Pereira, Manoel Soares e Cosme Teixeira em 1$000 réis cada um por não terem tirado licença para se venderem suas vendas e tecerem plumas de algodão tendo para isso sido notificado em correição e não obedeceram” 272

. Mesmo notificados em correição que deveriam ir à Câmara retirar suas licenças de venda, eles não foram e, mesmo assim, continuaram a comercializar e tecer as ricas plumas de algodão – que, uma vez tecidas, seguiam para os portos do sertão, por meio de outros comerciantes que possuíam carroças e animais de carga.

Tal como os proprietários de lojas e tabernas eram obrigados a possuir licenças para abertura de comércio, os oficiais de ofícios mecânicos também necessitavam de licenças para o exercício do ofício e a venda dos produtos produzidos. De ofícios e conhecimento especializado, os mestres, oficiais ou aprendizes de sapateiro, ourives e alfaiates, por exemplo, deveriam registrar-se na câmara e tirar sua licença. Para a vigilância dos oficiais especializados e da qualidade de seus produtos ofertados, a Câmara passava provisão a um Juiz de Ofício, “para por eles serem encaminhados todos os oficiais que com lojas abertas trabalhassem, para que tenham precedente a provação de inteligência e idoneidade dos dados juízes” 273

.

Para melhor exemplificarmos a relação entre as licenças de ofício e comércio na

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