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INVENTÁRIO

ANIMAIS ESCRAVOS

Gadum Cabrum Cavalar TOTAL

1773 42 106 6 154 3

1786 303 - 23 326 8

1794 62 39 11 112 11

1798 27 - 4 31 3

de João Ferreira da Silva estivessem atrelados à venda dos animais e das carnes, tendo em vista o número de animais por cada escravo. Fazendas de animais variados e quantidade vultosa de escravos possuía Josepha Ferreira de Araujo, inventariada em 1794, deixando 30 cabras, nove ovelhas, sete bestas, sete bois, 35 novilhos e 20 vacas; esses animais estavam aos cuidados de 11 escravos, os quais também eram responsáveis por produzir queijos e manteiga do leite das vacas.

De acordo com Olavo de Medeiros, “a quantidade de escravos, para cada amo ou senhor, variava de uma, a trinta e duas peças. Os fazendeiros, dedicados exclusivamente à criação, possuíam uma menor quantidade de escravos”. Fato contrário aos que, além da pecuária, e dos subprodutos advindos dela, como a fabricação de queijos e manteiga, “também exploravam atividades agrícolas, possuíam-nos em maior escala, em uma média de dezoito escravos, em suas terras” 465

. Podemos perceber pela análise dos dados, que o número de escravos é proporcional ao número e à variedade de animais: no inventário de 1773, são 51 animais para cada escravo, sendo esses variados. Já no inventário de 1798, são 41 animais para cada escravo e, embora houvesse o mesmo número de escravos que no inventário de 1773 – ou seja, três escravos –, o plantel era quase que exclusivamente de bois e vacas, atingindo 87% do total dos animais inventariados.

O que nos parece fugir à regra é o inventário de 1799, no qual há poucos animais, pouca variedade dos mesmos e uma média de seis animais por cada escravo. Isso ocorre porque, no inventário de Gonçalo Borges de Andrade, constam terras para plantio, sendo provável que este produzisse farinha ou mesmo algodão.

Se por um lado, os caminhos do gado produziram rotas mercantis e ligações entre os diferentes pontos da América portuguesa, por outro, a constituição das fazendas promoveram a formação e consolidação de extensas porções de terras voltadas às atividades criatórias. Os produtos advindos dessa atividade produtiva colocaram a Capitania do Rio Grande do Norte em lugar de destaque nos circuitos mercantis coloniais, sejam eles dentro da própria colônia ou nos circuitos além-mar.

Extração.

465

Entre os anos de 1811 a 1813, a Capitania do Rio Grande do Norte produziu 376 arrobas de Almecica, sendo 41% destinada ao consumo já nesses anos, 39% ficando na Capitania para o comércio e consumo local e 20% sendo exportados para Pernambuco.

O Pe. Fernão Cardim, que esteve na América portuguesa, compôs uma obra baseada em relatos e cartas, num período que abrange de 1583 a 1590. Em Tratados da Terra e Gente do Brasil, o cronista afirma que Igcigca, icica ou almecegueira vem do termo tupi y-cyca, ou seja, água pegajosa, goma, resina. Esta árvore, a almecegueira, dá a almacega que é “uma goma resinosa aromática, translúcida e adstringente extraída da aroeira, almecegueira ou levantisco, usada em produtos farmacêuticos e vernizes”. De acordo com o cronista, a almécega “cheira muito” e para sua extração “dão-se alguns golpes na árvore, e logo em continente estila um óleo branco que se coalha; serve para emplastos em doenças de frialidade, e para se defumarem; também serve em lugar de incenso”. Fernão Cardim ainda afirma que a almecega é “dura como pedra, [...] e é tão dura e resplandecente, que parece vidro, e serve de dar vidro à louça, e para isso é muito estimada entre os Índios” 466. De acordo com a narrativa do padre, almicica e almecega ou almécega denominam a mesma coisa.

Para Antonio de Moraes Silva, almécega é uma resina tipicamente asiática, notadamente da Índia, já no Brasil é uma goma “tirada da árvore Issicariba ou almecega, da qual é brava, é a que dá almecega boa” 467

. Na explicação de Pedro Luis Napoleão Chervoniz, no seu Diccionario de medicina popular e das sciencias acessórias de 1890, a almecega habita, sobretudo, “Portugal nos arredores de Coimbra, Lisboa e outras partes do Reino”. No entanto, a almecega de que se faz uso nas farmácias “vem toda de Chio, ilha do arquipélago da Grécia, e obtém-se da árvore ali cultivada com muito cuidado” 468. Já a almecega cultivada no Brasil parece ser diferente das extraídas em Portugal, Índia ou Grécia.

De acordo com Pedro Chervoniz, no Brasil, chama-se vulgarmente de almecega as resinas que se extraem das “diferentes árvores do gênero Icica, que habitam, sobretudo, nas províncias do norte do Império, onde são conhecidas debaixo do nome de almecegueiras”. O autor ainda afirma que “a melhor é de consistência mole, de cor branca-alourada, de cheiro muito semelhante ao do funcho. Na farmácia dá-se o nome de elemi, entra na composição de alguns unguentos”. Cita também outros tipos de almecega como “seca e friável, de cor esbranquiçada, tem o cheiro de funcho, porém menos forte do que a espécie precedente; é

466

CARDIM, Fernão. Tratados da Terra e Gente do Brasil, p. 102-103.

467

SILVA, Antonio Moraes. Verbete: Almécega. Diccionario da lingua portuguesa, p. 100.

menos pura. Chamam-lhe vulgarmente breo branco e breo aromático, utiliza-se no calafeto dos navios”. Podemos perceber que a almécega ou almecica extraída na região norte da colônia não tem uma árvore específica de extração, mas sim um gênero de árvores, no caso as Icica.

O viajante inglês Henry Koster, em suas viagens pelas Capitanias do norte do Império, chama a atenção para a árvore almecegueira, que chega a atingir, às vezes, grandes alturas. “Da sua casca escorre um sumo resinoso, insolúvel na água [...]. Os indígenas colhem consideráveis quantidades dessa goma, vendendo-a de $20 a $40 réis por libra” 469. O cronista enumera variados usos que a almecica possui: medicinais quando aplicado à testa em forma de emplasto ou para aliviar dores de dente; doméstico quando utilizado para a fabricação de velas e para incensar ambientes; e de uso relevante às práticas mercantis quando aplicado à calefação de canoas, roda-água de engenhos de açúcar etc. Koster ainda comenta que a goma é conhecida por suas formas de benefício e utilização. Sendo alva e limpa “chamam-na almécega cozida, porque os indígenas que a colhem fazem-na ferver no propósito de retirar- lhe as impurezas, e fazem pães de 16 a 20 libras de peso”. Já a almécega crua, quando dissolvida, “pode ser usada na composição de alguns tipos de vernizes” 470

.

A almecica foi relevante às práticas mercantis coloniais da Capitania quando serviu tanto de produto para consumo e exportação como sua própria aplicabilidade que possibilitou a impermeabilização de canoas e barcos para os pescados, engrenagens e peças dos engenhos, assim como as próprias moradias, casas de engenho e estabelecimento das fazendas que eram, na maioria das vezes, de taipa.

Variados tipo de resinas arbóreas, gomas e ceras também foram extraídas e comercializadas na Capitania do Rio Grande do Norte. Entre 1811 a 1813, a Capitania produziu 31 arrobas de gomas e rezinas, exportando 23% e consumido e disponibilizando ao comércio local os demais 77% da produção. Assim como a almecica, essas gomas e resinas de extração vegetal ou de produção animal, no caso das colmeias de abelhas, serviam para a impermeabilização, fabricação de velas, lubrificantes e fins farmacêuticos.

De acordo com o Dicionário de Medicina Popular, publicado em 1890, cera seria uma substância “combustível, amarela, sólida, produzida pelas abelhas, [...] aparece no comércio com o nome de cera amarela ou bruta”. Pode tornar-se cera branca quando exposta ao ar e a água. Já a cera vegetal é produzida por diversas árvores, como a cera da carnaúba, “árvore do Brasil”, sendo que sua cera é “análoga à das abelhas, diferenciando-se somente por suas

469

KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil, p. 737.

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