• Nenhum resultado encontrado

Até o fim da Primeira Guerra Mundial os jornais impressos detinham o

monopólio da divulgação da notícia. A multiplicação dos meios informativos é um

fenômeno do século XX. Em 1920 surgiu a radiodifusão e em 1923 foi publicada a

primeira revista noticiosa semanal Time, ambas nos Estados Unidos. Entre as duas

guerras mundiais o cinema também tentou levar notícia à tela. A televisão

intensificou-se entre 1939 e 1945. A velocidade do rádio e da televisão roubou do

jornal o furo e a edição extra. Restou-lhe então o desafio de achar seu espaço como

forma de garantir a sobrevivência.

Essa necessidade de garantir a sobrevivência remete a idéia de que o

jornalismo moderno é filho direto do capitalismo e de seus interesses. Além de ser

veículo de informação e defesa social, o jornalismo também é usado como poderoso

instrumento de dominação e manipulação, um canal precioso de se transmitir

mensagens e se atingir, com comprovada eficiência, objetivos dispersos na

sociedade e que necessitam da colaboração desta para funcionar.

5.1 NOTÍCIA NO MEIO IMPRESSO: O QUE É? A QUEM SERVE?

A captação dos fatos e sua subseqüente organização lógica em um texto

formam a coluna vertebral do fazer jornalístico. Nilson Lage (1993, p. 21-22) define

três etapas do processo de produção de notícias. A primeira é a seleção dos fatos, a

segunda é a ordenação dos mesmos e a nomeação que se dá na descrição dos

acontecimentos é a terceira etapa. Mas, o que é notícia, afinal? A que interesses ela

serve?

Alguns teóricos são bastante categóricos na questão do interesse.

Enquanto uns o colocam única e exclusivamente por parte dos próprios jornalistas,

outros o deslocam para o consumidor. Outros ainda atribuem às empresas e ao

sistema capitalista. O que se evidencia, portanto, é a existência de um jogo do

poder.

Noticiar, portanto, seria o ato de anunciar determinado fato [...]. O anúncio de um fato está ligado ao interesse que ele possa vir a despertar. Na opinião de Herraiz, ‘notícia é o que os jornalistas acreditam que interessa aos leitores’. Mas acrescenta, irônico: ‘portanto, notícia é o que interessa aos jornalistas’ (SODRÉ & FERRARI, 1986, 17-18, grifo dos autores).

Por outro lado, Medina (1988, p.20) menciona em Notícia um produto à

venda, que um grupo de teóricos, com destaque para Raymond Nixon, “parte para a

análise do outro pólo de seleção que consideram mais determinante: o gosto do

público. Temos então uma seleção regulada pelos interesses do consumidor”.

Nota-se especialmente na formulação dos textos, nos apelos visuais e lingüísticos, na seleção das fotos, a preocupação em corresponder a ‘um gosto médio’ ou, em outros termos, em embalar a informação com ingredientes certos de consumo. (ibid. p. 75).

Marshall (2003, p. 37) segue a mesma linha de Medina e vai além porque

acredita que a notícia deixa de ser a representação simbólica dos fatos, deixando,

portanto, de cumprir sua missão de informar e passa a ser apresentada como um

produto híbrido, associada a publicidade, a persuasão, ao entretenimento, com uma

carga de intencionalidade não explicitada:

A notícia que jorra hoje nos noticiários de TV, rádio, jornal ou internet, em todo o globo, apresenta-se como uma casca. A informação não é ativa, não possui as causas e os porquês, não é incendiária nem mobilizadora. Como uma mercadoria, ela não tem o objetivo de despertar o sujeito e, mesmo que mostre os sinais de corrosão do sistema, não distribui os elementos necessários para a cristalização de uma opinião crítica contestadora.

Um pouco mais idealista Noblat (2003, p. 41) prefere dizer que “notícia é

todo fato que possa despertar o interesse dos leitores ou de parte dos leitores de um

jornal”. Assim como Travancas (2001, p.36) cita uma série de conceituações sobre o

tema. Ela afirma que notícia “é todo fato social destacado em função de sua

atualidade, interesse e comunicabilidade”. Aposta numa “compilação de fatos e

eventos de interesse ou importância para os leitores do jornal”. Garante que “é a

informação atual, verdadeira, carregada de interesse humano capaz de despertar a

atenção e curiosidade de grande número de pessoas”. Para ela informar é escolher.

A autora salienta:

O texto jornalístico não está amarrado à idéia de originalidade, mas tem a obrigação de trazer uma novidade, já que a essência da imprensa é a notícia. É ela o produto mais importante do jornal e a forma de apresentá-la, redigi-la e elaborá-la é que diferencia os veículos [...] essa dependência da realidade, do verossímil é uma das características do jornalismo que tem compromisso com a atualidade. (ibid. p. 62-63).

Para Marcondes Filho (1989, p.19) notícia é na verdade o que interessa

ao capitalismo. A possibilidade de escolha a que se refere Travancas, para

Marcondes Filho é um processo de manipulação que gera o falseamento da notícia

e sua produção fragmentada. Segundo ele, “as notícias são transformadas em

shows pela indústria da informação [...]”

A produção fragmentada de notícias, assim, é uma técnica também mercadológica. Opera-se nesse caso, a desvinculação da notícia de seu fundo histórico-social, e, como um dado solto, independente, ela é colocada no mercado da informação; são destacados aspectos determinados (o sensacional, a aparência do valor de uso) e outros permanecem em segundo plano. [...] O processo de personalização dos fatos sociais e das notícias em geral, levado a efeito pela imprensa, está intimamente associado ao mecanismo da intimização das questões públicas, da bagatelização dos fatos e do culto à personalidade. [...] Na personalização espelha-se a matriz do discurso burguês, de forma geral, tal como se vê também na historiografia e nas ciências sociais. [...] a personalização dos fatos sociais e jornalísticos está no núcleo da explicação histórica burguesa. (ibid. p. 41-43).

Proença Filho (2000, p.23-24) propõe outro ângulo para a questão da

escolha “Ao assumir o discurso, o indivíduo busca escolher os meios de expressão

que melhor configurem suas idéias, pensamentos e desejos. Essa escolha é que

caracteriza o estilo”. Para conceituar estilo o autor afirma:

[...] o aspecto particular que caracteriza a utilização individual da língua e que se revela no conjunto de traços situados na escolha do vocabulário, na ênfase nos termos concretos ou abstratos, na preferência por formas verbais ou nominais, na propensão para determinadas figuras de linguagem, tudo isso estreitamente vinculado à organização do que se diz ou escreve e a um intento de expressividade. (ibid. p. 23-24).

Nilson Lage (1993, p.25), assegura que a “notícia pode comover, motivar

revolta ou conformismo, agredir ou gratificar alguns de seus consumidores”, pois

ainda segundo ele “não se faz jornalismo fora da sociedade e do tempo histórico”

(ibid. p. 42).

Sem a ingenuidade de acreditar que é possível a prática de um jornalismo

totalmente desvinculado do capital, mas com esperança que o profissional possa

compor seu estilo com certa liberdade e consiga encontrar um espaço que não seja

totalmente servil à indústria da informação. Porque que é de gente, e não de coisa,

que se fala, que neste trabalho se adota o conceito proposto por Travancas:

O texto jornalístico não está amarrado à idéia de originalidade, mas tem a obrigação de trazer uma novidade, já que a essência da imprensa é a notícia. É ela o produto mais importante do jornal e a forma de apresentá-la, redigi-la e elaborá-la é que diferencia os veículos[...] essa dependência da realidade, do verossímil é uma das características do jornalismo que tem compromisso com a atualidade. (Ibid. p.62-63).

5.2 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA

Existe uma crença arraigada de que o leitor de jornal não tem tempo

disponível para ler todas as notícias do informativo. “O homem moderno tem pressa,

tem pouco tempo, quer receber o máximo de informações no menor tempo possível”

(TRAVANCAS, 2001, p. 22). Como ensina Santaella (2001, p. 24), a passagem do

século XX para o século XXI trouxe a reboque novidades antes inimagináveis.

Vivemos a era da cibercultura

10

, da comunicação digital, que não tolera a perda de

um segundo que seja.

Por esta razão, duas medidas foram tomadas: a adoção de títulos

atraentes a fim de seduzir quem passar os olhos pela chamada, e a criação do lead,

ou cabeça em inglês, que traz o cerne da notícia logo no início, para o caso da

pessoa não ter tempo de continuar a ler a informação.

Para estruturar a notícia, a grande tendência da imprensa brasileira é

empregar a técnica da pirâmide invertida, que prende a atenção do leitor, e permite

que ele se inteire dos principais fatos, mesmo que não leia todo o texto. Além disso,

essa técnica facilita a diagramação e a paginação: se a matéria estourar (matéria

maior que o espaço físico do jornal), podem ser cortadas as suas linhas de baixo

para cima, sem prejudicar o sentido do texto.

Esta técnica é receita do jornalismo norte-americano que o jornalismo

brasileiro passou a adotar desde que deixou de possuir caráter literário e totalmente

10

Cibercultura: O termo veio rebatizar e dar novas características ao que se chamava ate então de pessoas ligadas à “esfera de dados”. A cibercultura tem como pano de fundo as novíssimas tecnologias em especial as relacionadas a comunicação digital, realidade virtual e a biotecnologia. Disponível em: <http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/keniareis/dicionarioinfo002.asp>. Acesso em: 10 nov. 2005.

partidário e passou a se definir como jornalismo moderno. À exceção da Inglaterra

os países da Europa não seguem esse padrão.

O lide é adotado no Brasil de acordo com a síntese acadêmica de Laswell

(quem fez o que, a quem, quando, onde, como, por quê), de forma que as seis

perguntas básicas devem ser respondidas logo no primeiro parágrafo, para que o

leitor tenha acesso ao principal da informação de maneira rápida. Entender o lide é o

primeiro passo para delinear o que seja o esqueleto de uma informação repassada

pela mídia impressa. É a partir desta cabeça que o restante do material jornalístico é

disposto. É uma fórmula que estende seu raio de ação para muito além do início da

matéria a ser lida.

A organização jornalística supera o campo semântico ou lingüístico, se

alojando também em aspectos gráficos, na disposição física no produto jornal, que

adquire importância quando se avalia o efeito de uma notícia sobre o público e sua

validade como instrumento de informação e transporte de ideologia. A imprensa

brasileira criou e adicionou o sublide, que é o segundo parágrafo ou correspondente

ao segundo lide, e que apresenta a segunda informação em ordem de importância.

Contingências gráficas levaram os jornais brasileiros a preferir uma distribuição peculiar da matéria, com dois parágrafos precedendo o primeiro entretítulo. O segundo parágrafo ganhou o nome de sublide e é, com freqüência, o lide correspondente ao segundo evento em importância (LAGE, 1993, p.37).

Para que o leitor possa encontrar os assuntos de seu interesse com mais

agilidade, há a divisão das várias partes do periódico, são as editorias. Em certos

periódicos, há ainda a subdivisão com cadernos ou suplementos dirigidos a públicos

específicos.

Documentos relacionados