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7 A LINGUAGEM JORNALÍSTICA NA IMPRENSA GOIANA: ANÁLISE E

7.2 A PALAVRA CERTA NO LUGAR CERTO

Porque as palavras são traiçoeiras. Os sinônimos, por exemplo, em certas situações, ao invés de nos ajudar, deitam a perder todo um esforço na busca da expressão correta. Isto porque não há duas palavras que exprimam exatamente a mesma coisa. (BURNETT, 1976, p. 45).

Ser preciso, segundo Alceu Leite Ribeiro (2003, p.132), é usar o sentido

exato dos vocábulos. Das 97 matérias analisadas sete matérias não primaram pela

precisão. O jornal O Popular apresentou três matérias imprecisas num total de 38

analisadas e o Diário da manhã apresentou quatro matérias imprecisas num total de

59 analisadas.

“Sem-teto reclama de frio e fome no Grajaú”, reportagem de Isabel

Czepak, publicada no O Popular em 12 de julho de 2005.

[...] Os sem-teto se queixam que os 500 litros de leite e 2 mil pães distribuídos diariamente pela Secretaria de Cidadania, apesar de serem completados com leite em pó fornecido pela igreja, são insuficientes para alimentar mesmo as crianças menores de seis anos, que deveriam ser beneficiadas com o fornecimento dos alimentos. Atualmente, 649 crianças dessa faixa etária estão no acampamento. Ou seja, quase metade fica sem. [...].

O vocábulo sequer no lugar do vocábulo mesmo tornaria a construção a

seguir mais precisa “[...] são insuficientes para alimentar mesmo as crianças

menores de seis anos, que deveriam ser beneficiadas com o fornecimento dos

alimentos”.

A repórter Carla Borges não foi suficientemente precisa ao usar a palavra

agressiva na sua matéria “Jovem infrator é desafio nos 15 anos do ECA”, publicada

no O Popular em 13 de julho de 2005. Mesmo que tenha sido uma interpretação da

repórter para a fala do entrevistado o mais indicado seria a palavra austera.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, avalia que o País está carente de políticas agressivas em favor das crianças e adolescentes. ‘As munições do ECA não têm sido eficazes para vencer as mazelas a que elas são submetidas’, diz.

Na reportagem “Policiamento faz cair índices de violência – Em janeiro

deste ano, foram registradas 85 ocorrências de crimes contra 209 no mesmo período

de 2003, uma queda de aproximadamente 60%”, publicada no O Popular em 13 de

julho de 2005, a repórter Rosane Rodrigues da Cunha não foi precisa ao utilizar a

palavra apenas na afirmação a seguir:

Apenas no primeiro mês da nova forma de policiamento, que faz a

integração da Polícia Militar com a comunidade, os roubos, assaltos, estupros e outros casos de violência na região caíram cerca de 60%. Em janeiro de 2004, foram registradas 142 ocorrências – um ano antes, esse número chegou a 209. Em janeiro deste ano, o registro não passou de 85 casos. A criminalidade na Região Leste continua em queda, [...](Grifo nosso)

Apenas dá a idéia de que só no primeiro mês do novo policiamento a

violência diminuiu, quando o texto deixa claro que foi a partir de. O correto seria ter

aberto o parágrafo com a palavra já “Já no primeiro mês [...]”

A matéria intitulada “Carajá suspeito – Polícia investiga morte de índio

javaé - embriaguez teria motivado crime”, da repórter Pollyana Pádua, publicada no

dia 11 de julho de 2005 no jornal Diário da Manhã emprega indevidamente os

vocábulos “foi morto pelo”, pecando contra a precisão. O correto seria “suspeito de

ter sido morto pelo”, já que nem mesmo a versão oficial apontou o autor porque as

investigações ainda não terminaram.

A repórter faz ainda outras imputações de culpa ao empregar

indevidamente os vocábulos “Após atacar [...], arrastou [...] e colocou fogo”. O

correto seria dizer ‘suspeito de’ para todas as ações atribuídas.

Na madrugada de ontem, Célio Adjiriwê Figueiredo, 22, filho de uma índia javaé, foi morto a golpes de faca pelo índio carajá Ebe Tirawa, 20, após uma provável briga entre eles. A Polícia Civil encontrou garrafas de pinga no barracão em que Ebe morava, no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, onde ocorreu o crime. O suspeito foi visto pela última vez pelo vigia da Casa do Índio da Fundação Nacional do Índio (Funai), na manhã de ontem, com ferimentos na cabeça e no ombro.

De acordo com o delegado plantonista da Delegacia de Homicídios, Ailton de Ligório, Célio morreu por volta das duas horas da madrugada de domingo com cinco facadas no tronco. Após atacar Célio, Ebe arrastou o botijão de gás para a porta do barracão e colocou fogo no recipiente. Os vizinhos perceberam o princípio de incêndio e com o auxílio de uma pá retiraram o registro do botijão. Eles dizem não ter visto ninguém ou notado qualquer outro movimento suspeito antes do incidente [...].

Na notícia “Cabeça quente no trânsito”, publicada em 13 de julho de 2005

no Diário da Manhã, a repórter Priscylla Dietz pecou contra a precisão ao usar o

termo cão do revólver quando faz a narrativa da luta corporal entre autor e vítima:

“Paulo teria apontado a arma para Ricardo, que reagiu ao atentado segurando o cão

do revólver, que estava carregado”. O termo correto seria cano do revólver.

Imprecisão no uso da palavra arma na matéria “Menores tomam a direção

nas férias”, também da repórter Priscilla Dietz, publicada em 13 de julho de 2005,

especialmente porque no contexto arma está ligada a palavra diálogo. Diálogo

costuma ser estratégia. Até porque a própria matéria induz o leitor a pensar que

menor de idade ao volante é uma arma. Ora, se o pai utilizou o diálogo para

convencer seu filho, menor de idade, sobre o perigo de dirigir sem habilitação, o fez

como estratégia.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) flagrou, de janeiro a junho deste ano, nove menores conduzindo veículos em rodovias federais que cortam o Estado. Destes casos, três foram registrados nos últimos cinco dias. O inspetor Newtom Morais, da PRF, acredita que esse aumento possa estar relacionado ao período de férias escolares. ‘O menor fica sem ocupação e pode se animar com a idéia de dirigir. Por isso os pais não podem facilitar o acesso ao volante’, orienta. O diálogo foi a arma usada pelo pai do menor Guilherme (nome fictício), 16. Ele começou a dirigir aos 13, a partir de dicas de um primo e de observações de como agiam outros condutores. Ele conta que durante três anos pegou o carro escondido do pai. Mas há dois meses, depois de ir ao colégio da namorada, acabou descoberto por vizinhos de sua casa, que contaram o ocorrido aos pais dele. ‘Meu pai e eu tivemos uma conversa muito séria e ele explicou sobre os perigos de eu estar dirigindo sem habilitação. Hoje não pego mais o carro e resolvi esperar os dois anos para tirar a carteira’ garante o garoto. [...]

A notícia “Alunos inscritos na UEG

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devem confirmar matrícula até dia

22”, da redação, publicada no Diário da Manhã em 13 de julho de 2005, pecou pela

utilização indevida da expressão “de se rematricular” ao invés de comparecer, pois

no contexto abaixo, se o aluno estivesse impedido de se rematricular não haveria a

necessidade de constituir procurador.

[...] e nos dias 21 e 22 é a vez dos alunos de Química Industrial, Farmácia, Engenharia Agrícola e Arquitetura e Urbanismo. Caso o aluno esteja impedido de se rematricular, a confirmação de matrícula pode ser feita por qualquer pessoa, mediante procuração e RG do procurador.

Então, com o emprego do termo correto a narrativa ficaria assim: “Caso o

aluno esteja impedido de comparecer, a confirmação de matrícula pode ser feita por

qualquer pessoa, mediante procuração e RG do procurador”.

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