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2.1 Gestão de Recursos Hídricos

2.1.3 A Nova Política Nacional de Irrigação

A Nova Política Nacional de Irrigação apresentou novos instrumentos de gestão e encontra-se ainda em processo de regulamentação. Seus instrumentos estão em fase de elaboração, estudo e/ou implantação. Um dos referidos instrumentos, o Plano Diretor Nacional de Irrigação, que visa orientar o planejamento e a implementação da Política Nacional de Irrigação, ainda está sendo elaborado pelo Ministério de Integração Nacional. Este plano deve trazer um diagnóstico das áreas com aptidão para agricultura irrigada e apontará soluções para seu incremento.

Dentre os princípios da nova Política Nacional de Irrigação, destacam-se o uso e manejo sustentável dos solos e dos recursos hídricos destinados à irrigação; a integração com as políticas setoriais de recursos hídricos, de meio ambiente, de energia, de saneamento ambiental, e de crédito e seguro rural. Dá-se ênfase também à articulação entre as ações das diferentes instâncias, federal e estadual, bem como com as ações do setor privado; à gestão democrática e participativa dos projetos públicos de irrigação, ainda a ser regulamentado, bem como à prevenção de endemias rurais de veiculação hídrica (BRASIL, 2013).

A Política Nacional de Irrigação tem uma gama de objetivos a serem alcançados, porém, dois deles merecem destaque: a ampliação da área irrigada e o aumento da produtividade em bases ambientalmente sustentáveis. Outros objetivos desta política não menos importantes são:

• a redução dos riscos climáticos inerentes à atividade agropecuária, principalmente nas regiões sujeitas a baixa ou irregular distribuição de chuvas;

• a promoção do desenvolvimento local e regional, com prioridade para as regiões com baixos indicadores sociais e econômicos;

• o aumento da competitividade do agronegócio brasileiro e para a geração de emprego e renda;

• o abastecimento do mercado interno de alimentos, de fibras e de energia renovável, bem como para a exportação;

• a capacitação de pessoal e o fomento à geração e transferência de tecnologias; • e o incentivo de projetos privados de irrigação.

A nova Política Nacional de Irrigação sugere claramente a integração da agricultura irrigada aos processos produtivos relacionados ao agronegócio, ao incentivo à produção para exportação e ao estímulo a projetos privados de irrigação. Para alcançar tais objetivos, foram criados instrumentos específicos, tais como incentivos fiscais e certificações (BRASIL, 2013).

Políticas de tributação extrafiscal podem ser empregadas para assegurar a competitividade do produto brasileiro. Através de incentivos fiscais, tais como o crédito e o seguro rural, os produtores podem ser favorecidos em termos de obtenção de preços competitivos no mercado interno e externo. Um exemplo que pode ser dado é a isenção do ITR (Imposto Territorial Rural) para as unidades de produção irrigada de forma a reduzir os custos de produção.

Outro instrumento interessante trazido pela Nova Política Nacional de Irrigação é a certificação quanto ao uso racional dos recursos hídricos disponíveis, incluindo os aspectos quantitativos e qualitativos associados à água e à tecnologia de irrigação, podendo gerar benefícios do governo. A existência de Projetos de irrigação certificados pode representar maior valor agregado à produção.

Embora tenha sido criado para regulamentar a antiga Política Nacional de Irrigação de 1979, o Decreto nº 89.496, de 29 de março de 1984, não foi revogado. Assim, referido decreto ainda pode ser utilizado para compreender diversos aspectos da Nova Política Nacional de Irrigação. Suas disposições detalham funcionamento e estrutura dos projetos de irrigação.

Conforme classificação prescrita no citado Decreto, podem os projetos ser públicos ou privados, de forma que, nos primeiros, a infraestrutura de irrigação é projetada, implantada e operada pelo poder público; enquanto que, nos últimos, a infraestrutura fica sob a responsabilidade dos particulares. O Decreto define ainda que os perímetros públicos devem ser

implantados em terras do patrimônio público e serão sempre divididos em lotes de dimensões variáveis (BRASIL, 1984).

O Art. 43 deste decreto estabelece que os irrigantes devem se submeter ao pagamento de uma tarifa de composição binária, cujas partes são, usualmente, denominadas de K1 e K2. A parcela K1 corresponde à amortização dos investimentos públicos em obras de infraestrutura de irrigação de uso comum, enquanto a parcela K2, equivale ao valor das despesas de administração, operação, conservação e manutenção das infraestruturas. Enquanto o K1 é definido com base na área irrigável, o K2 é calculado para cada mil metros cúbicos de água fornecida ao usuário (BRASIL, 1984).

Urge salientar que a parcela K2 é diferente do valor cobrado pelo uso de água bruta, uma vez que a primeira varia em função das despesas em infraestrutura do projeto de irrigação, portanto, assumindo valores diferentes para cada perímetro irrigado.

Do ponto de vista jurídico, o fato gerador do pagamento do K2 é a condição de beneficiário de unidade produtiva de projeto de irrigação. Segundo o decreto nº 89.496/1984, o usuário, ainda que não utilize água para irrigação, deverá pagar, no mínimo, 30% do consumo previsto para o ano, que corresponde ao K2.

Já a cobrança pelo uso de água bruta é definida no âmbito da bacia hidrográfica para cada categoria de usuários, neste caso, o irrigante. Desta forma, o irrigante em atividade, ou seja, que estiver fazendo uso da água para irrigação, deverá se submeter ao K2 e à cobrança pelo uso da água bruta, cumulativamente.

Sendo assim, irrigantes de diferentes projetos de irrigação dentro de uma mesma bacia hidrográfica podem estar sujeitos a valores de tarifa K2 diferentes, porém se submeterão ao mesmo valor de tarifa pelo uso da água bruta, desde que tenham faixas de consumo equivalente.

O Quadro 1 abaixo apresenta algumas diferenças entre a Tarifa K2 e a Tarifa de Cobrança pelo Uso da Água:

Quadro 1 - Comparação entre Tarifa K2 e Tarifa pelo uso da água bruta. Elaborado pelo autor.

TARIFA K2 TARIFA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA

FUNDAMENTO LEGAL Art. 42, § 2°, do Decreto n° 89.496/1984 Art. 5°,§ IV, da Lei nº 9.433/1997 ÁREA DE ABRANGÊNCIA Projeto de Irrigação Bacia Hidrográfica

NATUREZA JURÍDICA Coeficiente que compõe Preço Público (remuneração pela prestação de serviço)

Remuneração pelo uso de bem de domínio público

DESTINAÇÃO DOS RECURSOS

Custos variáveis de administração, operação, conservação e manutenção das infraestruturas do perímetro irrigado

Os valores arrecadados serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram utilizados e serão utilizados no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de Recursos Hídricos; e no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do SNGRH. SUJEITO ATIVO DA

PRESTAÇÃO

Gestor do Projeto Público de Irrigação Agências de Água FORMA DE OBTENÇÃO

DO VALOR

Consumo de água por 1000m³ Volume retirado (No caso do Ceará, a tarifa é obtida pelo consumo medido ou estimado em 1000m³

Fonte: Elaborado pelo autor.