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2 BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DO DESENVOLVIMENTO

2.1 Alguns apontamentos sobre a síntese da História da Educação

2.1.9 A Nova República: A Constituinte de 1987 e a Educação na nova

Indubitavelmente a Constituição de 1988 trouxe grandes avanços no que tange ao direito à educação. Então, oportuno mencionar a ampla discussão desse assunto durante a Assembleia Nacional Constituinte, que fora instalada em 1º de fevereiro de 1987 e que provocou intensa articulação dos diversos setores da sociedade.

Relata João Baptista Herkenhoff que “o tema educação teve especial relevância no debate popular que antecedeu e que acompanhou o período de reunião da Assembléia Nacional Constituinte”, mobilizando professores, funcionários de escolas e estudantes137.

No mesmo sentido, Maria Francisca Pinheiro afirma que “a educação foi um dos temas mais discutidos e em torno do qual diversas atividades foram realizadas para definir os princípios da nova Carta.”138. Dentre as articulações

135 Cf. MALISKA, 2001, op. cit., p. 35. 136 Art. 8º Compete à União:

[...]

XIV - estabelecer e executar planos nacionais de educação e de saúde, bem como planos regionais de desenvolvimento;

[...]

XVII - legislar sôbre:

q) diretrizes e bases da educação nacional; normas gerais sôbre desportos;

137 HERKENHOFF, João Baptista. Dilemas da educação: dos apelos populares à Constituição. São Paulo: Cortez, 1989, p. 27

138 PINHEIRO, Maria Francisca. O público e o privado na Educação: um conflito fora de moda? In: FÁVERO, Osmar. A educação nas constituintes brasileiras 1823-1988. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2001, p. 259.

ocorridas nesse processo, a autora139 destaca aquelas entre o ensino público e o

privado, das quais se originou, em defesa da escola pública, o Fórum de Educação na Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito.

Quinze entidades nacionais participaram do Fórum, dentre as quais: a Associação Nacional de Educação (ANDE), a Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior (ANDES); a Associação Nacional de Profissionais de Administração da Educação (ANPAE); a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED); o Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES); a Federação Nacional de Orientadores Educacionais (FENOE); a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES); a Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas (SEAF); a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT); a Confederação dos Professores do Brasil (CPB); a Central Única dos Trabalhadores (CUT); a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Federação dos Servidores das Associações das Universidades Brasileiras (FASUBRA).

Essas entidades participantes do Fórum subscreveram a “Proposta Educacional para a Constituição”, que continha as posições comuns entre as entidades. Segundo Pinheiro:

Os princípios gerais que orientaram o documento do Fórum foram: a defesa do ensino público laico e gratuito em todos os níveis, sem nenhum tipo de discriminação econômica, política ou religiosa; a democratização do acesso, permanência e gestão da educação; a qualidade do ensino; o pluralismo de escolas públicas e particulares.

Além do Fórum, os debates sobre a educação foram ampliados nos encontros da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (FENEN) e das Escolas Confessionais.

Durante o processo da Assembleia Nacional Constituinte, os grandes questionamentos acerca da educação se deram, principalmente, em torno da destinação das verbas públicas, da facultatividade ou não do ensino religioso, da gratuidade do ensino em todos os níveis etc.

139 Idem, ibidem.

Em meio a negociações e pressões, aprovado o texto, vislumbra-se uma nova era educacional, a partir da Nova Carta Política.

No texto constitucional, então, são encontrados vários comandos acerca do direito à educação, achando-se dispositivos esparsos tratando do assunto, além da Seção I do Capítulo III que dispõe especificamente sobre o direito à educação (do artigo 205 até o 214), que trataremos mais detalhadamente em tópico posterior.

Numa breve síntese, de acordo com um critério numérico-crescente, analisando alguns dos artigos que estão fora do capítulo específico, o primeiro que fala claramente sobre educação na Carta de 1988 é o artigo 6º, o qual dispõe sobre os direitos fundamentais sociais. Em seguida, os artigos 22, 23, 24 e 30 tratam sobre a competência da União, Estados e Municípios no que se refere à educação. Em matéria de competências na área educacional, ensina Nina Beatriz Ranieri140:

No campo da educação, a repartição constitucional de competência e encargos aponta uma descentralização vertical. No plano dos encargos é enfatizada a cooperação entre os órgãos federados, para o oferecimento da educação fundamental, discriminando-se ainda áreas específicas de atuação. No plano das competências legislativas, sobrepõe-se a União aos demais entes.

Depois, os artigos 34 e 35 tratam, respectivamente, da intervenção da União nos Estados e no Distrito Federal, e da intervenção dos Estados e da União nos Municípios em razão da não-aplicação do mínimo de recursos exigidos na manutenção e no desenvolvimento do ensino. É cediço que, num sistema federativo, a intervenção de um ente federativo em outro tem de ser medida de exceção, daí se nota quão grande foi a importância dada pelo Constituinte à educação, uma vez que determinou até mesmo essa medida extrema, caso não fossem direcionados a ela os recursos mínimos estabelecidos no artigo 212 da Lei Fundamental vigente.

No artigo 150 observa-se a imunidade tributária concedida aos estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos e no artigo 201 o regime de aposentadoria especial para os professores, privilegiando e incentivando a docência

140 RANIERI, Nina Beatriz. Educação superior, direito e Estado na Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96). São Paulo: EDUSP, 2000, p. 89.

na educação básica. Também cabe observar que a autonomia universitária está disposta no artigo 207.

Nota-se, ainda, no artigo 218 que os Estados e o Distrito Federal têm a possibilidade de vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. Já o artigo 225 registra a preocupação do Constituinte com promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino.

Necessário, ainda, atentar, para o artigo 227 que dispõe sobre o dever da família, da sociedade e do Estado em assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à educação, o que será analisado mais profundamente em capítulo posterior. Ademais, o parágrafo primeiro do artigo 242 estabelece que o ensino de História deve levar em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.

Por fim, é imperativo mencionar o artigo 60 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, que cria o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).

Considerando a fala de Paulo Freire, de que “os seres humanos são seres históricos e a educação é também um evento histórico. Isto quer dizer que a educação muda no tempo e no espaço”141, no próximo tópico abordar-se-ão alguns

aspectos da educação brasileira atual, destacando seus princípios e objetivos, além de sua previsão no ordenamento jurídico pátrio.

141 FREIRE, 2014, op. cit., p. 26.

3 EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA ATUALIDADE: ALGUNS PRINCÍPIOS E