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A OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE E AS ENTREVISTAS

Diagrama 6. VIVENDO A EXPERIÊNCIA DO ADOECIMENTO, MULHERES E

3 APRESENTANDO O REFERENCIAL METODOLÓGICO

3.6 A OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE E AS ENTREVISTAS

A coleta de dados empíricos foi realizada através de observação não participante e entrevista no período de maio de 2011 a setembro 2012.

Para Turato (2003) a entrevista é um “[...] encontro interpessoal estabelecido para obtenção de informações verbais ou escritas, sendo instrumento para conhecimento, assistência ou pesquisa” (TURATO, 2003, p.309). Nesse sentido, os encontros foram capazes de constituir momentos de troca de conhecimento entre pesquisadora e pessoas entrevistadas.

Outra técnica empregada no estudo foi a observação participante. As técnicas observacionais num percurso investigativo permitem obter respostas impossíveis de alcançar somente, por exemplo, pela utilização da técnica da entrevista. Apresenta como uma grande vantagem a ser realizada em meio natural, o que proporciona a obtenção de

descrições detalhadas sobre o que se está a estudar. Exige tempo e cuidado do (a) investigador(a) para que a sua presença não altere o normal desenvolvimento do evento.

Para esta coleta, a observação foi manejada em aspectos de permitirem obter as notas de campo, que são anotações resultante de observações não sistematizadas e representaram os esforços para recordar alguma informação e contribuir para a compreensão dos dados. Portanto, se incluíram à descrição de observações e comentários ou interpretações do observado, ouvido e sentido nos encontros. Privilegiou-se ainda aspectos como a aparência, tipo e estado do vestuário, formas de falar e o contexto onde decorreram as observações e as entrevistas.

Na abordagem aos sujeitos e na condução das entrevistas, foi utilizada uma linguagem clara e objetiva. Na oportunidade, as pessoas foram informadas de que não havia respostas certas, pois, na entrevista, o que importava era sua experiência de adoecimento.

Através dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) chegou-se às primeiras pessoas adultas com doença falciforme da cidade de São Francisco do Conde. Não foi constituído um número pré-determinado de entrevistas, à medida que os ACS informavam a presença de pessoas com doença falciforme na sua microárea de atuação de posse do nome e telefones entrava-se em contato para marcar uma primeira visita e apresentar o projeto. As entrevistas foram realizadas conforme a disponibilidade das pessoas em seus domicílios, após agendamento prévio e apresentação dos objetivos da pesquisa.

Todas as pessoas entrevistadas foram receptivas desde o início da pesquisa. No entanto, uma, inicialmente, não aceitou de imediato justificando uma experiência anterior, em que colaborou com uma entrevista em seu domicílio e no dia da entrevista chegaram dez pessoas vestidas de branco do serviço público de saúde do bairro.

A escolha pela realização da entrevista no domicílio deu-se pelo fato de que permitiria uma maior aproximação da pesquisadora com os sujeitos, possibilitando a observação dessas pessoas no seu ambiente familiar. Apenas uma participante do estudo considerou que não teria privacidade na sua própria residência nem no serviço de saúde e portanto a entrevista deu-se em outro local.

Alguns contatos telefônicos foram registrados como notas de observação, pois, neles as pessoas relataram ocasionalmente situações consideradas como relevantes (Ex. presença de crises, comparecimento em consultas, internações entre outros) como revela o exemplo a seguir:

Durante um telefonema realizado para confirmar a realização da entrevista a pessoa que atendeu a ligação telefônica era a mãe do possível entrevistado e esta refere que seu filho encontra-se no ambulatório realizando curativo e que todos os dias à tarde ele estaria no serviço de saúde realizando tal procedimento.

(Nota de observação, contato telefônico, 07/06/2011).

Importante registrar a distribuição geográfica dessas pessoas no município de São Francisco do Conde, onde a grande maioria mora em locais muito distantes do centro da cidade. Das doze pessoas entrevistadas apenas duas moram no centro da cidade as demais nos distritos vizinhos. O acesso a essas residências ocorreu por transporte terrestre carro, ônibus e motocicleta e o acesso marítimo à ilha foi através de canoa. Facilitou a coleta nesses locais o fato da pesquisadora conhecer a região desde a infância e a disponibilidade da secretaria de saúde, agentes comunitários e população da cidade.

Previamente às entrevistas, todas as pessoas foram esclarecidas quanto às finalidades e contribuições do estudo para então, consentirem em participar voluntariamente do mesmo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O termo propõe o respeito à autonomia e defende a vulnerabilidade das pessoas; o compromisso com o máximo de beneficio e o mínimo de danos e riscos (beneficência) e garantia de que os danos previsíveis serão evitáveis (não maleficência).

Foi solicitada a todas as pessoas entrevistadas que lessem e assinassem o TCLE (Apêndice A). Algumas pessoas solicitaram ouvir a gravação da própria entrevista ou parte dela, e a todos que solicitaram, foi possível ouvir a entrevista e acrescentar algo que desejassem incluir no seu relato. Foram realizadas duas entrevistas com cada pessoa entrevistada na cidade de São Francisco do Conde.

O roteiro da entrevista constou de duas partes: a primeira para levantamento dos dados sociodemográficos e caracterização e a segunda parte de perguntas abertas ( Apêndice B). As primeiras entrevistas tiveram a seguinte questão inicial como norteadora: Conte-me como o Sr. /Sra. descobriu que tinha doença falciforme? Como é para o Sr./Sra. a experiência com a doença falciforme? As questões norteadoras apenas direcionaram o ponto do estudo a ser explorado. Novas questões foram acrescentadas, em seguida, com intuito de esclarecer e fundamentar a experiência (Apêndice C).

Strauss e Corbin (2008) afirmam que entrevistas menos estruturadas, apenas com diretrizes gerais, permitem que os informantes tenham liberdade para discorrer sobre o que é importante para eles. Esses autores relatam que as perguntas obtidas servirão de base para a coleta de dados adicionais.

Desse modo, seguindo os procedimentos indicados na Teoria Fundamentada nos Dados, buscou-se incluir, nas entrevistas os pontos relevantes que emergiram das categorias resultantes da análise dos dados, para complementação dos dados e maior exploração de aspectos pertinentes da pesquisa.

Procurou-se esclarecer aspectos ambíguos ou obscuros relatados na entrevista, antes que esta se encerrasse. Quando necessário, os participantes eram convidados a ser entrevistados mais de uma vez. Após realização de cada entrevista esta foi transcrita na integra e realizada a análise dos dados. Esse processo de coleta e análise simultânea de dados é chamada por Creswell (2007) de ‘Zigzag’, pois, para ele, o pesquisador vai a campo, coleta dados, vai ao seu escritório analisa os dados, gera categorias, retorna ao campo, compara, gera novas categorias e/ou confirma categorias já encontradas, em um processo de vai e vem até que nada de novo apareça, permitindo, assim, definir um arcabouço conceitual que possibilitará gerar uma teoria.

Figura 2. Zigzag: O processo de análise da Grounded Theory. Adaptado da descrição

Houve reestruturação do instrumento, com mudança no foco das perguntas no intuito de melhor explorar e especificar a realidade investigada sem ferir a questão de pesquisa, mais com objetivo de melhor se aproximar do entendimento das pessoas.

No segundo grupo amostral composto por cinco pessoas objetivou-se aprofundar algumas categorias e identificar o impacto de morar no centro da cidade para a sua experiência do adoecimento e de cuidado na DF. Estas entrevistas se constituíram em perguntas mais estruturadas.

Coleta de

dados dos dados Análise de categorias Emergência das categorias Seleção principais

Proposições ou hipóteses

TEORIA Participantes Amostragem teórica

Identificação das categorias principais Códigos

abertos Vai e vem a campo

As entrevistas duraram entorno de 40 a 80 minutos e foram gravadas e transcritas na íntegra incluindo falsos começos, repetições, expressões, espaços temporais, tais como silêncio e sobreposições da fala (CHARMAZ, 2009).

Além da entrevista, outras estratégias para aquisição dos dados foram utilizadas no estudo. A observação do funcionamento dos serviços no qual essas pessoas são atendidas nos seus municípios, bem como da dinâmica familiar durante as visitas domiciliares, permitiu compreender melhor a realidade das pessoas entrevistadas.

Após cada encontro, foi realizado o registro de observações relevantes para a compreensão do fenômeno em estudo considerando as manifestações verbais, relacionamento entre entrevistados e seus familiares, falas após o encerramento da gravação, questionamento feitos sobre a pesquisa, receptividade, e outras.

Importante ressaltar que diante do interesse e solicitações de esclarecimento sobre a doença, foi possível fornecer informações sobre as dúvidas apresentadas e ou serviços médicos de referência para determinado atendimento. Entretanto essas informações foram fornecidas apenas ao término da coleta de dados com cada participante.