3.2 A Teoria da Representação do Discurso
3.2.1 A obtenção das DRS
Uma DRS é constituída por dois componentes:
1. O universo da DRS, um conjunto de referentes do discurso (ou simplesmente, referentes), cada qual representando uma única entidade semântica.
2. O conjunto de condições DRS, um conjunto de proposições aplicadas sobre os referentes do discurso.
Esquematicamente uma DRS é apresentada sob a forma de um caixa dividida em duas partes. Na parte superior está o conjunto de referentes do discurso, representando as entidades introduzidas no próprio discurso (universo da DRS) e, na parte inferior, es- tão as condições semânticas aplicadas aos referentes do universo da DRS, conforme o diagrama (3.3): Universo DRS condição 1 condição 2 . . . (3.3)
Formalmente uma DRS é um par ordenado < Uk, Condsk >, onde Uk é o universo da
O signicado lingüístico de uma DRS é dado pelo conjunto de condições e referentes. A avaliação semântica das DRSs é feita em modelos. A representação DRS é recursiva, i.e., uma DRS pode ter como condição outra DRS. As DRSs que estão como condições de uma DRS são denominadas subDRSs e a DRS que engloba todas as outras é chamada DRS principal.
A obtenção de uma DRS é um processo que envolve a utilização de regras de reescrita: algoritmos que transformam um determinado tipo de subárvore da análise sintática em referentes do discurso e condições DRS, integrando-os à representação semântica da frase que está sendo interpretada.
De maneira a ilustrar o processo, considere o exemplo: (3.4) Marcelo ama Patrícia.
E sua respectiva Árvore de Derivação Sintática (ADS): O sv' sv verbo args sn' sn n ama Patrícia " " " " b b bb @ @ @@ ¡ ¡ ¡ ¡ sn' Marcelo sn n
Figura 1: Árvore de derivação sintática
A subárvore do SN Marcelo (destacado na gura 1) é reduzida através das seguintes operações:
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• Sintagmas nominais de nomes próprios criam novos referentes e devem ser introdu- zidos no universo da DRS principal.
• A redução da subárvore, cria uma condição formada pelo nome próprio seguido do
referente entre parênteses.
• O referente criado substituirá a subárvore. O resultado destas operações é a DRS (2a).
O X sv' sv verbo args sn' sn n Patrícia ama X marcelo(X) (a) X marcelo(X) < X ama Patrícia > (b) ¡ ¡ ¡ @ @@ ´ ´ ´ ll
Figura 2: Formas para representação da redução de uma frase.
Existem duas formas grácas para a representação das consecutivas reduções de uma árvore sintática. Na gura (2a), a DRS contém, além das condições, também a ADS já parcialmente reduzida. Na gura (2b), a representação da árvore é linear. Em virtude das duas traduzirem a mesma informação, padronizou-se o uso da ADS linear, por motivos de facilidade de representação.
Continuando a redução da árvore na gura (2a), as mesmas operações utilizadas na redução do sintagma nominal Marcelo, são utilizadas na redução do sintagma nominal
Patrícia (DRS (3.5)). Nela somente falta a redução da árvore < x ama y>, que será substituída pela condição amar(x,y)5, resultando na DRS (3.6).
x,y marcelo(x) patrícia(y) <x ama y> (3.5) x,y marcelo(x) patrícia(y) amar(x,y) (3.6)
Assim todos os indivíduos e verbos da primeira frase do texto 3.4 foram reduzidos, dando lugar ao conjunto referentes e condições. Ao conjunto de operações que governam a introdução de condições, criação de referentes e redução de árvores sintáticas, dá-se o nome regras de reescrita. O conjunto de regras de reescrita aplicado sobre frases individuais simples (sem negação ou conjunções) é formalizado da seguinte maneira:
• Uma DRS Simples K que não contém uma subDRS como condição connada a um vocabulário V e a um conjunto R de referentes, é um par < UK, CondK >
constituído por um subconjunto UK de R e por um conjunto de condições DRS
connadas a V e a R.
• Uma condição DRS (simples ou atômica) connada a V e a R é uma expressão que tem uma das seguintes formas:
1. x = y, pertencendo x e y a R.
2. π(x), sendo x um referente de R e π um nome próprio de V.
3. η(x), sendo x um referente de R e η um predicado unário (correspondente a um substantivo comum) de V.
5Os verbos vão ser sempre representados no innitivo, a não ser que, por uma questão de facilidade
de leitura, seja necessário colocá-los no tempo do discurso. Este tratamento não traz prejuízo para o trabalho em si, pois nem os tempos verbais nem as entidades por eles introduzidas são tratados nesta tese.
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4. ζ(x), sendo x um referente de R e ζ um predicado unário (correspondente a um verbo intransitivo) de V.
5. ξ(x, y), sendo x e y referentes de R e ξ um predicado binário (correspondente a um verbo transitivo) de V.
6. snd(x), sendo x referente de R e snd um predicado unário, correspondente à indicação de que um referente foi introduzido por um SND.
7. ρ(x, y), sendo x e y referentes de R e ρ um predicado binário correspondente a uma possível relação existente entre x e y.
Salientando que os itens 6 e 7 foram introduzidos nesta tese. Alguns exemplos que dão origem a estas condições anteriores são:
1. Marcelo ama Patrícia. Ela o fascina. Considerando x e y como sendo os referentes introduzidos, respectivamente, por Marcelo e Patrícia. O referente z introduzido pelo pronome pessoal Ela está co-referindo o referente introduzido pelo nome próprio Patrícia, resultando em z = y e o referente w introduzido pelo pronome oblíquo o está co-referindo o referente introduzido pelo nome próprio Marcelo, resultando em
w = x.
2. A condição marcelo(x), retirado do exemplo anterior.
3. Marcelo tem um carro, o sintagma nominal indenido um carro introduz a condição
carro(w).
4. Patrícia partiu. O nome próprio Patrícia introduz o referente x e o verbo intransitivo insere a condição partir(x).
5. Usando o exemplo do item 3, o verbo transitivo ter é transformado na condição
ter(x, w).