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3.4 Implementação das regras pragmáticas

3.4.1 Interpretação por abdução

Nesta tese adaptou-se a metodologia proposta de Hobbs et al. [Hobbs et al. 1993]: a interpretação pragmática de uma frase deve ser feita provando a fórmula lógica desta numa base de conhecimentos com os fatos do texto, recorrendo a raciocínio abdutivo. O esquema abdutivo proposto por Eshghi e Kowalski [Eshghi e Kowalski 1989] é utilizado na especicação das regras. Este esquema permite a escrita das regras em programação em lógica com negação por falha e é facilmente implementável.

A abdução é a formalização de um tipo de raciocínio de senso comum: raciocinar para explicar [Brewka, Dix e Konolige 1997]. Num exemplo clássico, quando se observa que a grama está molhada pela manhã, pode-se inferir que choveu à noite ou que o aspersor cou ligado [Brewka, Dix e Konolige 1997, Kakas, Kowalski e Toni 1992]. A abdução é caracterizada pela regra de inferência 3.35. Não é seguro considerar a verdadeiro com esse tipo de inferência. Em outras palavras a abdução é não monotônica, pois se é notado que as ruas não estão molhadas, no exemplo da grama, não se deve assumir que incontestavelmente choveu [Brewka, Dix e Konolige 1997].

b ← a b a

(3.35)

O esquema abdutivo utilizado é constituído por uma tupla (P, A, I), onde:

• P - é um programa em lógica estendido para utilizar negação por falha.

• A- é um conjunto de literais que podem ser abduzidos.

O conjunto de literais que podem ser abduzidos é prexado, o que pode reduzir o número de justicações possíveis.

• I - é um conjunto de restrições de integridade. As restrições de integridade são da forma:

← L0, ..., Ln, com Li = li ou Li = not li, um literal positivo ou a negação por falha

de um literal positivo.

Só são justicações as soluções abdutíveis que vericam as restrições de integridade e as melhores soluções são as básicas e minimais.

Uma justicação é básica se nenhum dos fatos na justicação pode ser explicado pela teoria e é minimal se não existe nenhuma justicação que seja subconjunto desta. Assim, para justicar o fato p na teoria 3.36, a explicação ∆ = {r} é básica e minimal; a explicação ∆ = {q} é minimal, mas não é básica e a explicação ∆ = {q, r} não é básica nem minimal.

p ← q

p ← q, r (3.36)

q ← r

Em termos de resolução anafórica, implica dizer que a observação da utilização de um SND por parte do transmissor tem como explicação a identicação, por parte do receptor, de uma relação entre o SND e um possível antecedente. Esta explicação será minimal, pois existe um conjunto denido de possíveis relações sem que nenhuma seja subconjunto da outra e é básica, pois tais relações não podem ser inferidas diretamente pela informação presente no discurso.

Por m, as regras pragmáticas constituem um conjunto de restrições de integridade que permite eliminar as justicativas menos plausíveis na interpretação de um SND.

O programa em lógica O programa em lógica P é o conjunto resultante da união das condições representadas no contexto K(i−1) com as condições resultantes da interpretação das entidades introduzidas em Kparcial

i :

P = UK(i−1)∪ UKiparcial

O conjunto de abdutíveis Os elementos que podem ser abduzidos são as relações de ligação, as quais permitem explicar a razão da utilização de um SND.

membro_de(Ref,Ref2): a entidade denotada pelo referente Ref é membro do conjunto de entidades denotadas por Ref2. Respeitando a restrição de que tanto Ref quanto

Ref 2 são do mesmo tipo.

coref(Ref,Ref2): a entidade denotada pelo referente Ref co-referencia a entidade deno- tada pelo referente Ref2 desde que respeitadas as regras pragmáticas que limitam o estabelecimento da relação.

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parte_de(Ref,Ref2): a entidade denotada pelo referente Ref é parte estrutural da entidade denotada pelo referente Ref2 desde que respeitadas as condições para que tal relação seja estabelecida.

subcategorizado_por(Ref,Ref2): a entidade denotada pelo referente Ref é parte con- ceitual da entidade denotada pelo referente Ref2.

As restrições de integridade São o conjunto de restrições usadas na vericação da consistência da base de dados resultante de uma inferência abdutiva. Em termos desta proposta, a base resultante é Ki, ou seja, a DRS resultante da interpretação da frase fi

no contexto K(i−1).

Inicialmente tem-se que garantir que não existam inconsistências simples, isto é feito através das seguintes regras:

⇐ membro_de(Ref, Ref2), not gen_membro_de(Ref, Ref2).

⇐ coref (Ref, Ref 2), not gen_coref(Ref, Ref2).

⇐ parte_de(Ref, Ref2), not gen_parte_de(Ref, Ref2).

⇐ subcategorizado_por(Ref, Ref2), not gen_subcategorizado_por(Ref, Ref2).

(3.37) Ou seja, é inconsistente assumir que exista uma relação entre dois referentes Ref e

Ref 2 e ao mesmo tempo não haja condições para que esta relação exista gen_.... As condições genéricas para que uma relação exista são as fornecidas pelas regras pragmáticas apresentadas na seção 3.3, as quais são traduzidas para:

gen_membro_de(Ref, Ref2) ⇐ snd(Ref),

tipo(Ref, TA),

tipo(Ref 2, TT),

TA∩ TT 6= {}, (3.38)

singular(Ref ), plural(Ref 2).

gen_parte_de(Ref, Ref2) ⇐ snd(Ref),

singular(Ref 2),

not plural(Ref ), (3.39)

not anormal_parte_de(Ref, Ref2).

anormal_parte_de(Ref, Ref2) ⇐ animado(Ref2) (3.40) anormal_parte_de(Ref, Ref2) ⇐ tamanho(Ref) > tamanho(Ref2). (3.41)

gen_coref(Ref, Ref2) ⇐ pronome(Ref). (3.42)

gen_coref(Ref, Ref2) ⇐ elipse(Ref).

gen_coref(Ref, Ref2) ⇐ snd(Ref),

numero(Ref, N ref ), numero(Ref 2, Nref 2), Nref = Nref 2, genero(Ref, Gref ), genero(Ref 2, Gref 2), Gref = Gref 2.

gen_coref(Ref, Ref2) ⇐ snd(Ref),

numero(Ref, N ref ), numero(Ref 2, Nref 2), Nref = Nref 2,

plural(Ref ). gen_coref(Ref, Ref2) ⇐ snd(Ref),

numero(Ref, Nref ), numero(Ref 2, Nref 2), Nref = Nref 2,

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gen_subcategorizado_por(Ref, Ref2) ⇐ snd(Ref),

animado(Ref 2),

singular(Ref 2), (3.43)

not plural(Ref ). (3.44)

Outra restrição é que algumas relações não podem ser reexivas:

⇐ membro_de(Ref, Ref2), membro_de(Ref2, Ref).

⇐ parte_de(Ref, Ref2), parte_de(Ref2, Ref).

⇐ subcategorizado_por(Ref, Ref2), subcategorizado_por(Ref2, Ref).

(3.45)

Isto é: uma entidade não pode ser membro de um conjunto e o conjunto ser membro da entidade ou um objeto ser parte de outro objeto e vice-versa, ou ainda uma entidade subcategorizar a existência de outra entidade e vice-versa.

O mecanismo

Para ativar a máquina de abdução [Damásio, Nejdl e Pereira 1994, Damásio, Pereira e Schroeder 1996] é necessário inserir a contraprova da observa- ção, assim para cada condição snd(Ref) que esteja presente na interpretação fora de contexto, é introduzida uma cláusula snd(Ref).

Considerando agora que cada snd(Ref) é na verdade a observação da seguinte equa- ção:

snd(A) ⇐= existe(T ),

R(A, T ). (3.46)

onde R é um dos abdutíveis (relação de ligação). Como A e T são conhecidos, logo se existir uma relação R (predicado aplicado a A e T ) esta seria o que falta para dizer que snd é uma conseqüência lógica da base de conhecimento atual.

Mais de um R podem ser identicados. É neste instante que as restrições de inte- gridade atuam. Somente os valores de R que mantenham coerentes a união da base de conhecimento anterior com as restrições de integridade são aceitos e vão gerar modelos

válidos.

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