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A ocupação com a abertura da fronteira agrícola para o Norte

3. A HISTÓRIA DO NORDESTE GOIANO

3.2 A ocupação com a abertura da fronteira agrícola para o Norte

Após a depressão de 1930, o processo de ocupação de Goiás seguiu os interesses do governo federal de voltar a economia do país para dentro, em locais onde existiam terras férteis, florestas ainda preservadas e grande extensão de pastagens naturais. Para isso, o governo lançou o programa Marcha para o Oeste, que tinha por objetivo estimular a produção econômica no interior do país, devido à crise de abastecimento alimentar nos grandes centros urbanos ocorrida no período pós-guerra, agravada pelas crises do café, e pelo interesse de diminuir as importações e substituir os produtos importados pela produção nacional (CRUZ, 2005). Para isso, era preciso que houvesse a melhoria da infra-estrutura de transportes em estados como Mato Grosso e Goiás, até aquele momento esquecidos pelo governo federal, com a ampliação das malhas viárias tanto terrestre quanto aérea.

Nesse período, o Major-Brigadeiro-do-Ar Lysias Augusto Rodrigues comandou expedição, iniciada em 1935, que percorreu, por terra, do Rio de Janeiro até Belém, desbravando o interior do país a fim de implantar campos de pouso para aviões do Correio Aéreo Nacional (CAN) (CAMBESES Jr, 2007). Sobre a região da Chapada dos Veadeiros, que depois veio a tornar-se reserva ecológica, o autor afirma:

Já do outro lado do rio, começamos a subir os planaltos escalonados da Chapada dos Veadeiros. Depois de cansativa subida por três quilômetros, nosso esforço foi amplamente compensado ao chegarmos ao alto, pois, com o sol alto e o céu azul, a vista era deslumbrante. Via-se todo o horizonte ao redor, a mais de cem quilômetros, todo o relevo do solo, planaltos emntremeados de morros, várzeas verdes, e aqui e ali uma arvore de cor

viva. Uma maravilha! Extasiados, permanecemos ali bem uma meia hora contemplando a paisagem (RODRIGUES, 1943, p. 43).

Com a grande migração para o interior do país, vários vilarejos foram se formando na década de 1940, dando origem a novas cidades e municípios. Um deles foi Veadeiros, que até a década de 1950 ficou pertencente a Cavalcante, e em torno do qual predominavam fazendas e sítios.

Para atingirmos Cavalcante, que fica em um enorme buracão, tínhamos que descer da chapada dos Veadeiros. Essa descida é simplesmente terrível. Basta dizer que tivemos que fazê-la a pé, puxando os animais, e com o máximo cuidado de não falsear o pé. Rampas abruptas, pedregal solto, margeando pontos perigosos, foi isso o que encontramos durante uma hora de descida (RODRIGUES, 1943, p. 54).

Em 1953, o município de Veadeiros emancipa-se de Cavalcante, tornando-se um novo município. Seu nome lembra a atividade predatória de veados, animal bastante abundante na região, e cuja pele tinha elevado valor econômico no meio rural.

A origem de Veadeiros, como de S. João da Aliança, foi uma fazenda; em Veadeiros, o dono da fazenda, Sr. Moisés Bandeira, compreendendo que só teria os elementos necessários ao serviço da fazenda quando conseguisse ali fixá-los, começou a construir uns ranchos, nos quais facilitava a moradia a quantos quisessem trabalhar na fazenda. Assim começou a povoação. Em S. João da Aliança a fazenda pertencia ao Sr. Néri, nosso guia e dono da comitiva que utilizávamos (RODRIGUES, 1943, p. 47).

O militar impressiona-se com o abandono em que se encontravam os habitantes do lugar. Numa mesma região, a expedição se deparou com imensas fazendas improdutivas e aldeias quilombolas, nas quais habitavam uma população que vivia em estado de penúria:

Cerca de uma legua do local onde foi S. Felix, existe uma aldeia de negros descendentes de escravos, doentes, degenerados, sujos, verdadeiros farrapos humanos, que não se sabe como ainda existem (RODRIGUES, 1943, p. 66). Curioso é observar-se um contraste aqui: junto a um grande número de proprietários de vastidões territoriais, que raramente os donos conhecem

integralmente, vastidões que encerram riquezas das mil e uma noites, há uma massa da população pobre, miserável, curtindo fome, devorada pelas doenças, sobretudo pelo impaludismo. Quando liquidaremos o latifúndio no Brasil?!... (RODRIGUES, 1943, p. 70).

A partir de 1960, a inauguração de Brasília fez crescer a procura pelo desenvolvimento do interior do país, inaugurando também uma nova fase na ocupação do território goiano. Nesse período, a integração do Sul e do Sudeste do País com o Norte e o Nordeste estimulou a abertura de novas fronteiras agrícolas, especialmente na região dos cerrados.

É nesse processo de interiorização e de promoção da melhoria de infra- estrutura urbana no centro do país que Alto Paraíso ganha importância, por estar, no sentido Sul-Norte, a meio caminho de Formosa (Goiás) e Palmas (atual estado de Tocantins), bem como ligar, no sentido Leste-Oeste o vale do rio Tocantins ao vale do rio Paraná (ATTUCH, 2006, p.19).

E o norte de Goiás descobre, finalmente, sua vocação. A região possui belezas naturais que favorecem a exploração do turismo ecológico. Além disso, é muito favorecida pela grande quantidade de rios, córregos e lagos, destacando-se o Rio Preto, das Pedras e Tocantinzinho. Do Rio Tocantins, a abundância de água proporcionou a construção de uma imensa barragem da Hidrelétrica de Serra da Mesa, com um lago de cerca de 1.780 quilômetros quadrados.

Com isso, pela lei estadual número 4.685, de 15 de outubro de 1963, o município de Veadeiros passou a denominar-se Alto Paraíso de Goiás (ver Anexo B). O proprietário da Fazenda Vereda, Dimas de Almeida Sobrinho, que foi o primeiro vereador eleito no município, afirma que foi por sua sugestão que o município passou a se chamar Alto Paraíso de Goiás. Segundo ele, este nome foi escolhido entre os cinco propostos pelos vereadores do município para a cidade: Planalto Rico, Montevidil, Monte Sinai e Alto Tocantins, esse último também sugerido pelo então vereador Dimas.