• Nenhum resultado encontrado

3- EVOLUÇÃO DO SISTEMA CANAVIEIRO: O CASO DA DESTILARIA UNA, NO

3.5 A oferta de trabalho na lavoura canavieira

No Município de Sapé, a partir da década de 1980 quando foi criada a Destilaria Una a procura por mão-de-obra na atividade canavieira foi bastante elevada, nos últimos anos a oferta de trabalho tem aumentado. Isso ocorre porque anualmente a atividade canavieira necessita cada vez mais de um número maior de pessoas para exercer as diversas funções que a cultura canavieira oferece. Até a safra 2008/2009, a usina contava com a participação de aproximadamente 1200 camponeses exercendo as diversas funções na atividade canavieira. Na safra de 2010 esse número aumentou para 1250, camponeses vinculados a empresa, do total geral de camponeses, 665 são cortadores de cana.

De acordo com um camponês que presta serviço para a usina, no corte de cana atualmente se contrata um número maior de camponeses, porque essa função necessita de uma demanda maior de funcionários para cortar a quantidade de cana necessária para abastecer a moagem da indústria.

Ao analisarmos o número de camponeses que trabalham no corte da cana- de-açúcar e a forma como eles trabalham, verificamos que a atividade exercida por eles é bastante sofrida e requer muita atenção para que não ocorram acidentes sérios. Há um número bastante elevado de indivíduos que trabalham no corte da cana-de-açúcar, como afirma o administrador agrícola: “a Destilaria está com 100% de corte manual, que dá 16 turmas cada turma com aproximadamente 45 pessoas [...] ao todos são praticamente 720 camponeses.” (A. J. L.).

Sobre isso, um camponês entrevistado afirma:

Nói trabaia dimai, a usina nus contrata pá cortar cana, são tantas vagas que falta gente pá cortar a cana, eles até chama mais gente depois pá cá. Nói somos muitos e temos que ser cortador bom, porque se nói não formos bom nói somos colocado pá fora do siviço. Nói tem que tomar muito cuidado pá não se cortar, poi nói trabaia com facão amolado, qualquer discuido nói se corta. É sofrido mai é só isso que temos pá fazer, tem que fazer o que o home mandar mermo pagando rim se não nói fica sem cumer. (R. J. S.).

Em relação a isso, notamos uma diferença sobre a evolução na oferta de trabalho. Com o aumento das áreas ocupadas com cana-de-açúcar, a oferta de trabalho aumenta, principalmente no período de colheita. Dessa forma, os empregados contratados têm condições para sustentar e alimentar sua família. Sobre essa situação “o homem na terra dos outros tem a força para trabalhar. Com o dinheiro produzido por esta força, o homem alimenta a família, que então passa a produzir a força para trabalhar na própria terra” (SILVA, 2005, p. 25).

No período que foi realizado o trabalho de campo entre os meses de Julho e Setembro de 2011, todos os camponeses entrevistados estavam trabalhando na agricultura canavieira. Quando perguntei se ficavam desempregados após o período de colheita, 20% disseram que ficam sem emprego e 20% afirmaram que às vezes ficam desempregados. Enquanto que 60% dos camponeses trabalham durante todo o ano na lavoura canavieira e estão inseridos no sistema de trabalho da cana-de-açúcar.

Quando perguntei para quem eles prestavam serviço, houve dois tipos de respostas: para a usina e para o fornecedor. É importante destacar que os empregados que trabalham para a usina cumprem serviço para a mesma e os salários pagos aos camponeses vêm da indústria. Enquanto que os camponeses que prestam serviço a mando dos fornecedores, os mesmos são remunerados não pela usina, mas pelo próprio fornecedor que os contratam para trabalhar em seu favor.

Para complementar a questão dos fornecedores, o gerente responsável pelo sindicato dos fornecedores de cana afirma que:

hoje, os fornecedores de cana possuem grupos criados, os condomínios de empregadores rurais, buscam os trabalhadores no local de origem, bancam com o transporte, assinam a carteira no local de trabalho, a diária que o trabalhador vem já é pago, com a vinda de ônibus, autorizado pela ANTT e ele é registrado no condomínio de empregadores (J. L. D.).

Percebi que a maioria dos camponeses gosta de trabalhar para a usina, mesmo não tendo um trabalho digno, onde o sistema estabelecido é trabalhar cinco dias por dois de descanso, diferente dos camponeses que prestam serviço para os fornecedores, sua jornada de trabalho é seis dias e um dia e meio de descanso. Nesse sentido 80% dos camponeses preferem trabalhar para a usina porque tem um expediente maior de descanso e propicia melhores condições físicas para trabalhar no corte da cana-de-açúcar. Segundo A. R., um camponês que exerce a função de cortador de cana, “dessa forma nói pode descansar pá quando nói voltar cortar mais cana não fica tão cansado”.

Por ser um trabalho realizado devido à necessidade de suprir as condições mínimas de sobrevivência, os camponeses que trabalham na “Destilaria Una”, gostariam de trabalhar em outras atividades, pois o corte da cana é um serviço muito penoso e que remunera muito mal, como relata um cortador de cana-de- açúcar:

Sei mexer com outras coisas mai to veio de mais, gostaria de não trabaiar pá ninguém, ter meu cantinho pá trabaiar e plantar muita coisa, mai como não tenho, a solução é me sacrificar todos os dias cortano cana, mesmo com a idade que tenho (50 anos). Ainda bem que com essa idade encontro emprego na usina. Não é fácil esse trabaio eu me canso muito, mas pelo menos eu tenho dinhero de quinze em quinze dias no mês. Melhor do que ta parado sem

fazer nada. O que eu ganho só depende de mim, meu salário vai de acordo com o que eu desempenho no corte. (J. A. N.).

De acordo com a pesquisa realizada, percebemos que muito dos trabalhadores sonham em algum dia possuir terras, ser independentes, ter uma vida mais tranquila, sem se cansar muito com atividades pesadas de longa jornada, como por exemplo, a cana-de-açúcar. É camponês que possuem sonhos como qualquer outro cidadão visa à possibilidade de algum dia mudar de vida financeiramente.

3.6 Do corte manual a uma possível mudança com a colheita mecanizada