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2.3 Estratégias de ação do MST

2.3.1 A organização do MST

Os movimentos sociais passam a ser objeto de estudo das Ciências Sociais a partir dos anos 1970, caracterizados como “novos” e situados na problemática urbana (BERGER, 2003). Há diferentes perspectivas na interpretação de movimentos sociais. Em comum, todas partem das relações estabelecidas pela formação social capitalista, portanto, industrial, o que explica a ênfase na realidade urbana. Para a maioria dos estudiosos, os movimentos sociais inserem-se na perspectiva da luta de classes.

Os paradigmas teórico-metodológicos que vêm embasando a produção contemporânea sobre os movimentos sociais são assim caracterizados: abordagem funcionalista, que analisa os movimentos como disfunções sociais ou desestabilizadores do sistema, ligados à sociologia norte- americana tem influência menor no Brasil; estruturalista, que se divide entre as correntes com ênfase na teoria da ação social, nos processos de institucionalização e na questão da autonomia – nesta abordagem, o movimento social é uma ação do ator coletivo, em oposição a um adversário, não se constituindo necessariamente num conflito de classes; marxista, que compreende as correntes com ênfase nas estruturas e nas práticas sociais, na luta de classes e no processo histórico, pois elas se complementam – tem maior influência no Brasil, principalmente, nos estudos sobre movimentos rurais (GOHN, 1988, apud BERGER, 2003, p.87).

Nesse sentido, é possível considerar o MST como movimento social a partir de sua inserção como tema da sociologia rural (anos 1980), quando a ênfase não era a agricultura e sua economia, mas as relações sociais no campo, que, desiguais e acompanhando o desenvolvimento da agricultura capitalista, exigiram um novo tipo de organização, incorporando reivindicações dos movimentos sociais urbanos às antigas lutas sociais do campo.

O MST é considerado por alguns como o mais representativo dos novos movimentos camponeses (PETRAS, 1997, p.274). Os líderes e ativistas da América Latina, que estudam o

sucesso do Movimento, formulam estratégias e modelos de organização baseados na experiência do MST, mas adaptados às suas particularidades nacionais.

O sucesso do MST, na atração e construção do movimento de massa no campo, pode ser compreendido a partir da natureza diversificada de sua ideologia, que consiste em três componentes vitais: o marxismo, a religiosidade popular e as práticas comunitárias. Esses três ingredientes são incorporados à prática e à linguagem política cotidianas. Tais elementos refletem a diversificada procedência de seus membros militantes e apoiadores. Esta é a síntese original que atrai o apoio em massa das classes não-camponesas – entre setores e membros da Igreja, profissionais progressistas, favelados urbanos, bem como setores de pequenos produtores e sindicalistas.

É possível ter uma dimensão da organização do MST analisando sua estrutura. O Movimento, encontrado em 24 estados brasileiros, apenas não tem representação no Amazonas, Acre e Rondônia. Atualmente, é regido por coordenações estaduais que se articulam entre si e por meio da coordenação nacional, que possui representantes de todos os estados onde está presente.

Sua estrutura organizacional se baseia em uma verticalidade iniciada na coordenação nacional e que se estende à direção nacional, coordenações estaduais, direções estaduais, regionais e coordenações de acampamento. De acordo com informação obtida junto à Assessoria de Imprensa, a estrutura do MST9 é a seguinte:

TABELA 1 A estrutura do MST A ESTRUTURA DO MST

Coordenação nacional

Coletivo sem presidente, composto de 65 membros oriundos de 21 estados e do Distrito Federal. Traça as linhas gerais do Movimento e tem poder deliberativo.

Direção nacional

Coletivo sem presidente, com 15 integrantes. Executa as metas da coordenação nacional. Coordenações Estaduais

Vinte e duas coordenações com até 30 integrantes definem as metas e ocupações de terra. Direções estaduais

Coletivos que reúnem de sete a 16 membros. Desempenham nos estados o papel que a direção nacional exerce no país.

Regionais

Com dez membros, é uma divisão administrativa e operacional. Cada estado define o número de regionais. Em São Paulo, há cinco, no Rio Grande do Sul, oito regiões e dois

9

A estrutura do MST foi originalmente publicada no jornal Folha de São Paulo e reproduzida por BERGER (2003, p. 98). A assessoria de imprensa do MST, em Brasília, confirmou que a estrutura não mudou.

acampamentos.

Coordenações de acampamento

Formadas por até sete pessoas, que organizam as ocupações. Dividem-se em setores: educação, alimentação, saúde, segurança, produção e negociação em conflitos.

Fonte: Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Os coordenadores e os dirigentes nacionais são escolhidos no encontro nacional, que acontece a cada dois anos. A coordenação nacional é a instância operacional máxima da organização, que conta com cerca de 120 membros. O Movimento recebe apoio de organizações não-governamentais e religiosas, do país e do exterior, interessadas em estimular a reforma agrária e a distribuição de renda em países em desenvolvimento. Sua principal fonte de financiamento é a própria base de camponeses já assentados, que contribuem para a continuidade do Movimento.

Por ser um movimento social, o MST não tem registro legal e, portanto, não é obrigado a prestar contas a nenhum órgão de governo, da mesma forma que acontece com outros movimentos sociais ou associação de moradores. A maior instância da organização é o congresso nacional, que acontece a cada cinco anos para ratificação das diretivas.

O MST se articula junto a uma organização internacional de camponeses chamada Via Campesina, da qual também faz parte o Movimento dos Pequenos Produtores (MPA) e agricultores da Europa, Estados Unidos da América (EUA), África, Ásia e Américas. A Via Campesina tem como objetivo organizar os camponeses em todo o mundo. Também está vinculado com outras campanhas nacionais e internacionais, como a Via Campesina Brasil, que reúne alguns dos movimentos sociais brasileiros do campo, e a Campanha contra a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

As estratégias de luta do MST garantem visibilidade na luta por reforma agrária, principal bandeira de luta do Movimento. Alguns episódios marcaram a trajetória dos sem- terra como o massacre de Eldorado do Carajás, no Pará, que deu origem a uma série de manifestações no mês de abril.

3 O ESTUDO DO AGENDAMENTO DO JORNALISMO PELO MST