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Além de produzir materiais próprios, a assessoria de imprensa trabalha no atendimento e na produção de releases para a grande imprensa. Todo esse trabalho é acompanhado através de um documento diário chamado Noite e Dia, que circula internamente na lista de discussão dos assessores na internet. O documento registra a agenda (datas comemorativas previstas no período), prioridades da semana (principais atividades previstas), pendências (o que ainda não foi feito), tarefas realizadas (o que foi concluído naquele dia), ações futuras (quando houver) e atendimentos (nome do assessor que fez o atendimento, do veículo e do jornalista atendido, se solicitou entrevista ou informação e qual encaminhamento foi dado).

Com base na análise desse documento e no trabalho acompanhado durante uma semana, é possível afirmar que a assessoria de imprensa tem uma atitude ativa com relação ao agendamento de entrevistas. Os assessores ligam para os jornalistas e oferecem fontes, sugerem temas, como no caso dos dez anos do massacre em Eldorado do Carajás. Na semana acompanhada, a prioridade foi o Plano de comunicação para os dez anos de Eldorado de Carajás, que consistia numa série de atividades.

Os assessores conseguiram agendar na imprensa os 10 anos do massacre de Eldorado do Carajás devido ao contato estabelecido com a mídia durante a semana acompanhada22. Se não fosse a assessoria de imprensa, muitos jornalistas nem lembrariam da data. No entanto, a assessora de imprensa do MST acredita que esse não é o caso dos três grandes jornais analisados neste trabalho, pois eles já sabiam e se prepararam para a cobertura. De fato, com base nas matérias publicadas, constata-se a importância que o acontecimento – os dez anos do massacre – tem para a mídia que deu grande destaque à questão de Eldorado em suas notícias. O trabalho da assessoria de imprensa do MST é semelhante ao das assessorias tradicionais, em que pese sua militância política dentro do Movimento. Se nas outras organizações o que caracteriza o assessor de imprensa é a atividade remunerada e o zelo pela boa imagem da instituição junto à mídia, no MST os assessores podem ser considerados profissionais. Os jornalistas procuram os assessores para agendar entrevistas e buscar

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Informação obtida durante entrevista com a assessora de imprensa do MST Maria Mello no dia 20 de abril de 2006.

informações. Como em toda assessoria de imprensa, no Movimento dos Sem Terra, os assessores ficam atentos para corrigir as informações equivocadas ou negativas sobre o Movimento.

Apesar disso, é necessário destacar que o MST compromete o trabalho de agendamento junto à mídia na medida em que não investe na contratação de profissionais experientes. O trabalho exercido pelos jovens assessores de imprensa do Movimento poderia ter maior impacto junto aos meios de comunicação com a coordenação de um jornalista experiente e não apenas com a supervisão de um dirigente do MST, como ocorre atualmente. No entanto, essa observação não exime a responsabilidade social dos jornalistas que cobrem o Movimento de informarem os cidadãos a respeito da luta dos sem-terra por reforma agrária.

Uma das estratégias de agendamento utilizada pela assessoria e que aparece no material analisado é a solicitação de artigos às personalidades socialmente reconhecidas e que apóiam o Movimento. Posteriormente, caberia à assessoria de imprensa negociar com os jornais a publicação destes artigos, solicitados aos seguintes apoiadores: Dalmo Dalari, Fábio Konder Comparato, D. Tomás Balduíno, Leonardo Boff, Maísa Mendonça e João Alfredo.

Essa estratégia não teve sucesso porque alguns dos apoiadores não fizeram o artigo, caso do deputado João Alfredo. Em outros casos, os artigos não emplacaram na grande imprensa, como o dos advogados do MST e da representante da ONG Justiça Global, Maísa Mendonça. Muitos apoiadores não foram localizados pela assessoria, entre eles Leonardo Boff. Um dos artigos que teve sucesso foi o do jurista Dalmo Dallari, publicado no Gazeta Mercantil. Em compensação, alguns colunistas escreveram a respeito do MST de forma muito positiva, embora não tenham sido solicitados artigos. É o caso do escritor Luis Fernando Veríssimo, que na coluna daquela semana do jornal O Globo usou o espaço para falar dos sem-terra, e de Mauro Santayanna, no Jornal do Brasil.

Outro aspecto interessante que aparece no documento Noite e Dia é a preocupação em atender a imprensa internacional. O MST reconhece a força exercida pela mídia estrangeira não só no exterior, mas também no Brasil. Ciente de que estes correspondentes respondem às suas investidas, a Assessoria de Imprensa do Movimento dedica atenção especial a esses jornalistas. No dia 12 de abril, uma das tarefas realizadas foi o contato telefônico com os correspondentes da BBC Brasil, AFP Media Releases, El Clarin, CNN, Le Monde, Reuters, Bloomberg, Associated Press, agência EFE e IPS Media.

Durante o período analisado, 37 jornalistas de jornal, rádio, televisão e portais entraram em contato com a assessoria de imprensa solicitando informações sobre Eldorado. No dia 11 de abril, a assessoria entrou em contato por telefone com os principais jornais

brasileiros para fornecer informações sobre as atividades do MST em torno de Eldorado do Carajás. Foram procurados os seguintes impressos e jornalistas: Folha de São Paulo (Eduardo Scolese), O Estado de São Paulo (Roldão Arruda), O Globo (Evando Éboli), Correio Braziliense (Ulisses Campbell) e Jornal do Brasil (Ugo Marques). Também foi procurada a Rádio CBN.

A assessoria forneceu, ainda, os contatos no Pará para os jornalistas Roldão Arruda, do jornal O Estado de São Paulo, e Eduardo Scolese, da Folha de São Paulo, que viajaram para Eldorado a fim de cobrir os dez anos do massacre. Os dois jornalistas e Ulisses Campbell23, do Correio, responderam a um questionário para a realização dessa pesquisa. Ambos afirmaram que procuram a assessoria de imprensa do MST. Arruda diz que o faz eventualmente, nos escritórios de Brasília, São Paulo e outros estados. Por sua vez, Scolese informou que consulta freqüentemente a assessoria nos escritórios de Brasília e São Paulo. Com base na informação dos jornalistas e na observação do trabalho da assessoria é possível inferir que a Assessoria de Imprensa do Movimento é reconhecida como fonte para a produção de notícias.

No dia 17 de abril, a assessoria de imprensa intensificou o contato telefônico com a imprensa oferecendo entrevistas com lideranças do MST. A estratégia funcionou com os seguintes meios de comunicação: rádio CBN, Folha On Line e revista Carta Capital. Nos portais IG e Terra, a investida dos assessores não resultou na produção de notícias a respeito das atividades dos dez anos de Eldorado.