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A organização espacial da RMC: processo histórico e ocupação urbana

A organização espacial urbana contemporânea é conseqüência, sobretudo, de preceitos da estruturação econômica. O crescimento das metrópoles regionais reflete um modelo balizado pela globalização e expressa a configuração da urbanização das sociedades industriais decorrentes da forma de se organizar espacialmente o capitalismo contemporâneo

(GONÇALVES E SEMEGHINI, 2002, p. 27).

Vários pesquisadores (FERNANDES et al., 2002; GONÇALVES e SEMEGHINI, 2002; PIRES e SANTOS, 2002) vêm estudando o processo de formação econômica na RMC e suas repercussões espaciais, que resultam, principalmente, da organização espacial do desenvolvimento cafeeiro em bases capitalistas, ocorrida no século XIX, e da expansão da industrialização brasileira ligada à política nacional do pós-guerra, inserida nas especificidades do desenvolvimento do estado paulista.

O crescimento e urbanização da cidade de São Paulo, propiciados pela riqueza gerada pela cafeicultura e seus desdobramentos, e posteriormente pela industrialização, foi acompanhado pelo simultâneo desenvolvimento de cidades do interior, mediante uma divisão do trabalho articulada. Esse processo gerou a ramificação e adensamento da rede urbana no interior do estado.

Sendo Campinas geograficamente privilegiada como ligação natural entre a capital e o interior, obteve vantagens desta posição estratégica, tanto por estar no raio de influência imediata da Região Metropolitana de São Paulo, quanto por ter sido beneficiada com o avanço da ocupação econômica para o oeste do estado.

A depressão (periférica) é uma via de circulação natural, que tem a forma de um semi-círculo e através dela é possível atingir o norte e oeste do estado com relativa facilidade. As rodovias e ferrovias aproveitaram-se (...) (deste fato) sua ligação com a capital é efetuada por uma série de vales.

Através do Planalto Atlântico (...) a terra campineira tornou-se passagem obrigatória na ligação de vastas áreas com São Paulo. (TAVARES, 1974, pg.4).

Gonçalves e Semeghini (2002) relatam que partiam do município de Campinas a Companhia Mogiana e a Companhia Paulista, principais ferrovias do café, e aproveitando-se

destas vias de circulação estabeleceram-se no local indústrias de máquinas de beneficiamento. Nessa área também ocorreram as primeiras experiências com colonos (trabalho livre) nas décadas de 1840 e 1850. Ao lado das grandes fazendas de café foram formando-se pequenas e médias propriedades, os núcleos coloniais, que originariam posteriormente vários municípios como Americana, Sumaré, Nova Odessa, Cosmópolis e Artur Nogueira.

As transformações nos anos 30 do século XX provocadas pela crise do café e pelas mudanças políticas no país, fortalecem a importância regional de Campinas: das décadas de 1930 a 1960 a economia urbano-industrial adquiriu predominância na área; a pavimentação da via Anhangüera em 1948 consolidou a região como articuladora física e econômica entre interior e capital; a instalação de grandes empresas estrangeiras nas décadas de 50 e 60 potencializou a centralidade de Campinas. Esse processo reflete-se na organização espacial da cidade: entre 1945 e 1954 houve uma significativa expansão de 226% da mancha urbana do município, que de 16,25 km2 passa para 53,3 km2. Ocorreu também a implantação de loteamentos distantes do núcleo urbano, principalmente na direção sudoeste. Na década de 1950, em Americana, é observado processo semelhante, em relação à abertura de grandes loteamentos afastados da área central (PIRES e SANTOS, 2002).

Nos anos 70, a região recebeu importantes investimentos, com continuado desenvolvimento industrial e, concomitantemente, com a evolução de uma agropecuária moderna e diversificada, firmando-se também como pólo de indústrias de alta tecnologia.

A participação da RMC na produção industrial estadual atingiu 8,1% em 1980, ocorrendo também a expansão da agricultura e do setor de serviços na região. A população passou de 680 mil em 1970, para 1,2 milhões em 1980, com conseqüente expansão da área urbana dos municípios da região, favorecida pela implantação de ligações viárias e de loteamentos ao longo delas. (PIRES e SANTOS, 2002).

Na década de 90, não obstante o pequeno crescimento macroeconômico do país de forma geral, a RMC manteve seu peso na produção industrial estadual (FERNANDES et al., 2002.).

O expressivo desenvolvimento econômico refletiu-se na organização territorial da RMC. De acordo com Pires e Santos (2002), sua urbanização tem um caráter seletivo e

excludente , que privilegia o capital, gerando um contexto complexo de graves entraves sociais e

paisagem para a implantação de seus equipamentos, e para acomodar a população atraída pelas oportunidades econômicas. A carência de políticas públicas adequadas para mediar a ocupação dos espaços resultou em uma urbanização caótica.

Os autores analisaram a evolução da mancha urbana da RMC e a estrutura resultante. Constataram que o padrão de urbanização do local favoreceu a verticalização em diferentes municípios e o surgimento de condomínios fechados horizontais voltados para as classes média e alta, e ao mesmo tempo expulsou a população de baixa renda para bairros periféricos sem infra- estrutura urbana e para as favelas. Ocorreu desta forma o abandono das áreas centrais com estrutura já instalada, resultando na expansão de áreas com baixa urbanização e uma mancha urbana espraiada. No eixo que compreende os municípios de Sumaré, Hortolândia e Monte Mor a urbanização é caracterizada pela precariedade dos assentamentos. No vetor de Barão Geraldo- Paulínia e Jaguariúna-Moji Mirim há o predomínio de habitações da classe média e alta e de centros de consumo voltados para essas classes. O mesmo se observa na direção de Joaquim Egídio e Sousas, distritos de Campinas, que possuem ainda áreas agrícolas produtivas e urbanização limitada pelo alto preço dos terrenos.

Essa dinâmica de crescimento e espraiamento da mancha urbana resultam em mudanças nos padrões de cobertura da terra, que se refletem no fluxo de energia entre a superfície e atmosfera, causando mudanças nas características climáticas que nem sempre são vantajosas para os habitantes.

5. METODOLOGIA