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Os impactos relacionados aos fenômenos pluviais na RMC, em sua maioria alagamentos, acontecem principalmente na primavera e verão, período de precipitações intensas.

Localizada em área de transição climática em termos de grande e mesoescalas, a região sofre a influência de diferentes sistemas atmosféricos, conforme retratado na figura 4.2, produzida por Monteiro (1973). O confronto entre massas tropicais com características diversas de temperatura e umidade, e extratropicais confere complexidade quanto aos tipos de tempo resultantes.

Em um estudo sobre o clima local de Campinas, Tavares (1974) reforça que (...) os

atributos básicos do clima local são resultantes da interação existente entre a circulação regional e as componentes geo-ecológica e geo-urbana .

O Sistema Frontal Polar Atlântico2 foi identificado como de grande importância na circulação regional, possuindo marcada atuação na sucessão dos tipos de tempo. O autor coloca que na primavera/verão, a Massa Polar (P) tem uma importante atuação na gênese da precipitação em confronto com outras massas, propiciando condições de frontogênese. Quando as pressões encontram-se mais elevadas na porção meridional do continente ocorrem avanços da massa polar com maior freqüência, e há desempenho mais prolongado da Frente Polar Reflexa (FPR), propiciando períodos chuvosos e instáveis. As condições de estabilidade retornam com o domínio do sistema Polar Velho (Pv) ou do sistema Tropical Atlântico (Ta). O Ta avança sobre o continente quando as pressões estão reduzidas ao sul, trazendo altas temperaturas e

diminuindo a umidade relativa do ar. As frontogêneses, nessa situação, são moderadas na altura do Rio da Prata devido às pressões reduzidas da Polar Atlântica (Pa), e a frente apresenta-se ondulada e com calhas induzidas, com tempo instável ao longo destas.

Em ocasiões com domínio da Tc, a região experimenta condições de estabilidade, altas temperaturas e diminuição da precipitação, que ocorrem neste quadro devido à convecção local.

entretanto parece que este efeito térmico (aumento de temperatura no aquecimento pré-frontal) tem significação importante no aumento das chuvas frontais de verão. Se nesta época do ano as propriedades da massa polar fazem diminuir a intensidade de contraste com a Ta, (podemos admitir) que a atuação

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Extraído do CD-Rom desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Climatologia Geográfica, que reproduz integralmente a obra.

Figura 4.2 Sistemas atmosféricos atuantes no Brasil em janeiro (situação de verão).

prévia da Tc sobre sua região de passagem, e sua interposição sobre as duas massas de ar, produza efeitos agravantes à descontinuidade frontal, seja cooperando pela instabilidade basal da massa fria, seja pelas implicações superiores na superfície frontal (MONTEIRO,1973).

No período de outono/inverno, apesar de incomuns, acontecem episódios pluviais intensos decorrentes da passagem mais constante de frentes derivadas das frontogêneses nas latitudes tropicais, mesmo ressaltando que a característica principal dessas estações é a estabilidade e baixa umidade devido a predominância dos sistemas anticiclônicos Pv e Ta.

Em todas as estações sazonais os maiores totais pluviométricos verificados encontraram-se relacionados à atuação do sistema Tropical Atlântico com calhas induzidas. As chuvas verificadas sob o domínio desse sistema são, em geral, localizadas e de grande intensidade. (TAVARES, 1974).

4.2.2. Aspectos geomorfológicos e pedológicos

O comportamento sazonal da precipitação da região, caracterizado pela concentração da chuva nos meses de verão, associado aos aspectos geormorfológicos e pedológicos, contribui para mudanças na produção e transporte dos sedimentos (SIMÕES, 2001); que por sua vez são carreados para os níveis de base durante os episódios pluviais e depositando-se nos cursos d água e cooperam para os problemas associados aos alagamentos. Desta forma, o conhecimento desses aspectos na região fornece elementos para a análise dos impactos relacionados aos eventos extremos pluviométricos.

A RMC localiza-se na Depressão Periférica Paulista, formada por terrenos sedimentares com um relevo colinoso e pouco movimentado, de vertentes suaves.

A leste, encontra-se o Planalto Atlântico com relevos de morros e serras associados ao embasamento pré-cambriano; a oeste observa-se a Cuesta de Botucatu.

Associando as características geológicas, geomorfológicas e pedológicas de Campinas ao processo de ocupação urbana, Simões (2001) concluiu que a região apresentou aumento de erosão acelerada com desenvolvimento de ravinas e voçorocas. As atividades antrópicas, através do uso e ocupação do solo, apresentaram importante contribuição no processo, associadas às características físicas da área. A zona oeste é formada por solos podzólicos (alta erodibilidade, de 0.043 a 0.050); este fato, somado ao acelerado crescimento populacional ocorrido na área (334,0% entre 1970-1991), expõe 35,0% do local a erosão acelerada. A região leste apresenta

densidade populacional mais baixa, tendo como principal uso a agricultura. O processo de ravinamento é resultante da interação entre a declividade, tipos de solo e precipitação atmosférica.

4.2.3. Hidrografia

A RMC é drenada pelas bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (figura 4.3). Os principais cursos d água da região são os rios Piracicaba, Jaguari, Atibaia, Camanducaia, Capivari e ribeirões Quilombo, Anhumas e Piçarrão. (VICENTINI, 1993; YAHN e GIACOMINI, 2002).

Um traço característico da região é a urbanização indiscriminada das bacias hidrográficas. A bacia do Córrego Piçarrão, por exemplo, possuía 80,0% de sua área urbanizada no início da década de 90; e a do Ribeirão Anhumas, 70,0% (VICENTINI, 1993). Conseqüentemente, a capacidade de infiltração do solo diminui o que somado ao assoreamento das margens, resulta em aumento das enchentes.

As enchentes que ocorrem na RMC podem ser classificadas em dois tipos (YAHN e GIACOMINI, 2002):

a) Enchentes restritas às áreas ribeirinhas dos principais cursos d água que afetam parte da população assentada próxima às margens: têm como fator gerador as chuvas de alta e média intensidades que acontecem durante uma seqüência prolongada de dias. A evolução deste tipo de enchente propicia a tomada de ações, como remoção da população vulnerável.

b) Enchentes que atingem a maior parte da população urbana alocada nas bacias que drenam os córregos e ribeirões do local, oriundas de chuvas de alta intensidade e pelo alto nível de impermeabilização do solo urbano. Por ocorrerem de forma repentina e possuírem escoamentos volumosos, as ações preventivas são dificultadas nessa categoria. Vicentini (1993) considera que os problemas relativos às enchentes no município de Campinas são originados por um sistema de drenagem obsoleto e pela ocupação indiscriminada dos fundos de vale e áreas de inundação, e coloca que as bacias do Córrego do Piçarrão e do Anhumas são as mais problemáticas, por serem as mais urbanizadas. Segmentos da bacia do Anhumas foram classificadas como de médio risco de inundação segundo critérios físicos, porém são observados alagamentos recorrentes na área, fruto da densa ocupação (BRIGUENTI, 2001).