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3. A COOPERAÇÃO POLICIAL INTERNACIONAL

3.1 A Organização Internacional de Polícia Criminal – INTERPOL

A Organização Internacional de Polícia Criminal – INTERPOL comemorou, em 2014, o centenário do 1º Congresso de Polícia Criminal Internacional ocorrido no Principado de Mônaco. Essa experiência marcou o início da cooperação policial internacional de forma sistêmica.

Com o registro desse marco histórico, o presente estudo verificou, também, a preocupação com a delinquência transnacional há mais de um século. Por certo, nos dias atuais, esse assunto ainda continua entre as principais preocupações dos Estados no âmbito internacional. Hoje, com as facilidades de mobilidade e comunicação, a criminalidade organizada transnacional encontra ambiente fértil para sua atuação simultânea e deslocamento entre vários países.

O principal objetivo do 1º Congresso de Polícia Criminal Internacional foi incentivar o contato direto entre as forças policiais dos diversos países presentes para facilitar as investigações criminais que transpassassem as fronteiras geográficas, possibilitar a prisão de eventuais fugitivos internacionais e também estudar a viabilidade da “constituição e organização de uma polícia judiciária internacional,

destinada a facilitar a procura e prisão de malfeitores58”

Nessa ocasião, vinte e quatro países compareceram ao encontro e delinearam as linhas gerais do futuro da INTERPOL, sem dúvida alguma o maior e principal canal de cooperação policial internacional existente no mundo.

Atualmente, cento e noventa e quatro países fazem parte da INTERPOL. Todos esses países cooperam mutuamente entre si, por meio da utilização das ferramentas de investigação criminal oferecidas e das bases de dados disponibilizadas para consultas pela INTERPOL.

Nos últimos anos, muito em razão do fenômeno da globalização econômica e da globalização da criminalidade, com a facilidade de acesso à informação e à mobilidade internacional, a comunidade policial internacional exigiu e viu grandes avanços na atuação de organismos policiais internacionais, em especial da própria INTERPOL.

A INTERPOL registrou um expressivo aumento do número de prisões de foragidos internacionais, ampliou o uso de tecnologias que permitem o imediato intercâmbio de informações, passou a vincular bases de dados internacionais dos países membros com sistemas e bases de dados próprias e disponibilizou os resultados e outras ferramentas aos diversos países membros da organização.

Esses são apenas alguns dos exemplos de ações implementadas, que têm colaborado para o cada vez maior protagonismo internacional da INTERPOL no combate ao crime organizado transnacional.

Por certo, ainda há muito trabalho a ser feito. Os desafios a serem enfrentados pelas policias na prevenção e repressão à criminalidade organizada transnacional, na segurança de suas fronteiras, no patrulhamento aeroportuário, entre outras atividades de segurança, são enormes.

Para isso, a cooperação policial internacional mostra-se como uma ferramenta imprescindível. Nessa toada, a capacitação de policiais em relações internacionais, a adequação de leis e normativos internos, o reconhecimento dos canais de cooperação policial internacional modernos, a autonomia da atividade policial, dentre outros pontos, são requisitos indissociáveis para a construção e manutenção de uma cooperação policial internacional relevante na comunidade internacional.

Nesse ambiente e perspectiva de evolução da sociedade, o presente estudo abordou o tema de cooperação policial internacional frente às exigências democráticas atuais. Para tanto, adotou como paradigma de aperfeiçoamento a necessidade de prevenção criminal e ação penal como execução de uma política criminal do ser humano.

Por certo, o centenário da ação embrionária de cooperação policial internacional merece ser comemorado, registrado e estudado por todos aqueles que buscam o ideal de um mundo mais seguro e justo, inclusive em cotejo com os anseios dispostos na valorosa Declaração Universal dos Direitos Humanos59 da ONU, que

recentemente completou setenta anos.

59 DIREITO INTERNACIONAL, Legislação. Declaração universal dos direitos humanos. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948. Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf . Acesso em: 22 de março de 2019.

Na era da acelerada globalização, da redefinida soberania internacional e da nova jurisdição nacional de cada um dos países membros, nada mais esperado que a cooperação policial internacional se desenvolvesse a partir de um modelo de Estado democrático constitucional e humanitário de direito em evolução em contraposição a um Estado pautado pelo Direito Penal político-criminal punitivista.

Em outras palavras, os preceitos de direito penal e processual penal de cada um dos países membros da INTERPOL e integrante do círculo de cooperação policial internacional precisam atender à sua missão primária de proteção de bens jurídicos em consonância com as garantias individuais reconhecidas aos seres humanos.

Assim, o processo de cooperação policial internacional deve reconhecer por direitos e garantias individuais dos seres humanos, os instrumentos criados pelo ordenamento jurídico para eliminar, ou reduzir a distância entre o normativismo – o direito contemplado em norma – e sua plena eficácia – a realização prática do direito normatizado.

Portanto, se faz extremamente necessário o debate, à luz dos acordos e tratados internacionais, das normas constitucionais e outras experiências internacionais, das decisões dos tribunais e dos costumes internacionais e do pensamento doutrinário de prevalência dos direitos e garantias individuais dos seres humanos, uma abordagem garantista, sobre a aplicabilidade e eficácia: do processo de cooperação policial internacional e da utilização de métodos de investigação de grande invasão na esfera da privacidade do cidadão integrante de organização criminosa transnacional.

Para aperfeiçoar o arcabouço legal, jurisprudencial e doutrinário utilizado na cooperação policial internacional e propor métodos e ferramentas de investigação criminal dentro de uma perspectiva de respeito às garantias e direitos individuais dos seres humanos, a presente dissertação fez uma análise doutrinária dessas normas e dos mecanismos invasivos de investigação à luz do Direito Internacional, dos costumes e de teorias de direitos e garantias individuais dos seres humanos.

3.2 A INTERPOL como instrumento de Cooperação Policial Internacional