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Organização Características do agente

DIREÇÃO Supervisão de

6.2 A organização social das reeducandas

Para a análise das internas considerou-se a existência de cinco grupos diferentes, que se relacionam de forma semelhante a um quebra-cabeça, sendo cada peça importante para a configuração da organização social das reeducandas, sendo elas: as cadeeiras; as novatas que trabalham nas supervisões; as influenciadas; as maloqueiras e as negociantes (figura 4).

Figura 4 – Mapa da organização social das reeducandas.

As Cadeeiras

Para Lemgruber (1999), as cadeeiras são mulheres que estão cumprindo penas longas, mas que nem sempre estiveram envolvidas em crimes violentos, como ocorre nas penitenciárias masculinas.

São valorizadas no ambiente penitenciário não apenas pelo critério de antigüidade, mas sobretudo pela sua força de caráter. Apresenta um estado constante de tranqüilidade e está sempre disposta a ajudar a companheira, sobretudo as novatas, nunca explorando agressivamente uma companheira.

Thompson (2002, p. 85) apresenta os cadeeiros como aqueles que

são capazes de atos altruístas, ou dividindo bens ou lançando-se em defesa de internos mais fracos, se lhes têm amizade ou, mesmo, mera simpatia. Guardam respeito entre si, sendo raríssimos os casos de atrito entre os membros da classe. Não admitem familiaridades excessivas [...] Mostram-se observadores das regras disciplinares que, realmente, interessam à administração: repelem motins, fugas, desordens, incidentes tumultuários, provocações gratuitas, destemperos irresponsáveis.

Da mesma maneira são as cadeeiras na CPFR, desfrutando de uma situação natural de liderança eleita informalmente pela massa carcerária, principalmente pelas novatas que trabalham, pelas influenciadas e pelas negociantes.

Cadeeiras Maloqueiras

Novatas das

Supervisões Influenciadas

Por apresentarem comportamentos apropriados para a manutenção do sistema implantado, são constantemente combatidas pelas maloqueiras, que apresentam comportamentos disruptivos. Tal atitude, porém, também permite que muitas das cadeeiras consigam uma ocupação nas supervisões.

As novatas que trabalham nas supervisões

As novatas que trabalham nas supervisões chegam à unidade com algumas habilidades úteis para a ocupação imediata nas divisões administrativas. Algumas possuem nível superior, ou tiveram algum tipo de formação aplicada ao ambiente de escritórios.

Apresentam comportamento semelhante às cadeeiras, além de estarem próximas no ambiente de trabalho e na convivência no pavilhão Boa Viagem. Pela proximidade com as cadeeiras despertam algumas hostilidades por conta das maloqueiras.

As influenciadas

As influenciadas são as reeducandas que chegam à unidade com baixo nível educacional, não sendo assim aproveitadas nas atividades administrativas. Passam a ocupar o banco de mão-de-obra, tentando uma ocupação nas atividades produtivas, que não necessitam de maiores habilidades por parte das reeducandas. Por não trabalharem passam a habitar o pavilhão Favela, entrando em contato constante com as maloqueiras.

Neste contato são submetidas a todo tipo de constrangimento, dos pedágios às ameaças de roubo ou violência, gerando um relacionamento baseado no medo. Dessa maneira, passam a ser influenciadas pelas constantes ameaças, submetendo-se às arbitrariedades impostas. Consideram as cadeeiras aliadas, embora não tenham um contato mais próximo com elas.

As maloqueiras

Reclusas que tendem a apresentar comportamento disruptivo, implantando um clima de medo, ou terror, na unidade prisional. Nos pátios da unidade, cometem assaltos às reeducandas influenciadas, e praticam furtos de bens no interior das celas. Também forçam as reeducandas a se submeterem a prática de pagamento de pedágios pelos mais variados motivos, assim como exigem das negociantes traficantes o pagamento de um percentual sobre a venda de drogas, quando não exigem a própria droga sob ameaça de delatar a prática de comercialização.

As maloqueiras têm na figura da reeducanda Betânia a sua liderança. Esta utiliza a sua força física e a antigüidade na colônia para satisfazer seus desejos. Institui as normas na sua cela e ainda implanta suas decisões nas demais celas do pavilhão favela, habitado pelas reeducandas mais carentes, principal característica das influenciadas. Freqüentemente é recolhida ao Japão, cela de castigo, quando por vezes passa o tempo máximo permitido pelo regulamento. Neste período, contam com o apoio de outras maloqueiras para atualizá-la das ocorrências internas. É declarada homossexual, possuindo, com relativa freqüência, mais de uma parceira, exigindo a presença de uma delas nas vezes que é recolhida ao Japão.

As maloqueiras, pelo comportamento disruptivo apresentado, consideram as cadeeiras adversárias, sobretudo pelo respeito e consideração que as últimas despertam nas demais reeducandas. Também são as cadeeiras defensoras do sistema, atuando inclusive nas divisões administrativas, fazendo com que as maloqueiras as considerem delatoras – cabuetas.

As negociantes

São consideradas negociantes as reeducandas envolvidas na comercialização de drogas (aqui consideradas negociantes traficantes), de roupas e de peças de artesanato, estando também as agiotas inclusas neste grupo.

No ambiente prisional, repleto de reclusas viciadas, a droga é considerada bem valioso, sendo seu comércio garantido e rentável. As dores e carências vivenciadas no cotidiano carcerário induzem parte das reclusas à primeira experiência com as drogas, tornando-se facilmente viciadas.

Dessa forma, as drogas circulam por todos os grupos da unidade prisional, das cadeeiras às maloqueiras, passando pelas novatas e influenciadas. Aquelas que trabalham na unidade adquirem a mercadoria com os recursos advindo do seu trabalho, devendo tomar todas as precauções para que o consumo não atrapalhe seu desempenho nas atividades laborais.

As que não trabalham contam com o dinheiro trazido pela família ou recorrem à ajuda das agiotas, reeducandas que dispõe de uma reserva financeira, e que a disponibiliza para que as dependentes possam adquirir as drogas, concedendo o valor necessário em troca de um retorno na ordem de 100%. Como salvaguarda, exigem que a devedora ofereça uma garantia de devolução, geralmente eletrodomésticos: ventiladores, aparelhos de som, de DVD, televisão, entre outros. O não pagamento do empréstimo representa a incorporação do bem para a posterior venda no próprio presídio, fato que é aceito com naturalidade internamente.