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A origem organizacional da Ater na Bahia e a criação da EBDA

2. A exclusão social no campo e a institucionalização dos serviços de assistência

2.4 A origem organizacional da Ater na Bahia e a criação da EBDA

Segundo Pettan (2010), os primeiros documentos da legislação brasileira que se referem à assistência técnica no país - regulamentam, planejam e executam esses serviços – são os decretos de criação dos Institutos Imperiais de Agricultura, que datam entre 1859 e 1860. O primeiro foi o Instituto Baiano de Agricultura, criado pelo decreto n˚ 2.500 de 01/11/1859, sendo seguido pelos Institutos de Pernambuco, Sergipe e Rio de Janeiro, respectivamente. Segundo o autor,

Os Institutos Imperiais de Agricultura tinham como principais atribuições a pesquisa, o ensino agropecuário e a difusão de informações. Em relação às atividades de AT9 estavam previstas a

realização de exposições, concursos e a publicação de periódicos com os resultados das pesquisas com objetivos de promover a introdução e adoção de tecnologias, de máquinas e equipamentos (PETTAN, 2010, p. 104).

Nas pesquisas documentais realizadas, encontrou-se, após as ações dos Institutos Imperiais, as ações das Associações de Crédito e Assistência Rural, ACAR’s. Na Bahia, existia a Associação Nordestina de Crédito e Assistência Técnica - ANCAR-BA que, de acordo com Fonseca (1985), foi criada no ano de 1954. A ANCAR-BA foi fundida com Instituto Baiano de Crédito Rural-IBCR, que havia sido criado pela lei 2.605 de 14 de novembro de 1968 com a “finalidade de executar a política de crédito rural orientado” na Bahia (Lei 2.605 de 1968). A junção de ambos deu origem à Empresa de Crédito e Extensão Rural da Bahia– EMCERBA, criada pela Lei 3.259 de 15 de maio de 1974 (COSTA, 1996, p. 19).

32 A EMCERBA, por sua vez, foi substituída10 pela Empresa de Assistência

Técnica e Extensão Rural da Bahia – EMATER-BA, criada pela lei 3.214-A de 27 de novembro de 1975 que alterou a lei que constituiu a EMCERBA. Ambas as instituições possuíam as mesmas finalidades, dentre as quais:

- contribuir para aceleração do desenvolvimento econômico e social do meio rural do Estado mediante o planejamento e a execução das atividades de extensão e crédito rural orientado, de acordo com a política de ação do Governo Estadual e do Governo Federal. (Lei 3.259 de 15 de maio de 1974; lei 3.214-A de 27 de novembro de 1975).

Em 17 dezembro do mesmo ano foi criada pela lei n˚ 3.454-A a Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia – EPABA, tendo de acordo com seu art. 3˚ a finalidade de desenvolver pesquisas e experimentações relacionadas direta e indiretamente com a agropecuária no Estado.

No início da década de noventa, no auge da depreciação do sistema público de Ater brasileiro, após a extinção da EMBRATER em 1990, quando os estados e municípios se veem responsáveis por assumir os serviços de Ater, foi criada a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA.

A EBDA foi formada pela fusão entre a Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia - EPABA e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia - EMATER-BA, por meio do Art. 14 da Lei 6.074 de 22 de maio 199111 (COSTA, 1996, p.19). A empresa possui como acionistas o Governo do Estado da Bahia e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (EBDA, 2013). As alterações organizacionais são apresentadas na figura 02.

De acordo com a EBDA,

No seu novo formato, a ATER é considerada como um processo educativo e de fortalecimento da produção, e, portanto, constitui-se num bem-público, cabendo ao Estado garantir a oferta gratuita de serviços de qualidade para aqueles que necessitam deste apoio. Como decorrência, a Política Nacional de Ater estabelece as bases para uma nova Extensão Rural (...) (EBDA, 2013).

10 Segundo Costa (1996) esta substituição teve por objetivo atender à legislação da EMBRATER. 11 Lei que modifica a estrutura organizacional da Administração Pública Estadual e dá outras

33 Figura 02. Alterações organizacionais que originaram a EBDA e ano de criação de cada órgão.

Fonte: Elaborada pelo autor com base em pesquisas secundárias.

Assim sendo, entende-se que, para a empresa, o Estado deve atuar na prestação dos serviços de Ater, para aqueles que se encaixam como beneficiários de suas ações, tendo por base a Política Nacional de Ater, que é a PNATER.

A EBDA possui como Linhas de Ação:

1. Acesso a serviços de ATER gratuitos, de qualidade e em quantidade suficiente.

2. Promoção do desenvolvimento rural sustentável.

3. Abordagem multidisciplinar e interdisciplinar, com enfoques metodológicos participativos, com paradigma tecnológico baseado nos princípios da Agroecologia.

4. Processos educativos permanentes e continuados, com enfoques dialéticos, humanistas e construtivistas, contribuindo para formação de competências, mudanças de atitude e procedimentos. (EBDA, 2013).

A empresa diz estar presente em todos os 417 municípios baianos, por meio de 20 gerências regionais, 132 escritórios locais, 55 postos de atendimento avançado, 20 estações experimentais, 10 centros de profissionalização, além de 14 laboratórios e um centro de treinamento em Salvador (EBDA, 2013).

A gerência regional da EBDA foi implantada em Seabra no ano de 1976, quando a empresa ainda se chamava EMATER-BA. Era composta por 23

ANCAR-BA 1954 IBCR - 1968 EMCERBA 1974 EPABA - 1975 EMATER-BA 1975 EBDA 1991

34 escritórios, sediados nas cidades de Abaíra, Andaraí, Barra da Estiva, Boquira, Boninal, Brotas de Macaúbas, Cafarnaum, Ibicoara, Ibitiara, Ibotirama, Ipupiara, Iraquara, Jussiape, Lençóis, Mucugê, Nova Redenção, Oliveira dos Brejinhos, Palmeiras, Piatã, Seabra, Souto Soares, Utinga e Wagner.

Hoje, a gerência regional é constituída por sete escritórios locais, localizados nas cidades de Abaíra, Andaraí, Boninal, Brotas de Macaúbas, Iraquara, Mucugê e Oliveira dos Brejinhos. Além de cinco Postos Avançados de Trabalho - PAVAN’s, que são escritórios montados em parceria com as prefeituras por meio dos chamados Convênios de Cooperação Técnica, ficando subordinados a algum dos escritórios locais.

Figura 03. Área de abrangência da gerencia regional da EBDA – Seabra 2013.

Fonte: Elaborada pelo autor com base em pesquisas secundárias.

Os PAVAN’s estão localizados nas cidades de Jussiape, Novo Horizonte, Palmeiras, Piatã e Souto Soares, e estão ligados respectivamente aos escritórios de Abaíra, Boninal, Seabra, Abaíra e Iraquara, sendo que em, Nova Redenção e Ipupiara, segundo os chefes de escritório de Andaraí e Brotas de Macaúbas, os PAVAN’s passavam por processo de renovação do convênio, que havia extinto,

35 fato que não gerou descontinuidade aos trabalhos que vinham sendo feitos. Assim, a empresa se faz presente em quinze dos dezessete municípios sob responsabilidade da gerência regional de Seabra.

Além da EBDA, existem na Bahia outras empresas públicas prestadoras de Ater. Como a Bahia Pesca, empresa estadual, e a CEPLAC e CODEVASF, que são federais. Porém, por não fazerem parte da análise deste estudo, será feita apenas uma breve explanação sobre estas.

Criada em 1982, a Bahia Pesca, a exemplo da EBDA, é vinculada à Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia – SEAGRI, tendo como finalidade “fomentar a aquicultura12 e a pesca, mediante a implantação de

projetos sustentáveis observando a natureza econômica, social, ambiental e cultural, como forma de contribuir para o desenvolvimento do estado da Bahia.”. Possui sua atuação focada na “atração de investimentos, desenvolvimento científico, tecnológico, criação de pólos produtores e fortalecimento das cadeias produtivas.”. Dentre as ações desenvolvidas pela empresa está a prestação de assistência técnica e extensão rural (BAHIA PESCA, 2013).

A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPLAC, criada em 1957, é um órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, que atua em seis estados brasileiros: Bahia, Espírito Santo, Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, desenvolvendo atividades de pesquisa, extensão rural e ensino agrícola, tendo os seus trabalhos focados na lavoura do cacau (CEPLAC, 2013).

A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF, é vinculada ao Ministério da Integração Nacional, atua nas bacias dos rios São Francisco, Parnaíba, Itapecuru e Mearim13, no intuito de promover o desenvolvimento e a revitalização destas bacias hidrográficas “com a utilização sustentável dos recursos naturais e estruturação de atividades produtivas para a inclusão econômica e social.”, possuindo como uma das ferramentas de atuação a Ater (CODEVASF, 2013).

De acordo com o censo agropecuário de 2006 do IBGE, na Bahia existem 761.528 estabelecimentos agropecuários (665.831 da agricultura familiar e 95.697

12 Considerada pela empresa como alternativa para a produção da agricultura familiar.

13 Esses dois últimos foram inclusos por meio da lei nº 12.196, sancionada em 14 de janeiro de

36 da agricultura patronal), destes, 54.111 recebem orientação técnica (7,1%), sendo que, a orientação técnica de origem governamental (seja federal, estadual ou municipal) alcança apenas 27.627 estabelecimentos (3,63%) do total. Ou seja, a porcentagem de estabelecimentos familiares, público da PNATER, que recebe orientação técnica de origem governamental é ainda menor do que 3,63%.

Segundo Guanziroli (2011) ao relacionar os dados do censo agropecuário de 1996 aos de 2006, o percentual de estabelecimentos familiares que recebe assistência técnica na Bahia, independente da origem, passou de 2,8% para 5,4%, o que equivale a um crescimento de 92,8% nestes dez anos. Se comparado aos outros estados do Nordeste, a Bahia obteve o segundo pior índice de crescimento no atendimento de Ater, possuindo ainda, mesmo tendo de acordo com o IBGE o maior número de estabelecimentos familiares do Brasil, o segundo pior índice de porcentagem dos estabelecimentos familiares atendidos do Nordeste.

Esta situação retrata que os agricultores familiares baianos pouco são atendidos e beneficiados com os trabalhos de Ater de origem governamental, visto que a porcentagem dos que recebem estes serviços, garantidos por lei, ainda é ínfima.

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