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5. ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR EM

5.1 A participação da comunidade escolar

5.1.4 A participação dos alunos

Segundo Paulo Freire (1995) as visões de mundo, as expressões, as ações e os projetos de vida das crianças não podem ser silenciados por uma sociedade que, tradicionalmente, só reconhece o espaço dos adultos. É preciso perceber as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e, portanto, deve ser assegurada a sua participação e opinião nos processos de construção coletiva das regras na família, na escola e nos grupos sociais que freqüentam.

A democratização dos processos de gestão precisa ser construída coletivamente, considerando a especificidade e a possibilidade histórica de cada sistema de ensino (municipal, estadual ou federal) e de cada escola Como já citado no primeiro capítulo, o processo da gestão democrática da escola implica o aprendizado e a vivência do exercício de participação efetiva dos alunos nas tomadas de decisões.

Quadro 6 – Participação dos alunos

4 - A participação dos alunos na vida da escola

Dimensões Transformadoras Dimensões exclusoras

Di

ret

ora

O aluno aprende um com o outro, ele aprende só de ver a participação do pai ali, ele se estimula também, estimula o aprendizado dele [...] Estimulo à aprendizagem do aluno quando você vê aquele grupo, tudo funcionando, dentro das atividades que já tinham sido propostas, quer dizer, não foram uns dias perdidos, muito pelo contrário, fora, aulas dadas [...] Tempo que as crianças gostaram, as crianças vivenciaram. [...] às vezes, o coleguinha, ali do lado, diz assim pra ele: “olha, mas eu fiz assim” [...]

De repente, de maneira espontânea [...] muito simples: Olha, eu fazia assim - ah! Ta! Então a criança consegue entender [...] É a aprendizagem compartilhada ente as crianças [...] um ensinando o outro

[...] a nossa escola perdeu a emoção de aprender.

Assiste

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[...] na biblioteca tutorada e no grupo interativo, eles (os alunos) têm tido uma melhora. [...] Eles não dão problema de indisciplina [...] Você pode notar: se quer ver um aluno indisciplinado começar a se acomodar e a ter interesse é quando ele começa a entender o que ele está fazendo com aquilo. Ele começa a despertar; ele começar ter vontade [...] Essa indisciplina passa pelo que eu sei fazer. Porque, quem sabe produz!

Daí a importância do estímulo ao aluno [...]

O aluno acredita que colabora com a escola quando passa a fazer as coisas, quando mantém a disciplina, obedece as regras, horários, colabora com os colegas, quando ensina algo para um amiguinho que não sabe [...]

Os alunos muitas vezes não sabem ainda como participar [...]

Para a maioria das crianças, é a escola que marca o início da sua atuação nas questões públicas. É na escola que muitas delas vivenciam o primeiro encontro com a sociedade e têm a oportunidade de, por meio da participação, começar a construir sua autonomia e a exercer sua cidadania. É na escola que elas se deparam com o início da construção do significado do que é “coletivo” e “público”. A convivência em grupo favorece as crianças compartilharem tempos, espaços, objetos, valores e linguagens coletivas.

Dimensão transformadora

Segundo as gestoras da escola, quando melhora o aprendizado dos alunos melhora o “clima da escola”, no que diz respeito às relações. Os resultados positivos afetam a auto-estima do professorado, do alunado e da comunidade em geral que passa a se interessar mais pelos princípios teóricos das Comunidades de aprendizagem. As gestoras da escola enfatizaram que os professores passam a acreditar mais nas potencialidades dos seus alunos, em termos de aprendizagem, que por sua vez, cada vez mais os alunos vão se envolvendo nos estudos, na compreensão dos processos, o que lhes dá maior segurança, os tornando-os mais otimistas e solidários; “ao ver as crianças mudarem, mudam as posturas dos professores em relação à criança”. De acordo com os depoimentos e análises das gestoras, os alunos, por sua vez, entendem que participar é colaborar - com a escola, com a professora, com a diretora, com a inspetora - é ajudar os colegas - em todos os sentidos. Relataram que as participações dos alunos têm ocorrido de forma espontânea. O que se percebe em suas falas é a solidariedade como algo muito significativo e crescente no espaço escolar. Fruto da interação social, mediada pela linguagem e pelo dialogo.

Se levarmos em conta que a solidariedade é um dos sete princípios que fundamentam a aprendizagem dialógica, foco das escolas transformadas em Comunidades de Aprendizagem perceberemos que este princípio ganha densidade na unidade escolar, uma vez que passa a ser concebida a solidariedade como uma lógica de argumentação moral. Na hora da entrada e saída da escola, na sala de aula, no recreio, no uso dos brinquedos, da lousa, do giz, do material escolar, as crianças começam a perceber a convivência em grupo. Elas começam a interagir com bens coletivos, com linguagens coletivas. A escola e o contexto social em que estão inseridas não podem se eximir da responsabilidade de construção de valores, de respeito e de responsabilidade frente aos espaços públicos e frente às relações democráticas de convivência, fundamentada na resolução de conflitos por meio do diálogo igualitário. Isso exige um aprendizado. A solidariedade, o respeito, o saber escutar, avaliar e decidir implicam processos pedagógicos que devem ser construídos no cotidiano.

Dimensão exclusora

De acordo com as análises das entrevistas alguns pontos importantes foram levantados para serem repensados pela equipe de gestão escolar: o de que nem sempre

os alunos se sentem ouvidos nos processos de tomada de decisão e que muitas vezes não sabem ainda como participar delas. Estas informações podem se constituir em indicativos acerca da ausência de alunos, o que se percebe, por exemplo, nas reuniões de Comissão Gestora. Como não se sentem ouvidos, não se interessam em participar, ou sequer sabem que podem e como devem participar. Ouvir os alunos é essencial em uma “Comunidade de Aprendizagem” uma vez que, como destacamos anteriormente, o poder não se centra no status das pessoas participantes e sim nos argumentos empregados por elas. Ao não serem convidados a participar dos processos decisórios da escola e ao não se sentirem capazes de colaborar e atuar nestes, por meio do diálogo, os alunos tendem a se acomodar à passividade. Desta forma, acabam por se adaptar ao mundo de forma ingênua, ao invés de buscar sua transformação. Sobre isso, Freire nos explica que

a experiência educativa- saber que devo respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando – não são regalos que recebemos por bom comportamento. As qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distancia entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distancia entre o discurso e a pratica, é já uma das virtudes indispensveis- o da coerência. Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogância. ( FREIRE 1996a, p.65)

Assim, entendemos que a educação deve propiciar a formação dos sujeitos comunicativamente competente, fomentando condições de aprendizagem que possibilitem a comunicação e a emancipação, a partir do diálogo igualitário, da reflexão e do consenso nos processos de tomada de decisão.