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2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. Estudos empíricos relacionados com o relato financeiro intercalar

2.2.3. A relevância da informação contida no relato financeiro intercalar

2.2.3.1. A perceção da utilidade da informação financeira intercalar

Os estudos sobre a perceção da utilidade do RFI identificados baseiam-se, essencialmente, na tentativa de compreensão de qual a perceção da utilidade da IF divulgada no RFI tanto para os investidores (Opong, 1995; Al-Bogami, 1996; Livnat e Tan, 2004 e Consuli, 2007) como para os responsáveis pela sua preparação (Taylor, 1965; Al-Bogami, 1996 e Joshi e Bremser, 2003). Quanto à metodologia utilizada, a informação recolhida consubstanciou-se em questionários (Taylor, 1965; Al-Bogami, 1996; Joshi e Bremser, 2003 e Consuli, 2007), entrevistas (Al- Bogami, 1996) e RFI (Opong, 1995 e Livnat e Tan, 2004). No que se refere às técnicas estatísticas utilizadas para o tratamento dessa informação os autores recorreram a técnicas estatísticas descritivas, nomeadamente, análises de frequência (Taylor, 1965; Al-Bogami, 1996 e Consuli, 2007), modelos baseados em regressões (Opong, 1995 e Livnat e Tan, 2004), análise múltipla discriminante (Joshi e Bremser, 2003) e testes de diferenças paramétricos, nomeadamente, o teste t e o teste de qui-quadrado (Al-Bogami, 1996 e Consuli, 2007).

Opong (1995), Al-Bogami (1996), Livnat e Tan (2004) e Consuli (2007) analisaram a perceção da utilidade da IF intercalar na ótica dos investidores. As conclusões obtidas referem que os investidores consideram o RFI útil, na medida em que fornece uma atualização de informação

37 às últimas DF anuais, não sendo ainda esta a sua fonte de informação principal para a tomada de decisão. Consuli (2007) justifica este aspeto alegando que os investidores ainda não veem o RFI como uma informação com o grau de transparência e fiabilidade adequados.

Opong (1995) desenvolveu um estudo que teve como objetivo colmatar a necessidade de obtenção de provas mais precisas acerca do valor das informações divulgadas nos RFI de empresas do Reino Unido. Para tal, o autor utilizou técnicas de regressão para analisar 237 RFI de 100 empresas cotadas no Reino Unido entre 2 de Janeiro de 1983 e 2 de Janeiro de 1987. O autor levantou a hipótese de que como resultado de possíveis problemas de confiança, pelo RFI não ser certificado por um auditor, esses relatórios poderiam ser considerados como sendo uma informação de reduzido valor. No entanto, os resultados do estudo provaram precisamente o contrário, demostrando que o RFI contém informações com valor para os investidores, com especial relevância no dia em que os mesmos são divulgados. Al-Bogami (1996) analisou, em tese de doutoramento e com recurso a análises descritivas (frequências, sobretudo) e o teste qui-quadrado, a utilidade do RFI para os investidores na Arabia Saudita, através da aplicação de questionários e entrevistas a diferentes grupos entre Abril e Junho de 1994.Entre as conclusões do estudo, encontra-se o facto de que o RFI é útil para os investidores (92 % dos investidores institucionais e 76% dos investidores privados utilizaram o RFI para tomar decisões). O autor concluíu ainda que o objetivo da IF intercalar é oferecer uma atualização à IF divulgada no relato anual, havendo uma minoria que entende que o objetivo do RFI é apenas cumprir exigências legais e regulamentares.

Livnat e Tan (2004) analisaram se os investidores avaliam corretamente os resultados trimestrais divulgados nos Estados Unidos da América. Para atingir o referido objetivo, os autores utilizaram análises de regressão logística a 220.485 relatórios trimestrais de 7.600 empresas cotadas, durante os anos de 1988 e 2002. Os resultados obtidos sugerem que os investidores não ignoram completamente os resultados trimestrais divulgados, embora atribuam um menor valor, comparativamente com os resultados divulgados no relato anual. Consuli (2007) em dissertação realizada em Portugal sobre o RFI analisou os seguintes aspetos: os fatores explicativos associados à periodicidade e à publicação do RFI, bem como a perceção dos utentes acerca da IF intercalar divulgada. Para o efeito, o autor analisou as repostas obtidas de 128 questionários enviados em Março de 2007 a revisores oficiais de contas, a técnicos oficiais de contas, a professores de contabilidade e auditoria de 4 Institutos Superiores nacionais, a corretores e a intermediários financeiros. Após a referida análise, o autor identifica que, na ótica dos respondentes, o RFI ainda não possui um grau de

38 transparência e fiabilidade adequado, uma vez que os resultados apresentados no RFI deixam margens para interpretações distintas. Os respondentes referem ainda a descrença na publicação voluntária de informação intercalar, identificando como principais benefícios do RFI a significativa melhoria na imagem organizacional da entidade. As respostas obtidas permitiram igualmente concluir que as exigências de periodicidade e conteúdo do RFI atualmente existentes satisfazem plenamente as necessidades de informação dos utentes (a publicação em períodos mais curtos apresentaria mais custos do que benefícios), sendo a única exceção o relatório de gestão trimestral, onde 61,79% dos respondentes considera insuficiente o seu conteúdo.

Taylor (1965) e Joshi e Bremser (2003) analisaram a perceção da utilidade dos RFI na ótica dos preparadores e concluíram que os responsáveis pela sua preparação reconhecem a sua importância e utilidade. No entanto, segundo Taylor (1965), frequentemente os preparadores deparam-se com a existência de dificuldades no contexto da sua elaboração.

Taylor (1965) tentou determinar, através da análise das respostas obtidas em questionários, a reação das entidades cotadas nos Estados Unidos da América à nova exigência de divulgar RFI, bem como a utilidade desses relatórios para as entidades emitentes. Após a análise das respostas obtidas, concluíu que mais de metade das entidades publicavam RFI desde 1959 e mais de 84% das entidades reconheceu positivamente a utilidade do RFI, concordando com as exigências introduzidas. No entanto, a maioria das entidades reconheceu existirem ainda dificuldades na preparação do RFI, sendo as mais frequentes a sazonalidade, a mensuração de rendimentos intercalares e outras questões relacionadas com a especificidade de cada setor. Joshi e Bremser (2003) desenvolveram um estudo a partir do qual analisaram a perceção dos responsáveis pela preparação dos RFI relativamente à utilidade da informação divulgada.Para o efeito, os autores distribuíram questionários aos chefes de departamentos de contabilidade de 41 empresas cotadas no Bahrein, tendo-se obtido um total 31 respostas válidas, correspondente a uma taxa de resposta de 75,6%. Da análise dos referidos questionários, os autores constataram que a maioria dos inquiridos considerou que o RFI é altamente relevante para a sua empresa, sendo que 44,6% dos respondentes consideraram ainda que a IF divulgada afeta o preço das ações da empresa.

2.2.3.2. O impacto no mercado da informação contida no relato financeiro intercalar