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4.2 Facilitadores do Processo de Identização Docente

4.2.4 A Percepção dos Acadêmicos

Na visão dos acadêmicos, também podemos traçar alguns pontos que são elencados como facilitadores para a construção do processo de identização docente. Muitos destes se assemelham com os discursos dos professores, demonstrando um mesmo olhar sobre este aspecto, o que pode ser observado a partir dos indicadores das respostas a seguir destacados.

Os núcleos/grupos se consolidam nas falas dos acadêmicos, ao serem mencionados como espaços que influenciam na caracterização necessária para a construção do ser professor. É a partir desta atuação extracurricular que eles vão buscando adquirir os conhecimentos necessários para além dos proporcionados na estrutura curricular.

[...] também a partir da inserção nos grupos de estudos, que tu foca uma linha de pesquisa, tu focas o ser professor naquela linha que tu estás no projeto, até por tu se identificares mais com aquilo [...] te aprofunda nos grupos de pesquisa [...] a gente busca também nos grupos o que a formação inicial não está nos suprindo [...] então os grupos de pesquisa, de estudo, eles seriam pontos positivos que nos auxiliam nessa formação da identidade do ser professor (Grupo Focal Acadêmico).

Na fala dos acadêmicos, concretiza-se o que os professores destacam sobre os núcleos/grupos. Ambos trazem a importância desses espaços formativos para a formação do futuro professor, ou seja, o papel deles na construção da identização docente. No estudo de Ilha (2010) nota-se a importância dada pelos acadêmicos participantes para os grupos de estudo que fazem parte, onde há uma busca em ampliar os conhecimentos trabalhados nas disciplinas do curso, qualificando a formação de cada um no que se refere aos elementos trabalhados nesse espaço formativo.

Outro ponto lembrado pelos acadêmicos é a atuação dos mesmos em programas como o PIBID. Este ponto se torna uma maneira de articulação entre a teoria e a prática. “[...]

aprendi a ser professora com o projeto PIBID, porque daí tu sai, tu enfrenta mesmo, se tem dificuldade, tu trabalha em cima dessa dificuldade” (Grupo Focal Acadêmico).

Braibante e Wollmann (2012) trazem em sua pesquisa relatos dos bolsistas do PIBID, que assim como nossos acadêmicos participantes, colocam que esse influenciou de maneira significativa para o futuro profissional dos mesmos. Para as autoras, o programa tem um caráter de despertar maior interesse pelo magistério, permitindo acreditar que os acadêmicos bolsistas terão uma atuação diferenciada futuramente, pois já estão mais conscientes e amadurecidos em relação à docência.

Ainda nesta perspectiva de teoria e prática, os acadêmicos também colocam o ECS como facilitador da constituição do processo de identização docente dos mesmos. “[...] no

estágio [...] dessa questão da prática mesmo, acho que naquele momento que tu estás ali em frente aos alunos, tu tens que passar um conhecimento a eles e é ali que tu vais se construindo como professor, a partir de desafios que vem pra ti” (Grupo Focal Acadêmico).

O estágio pedagógico pode ser caracterizado como um espaço privilegiado da formação teórica com a vivência profissional (MIRANDA, 2008). Conforme Krug (2010, p. 6) essa interface teórico-prática constitui-se de uma “interação constante entre o saber e o fazer, entre conhecimentos acadêmicos disciplinares e o enfrentamento dos problemas decorrentes da vivência de situações próprias do cotidiano escolar”.

Contudo, é interessante ressaltar que o estágio não deve ser considerado como uma aplicação de teorias, e sim como resultado de uma construção teórica desenvolvida ao longo do curso de formação inicial, cujo currículo se constrói e se desenvolve na inter-relação teoria-prática (ILHA et al., 2009). Tardif (2002) completa esta ideia ao colocar que a prática profissional não é simples aplicação de teorias elaboradas fora dela, mas um espaço original e relativamente autônomo de aprendizagem e de formação para os futuros docentes, sendo assim, a formação profissional é redimensionada para a prática e, consequentemente, para a escola enquanto lugar de trabalho dos professores. Neste sentido, o aprendizado de associar teoria e prática é uma das principais contribuições positivas do ECS para a formação profissional em Educação Física (SILVA; KRUG, 2007).

Dentro dos ECS, os acadêmicos destacam outro ponto positivo para a sua construção enquanto professor, que é o diálogo com o professor-colaborador17 da escola. “[...] na escola tem também uma boa troca com os professores [...] em certas questões a gente tem um bom retorno, sabe, tem um bom auxílio, claro que pelas experiências deles, com certeza, situações que a gente nunca passou e eles já passaram” (Grupo Focal Acadêmico).

Esta característica também é levantada na pesquisa de Benites et al. (2012), os quais retratam o papel do professor-colaborador durante o ECS. Para os autores, os professores- colaboradores entrevistados percebem que possuem um papel importante para os futuros professores, embora ainda não tenham claro qual realmente seria sua função com relação à

17 Professor-colaborador é o professor da escola de educação básica que recebe estagiários em condição oficial

de ECS, esse oferece aos futuros docentes elementos da sua experiência, possibilitando que os mesmos “descubram os macetes da profissão”, assim oferecendo “condições e espaço para os licenciados colocarem em prática seus conhecimentos didático-pedagógicos” (BENITES et al., 2012, p. 14).

formação dos licenciados. Contudo, é possível constatar que “antes de uma relação profissional, os professores-colaboradores e os estagiários estabelecem uma relação afetiva, e a partir desta, o aprendizado da profissão e a troca de experiências pode ocorrer de forma satisfatória ou não” (BENITES et al., 2012, p. 22-23).

A troca de experiência entre os acadêmicos também é levantada como um ponto positivo para a constituição do processo de identização docente. Eles caracterizam esta ação como uma das maneiras de se construir enquanto professor.

[...] tem bastante pelas diferentes experiências que cada um traz, e que acaba sempre acrescentando, né, ou até as críticas que a gente tem sobre isso, que a partir delas a gente constrói também alguma coisa [...] às vezes tem dificuldades como, por exemplo: como agir com alunos ou com a turma, que a colega tem mais facilidade, então há uma troca [...] ela: “Ah! Quem sabe tu fazes assim, assim, assado!” Daí eu tento [...] há uma troca de experiências e isso ajuda a enriquecer o nosso cotidiano (Grupo Focal Acadêmico).

Nesta perspectiva, Krug (2004) salienta que é necessário que os professores conversem entre si sobre a Educação Física, troquem ideias, fiquem em dúvida sobre a forma como estão conduzindo suas práticas profissionais, pois só assim poderão detectar pontos positivos e negativos no que estão fazendo. É a partir destas conversas que podem ver o quanto estão contribuindo para que as aulas tenham um papel significativo na vida dos alunos.

Um ponto essencial na graduação é a troca de experiências entre os acadêmicos estagiários, pois se cria um ambiente propício para o desenvolvimento intelectual, estimulando-os a expor seus saberes, a criticar e enriquecer as suas práticas, através da pesquisa e das experiências de seus colegas (FERREIRA; KRUG, 2001). Nesta direção, nota- se a aproximação da fala dos acadêmicos com o que Pimenta (1997) destaca, onde o processo de identização docente se constrói a partir de sua rede de relações com os demais colegas profissionais, nas escolas e em outros agrupamentos.