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A PERSPECTIVA DE GÊNERO NO CAMPO DA SAÚDE:

EM QUESTÃO O USO DE ANSIOLÍTICOS.

No capítulo anterior, procuramos mostrar as características do modelo assistencial dentro de uma ótica neoliberal, que fundamenta um tipo de atenção, voltado para interesses do capital. Enfocamos também o tipo de atendimento dado à mulher, mostrando falhas e limitações que resultam numa assistência inadequada. Daremos continuidade a essa análise, procurando delimitar outros aspectos relacionados com o uso dos ansiolíticos, enfatizando, dessa vez, a perspectiva de gênero, para que tenhamos um melhor entendimento de como alguns aspectos da vida da mulher repercutem no seu processo saúde/doença.

Discutiremos, então, questões relacionadas à condição feminina através de alguns eixos de análise, abordando aspectos relativos aos papéis que são atribuídos à

mulher; a ênfase dada ao aspecto biológico; a divisão sexual do trabalho, na qual será enfatizada a categoria do público e do privado; a expansão profissional, levando em conta as mudanças ocorridas dentro da família, o acúmulo de atividades e sua inserção social. Também enfocaremos as relações com o complexo médico-industrial, das quais resulta a questão da dependência tecnológica que se dá através da imposição do consumo de medicamentos. Temos como objetivo, neste capítulo, compreender a dimensão que essas questões têm sobre a construção da subjetividade feminina e de como isso vai repercutir sobre o seu processo de saúde/doença, especialmente em se tratando do uso dos medicamentos ansiolíticos.

O estudo das relações de gênero torna-se necessário para uma compreensão mais abrangente a respeito do uso excessivo de ansiolíticos, uma vez que as mulheres aparecem como as maiores consumidoras desse tipo de medicamento, de acordo com Bucher (1992), Barros (1983), entre outros. Tendo em vista que essas relações identificam o tipo de vinculação social que se estabelece entre homens e mulheres, podemos considerá-las como sendo um elemento importante na determinação do comportamento apresentado. Indubitavelmente, as relações de gênero são permeadas por costumes e valores que determinam os papéis que cada um assume, havendo ligação direta com a formação da subjetividade e, portanto, com a forma de se ver e estar no mundo.

Gouveia e Camurça (1997), quando esclarecem o conceito de gênero, afirmam que tal construto implica uma relação que produz distribuição desigual de poder, de autoridade entre as pessoas de acordo com o sexo, acrescentam ainda que as relações de gênero são construídas a partir das diferenças sexuais, não sendo, portanto, naturais. Como construção social, a relação de gênero vai depender dos costumes, da experiência cotidiana das pessoas, variando de acordo com as leis, as religiões, a maneira de organizar a vida familiar e a vida política de cada sociedade ao longo da história. Difere também de acordo com a classe social, a raça e a idade. As normas de gênero estabelecidas são importantes para a compreensão dos comportamentos de homens e mulheres, pois os determinam criando valores diferenciados para cada um. Tais comportamentos, segundo essas autoras, têm uma ligação direta com a forma como as relações de gênero estão organizadas na sociedade. A subjetividade de cada um é, pois, construída a partir de normas, valores, símbolos e do funcionamento das instituições.

É importante nos reportarmos um pouco à história das mulheres para entendermos melhor as relações sociais e de gênero desenvolvidas e tentar relacioná-las às concepções e práticas relativas ao seu processo de saúde/doença e ao uso atual de ansiolíticos. A análise dos papéis e das funções assumidas e impostas às mulheres possibilitará incursões a respeito das formas como enfrentam os problemas com sua saúde no seu contexto social e cultural. Assim, é possível que compreendamos um pouco melhor as práticas de consumo desses medicamentos, analisando esse consumo a partir das relações e posições assumidas pela mulher na sociedade.

Sob uma perspectiva histórica, Perrot (1988) expõe elementos importantes a respeito do discurso sobre as mulheres no século XIX, os quais podem nos ajudar na compreensão de tais práticas de consumo. Segundo ela, nessa época, esse discurso mostrava-se naturalista, referindo-se ao homem e à mulher como duas espécies com qualidades e aptidões diferentes e particulares. “Aos homens, o cérebro (muito mais importante que o falo), a inteligência, a razão lúcida, a capacidade de decisão. Às mulheres, o coração, a sensibilidade, os sentimentos” (p.177). Tais atribuições colocavam a mulher, desde essa época, numa posição de submissão, nelas predominando comportamentos que representavam uma condição de fragilidade em relação aos homens, o que certamente determinou a maneira de lidar com a sua saúde. De fato, o uso atual de ansiolíticos ainda reflete tal condição, expressando um certo tipo de condicionamento social da mulher em lidar com seus incômodos: desde cedo, aprende a controlar seus males físicos ou fisiológicos (tensão menstrual, insônia, enxaqueca, cólica menstrual), o que a faz recorrer a tais medicamentos muito mais do que os homens.

A ênfase dada pela sociedade e pelo discurso médico aos aspectos biológicos da mulher também nos ajudará a compreender o desenvolvimento de alguns papéis que lhes foram atribuídos. Giffin (1991), ao situar a discussão do biológico e do social na análise da condição feminina, afirma que, antes do movimento feminista na década de 60:

A identidade feminina e a condição social da mulher eram referidas a fatores biológicos: estatura menor, menor força muscular, as dimensões do cérebro e o processo reprodutivo que “enfraquecia” e caracterizavam a chamada “inferioridade biológica da mulher” – conceito aceito tanto no discurso científico como na sociedade em geral. A mulher feita para ser mãe (ter um útero significa parir) via-se uma correspondência perfeita entre atributos físicos e funções sociais (p.190).

Nessa direção, as mulheres tinham que aceitar a maternidade como função natural, bem como reconhecer sua incapacidade de mudar esse destino, o que caracterizava posições determinadas pelos elementos culturais e sociais vigentes, delimitando as formas de comportamento e os papéis e funções que deveriam exercer.

Ainda considerando o aspecto biológico no entendimento dos papéis socialmente construídos e atribuídos à mulher, autoras como Pitanguy (1982) afirmam que “os conceitos de masculinidade e feminilidade são resultados de uma retradução cultural do biológico e, a partir dela, são atribuídas ao homem e à mulher qualidades opostas, como: atividade X passividade, agressividade X resignação, racionalidade X emocionalidade, força X fragilidade” (p. 5). A sua perspectiva é a de que a atribuição de tais qualidades opostas retira o ser humano do seu movimento dialético, escamoteando seu significado integral, trazendo conseqüências diversas para o homem e a mulher, na medida em que legitimam posições assimétricas na distribuição do poder.

A divisão sexual do trabalho também nos dará condições de esclarecer algumas questões a respeito do comportamento da mulher no que diz respeito a sua saúde. Perrot

(1988) explicita que o século XIX veio acentuar a racionalidade harmoniosa dessa divisão, em que “cada sexo tem sua função, seus papéis, suas tarefas, seus espaços, seu lugar quase predeterminados, até em seus detalhes” (p.178). No exercício do poder dentro da estrutura familiar, a ação das mulheres, no referido século, consistiu, sobretudo, em ordenar o poder privado, familiar e materno, a que eram destinadas. Tal divisão de tarefas e a segregação sexual dos espaços chegaram ao ponto mais alto. O lugar das mulheres estava claramente definido: a maternidade e a casa. O trabalho feminino era predominantemente ligado ao lar. Sua participação no trabalho assalariado era temporária, cadenciada pelas necessidades da família, remunerada com um salário de trocados e executando tarefas ditas não-qualificadas. O que predominava, portanto, era uma acentuada divisão do trabalho e a separação dos locais de produção e consumo: o homem na fábrica; a mulher em casa ocupando-se do doméstico. Segundo essa autora, esse perfil se adequava muito mais a mulheres pertencentes a classes média e alta do que as das classes populares, pois não havia tanta dicotomia público/privado.

Devido às transformações ocorridas com o advento da industrialização, entretanto, a divisão sexual do trabalho tornou-se mais rígida. A mulher passou a executar principalmente tarefas relativas à reprodução da força de trabalho na esfera privada do lar e sem remuneração, enquanto ao homem coube o trabalho produtivo extra lar, pelo qual recebia alguma remuneração. A partir disso, de acordo com Bruschini (1990, p.46):

A ideolologia se encarregou do resto, transformando essa rígida divisão sexual do trabalho em uma divisão “natural”, própria à biologia de cada sexo. A mistificação do papel de esposa e de mãe concretizou-se mais facilmente na medida em que casa e família passaram a significar a mesma coisa, apesar de na verdade não o serem: enquanto a casa é uma unidade material de produção e de consumo, a família é um grupo de pessoas ligadas por laços afetivos e psicológicos.

O trabalho doméstico passou a ser naturalizado como um trabalho para a família, em que a mulher tinha obrigatoriamente que exercer funções ligadas aos cuidados dos seus membros. De acordo com Bruschini (1990), mesmo após a alteração dos valores devido à expansão da economia, em que o trabalho assalariado começa a ser aceito para as mulheres e as oportunidades educacionais ampliadas, não houve, apesar da valorização da independência da mulher, alteração profunda nos papéis de gênero e na estrutura tradicional familiar. A educação da mulher continuou voltada para o casamento, para a vida em família e para a educação dos filhos.

A partir do século XIX, a sociedade ocidental se transformou num amplo contexto político, econômico e ideológico, o que possibilitou uma mudança nas mulheres, levando-as a não se satisfazerem somente com os projetos de maternidade e vida familiar. Isso fez surgir a necessidade de expansão profissional da mulher, rompendo com velhos valores culturais que atribuíam somente aos homens o poder político, social e econômico. Assim, começaram a ser vislumbradas conquistas que criaram discussões a respeito do papel da mulher. Inserida nesse contexto, a mulher passou a ter o seu papel considerado não apenas no que se refere ao seu destino biológico, mas também ao seu crescimento social. Podemos acrescentar que, a partir disso, houve mudanças nas relações internas da família, o que possibilitou a inserção da mulher dentro da sociedade como um todo.

Sabemos que hoje a mulher ocupa um importante lugar no mercado de trabalho, como também tem uma participação política cada vez mais atuante. No entanto, também sabemos que as condições de emprego são, muitas vezes, precárias e desiguais em relação aos homens, assim como as remunerações. Além desses prejuízos, muitas

mulheres assumiram um acúmulo de atividades, com dupla jornada de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento de muitos problemas de saúde. Sem dúvida, é muito alto o preço pago pela mulher pela conquista de direitos básicos de cidadã, dado que colabora para o adoecimento do seu corpo. Dessa forma, a determinação do seu processo de saúde/doença está intimamente ligada às condições enfrentadas por elas no seu cotidiano.

Tendo em vista todas as dificuldades enfrentadas, a mulher atualmente está questionando sua qualidade de vida, o que indica que o espaço doméstico não parece ser mais, para um número cada vez maior de mulheres, um lugar apropriado para as suas realizações; pelo contrário, é o lugar onde isso parece impossível. Essa nova postura nos possibilita afirmar que projetos de casamento e filhos, de um lado, e conquistas pessoais, especialmente ligadas ao lado profissional, de outro, fizeram com que os primeiros planos (matrimônio e maternidade) passassem a representar para muitas mulheres muito mais um sacrifício ou mesmo a anulação de alguma coisa na sua identidade, tão arduamente construída nos dias de hoje. O resultado disso aparece muitas vezes em forma de angústias, ansiedades e depressões. Kehl (1992), ao examinar o espaço doméstico e a sexualidade da mulher, afirma que “o espaço doméstico talvez seja aquele em que a sublimação é mais difícil: é o que sentimos, mesmo sem saber definir, como possibilidade roubada, quando nos dedicamos aos cuidados concretos com os filhos.” (p.144).

Por todas essas questões abordadas, podemos fazer referência a um “sentimento permanente de inadequação”, apontado por Paiva (1993), quando analisa a condição atual da mulher. Esse sentimento, que afeta o seu senso de identidade, é resultado de um

conflito que se estabeleceu devido às mudanças na vida, nos valores e comportamentos das mulheres. Antes tudo era mais fácil na medida em que era muito claro e definido o que era ser mulher: mãe e dona-de-casa. Não era necessário conciliar filhos, trabalho e vida doméstica. Segundo essa autora, a esse sentimento de inadequação soma-se uma sensação de cansaço, que requer por parte das mulheres grande flexibilidade:

As mulheres devem cumprir hoje todas as tarefas desempenhadas pelos homens, mas deseja-se que mantenham todas as suas velhas atribuições e aquela mesma feminilidade a elas atribuída historicamente. Neste sentido a pregação social é ambígua, ambivalente, joga todos no campo indefinido, que naturalmente é percebido como perigoso (Paiva, 1993, p. 21).

Dessa forma, as mulheres encontram-se em crise com as normas e os papéis sociais que lhes são impostos pela cultura patriarcal, sendo submetidas a condições insatisfatórias de vida. Encontram-se no meio de uma turbulência de atribuições, que acabam por trazer indefinições em relação à sua própria identidade, a qual, anteriormente, estava mais clara para ela.

Hita (1998), no artigo denominado “Identidade feminina: crises e trajetórias”, aponta algumas variáveis importantes relacionadas à crise de identidade do sexo feminino: “aquelas em torno da centralidade das experiências maternais, de esposa e atividades domésticas, assim como os efeitos nefastos de uma exclusão feminina do âmbito público, entre outras” (p. 184). De acordo com essa autora, as experiências próprias do sexo feminino estão de tal forma direta e historicamente atreladas a formas de ser mulher, que parecem confluir de forma mais sistemática e concentrada em períodos de crises identitárias. Sabemos que tais modos de ser mulher assumem significações e particularidades distintas em contextos sociais, históricos e culturais específicos.

Apesar das crises e das transformações ocorridas em relação à condição feminina, atualmente, a instituição familiar continua sendo estruturada, embora esse panorama esteja em transformação, numa divisão sexual do trabalho em que cabe ao homem o papel de provedor de renda e à mulher o papel de prestadora de serviços dentro de casa, ou seja, o trabalho doméstico permanece sob a responsabilidade da mulher, mesmo com as mudanças ocorridas com a sua inserção social. Por isso, obrigações com a educação e a saúde da família continuam sendo, na maioria das vezes, atribuídas à mulher, pois vivemos em uma sociedade que ainda carrega profundos traços patriarcais.

Considerando ainda a perspectiva da categoria gênero, podemos perceber que as relações de poder também acontecem entre as mulheres e o complexo médico-industrial. Segundo Oliveira (2000, p. 26),

O poder deste último sobre as mulheres é evidente pela dependência tecnológica que vem sendo solidificada, quando a técnica é passível de solucionar todos os problemas e o medicamento é um deles. As mulheres passam a crer que os seus problemas, merecendo ou não, são enquadrados como doença e para os quais necessitam do arsenal tecnológico para diagnosticar e tratar.

Sendo assim, elas são convencidas da necessidade de utilização do arsenal tecnológico para melhorar suas vidas e, em conseqüência disso, assumem uma posição de submissão em relação a essa mercadoria. Dessa forma, as mulheres tendem a procurar a solução dos seus problemas nos serviços de saúde, sendo, por isso, cada vez mais medicalizadas. Esse fato, no entanto, não resultou numa melhoria efetiva de sua qualidade de vida e saúde.

Paiva (1993) avalia esse tipo de prática como sendo alienante, na medida em que as mulheres não estão implicadas na solução das suas dificuldades: “Inovações

tecnológicas que poderiam valorizar as vivências específicas do corpo feminino se transformam numa abordagem medicalizadora, padronizada, que tira das mulheres qualquer direito de serem donas de suas experiências” (p. 26).

Ficou claro que as mudanças ocorridas em relação às mulheres no decorrer dos tempos resultaram numa diversificação das suas necessidades de atenção. Porém, a assistência dirigida a elas não avançou, não acompanhou a complexidade de sua inserção na sociedade e, por isso, suas necessidades não estão sendo atendidas de forma mais contextualizada. As conseqüências da inclusão dos outros papéis da mulher fora do âmbito familiar não estão sendo levadas em conta como merecem no momento do atendimento e o resultado disso é o número crescente de mulheres adoecendo e sendo submetidas ao uso de tranqüilizantes como forma de suportar as dificuldades do seu cotidiano.

Além de todas as dificuldades apontadas, relativas à condição feminina, devemos considerar também a realidade de um contexto econômico-social que agrava as condições de vida e saúde da mulher. Deparamo-nos diariamente com fatores como desemprego, pobreza, privações de necessidades básicas, injustiças sociais que interferem diretamente no processo de saúde/doença não só dela, mas de toda a coletividade. Há um grande número de pessoas vivendo na miséria, uma vida cheias de desilusões e frustrações, sem perspectivas de um futuro melhor, transformando o dia-a- dia, na maior parte do tempo, numa luta sofrida e constante pela sobrevivência. Tudo isso faz com que a medicalização seja muito valorizada, passando a ser vista por muitas pessoas como a única saída para aliviar as suas ansiedades e dores, decorrentes da luta

cotidiana pela sobrevivência. Dessa forma, os sintomas que aparecem, antes de serem problemas de saúde, são resultado de injustiças sociais.

Mesmo tendo esse contexto conseqüências terríveis tanto para os homens como para as mulheres, percebemos que há uma repercussão diferenciada nas reações e emoções de cada um. Isso se deve, como já foi analisado anteriormente, a concepções construídas socialmente e culturalmente a respeito do que devem ser os comportamentos do homem e os da mulher, o que é resultado das diferenças nas relações de gênero presentes na sociedade.

Para ilustrar essa assertiva, tomemos um exemplo que se relaciona com o presente tema estudado, que são os discursos de médicos que atendem a mulheres usuárias de Diazepam, os quais foram analisados na pesquisa realizada por Oliveira (2000). A justificativa desses profissionais para o uso do referido medicamento, segundo a autora, é baseada na seguinte concepção sobre a mulher, que não foge daquela predominante em nossa sociedade:

Mais fraca, mais frágil, conseqüentemente necessita de maiores cuidados de saúde e vai a busca deles. São fracas, pois ficam em casa cuidando dos filhos, enquanto o homem é vislumbrado como mais forte, pois é quem traz o sustento da família (Oliveira, 2000, p. 109).

A lógica expressa por esse profissional é de que a cachaça está para o homem assim como o Diazepam está para a mulher, ou seja, são vistos e utilizados como uma saída para muitos problemas. Dessa forma, a prescrição desse medicamento é justificada de maneira equivocada como sendo coisa de mulher, baseando-se em valores machistas que, infelizmente, ainda alicerçam fortemente as bases da nossa sociedade.Tendo em vista essa visão preconceituosa sobre as mulheres, o consumo de tranqüilizantes, praticado por elas, passa a ser encarado pela sociedade como algo natural. Na medida

em que são vistas como fracas, é criada a necessidade de uso de alguma coisa que venha devolver-lhe o equilíbrio perdido, ajudando-a a se controlar diante dos problemas do seu dia-a-dia.

Não parece novidade nos depararmos com concepções e afirmações como a exposta, mas, mesmo assim, devemos sempre nos espantar diante do que parece comum e natural. Percebemos que essas mulheres se colocam em um lugar que lhes é instituído e não tomam uma posição de sujeitos de mudança em relação às condições às quais são submetidas. Logo, o uso do medicamento ansiolítico adquire uma importância muito maior em suas vidas, para a qual não existe muito questionamento, levando-as a acreditar que podem obter a saúde perdida ou mesmo a solução dos problemas a partir da ingestão daquele minúsculo concentrado de elementos químicos.

Podemos perceber, a partir do exposto, que todas as relações sociais estão inseridas e permeadas por questões de gênero e poder. No âmbito da saúde, isso vai

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