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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.2. A perspectiva de redes sociais

Segundo Ribas (2010), para alcançar o desenvolvimento social nas atuais condições da sociedade globalizada e informatizada é necessária mudança de paradigma de ação: ações pontuais e isoladas precisam dar lugar a redes horizontais de cooperação, que possibilitem maior intercâmbio e eficácia na implementação de projetos e políticas públicas na área social.

É preciso levar em conta, como apontou Rodrigues (2010), que ninguém está imerso exclusivamente no âmbito de sua vida privada. Todos os que vivem em sociedade estão, de alguma forma, fazendo parte de um espaço público, de uma relação, de uma rede. Para essa autora, ter consciência disso é o primeiro passo em direção à cidadania.

A melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, famílias e comunidades demandam uma visão integrada dos problemas sociais. A ação intersetorial emerge, no âmbito das políticas sociais, como uma nova possibilidade para resolver esses problemas que incidem sobre uma população que ocupa determinado território.

De acordo com Junqueira (2004), essa é uma perspectiva importante porque aponta para uma visão integrada dos problemas sociais e de suas soluções. Com isso, buscam-se otimizar os recursos escassos procurando soluções integradas, pois a complexidade da realidade social exige um olhar que não se esgota no âmbito de uma única política social. Para esse autor, integrar as diversas políticas sociais não apenas aumenta a sua eficiência e eficácia, como também sua efetividade, pois o usuário não é considerado em cada uma de suas demandas, mas na sua totalidade.

Diante dessa perspectiva, surge a rede social como possibilidade de ampliar e integrar as diversas organizações que atuam nas políticas sociais, conservando, no entanto, sua identidade e sua especificidade.

Em seu livro, "A sociedade em rede", Manuel Castells (1999) afirmou que: A lógica de redes gera uma determinação social em nível mais alto que a dos interesses sociais específicos expressos por meio das redes: o poder dos fluxos é mais importante que os fluxos do poder. A presença na rede ou a ausência dela e a dinâmica de cada rede em relação às outras são fontes cruciais de denominação e transformação de nossa sociedade: uma sociedade que, portanto, podemos apropriadamente chamar de sociedade em rede, caracterizada pela primazia da morfologia social sobre a ação social (CASTELLS, 1999, p. 497).

O conceito elaborado por Castells para definir as transformações que vêm ocorrendo na sociedade, nas últimas décadas constitui a base para os demais estudos desenvolvidos posteriormente relacionados às redes sociais.

Segundo Ribas (2010), as redes sociais são um processo de captação, articulação e otimização de energias, recursos e competências, capaz de gerar um sistema de relacionamentos, que organiza indivíduos e instituições de forma igualitária e democrática, em torno de um objetivo ou agenda comum de caráter público.

Corroborando a perspectiva de Ribas e Mance (apud MARTINHO, 2010, p. 2) ao abordarem as redes sociais, conceituaram-nas como:

Uma articulação entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável.

Para Martinho (2010), as redes no campo político podem ser consideradas como processo de organização social apto a responder às exigências de flexibilidade, descentralização e democracia do mundo contemporâneo, permitindo, por princípio e na sua base, o exercício da autodeterminação e da autonomia. Nesse sentido, cabe ressaltar que rede não é só o desenho e a estrutura pelos quais se dão as relações, mas o modo como elas se realizam.

Segundo esse mesmo autor, o que faz a arquitetura de uma rede é seu modo de funcionamento. No caso que nos importa aqui: um modo de operar que contemple, pressuponha e atualize a autonomia dos membros da rede; que faça da horizontalidade, da descentralização, do empoderamento e da democracia uma ética de operação.

Complementando o que ora foi afirmado por Martinho (2010), Ribas (2010) acrescentou que o trabalho em rede cria relações que se antepõem à cultura baseada na tradição hierárquica e clientelista ainda fortemente presentes no trato das políticas públicas sociais no Brasil. Redes abertas permitem que as informações possam ser compartilhadas por todos, sem canais reservados, favorecendo a formação de uma cultura da participação, da cooperação, da corresponsabilidade, bem como da autonomia. Dessa forma, acredita-se que as redes podem favorecer não apenas o desenvolvimento das pessoas e das instituições, mas também da comunidade de uma forma mais ampla, tornando-se, portanto, um instrumento de desenvolvimento e fortalecimento social.

De acordo com Junqueira (2004), as redes sociais, a partir da integração entre indivíduos, organizações públicas e agentes econômicos preocupados com a realidade social, podem se constituir em um meio para tornar a gestão das políticas sociais mais eficaz. Cada membro da rede preserva sua identidade na gestão dos recursos, enquanto a articulação de todos os seus membros faz com que se integrem, tanto na concepção das ações sociais quanto na sua execução, para garantir à população seus direitos sociais.

As políticas públicas sociais, atualmente no Brasil, conforme citado anteriormente neste estudo, estão ancoradas por uma legislação cujos princípios, funções, objetivos e diretrizes são voltados para a ideia de proteção social, universalidade e descentralização na prestação dos serviços, entre outros.

Segundo Oliveira (2004), a organização e gestão dessas políticas sociais devem ser efetuadas no sentido de atender às múltiplas especificidades postas a cada

área/setor (saúde, habitação, assistência social, trabalho etc.). Contudo, essa autora afirmou que é imprescindível a construção de um trabalho conjunto que agregue as definições e as ações das diferentes políticas sociais.

No entanto, tem-se notado que as entidades, pressionadas por grandes demandas e atuando, muitas vezes, em situações-limite, acabam frequentemente focalizando sua atenção nas questões que se desenrolam em seu espaço interno, o que as torna pouco permeáveis a um contato mais aberto e efetivo com a comunidade da qual fazem parte e para a qual atuam (RIBAS, 2010).

Assim, Oliveira (2004) afirmou que politicamente não basta que as redes sejam constituídas e operacionalizadas, mas é preciso que haja articulação entre redes, ou seja, que haja edificação de fato de uma rede interpolítica social, denominada pela referida autora de rede socioassistencial.

Ainda, de acordo com a referida autora, a constituição da rede socioassistencial presume que as ações propostas e executadas pelas redes de políticas sociais se encontrem em uma relação de horizontalidade, com igualdade de importância, sendo interdependentes e complementares, como evidenciado na Figura 1.

Figura 1 - Modelo de rede socioassistencial. Fonte: GASPARONI, 2007.

Como afirmou Martinho (2010), para que o processo de desenvolvimento seja includente e emancipatório é necessário que, ao se fazer política, o poder seja democratizado, de modo a ampliar a base dos agentes decisores, considerando-se a horizontalidade como espécie de exigência do sistema, para que ocorra maior grau de empoderamento dos atores.

Esse autor apontou, ainda, para a importância de se incentivar a participação e envolvimento dos indivíduos e organizações nas redes, tendo em vista que elas representam a articulação entre diversas unidades que, mediante certas ligações, vão trocando elementos de qualquer natureza entre si – informações, recursos, bens – fortalecendo-se reciprocamente.

Nesse contexto, Gasparoni (2007) enfatizou que o modo de operar em rede pode oportunizar ambientes propícios para ocorrência do processo de inclusão social dos grupos vulneráveis, uma vez que é uma forma de organização que implica um conteúdo de caráter emancipatório.

Com base no exposto, considera-se de extrema importância que políticas sociais que atuam na ponta, em territórios vulneráveis, atendendo indivíduos e famílias com demandas e necessidades diferenciadas e complexas, como é o caso do Centro de Referência da Assistência Social, assumam de maneira efetiva as redes como forma de organização. Pois, “entender que vivemos e construímos nossa sociedade em rede é o típico exemplo de um conhecimento que gera poder - o poder da escolha e da transformação” (OLIVEIRA, 2004, p. 05).

Assim, pode-se afirmar que as várias redes de políticas sociais, articuladas entre si, formando a rede socioassistencial, podem alcançar o objetivo de atender às necessidades básicas, na perspectiva da garantia dos direitos sociais, contribuindo para a redução das vulnerabilidades e inclusão social do público nelas inserido.

2.3. Exclusão e vulnerabilidade social das famílias no contexto das Políticas de